Armagedom escrita por Rodrigo Lemes


Capítulo 2
Resgates


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, tudo bem?
Bom, esse é o segundo capítulo, então já tem muito mais ação que o primeiro.
O foco desse episódio foi ver as pessoas se auto-ajudando, além de mostrar cada vez mais as principais habilidades dos três personagens principais.

E por último, e não menos importante, o próximo capítulo sairá Quinta-Feira, num horário indeterminado.



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Parte I – Charlie Manson

Charlie voltou a dormir por toda à tarde, pois estava com uma aparência cansada e doentia. Seus olhos azuis agora pareciam escuros e sem vida, cheio de remelas e olheiras de sono. Sua pele já estava mais pálida do que de costume, e sua cabeça parecia estourar de tanta febre e enxaqueca.

Durante o tempo que esteve dormindo, Charlie não teve bons sonhos. Sonhou com a garota misteriosa que o salvará, que logo depois descobriu ser Alice, a mesma menina que ele tanto admirou no primeiro dia de aula. Em geral, seus sonhos eram sempre pesadelos sem fim, e acordar gritando pra ele sempre foi um costume.

– AHHHHHHHHHH! – Gritou Charlie, assustado ao acordar.

Quando tomou sã consciência, o garoto olhou pelo vitro mais próximo e percebeu que o pôr do sol já havia se iniciado. Como assim eu dormi uma tarde inteira, pensou ele. Levantou-se calmamente, ainda um pouco zonzo, como quem acorda de ressaca. Percorreu por todo o sótão da escola e não achou absolutamente ninguém, exceto um bilhete. Em seu conteúdo havia as seguintes palavras:

“Querido amigo Charlie, fomos buscar suplementos na cidade. Voltaremos ao começo do anoitecer, e caso nos atrasemos, fique ciente que ficaremos bem.
Com amor, Silena Bouvier.”

Charlie provavelmente obedeceria essa carta, pois ele sempre atendia as ordens que recebia, por mais grotescas que fossem. Mas ficar ali, sem nenhuma arma, nem comida, no meio de um apocalipse não era uma coisa boa. Aliás, ele estava ficando faminto, e remédios não costumam matar a fome.

Já passavam das oito horas quando Charlie, cada vez mais indignado com o que vinha acontecendo acatou a ordem recebida e foi para o pátio. A noite parecia profunda, e nenhum dos lobos pairava por perto. Os flocos de neve pareciam mais finos, e o chão gélido já queimava seus pés descalços.

E então ele se sentou no chão. E começou a chorar. Não por estar triste, mas sim pelo fato de seu irmão, o único amigo que ele teve em toda a vida poderia estar morto. Não, não é verdade, pensou Charlie. Meu irmão é um dos melhores caçadores de lobos, então ele poderia sobreviver, como a menina estranha de vermelho.

O momento solitário de Charlie foi interrompido quando ele começou a ouvir choros de uma menininha. Não demorou muito para dois vultos saírem de dentro da floresta. Uma das pessoas era um homem velho, de pelo menos sessenta anos. O homem corria com muita rigidez segurando uma garotinha loira no colo, que deveria ter no mínimo sete anos. Suas bochechas rosadas e olhos azuis a deixariam parecendo uma barbie, caso o apavoramento em seus olhos não fossem torturantes. Logo depois, Charlie percebeu do que as duas pessoas estavam correndo. Não era um, ou dois lobos. Mas sim uma alcateia inteira, de pelo menos quarenta bestas atrás deles!

Charlie correu para ajuda-los, embora fosse franzino e limitado fisicamente. Mas ele tinha um dom que poucas pessoas tinham: inteligência e conhecimento.

– Dê a garota a mim, senhor! – Disse Charlie ao velho, que já estava cansado.

– Pegue ela e fuja, correndo. Por favor... – Suplicou o homem, que com suas limitações físicas, agachou-se num auto suicídio. Aos poucos, a alcateia de lobos se juntava para mais um massacre humano, pondo tudo pra dentro.

– Vovô! – Gritou a menina, com uma voz abafada e chorona.

Charlie fez o que todo mundo faria. Tampou os olhos da pequena garota, evitando que ela visse seu próprio avô ser comido por quarenta demônios.

Mas, no fundo, Charlie entendia a demonstração de amor. O velho homem se sacrificou para salvar sua neta, mesmo que isso custasse sua própria vida.

