The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 9
Capítulo 8 — Localizando


Notas iniciais do capítulo

Oi.
Esse capítulo não demorou tanto, mas mesmo assim desculpe.
Admito que foi sacanagem terminar o capítulo anterior daquela maneira.
Espero que gostem



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Localizando

NÃO PENSEI DUAS VEZES ANTES QUE METER O PÉ NO FREIO, reduzindo drasticamente nossa velocidade para perto do limite.

Os Buscadores nos alcançaram em poucos minutos, e nós todos já tínhamos ajeitado as lentes e os sorrisos doces nos rostos.

Os carros blindados meio que nos cercaram, e a nossa direita, um deles abaixou o vidro.

—Pode encostar, por favor?

—Claro. —Melanie sorriu levemente.

Freei completamente o carro, e enfiei as mãos nos bolsos, sentindo a lâmina do canivete que eu guardava ali.

Uma Buscadora de longos cabelos loiro-escuros bateu com os nós dos dedos na minha janela, e a abaixei.

—Em que posso ajudar Buscadora?

—Qual é seu nome, querida?

—Noite Eterna. —Improvisei.

Ela inclinou a cabeça.

—Mundo Cantor?

—É um lindo planeta. —Comentei.

—Eu já morei lá uma vez. Chamo-me Meteoros, mas por escolha própria.

—Meteoros são realmente lindos. —Digo, evitando os falsetes que ameaçavam minha voz.

—Porém, Noite Eterna, não vim aqui para conversar. É que vocês estavam além do limite de velocidade, sabe?

Uma expressão de horror cruzou meu rosto.

—Oh, me perdoe Buscadora. Eu... Eu nem sei o que dizer... Somos de Indiana e, bem, as rodovias lá tem alto limite... Eu... Devo ter me distraído... Mil perdões.

—Está tudo bem, Noite Eterna, está tudo bem. —Ela me tranquilizou. —É só um aviso, tomem cuidado da próxima vez.

—Claro, Buscadora, e nos desculpem, realmente, não era a nossa intenção causar nenhum incomodo.

—Apenas tenha cuidado.

Sorri abertamente, estranhando a colocação dos músculos do meu rosto naquela ação.

—Teremos.

A Buscadora começou a se afastar, e antes que a perdesse de vista, me inclinei para fora da janela, com uma ideia relâmpago.

—Buscadora, se não se incomoda, pode nos informar se há mesmo uma nova Alma aqui no Condado?

Sei que os Buscadores têm esse tipo de informação, e nos pouparia muito trabalho.

—Por quê?

—Soube que uma nova Alma acabou de chegar... Meu chamado é ajuda-las.

—Na verdade, ela morava em Page, onde atuava como Confortadora. Não é recente na Terra.

—Oh. —Minha decepção foi quase visível. —Bem, espero que esteja bem.

—Ah, claro. —A Buscadora sorriu docemente. —É uma boa garota, Flores Silvestres.

Minha reação foi desastrosa.

Só percebi isso horas depois, quando Ian enroscou os dedos longos ao redor do meu braço e me levou para o banheiro mais próximo.

Eu estava socando uma parede. Com tanta raiva que abriram feridas. Fragmentos branco-acinzentados dos ossos eram visíveis onde a carne estava demasiadamente esfolada.

Droga. —Eu disse simplesmente, alguns minutos depois do meu estado de semiconsciência raivosa.

—Vou dar um jeito nisso. —Falou Ian, com um tom de voz extremamente calmo e passivo, com o mesmo tom que se fala com um animal enfurecido.

Droga! —Repeti, agora dando uma ênfase na palavra.

—Você tem que se controlar melhor.

—Eu sei, eu sei, é que... Não sei. Droga, Ian, como é que você consegue manter a calma todo raio de tempo?

—Nunca disse que consigo.

—Pare, pare de tentar me acalmar. Dá pra ouvir no seu tom de voz, o mesmo que você usa quando estou zangada.

