Dona Distância - 1ª Versão (HIATOS) escrita por Capitã Sparrow


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amados leitores o/ Este cap eu dedico as MARAVILINDAS: Nay Kings e a Manu que recomendaram a fic >u< Obrigada suas lindosas!!!!



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Solidão estava indignada com tal situação. Como Tempo ousava ir atrás de Distância depois de tudo? Ele era mais que um cara de pau, era um babuíno idiota.


— Você não pode deixar que ele te atinja dessa forma! Esse é o seu reino, sua casa! Você não pode aceitar que ele apareça quando quiser!


Distância olhava o girassol e balançava a cabeça concordando, mas seus pensamentos pareciam voar distantes dali.


— Esse é o jeito dele. Ele vem e vai. O Tempo está em todo lugar.


— Que tipo de resposta é essa? — bufou pesadamente. — Qual é o seu problema? Não vê que não passa de um mero objeto de diversão pra ele? Quando vai cair em si? — gritou, exasperada sem obter resposta alguma. O silêncio preencheu o ambiente, deixando o sentimento ainda mais furioso. Solidão então saiu, batendo a porta atrás de si. Sentiu um leve aperto no coração ao notar que Distância não a seguiu. Seus olhos negros e solitários mostravam mais que tristeza, transmitiam decepção.

***

Distância se levantou do sofá e seguiu pelo longo corredor, até os infinitos degraus que a guiavam até seu “quintal” dos fundos. Aquilo era uma tentativa frustrada de algo que deveria ter sido um jardim suspenso, os restos mortais das flores e plantas deixavam o cenário parecendo um dia de outono constante.


Ela sentou na gangorra vermelha, levemente enferrujada nas extremidades, e impulsionou seu corpo para cima. A gangorra subiu alguns centímetros e caiu pesadamente, afundando nas folhas secas que forravam o chão.


Seus olhos pareciam perdidos, até que a coelhinha branca pulou em sua frente tocando seu nariz com o focinho gelado, parecia querer dizer algo para Distância, que sorriu para a pequena em resposta. Abandonou o girassol no colo e abraçou Bola de Pelos, sentindo-se aquecida. A coelha angorá se soltou do forte abraço, tocou as bochechas de Distância com as duas patinhas e encarou profundamente aqueles olhos grandes e solitários de uma forma curiosa, como se entendesse a situação.


— Eu sei, eu sei... Vou falar com ela.


***

Solidão estava no mundo dos humanos. Visitava Sr. Pennyworth, um velho mordomo que passava suas tardes sozinho na imensa mansão que servia. Ele era um humano muito agradável, pois ao contrário dos outros, não ficava reclamando de sua vida para o ser que o acompanhava de perto. Observou-o limpar a imensa biblioteca com muito cuidado, separando os livros por lingua e ordem alfabética. Após umas boas horas cuidando dos livros, foi visitar um lugar muito estranho, era escuro e úmido e ficava sob a casa. Os passos dele ecoavam por todo o ambiente, causando certo arrepio no sentimento. Os olhos dela demoraram a se acostumar com a escuridão, apesar do mordomo carregar uma lanterna, ele não parecia querer ligá-la tão cedo. Um barulho assutou-a, o lugar parecia ser habitado por alguns bichos negros voadores, que ela não conseguiu identificar. Quando um veiculo entrou pelo subsolo, o coração do mordomo se iluminou de alegria e Solidão foi arrastada para longe dali. Não era mais necessária.


Quando se deu conta, estava sentada numa cadeira de hospital, ao lado de uma garota deitada na maca, tomando soro. Ela estava com os olhos fixos no teto amarelado e parecia tentar segurar as lágrimas que teimavam em escorrer pela face pálida, borrando a maquiagem barata. Sobre a roupa hospitalar, um adesivo com letras de forma informavam seu nome: Amanda.


A adolescente estava descabelada e possuía duas enormes bolsas escuras sob os olhos negros, os dois braços estavam enfaixados na altura do pulso e ambos os joelhos estavam ralados. Ao lado da maca havia um pequeno criado mudo marrom que parecia velho, e pendia para o lado esquerdo. Um celular estranhamente silencioso repousava sobre ele ao lado do livro “Coisas Frágeis”.


Solidão odiava hospitais, mas não conseguia ir embora dali. Essa era a grande diferença em ser um perpétuo, como Distância, e um sentimento. Os perpétuos, imortais ou sem-fim, são livres para fazer o que bem entenderem, já os sentimentos não tem total domínio sobre si. As vezes são transportados de um lugar ao outro, dependendo da intensidade com que são “sentidos”, e outras vezes acabam se dividindo para estar em vários lugares.