Naquela hora, Charlie não hesitou, e correu sem olhar pra trás.

Parte II – Silena Bouvier.

Enquanto Charlie dormia, Silena estava junto com os demais sobreviventes ao norte da cidade, em busca de suprimentos para a sobrevivência. Ela se encontrava muito abatida e assustada pelas coisas que vinham acontecendo. Porém, prometeu a si mesma que não iria mais chorar por Phil nem por nada. Precisava ser forte, e dar uma de garotinha em perigo não seria a melhor escolha.

Os sobreviventes se separam em dois grupos: Silena ficaria junto com Dog para buscar roupas e suprimentos, enquanto Alice e os demais iriam à busca de comida. Todos estavam na região norte da cidade, um lugar não muito habitado e rico. As ruas estavam desertas, sem nenhum sinal aparente de cadáveres. Só havia destruição, sangue e carros queimados, que ninguém sabia da onde vinham.

Silena desceu da moto de Dog no shopping mais próximo. Ele era pequeno e tinha só dois andares, mas só pelo fato de ter coisas do “mundo real”, Silena já ficava agradecida por se distrair.

– Eu vou entrar o mais rápido possível e reunir todo o estoque de roupas que conseguir. Você ficara aqui de vigia, ok Dog? – Propunha Silena, elaborando um plano.

– Tudo bem. – Foi tudo o que Dog respondeu, aparentemente despreocupado com tudo.

Os dois estavam armados com espingardas, porém só possuíam cinco balas. Ou seja, a falta de munição era uma grande desvantagem.

Silena era filha do chefe de polícia, e a única coisa que a livrava de ser uma “patricinha em perigo” era o fato de ela saber atirar muito bem. Além de tudo, a garota era fanática por armas, conhecendo de tudo um pouco.

Logo na entrada do Shopping, ela percebeu que havia alguns cadáveres sangrando no chão, aparentemente mortos pelos lobos. Olhar para aquele banho de sangue era algo complicado, mas ela conseguiu reunir o máximo de roupas que pode e se mandar em menos de cinco minutos.

Quando estava perto da porta, Silena sentiu uma mão gélida tocar seu ombro. Poderia ser Dog com suas brincadeiras fúteis, mas pelo o que se lembrava, ele não tinha mãos tão peludas. Quando se virou para trás, já assustada, viu uma criatura corpulenta de 1,90m. Era igual os lobos que atacaram a cidade, porém sua pelagem era marrom, e os olhos cor de chocolate, como os dela. Aliás, esse lobo se parecia muito com Silena, o que a deixava ainda mais assustada.

Não hesitou. Logo após o animal ter lhe tocado, ela passou por entre as pernas do humanoide, visando atirar na nuca. Strack! Bastou uma bala na nuca para que o monstro caísse, morrendo. Ufa! Pensou Silena.

Porém, quando ela se deu conta, não havia mais cadáveres. Eram todos lobos, ainda maiores que o outro que tinham a atacado.

Então é isso, pensou Silena. Todas as pessoas que morrem, viram lobisomens, como nos filmes de apocalipse?
Não dava para afirmar se tudo isso era verdade, pois ela não teria mais tempo pra ficar pensando nos “porquês”.

1, 2, 3, 4... 5. Contou Silena, devagar. Eram cinco lobos ao todo, para cada bala. Eles pareciam desengonçados, como um filhote que acabava de andar. De fato, eles tinham acabado de nascer, só que numa nova forma de vida.

Assim que sacou a arma, Silena subiu entre as escadas rolantes, para atirar do alto nos lobisomens, que não pareciam notar sua presença.

Mas afinal, o que realmente os iria atrair? Porque eles pareciam não notar Silena? Era algo muito inexplicável, e mais uma das perguntas impossíveis de serem respondidas.

Ao alto, a menina dos olhos cor de chocolate preparou sua primeira bala. E matou o primeiro lobo. E depois preparou a segunda bala, que matou o segundo lobo. E depois preparou a terceira bala, que matou o terceiro lobo.

Agora, só restava uma bala para dois lobos. Eles pareciam ter despertado atenção com o som dos tiros, e foram subir as escadas rolantes em busca da presa. Não havia escapatória. Dog estava do lado de fora, mas parecia não prestar atenção em praticamente nada que acontecia, nem mesmo nos barulhos de tiro. Silena hesitou, e então, falou baixinho:

– Vou morrer lutando.

