The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 10
Capítulo 9 — Reencontrando


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo quase não demorou. E, finalmente, Jamie (!!!)
Espero que gostem (:



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Reencontrando

Ele perdera as características de um sobrevivente. As costelas e os músculos a mostra. Fortes porém famintos.

Seu cabelo, antes com uma franja cheia que quase cobria seus olhos, fora cortado e levantado para cima, deixando seu rosto a mostra.

Ele vestia uma camisa de algodão fino, e dava para ver a linha de seus músculos por baixo dela.

Seu rosto era o mesmo, com os cílios cheios e os malares acentuados.

O pior eram seus olhos. Antes escuros e profundos, como a noite, agora eram brilhantes e prateados.

—Ashley!

Pisei com força no freio, virando uma curva abrupta na estrada e cantando os pneus, evitando uma floricultura.

—Jamie. —Falei, sem tirar os olhos dele. —Jamie, é Jamie. Ele está ali... Logo ali.

Antes que qualquer pessoa dissesse algo, pulei para fora do carro e praticamente corri até ele. Ele estava a vinte metros de mim. Ao alcance das minhas mãos.

Mas algo me jogou para o lado, e caí atrás de um automóvel com um peso enorme nas costas.

—Você não pode pular em cima dele. —Sussurrou Ian. —Tem uma Alma nele, Ashley, e isso vai assustá-lo. Procure manter a calma se não quer um enxame de Buscadores sobre nós.

—Eu... Perdi o controle. Desculpe... E saia de cima de mim!

Ian se ergueu apenas com as pernas e estendeu uma mão para mim. Aceitei a ajuda e me pus de pé, limpando as roupas. Ordenei as minhas pernas bambas que andassem com calma até o Troller.

Olhei em volta, e não encontrei Jamie. Só Flores Silvestres, a bonitinha, entrando em um café.

—Estou repentinamente com fome. —Disse. —Chris, me acompanhe até o café.

—O que...

Agarrei-o pelo braço e o arrastei até o café, depois de comandar a Melanie:

—Fique aqui. Vou trazê-lo de volta.

Chris estava ainda mais carrancudo que o normal quando entramos no café. Encontrei Jamie/Matthew lá, sentado em uma mesa de canto, conversando alegremente com Flores Silvestres.

Cerrei meus olhos por trás das costas da garota.

Ela era tão perfeitinha que me dava nojo. O tipo certo de garota para se odiar. Delicada como uma margarida, com gestos gentis e sorrisos doces.

Abandonei-a com o olhar e me direcionei para Jamie. Quer dizer, para Matthew.

Haviam passado três semanas que eu não o via, e a falta que me fazia era imensa.

Ele era tão gracioso, tão fascinante de se observar. O modo como apoiava o punho fechado sobre a mesa, o jeito que mexia no cabelo enquanto falava, e como focava os olhos quando estava prestando atenção.

Era impossível desviar os olhos dele, e só o fiz quando Chris deu uma cotovelada forte nas minhas costelas, me tirando do transe.

—Por favor, não babe sobre a mesa.

—Cale a boca. —Grunhi. Fiquei tentada em voltar os olhos para Jamie, mas não o fiz. Ele estava na minha diagonal, então apenas olhei para frente, mantendo-o na minha visão periférica.

—Boa tarde. —Uma garçonete se aproximou. —Quais os pedidos?

—Pode me trazer um sanduíche de manteiga de amendoim e um copo de café preto. —Pediu Chris.

—Chá gelado e torta de limão. —Pausa. Complementei. —Por favor.

—Trago num minuto.

—Obrigado. —Respondeu Chris, sem emoção. A atuação dele como Alma era ainda pior que a minha.

Sem conseguir resistir, voltei os olhos para Jamie. Percebi que tanto ele quando Flores Silvestres estavam olhando para mim, então continuei passando os olhos pelas pessoas, como se não tivesse focado em nada específico.

—Olhe para mim. —Sussurrou Chris.

—Por quê? —Sussurrei de volta.

—Apenas... Olhe para mim.

Eu o fiz, e o encarei com uma expressão questionadora.

—O quê?

Chris não estava nem olhando para mim, mas sim focando no porta-guardanapo cromado em cima da mesa.

—Eles não estão mais olhando. —Ele disse por fim, e explicou assim que viu meu rosto. —Eu estava usando o porta-guardanapo como espelho para observa-los.

—Inteligente. —Comentei. —E um pouco desiquilibrado.

Chris bufou.

—Ele não reconheceu você.

Eu sei disso, queria dizer. Sei que Matthew não me reconhecera, e deveria estar feliz por isso, mas não. Um pedaço da minha alma se quebrou – sem trocadilho.

Balancei a cabeça para cima e para baixo, lentamente.

—Talvez ele esteja se trancando. —Murmurei.

—Talvez ele não esteja lá.

A ideia fez com que minha coluna estremecesse. Jamie não podia simplesmente “não estar lá”. Como eu não disse nada, Chris continuou falando.

—Você sabe, algumas pessoas simplesmente não voltam. Elas somem. Morrem, talvez...