—Muito zangada. —Ele corrigiu.

—É, eu sei. Mas não desvie do assunto, e...

—Eu só estava dizendo que você precisa se controlar.

—Não há controle sobre minha raiva. —Rosnei.

—Na verdade, a raiva é uma forma de energia positiva que é usada como força motivadora para alcançar seus objetivos.

—Não está funcionando muito bem comigo. —Resmunguei.

Ian riu enquanto apertava mais as ataduras.

—Você é praticamente feita de raiva, Ashley. É algo inevitável.

Inevitável.

Percebi que estava prendendo a respiração e a soltei devagar, sentindo meus pulmões comprimirem, e os mantive sem ar por um tempo.

Minha agitação interna diminui com a ausência de oxigênio, e consegui me acalmar. Inspirei. Expirei.

—Melhor. —Disse Ian, sem levantar os olhos.

Não sabia se ele estava falando do meu autocontrole ou da minha mão, que ele terminou de enfaixar.

Fechei-a num punho e abri, avaliando a firmeza do curativo.

—Obrigada.

—Você está mesmo desesperada, não está?

Desviei os olhos da minha mão e encontrei os dele. Azuis. Flamejantes. Tranquilos.

Pensei em dizer algo “Não sou uma idiota para ficar desesperada”, ou “Cale essa porcaria de boca”, mas apenas assenti com a cabeça.

Ian estendeu os braços e, pela primeira vez, não hesitei em usar meu lado emocional e afundar no abraço dele. Desde que Jamie fora capturado, eu não permiti que ninguém me consolasse. Evitei contatos físicos e dispensei frases solidárias.

Mas não dessa vez, com Ian, sem que mais alguém veja. Ele era a única pessoa que eu confiava meus desesperos e minhas lágrimas.

—Eu não consigo suportar perde-lo. —Murmurei, um pouco rouca pela garganta estranhamente inchada.

Ian não disse nada, só continuou me abraçando. Ele sabia como era. Sabia o que eu estava passando. Sabia que não viveria sem Peg, e compreendia minha aflição. Sabia como era a dor de ter alguém que ama afastado de você, ou que haja alguém impedindo que se aproxime. Sabia o quanto essa dor nos entorpecia. Ele sabia como era amar, e o mais importante, sabia o quanto a falta de amor causava uma carência física e mental, transformando tudo em agonia.

Mas ficou em silêncio, me abraçando, e entendendo meus sentimentos assim como eu entendia os dele.

Retornei ao meu quarto, me enrolei sob as cobertas e fiquei ouvindo o som da minha respiração por algum tempo.

Diversas hipóteses e teorias tentavam se organizar na minha cabeça, e estava difícil formar pensamentos coerentes. Talvez eu tenha ficado ali minutos ou horas, mas parecia uma eternidade quando finalmente as peças se encaixaram.

Sem avisar ninguém, saí do meu quarto, e passei apressadamente pelo corredor, em silêncio. Só tive tempo de ouvir meu nome sendo mencionado no quarto de Chris e Sharon e parei um segundo para ouvir – ouvido pressionado contra a porta e respiração controlada.

—Ashley está cega pela raiva. —Sussurrou Chris.

—Não. —Discordou Sharon. —Quando você a conheceu, ela estava embriagada de amor. E agora voltou a realidade.

—Então ela é assim? Raivosa, incontrolável, sarcástica e detestável?

—É, ela é assim.

Raivosa. Incontrolável. Detestável.

Eles iriam ver quem era detestável quando eu obtivesse vitória.

Veriam quem é a incontrolável quando eu agisse com perfeita paz para realizar minha seguinte tarefa.

Eles levariam na cara meu sucesso quando eu provasse que a raivosa pode ser doce e inofensiva como uma flor.

Eles iriam ver – e adicionariam um novo adjetivo na sua lista. Vingativa.