E então ela saiu em disparada contra os dois lobos. PÁ! Silena deu o primeiro tiro em cima de um lustre, que caíra no menor lobisomem do grupo, deixando o imóvel. Então, ela foi pra cima com a espingarda, saltou por entre o lustre, e quando estava prestes a enfiar sua arma dentro da boca do monstro, uma enorme pata negra a atirou para longe, sob os vidros de uma prateleira.

Caída, arranhada e ensanguentada. Não lhe faltará coragem dessa vez, pensou Silena. Só faltava força. A cada passo que o lobo dava, ela sentia gélida, indefesa, como uma pequena donzela que não tinha mais nada pra oferecer, a não ser beleza. Ela se levantou com dificuldades, lutando contra os ferimentos físicos que a deixavam completamente limitada, e com um corte na boca que estava uma cachoeira de sangue.

– EU NÃO VOU DESISTIR! – Gritara Silena, num tom agudo e forte, com sua boca ferida.

Então, Silena pegou uma pequena tesoura azul que estava encima do balcão de clientes. O lobo que a intimidava era enorme, tanto que se curvava para caber dentro da pequena loja.
Só havia um jeito de mata-lo, e esse jeito era o cegando com a tesoura, como Phil fizera ao derrotar o monstro. Depois disso, ela poderia morrer ali, onde pelo menos não teria ido em vão.

– Ahhhh! – Gritou Silena, num grito de guerra, indo pra cima do lobo.

Tudo foi em vão. O humanoide já a dominava com uma só mão, levantando ela sobre o ar e abrindo sua boca. Ele tinha neutralizado o ataque tão facilmente, mas como... Como, se perguntava a menina.

Seus olhos agora não demonstravam nada além de desespero e solidão, e seus cabelos escuros estavam encharcados de um suor gelado que lhe percorria a espinha. Sua boca virava uma mina de sangue, escondendo seus belos lábios carnudos avermelhados.

Então, quando ela já fechava os olhos, inconsciente demais para tentar uma reação, um tiro de flecha perfurou por entre a nuca do lobo, matando-o. Silena foi atirada no chão, ainda zonza.

O disparo foi feito por Alice, que ao chegar perto de Silena, só disse palavras tranquilizadoras.

– Descanse um pouco, você vai melhorar. Tudo irá ficar bem. – Tranquilizou Alice, fechando os olhos da garota.

Alice Ivanov – Parte III

Alice estava tratando dos ferimentos de Silena, enquanto Elizabeth e Antônio botavam os suprimentos dentro do carro. A garota dos cabelos escuros ficaria bem em breve, já que os machucados não eram tão profundos e graves.

Depois dela subir no carro, ficou pensando nas coisas. Porque Dog sumiu logo quando Silena mais precisava dele? E porque havia lobos no Shopping, um espaço fechado, e não na cidade que estava muito mais destruída? Eram perguntas quase impossíveis de serem respondidas, mas Alice adorava enigmas. Principalmente os mais difíceis de serem resolvidos.

Pegou uma faca que levava sempre consigo no bolso, um presente do pai dela, que passava da família por gerações e gerações. Ficou girando a lâmina, olhando para a janela do carro, vendo o caos tomar conta da população.

Logo ao chegar perto da escola, Alice pediu atenção redobrada do professor Antônio, que estava dirigindo seu velho carro branco. Chegando próximo do colégio, há pelo menos cinquenta metros, a garota pediu calma. Ela iria descer e ver se o caminho estava livre, sem nenhum obstáculo.

Assim que desceu, ela puxou o arco e flecha com sua mão. Na boca, segurava novamente a faca pontuda e mortal. Encontrar um lobo não é algo muito agradável, mas agora imagina você encontrar quarenta? Sim, sim! Havia uma alcateia completa de lobisomens, todos famintos e sedentos de sangue, buscando atacar duas pessoas no telhado. Desprovidos de inteligência, eles não conseguiam pegar o alvo com força física.

Olhando direito, Alice percebeu que conhecia alguma das duas pessoas. Uma delas era Charlie, o garoto que ela havia acabado de resgatar ontem. A outra era uma garotinha que ela já tinha visto na cidade, mas não se lembrava muito bem quem era.
Não pode ser possível, pensou a garota, falando outros palavrões baixinhos.