—Jamie é resistente. —Disse, com o máximo de veracidade que consegui.

—Às vezes as Almas podem ser um fardo pesado demais, uma sobrecarga.

—Jamie é forte.

—Seus contra-argumentos não possuem base nenhuma, Ashley. Você não tem como saber se Jamie continua lá ou não... É quase uma perca de tempo. Vamos, bata nele com a meia de manteiga e o jogue na picape.

—Não! —Quase me levantei. Procurei me acalmar e refiz o passo a passo de soltar todo o oxigênio dos pulmões e mantê-los vazios até me controlar. —Eu não posso fazer isso, Chris, por que ele é Jamie e ninguém vai apaga-lo. Talvez a Alma goste da Terra. Talvez Jamie venha a me reconhecer, e aí? Não quero força-lo a nada. —Até porque ele já foi forçado a coisas demais.

Chris abriu a boca, mas se calou e tascou uma mordida em seu sanduíche. Tentei encarar Jamie discretamente. Ele estava remexendo nos bolsos, a procura de algo. Foquei-me tanto nele que me assustei quando Chris perguntou.

—Por que você ainda o procura?

—Uma vez eu disse... —Precisei respirar fundo, pois a brutidão da pergunta me deixou sem palavras. —Uma vez eu disse que nunca o perderia.

Antes que Chris proferisse outra palavra, me pus de pé automaticamente, assim que vi que Matthew e Flores Silvestres estavam saindo do estabelecimento.

De cabeça baixa, caminhei rapidamente ao encontro deles, e trombei contra Jamie... Matthew.

Fiquei momentaneamente tonta com a proximidade, com o calor e o cheiro que me eram tão familiares, e tive que me esforçar para manter o foco.

—Oh. —Exclamou Matthew. —Você está bem? Machucou-se?

Dei um sorriso amarelo, passando os olhos por todo o rosto dele, matando um pouco a falta que me fazia.

—Sou uma desastrada. —Falei, com minha voz macia. —Mil desculpas.

Ele sorriu. Meu Deus, seu sorriso. Foi necessário mais um esforço danado para me manter no personagem.

—Tudo bem. —Ele baixou os olhos. —O que houve com suas mãos?

Segui seu olhar, me deparando com minhas ataduras envoltas nos nós dos dedos em ambas as mãos.

—Bem... —Procurei por uma desculpa razoável. —Eu estava... Caminhando no centro... Quando colidi contra um homem... E usei minhas mãos para aparatar a queda. Como eu disse, sou desastrada.

—Quem é essa? —Perguntou uma voz feminina angelical, porém com um tom agudo e odioso. Flores Silvestres.

—Sou Bruma. —Eu disse, tentando não fazer uma careta para ela.

Flores Silvestres correu seus olhos por mim e não moveu mais os lábios.

—Bruma? É um lindo nome. —Disse Matthew, com um sorriso gigante.

—Obrigada, M... E qual seu nome?

—Matthew. É o nome do meu hospedeiro... Foi tudo o que consegui descobrir dele.

Meu cérebro faiscou.

—Oh, é mesmo? Por que será?

—Primeiro venha comigo até meu Curandeiro, Amanhecer, para tratar de suas mãos, e então lhe conto tudo, está bem?

Meu Jamie. Sempre tão gentil e doce. Se não fosse pela Alma refletida em seus olhos, eu teria o abraçado e dito que o amava. Mas me contive em sorrir e assentir.

—Estou com... Um amigo aqui. —Comentei. —Vou informa-lo aonde vou, ou ele ficará preocupado.

Olhei para Chris e arregalei os olhos. Ele tomou a xícara de café num só gole e se levantou. Apanhou minha garrafinha de suco gelado e se aproximou, estendendo-a para mim.

—Você não tomou tudo, e sei que adora. —Ele sussurrou.

Peguei a garrafa da mão dele com toda a delicadeza.

Obrigada. —Meu tom de voz significava “pare-de-agir-feito-um-idiota”.

Chris estendeu a mão para Matthew, suas sobrancelhas tão relaxadas que nem parecia a mesma pessoa.

—Sou David. —Mentiu Chris. —Também herdei o nome do meu hospedeiro.

—Muito prazer. Sou Matthew. Essa é Flores Silvestres.

A loirinha abriu um sorriso para nós, e devolvi uma careta sorridente para ela.

—Vamos levar Bruma para meu Curandeiro para curar suas mãos. —Disse Matthew.

—Tudo bem. —Respondeu Chris.

—Você não precisa ir junto. —Melodiei para Chris.

Ele me devolveu um olhar falsamente amigável.

—Ah, não. Eu não tenho mais nada para fazer, de qualquer modo.

—Não precisa se incomodar. —Insisti.

—Não será incômodo algum. —Ele retrucou.

Fiz um ruído desgostoso com a garganta para Chris, mas tanto Flores Silvestres quando Matthew ouviu, então tive que simular um ataque de tosse.

—Como eu disse. —Tossi. —Uma completa desastrada.

Flores Silvestres franziu os lábios e Matthew sorriu. Caramba. Ele tinha que parar de fazer isso para que eu pudesse me concentrar.