Saí do motel, e embarquei no Troller. Dei partida e só tive consciência da minha localização quando já estava parada do lado de fora do edifício dos Buscadores.

Apertei o botão da campainha e uma voz masculina doce soou pelo autofalante.

—Sou Noite Eterna. —Menti. —Eu gostaria de falar... Com a Buscadora Meteoros.

—Só um momento, Noite Eterna. —Pausa. —Já solicitei à Buscadora Meteoros que descesse.

—Obrigada.

Esperei ansiosamente pulando sobre os pés até que Meteoros surgiu. Tentei recebe-la com um sorriso relaxado, mas este pareceu amarelo e inquieto.

—Em que posso ajuda-la, Noite Eterna?

—Bem, eu... —Como dizer? —Eu estava pensando a respeito daquela garota, Flores Silvestres... Será que você pode me dar algumas informações extras sobre ela, Buscadora?

Meteoros sorriu.

—Você quer fazer amizades?

Boa desculpa.

—Sim, isso mesmo.

—Quanta bondade.

Se você soubesse.

A Buscadora continuou.

—Flores Silvestres morava em Page, onde atuava como Confortadora, e agora teve um curto período de férias, e veio para cá. Parece que sua hospedeira era natural dessa cidade. Mas ela vai voltar em pouco tempo; só está aqui para mostrar o lugar para seu...

O toque de seu celular a interrompeu. Meteoros pediu um segundos e atendeu.

—Sim? Ah, claro, claro. Que bom que você esteja feliz – e tome cuidado. —E ela desligou e se voltou para mim. —Era Flores Silvestres. Ela acabou de arrumar suas coisas e voltar para Page, junto com seu novo cliente, Matthew.

Precisei de um segundo para proceder a informação.

—Você disse Matthew?

—Sim. É uma Alma recente.

Sorri, agradeci, e liguei o automático. Caminhei de volta ao meu automóvel sem olhar para trás, e assim que Meteoros adentrou o edifício, afundei o pé no acelerador.

Eu tinha conseguido.

—Levantem os traseiros daí. —Falei assim que cheguei no motel. Todos os outros estavam reunidos em um só quarto, planejando.

—O que é agora? —Rezingou Chris. Ele me ergueu um papel. —Eu estava mostrando a eles uma nova teoria...

—Enfie isso onde o sol não bate. —Cuspi. —Não preciso mais de suas teorias equivocadas. Sei onde Jamie está.

Os olhos de Melanie brilharam.

—Você sabe?

—Ele está em Page. E eu consegui essa informação sendo exatamente quem sou.

Tanto Sharon quando Chris desviaram os olhos.

—E onde... Onde ele está? —Eu via a agitação crescendo nos olhos de Mel.

—Em Page, provavelmente com uma Confortadora chamada Flores Silvestres.

Peg pulou de pé imediatamente.

—O que estamos esperando? Vamos.

Em quinze minutos, nos reunimos nas garagens e nos dividimos como sempre. Com dois mapas, fomos seguindo rotas diferentes até Page. Eu escolhi a rota mais curta, quase não me contendo com a expectativa.

Page era linda. Com dunas douradas e cânions majestosos contornando o Colorado, uma cidade de 44 km2 e pouquíssimos habitantes, era tranquila e adorável.

A verdade é que dirigi a esmo por horas. Três horas, para ser exata, até que vi uma garota.

Provavelmente aquela era Flores Silvestres.

Flores Silvestres

Era um lindo nome, pertencente a uma linda garota.

Cabelos tão pálidos quanto trigo.

Olhos âmbar, num profundo e doce mel, com cílios que pareciam penugens douradas.

Um corpo pequeno e magro, delicado e absurdamente feminino.

Rosto redondo e pequeno, com um nariz levemente arrebitado e lábios finos.

Sorriso de dentes branquinhos e retos.

O sorriso era direciona a um corpo que eu conhecia bem.

Jamie.


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Notas finais do capítulo

Comentem, por favor — sério, eu amo comentários.



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