Não havia como resgatá-los. Mesmo que ela usasse o carro de Antônio, uma hora ou outra eles seriam pegos e estraçalhados pelos lobos. Mas havia um jeito de conseguir derrotar todos ao mesmo tempo... Embora ela não soubesse como.

Fogo, pensou Alice. Sim, fogo! Ela costumava caçar os animais, e muitas vezes o queimavam com fogo quando não iriam render nenhum lucro.

Perto do portão da escola havia um pouco de gasolina, então se ela consegue acertar uma flecha em chamas no galão o chão pegaria fogo, mas havia um “porém”... Se ela não acertasse a flecha impulsionando a cair, o lado de cima que pegaria fogo, ao invés do lado de baixo, o que resultaria na morte de Charlie e da pequena garota.

Alice costumava ser muito confiante, e hoje não foi uma exceção. A garota da capa vermelha pegou a sua flecha mais fina (as que ela só usa para matar pássaros e esquilos), e esfregou-a sobre duas pedras, até ela ficar iluminada pelo calor do fogo. Sacou então seu arco sob a flecha, pairou a faca no chão, e se benzeu, implorando a todos os deuses para não errar. Então ela atirou.

Um clarão iluminou o céu escuro e frio de inverno, a neve que caia sob as árvores em chamas agora derretia tamanho era o calor do incêndio. Alice não hesitou, e saiu correndo com seu capuz vermelho sob a cabeça. No caminho tinha mais de vinte lobisomens não queimados, então ela perdia algum tempo decepando a cabeça dos monstros.

Quando chegou na escola, subiu as escadas incendiadas rapidamente, até encontrar Charlie abraçando a garotinha, tentando protege-la dos monstros que a cercava. Ela conseguiu chegar no momento exato!

–– Me dê a garotinha, Charlie! – Disse Alice.

–– Mas eu nem sei quem é você! – Indagou Charlie, provavelmente esquecido de quem era a menina.

Alice hesitou, e então abaixou o capuz vermelho que lhe cobria o rosto. Mesmo assim, Charlie não a identificou como conhecida.

–– Eu posso te salvar! – Disse ela, indignada pelo fato do garoto não a reconhecê-la.

–– Eu vou salvar a mim mesmo! – Disse Charlie, agarrando a mão dela e levando consigo a garotinha.

–– Você tá louco, nem me conhece direito e já vem pegar na minha mão! – Resmungou Alice.

–– Ah, eu ficaria com vergonha senão fosse morrer logo agora. – Retrucou Charlie, sem nenhuma malicia aparente.

–– Você é muito destemido para um magricelo. – Resmungou novamente a menina ruiva.

Os dois então seguiram para o único corredor livre de chamas, até sumirem da vista dos lobisomens. Quando estavam prestes a descer as escadas dos fundos, Alice tropeçou num pedaço de madeira, e acabou torcendo o tornozelo. Quando foi verificar o ferimento dela, Charlie percebeu que sua perna estava toda ralada.

–– Vá logo e me deixe aqui! Eu vou escapar! – Gritava Alice, com uma mistura de dor e insatisfação.

–– Não. Eu não vou te deixar pra trás, por mais doidinha que você seja. – O tom de voz de Charlie já era grave, como quem dá uma ordem que não pode ser desrespeitada.

– Eu disse que posso me virar sozinha!

–– Pela última vez garota, eu não sou o tipo de cara que deixa os outros pra trás! Entenda isso de uma vez! – Gritou Charlie, agora num tom de voz alto e raivoso.

Assim, ele pediu para Alice subir em seu colo e segurar Mandy (o nome da menininha que fora salva), enquanto ela estava desacordada.

Em qualquer circunstância isso parecia difícil, pois morrer daquela forma inútil, dependendo de um menino franzino e idiota, não era o tipo de Alice. Ela sempre foi à durona, habilidosa, inteligente... Aceitar ajuda dos outros era algo que feria cada vez mais seu ego.

E então, sem hesitar, Charlie correu rumo às escadarias, desceu rumo floresta a baixo, enquanto ouvia a escola se auto explodir.

Alice, então, pensou: valeu muito a pena salvar esse babaca na escola.


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Notas finais do capítulo

E então, curtam esse capítulo? Comentem, opinem, todas as críticas são bem-vindas!



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