Fomos a pé até o hospital, Chris e Flores Silvestres em silêncio e eu e Matthew conversando sobre a inserção dele.

—Os Curandeiros disseram que meu hospedeiro pertencia a resistência. Por isso sou acompanhado o tempo todo por Flores Silvestres.

—Ela é sua Curandeira?

—Ela também ajuda a nos adaptarmos fisicamente aqui.

—Isso é muito... Bom. —Disse simplesmente.

—E você, Bruma, como foi sua inserção?

—Moro aqui na Terra há quatro anos, mais ou menos, e tive uma inserção tranquila. Minha hospedeira não tinha problemas. E ela não tinha... Ninguém.

Tentei uma expressão leve no rosto, mas já sentia meus músculos se deformando para a rotineira máscara de raiva.

—Sinto muito.

—Bem, não há o que sentir. —Digo. —Tenho uma vida muito boa aqui na Terra.

—Fico feliz em saber disso.

—Depois da, hã, visita ao Curandeiro, gostaria de lhe apresentar a algumas pessoas, se quiser.

Matthew focou os olhos em mim.

—Que pessoas?

—Um grupo próximo de amigos. Aposto que eles o adorariam.

—Bem, obrigado, mas... —Matthew olhou de relance para Flores Silvestres.

—Você não precisa ter a permissão dela para tudo. —Sussurrei.

Matthew me olhou duvidoso.

—Eu... Não sei. Sou uma Alma recente, e o jeito impulsivo de viver dos humanos não me deixa muito confortável. Gosto de seguir regras.

—As regras dizem que você deve ficar na presença de seu Confortador enquanto não se sentir adaptado ao planeta. Você me parece muito bem.

Matthew corou de repente.

—Eu... Estou adaptado, é que... —Ele passou as mãos nos cabelos. —Eu... Não quero que Flores Silvestres se afaste. Eu acho que a amo.

—Ah... —Minha voz saiu fraca como uma bolha de sabão. Continuei caminhando, olhando para baixo, sem me preocupar em como minha expressão estaria.

“Eu acho que a amo”.

Não pensei que tão poucas palavras pudessem ferir tão profundamente.

Caminhei o resto do caminho em silêncio, tropeçando propositalmente em meus pés para esbarrar em Matthew. Infantil, porém necessário. Meus choques contra ele espalhavam uma corrente elétrica pelas minhas veias, me motivando a seguir com o plano firme e forte.

Chris e Flores Silvestres esperaram do lado de fora do hospital quando Matthew me acompanhava até a sala do Curandeiro Amanhecer. Fui curada e acariciada por ele, um gentil homem moreno de olhos verdes.

—Tome mais cuidado da próxima vez. —Ele sugeriu docemente.

—Ah, eu tentarei. —Dei um sorrisinho nervoso. —Mas sou tão, tão desastrada. Já desisti de visitar Curandeiros quando me machuco, o que é uma coisa rotineira. —Mentiras.

Amanhecer riu.

—Espero vê-la novamente, Bruma. Você é uma moça muito adorável.

Juro que tive que morder o lábio para conter gargalhadas altas.

—Obrigada. —Minha voz saiu rouca, por conta das risadas trancadas.

Saí do hospital em total silêncio, e me assusto quando Matthew segura meu braço. Olho para ele assustada, e recebo um sorriso de lado.

—Não suma de vista. —Ele pediu, sorridente. —Eu... Gostei de você, Bruma.

—Eu também gosto de você, Matthew. —Disse, e senti minha tristeza sair voando junto com a brisa.

De volta ao motel, Melanie estava mais agitada que o normal.

—Como ele está? Ele está legal? Algum sinal de Jamie? A Alma dentro dele, como é?

—Jamie está bem, mas Matthew não tem contato com ele.

—Jamie deve estar se trancando. —Disse Melanie, fitando a parede seriamente. —Sim, só pode ser isso, não é?

—Tem que ser. —Falei.

—Quando vamos apaga-lo e leva-lo as cavernas? —Perguntou Sharon.

—Ninguém vai apaga-lo, Sharp. —Rosnei.

—Ashley acha melhor fazermos amizade com a Alma e blábláblá. —Resmungou Chris.

Olhei para Melanie.

—Eu não quero força-lo a nada, Mel. Ambas sabemos como pode ser a relação entre hospedeiro e Alma. Tanto boa quanto ruim. E Matthew pode nos ajudar a contatar Jamie. Se... Se conseguirmos fazer com que ele confie em nós.

—Você está certa. —Concordou Melanie, pousando as mãos nos meus ombros. —Essa é a melhor solução.

—Acho que há uma saída mais fácil. —Disse Chris, brincando com uma miniatura de “bolas de Newton” que encontrou na estante do quarto.

—E qual é? —Perguntou Peg.

Ele ergueu os olhos cinzentos para dentro dos meus.

—Ashley vai ter que fazer Matthew se apaixonar por ela.


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Notas finais do capítulo

Se o próximo capítulo demorar um pouco, tipo uma semana, não me abandonem, por favor. É que a história está um pouco complicada e eu não quero desapontar ninguém ♥
Comentem.



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