Um barulho alto e um tanto irritante fez as duas olharem para a porta. Um enfermeiro magro empurrava um carrinho com diversas bandejas de comida, que ambas sabiam, não ter sabor. Antes que o sentimento pudesse suspirar de tédio, foi levado à um novo lugar. Um pequeno parque, lotado de pessoas.


Casais faziam piqueniques, crianças corriam de um lado para o outro e adolescentes passeavam de mãos dadas, rindo animados. Por alguns segundos, Solidão não identificou seu alvo, até sentir um forte soco no peito, indicando que olhasse entre as árvores que estavam a sua frente. Um velho, aparentando seus setenta e tantos anos, estava sentado no banco descascado e resmungava sempre que alguma criança corria perto de si. Contorcia a face em diversas caretas, que demonstravam um pouco de sua personalidade arrogante, mesquinha e solitária.


Seu nome era Flynn. O sentimento não gostava de visitá-lo nunca, pois sempre estava mal humorado e insatisfeito.


Solidão não conseguia pensar em mais nada além de Distância. Temia pelo que estava por vir. Temia o futuro arquitetado pelo Tempo e apoiado pelo Destino. Não queria voltar a ser a criatura infeliz e depressiva que costumava ser, Distância era seu apoio, sua fonte de descanso e alegria. Ela era tudo para Solidão. Mas seria ela tudo para Distância? Algo que vivia a questionar em pensamentos, mas temia pela resposta que atormentava sua mente. Não. Ela não era tudo, era uma parte de um todo que formava o tudo. Talvez uma parte insignificante e indiferente, comparado ao amor por Tempo. Sua paixão do passado, presente e futuro. Afinal o Tempo nunca a deixaria totalmente.


Seu coração estava apertado. Ficaria solitária novamente? A angustia corroía seu ser lenta e gradualmente.


Estava perdida em si, quando viu uma estranha criança se aproximar de Flynn. Ela era pálida e tinha cabelos compridos e cacheados, num tom médio verde, presos por folhas da mesma cor e flores brancas. Um jovem arco-íris colorido e brilhante envolvia seu pequeno corpo, como se fosse um vestido.


Ela conhecia a menina. A garotinha de cabelo verde vivia perturbando seus humanos com pensamentos felizes. Esperança era um sentimento muito espalhafatoso que sempre aparecia sem ser convidada, cativando a todos e irritando Solidão.


Esperança saltitou até o velho irlandês e soprou docemente em seu rosto. Ela riu, com ar maroto e voltou a brincar com as outras crianças do parquinho.


Flynn sentiu algo estranho dentro de si, como se algo o dominasse e não tivesse mais controle sobre seu corpo. Olhou para a entrada do parque e, antes que pudesse raciocinar, levantou e caminhou até lá. Parado, entre os imensos portões amarelos, estava seu filho que não o visitava há muito tempo por motivos de brigas e desentendimentos, com um bebê no colo. Os olhares se cruzaram e ambos permaneceram estáticos, sem falar nada, sem pensar, sem respirar. Ambos pareciam surpresos e confusos, sem saber como agir.


Solidão suspirou entediada e novamente foi transportada para outro canto qualquer do mundo.


***


Distância estava deitada em sua cama. Olhava o teto como se ele lhe contasse uma história interessante ou talvez uma cantiga de ninar. Levantou e observou a flor sobre a comoda por alguns minutos. Não sabia o motivo de amar tanto girassóis, mas ela parecia fazer parte de seu ser. Como se a completasse.


Abriu a primeira gaveta e tateou até o fundo, pegando um objeto redondo que cabia na palma de sua mão. Era um relógio de bolso de um dourado com aparência antiga e estava preso por uma corrente delicada de ouro, um desenho em alto relevo enfeitava a tampa. Havia demorado algum tempo para decifrar, mas descobriu ser um Triskle, um símbolo celta formado por três espirais entrelaçados que significava a triplicidade e transformação, céu, terra e mar; corpo, mente e espirito; passado, presente e futuro. Tempo.


Um sentimento de revolta tomou posse de seu ser e atirou o relógio contra a parede, assustando Bola de Pelos, que fugiu pela janela, pulando assustada. Distância começou a pegar tudo que estava a seu alcance e atirar na parede, sentindo as lágrimas começarem a escorrer. Estava confusa, furiosa, machucada, mas acima de tudo, percebeu que ainda estava apaixonada.


— O que você quer de mim??? — gritou o mais alto que pode, deixando-se cair, em seguida, no tapete amarelo com desenhos modernos de grandes girassóis e chorou amargamente.



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Notas finais do capítulo

Obrigado a todos que acompanham a fic >u<
Notei que alguns leitores shippam SolyxDist... Mas e os DistxTempo?? Cadê vcs? hauhsuahsuhahs
Quero saber quem vcs shippam, meus caros >< kkk
Bjuxx