Dona Distância - 1ª Versão (HIATOS) escrita por Capitã Sparrow


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo contém easter eggs, assim como os outros ~~ Hehehe
Vou mostrar a vcs onde Sr. T pegou aquele girassol ^^
Espero que gostem >u< Desculpem qualquer erro...
Boa leitura amados o/



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O Caos com certeza havia passado por ali. O reino dos sonhos estava uma bagunça total, parecia um cenário de guerra.

Quimeras perdidas e confusas distantes de seus donos, Medos tentando controlar seus Pesadelos que deixavam rastros de sombras por onde passavam. Até mesmo os Delírios estavam lá, desnorteando a imaginação com seus devaneios febris. Todas as utopias se tornaram distopias e vice-versa, Morfeu corria descabelado de um lado para o outro tentando controlar a confusão que reinava solta. Sua casa estava de ponta cabeça, literalmente.

Só então notou Tempo encarando um dos seres mais antigos e carentes de todo seu reino, fora apelidado de Bodecórnio pelo seu pequeno criador de seis anos. O unicórnio com chifres de bode tinha a crina melecada com trigo, granulados coloridos e shoyo, provavelmente obra dos Trasgos, criaturas travessas que costumavam se esconder no reino dos humanos, mas que acabaram vindo de carona com Caos.

– Acho que ele gostou de você – Morfeu comentou entre gargalhadas.

O Senhor do Tempo virou na direção de Sonho e acabou sentindo algo molhado e pegajoso em sua nuca. Olhou para trás, encarando furiosamente o animal que se encolheu cabisbaixo. Manteve a pose prepotente e sorriu debochado:

– O que aconteceu na Padaria?

Morfeu gargalhou. Tempo sempre o fazia rir com seus comentários irônicos.

– Caos resolveu tirar um longo cochilo e acabou me visitando... Agora os Sonhos não estão com seus criadores, os Pesadelos aterrorizam todos os seres que passam em seu caminho e os Delírios estão soltos com os seres imaginários. Só de pensar no trabalho que eles me darão... Levá-los ao mundo dos humanos é quase impossível! – Sonho curvou a cabeça desanimado e não notou o Bodecórnio se aproximando de mansinho com a cabeça baixa, como se pedisse cafuné. Sorriu tristonho e ganhou uma lambida no rosto, que o fez rir.

Lambuzado e com os cabelos em pé, deixou que Tempo seguisse seu caminho, mas deixou claro que estaria organizando tudo e não poderia ajudar o amigo. Montou no estranho animal e sumiu, deixando apenas um rastro de areia e baba de cavalo.

O Lorde se apoiou em sua bengala e seguiu seu caminho entre confusão, se divertindo com as travessuras que via pelo caminho. Algo o deteve quando alcançou o Céu Sem Fim. A memória lhe dizia que estava no lugar certo.

A maioria dos seres humanos já visitou essa parte do Somnium ou Sonhar, como é popularmente conhecido o reino de Morfeu. O Céu Sem Fim é um lugar onde os humanos sofrem queda livre durante todo o sono, apesar de consistir em vários cenários diferentes, todos se encontram ali. O Céu era imenso, ninguém poderia dizer qual seu tamanho ao certo, pois sempre recebe novos sonhadores e está em constante mudança. A própria Padaria em si, como Tempo costumava falar, era gigantesca, o maior reino entre todos que existem ou que deixaram de existir.

Observou uma garotinha coreana cair mexendo os lábios desesperadamente, como se suplicasse pela ajuda do estranho que a encarava, mas som algum saia de sua garganta. Quando ela caiu pela quinta vez, Tempo finalmente “despertou”. Aquele lugar o enfeitiçava, como se o fizesse sonhar acordado. O poder de Morfeu era indescritível, você nem ao menos notaria que foi atingido, ou que está sob seu encanto.

O ser sacudiu a areia do paletó, pegou o relógio de bolso e deu corda, voltando minutos, horas, meses e por fim, anos. Enquanto o relógio fazia seu curso, criaturas diferentes apareciam e iam embora como um filme que é passado rapidamente por alguém impaciente. Os seres humanos eram diferentes e até o reino parecia outro. Ele tinha certeza que estava na data certa, sua única dúvida era se conseguiria encontrar o sonho que procurava.

Ouviu ao longe vozes infantis cantarolando as rimas de uma antiga canção:

“Já lá vem o João Pestana,
Pé ante pé, voz que não engana.
Vem de longe já muito cansado,
Pobre João, coitado...

Faz Ó Ó menino também,
Faz Ó Ó que o soninho já vem.

Cai a noite e o vento, lá fora,
Assobia forte, não se vai embora
Conta histórias, o nunca acabar.
Coisas de encantar.

E o vento não sopra só,
Também trás ao menino Ó Ó...

Devagar, muito de mansinho,
Levando o bébé ao pegar o soninho,
Já lá vem o João Pestana,
Voz que não engana

E o João sabendo o que faz
Vê o menino adormecer em paz.”

Aquela cantiga causava certos arrepios ao Lorde do Tempo. Lembrou-se da época em que Sonho era diferente, macabro e insano, assim como sua irmã, Morte. Os dois estavam sempre juntos, visitando crianças, jovens e adultos.

Sacudiu a cabeça, a Idade das Trevas já havia passado há muito, nada tinha com que se preocupar. Ergueu os olhos e notou Céu Sem Fim ainda à sua frente, agora um homem barbado aparentando seus trinta e poucos anos caia e se debatia desesperado rente a um prédio esverdeado.

Começou a andar tranquilamente, enquanto espiava sonhos, pesadelos e devaneios. Encontrou escritores e cantores, famosos e pessoas comuns que nunca fariam nada de especial em suas vidas. Dois homens, que lhe pareceram familiares cruzaram seu caminho, seus nomes eram James e Kirk. O cabelo dos dois cobriam os ombros magros e ambos pareciam prestes a fazer algo que mudaria seus destinos. Procuravam uma estranha terra chamada Nunca, lugar que Tempo nunca tivera o prazer, ou talvez desprazer, de conhecer. Os deixou procurando tal lugar mágico e seguiu seu caminho.

Passou por lugares já familiares e lugares nunca vistos ou visitados, apenas criados por mentes doentias que abandonaram suas alucinações ao relento. Alguns eram feitos de doces e outros de ossos, sangue e enxofre. Podiam ser ilhas, jardins suspensos, oceanos, nuvens gigantescas ou até mesmo terras planas que terminavam em abismo e morte certa.

O ser pálido começava a ficar impaciente com a demora de localizar o lugar correto, mas então um cheiro familiar invadiu suas narinas, o aroma adocicado lhe causava a sensação de flutuar. Fechou os olhos e se deixou ser conduzido pelas memórias.

Ao abri-los novamente, viu uma garotinha deitada entre a imensidão amarela. Os girassóis pareciam triunfantes com a pequena de cabelos escuros adormecida entre eles. Seu vestido cheio de cores, detalhes e babados, faziam-na parecer um pequeno arco-íris sob o imenso Sol. Aproximou-se dela sem fazer um barulho sequer e pegou o mais lindo girassol que estava em sua pequenina mão, deixando um de seus relógios no lugar. Tempo sorriu.

Quando a menina despertou notou o relógio que não lhe pertencia. Era redondo e cabia na palma de sua mão, seu dourado parecia velho e estava preso por uma corrente delicada de ouro. O desenho em alto relevo na tampa era um Triskle, um símbolo formado por três espirais entrelaçados. Os grandes olhos negros pareciam confusos e curiosos, mas logo adormeceu novamente com o presente perto de seu coração. Dessa vez, Tempo permaneceria com ela.


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Notas finais do capítulo

Eu não fiquei muito satisfeita com esse cap, mas espero que vocês tenham gostado ;-;
Bjux