Armagedom escrita por Rodrigo Lemes


Capítulo 3
Ligação


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, mil desculpas por ter atrasado tanto a postagem desse capítulo. Acabou acontecendo alguns imprevistos, e então só tive tempo de postá-lo agora, ok gente? rs

Boa Leitura.



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Parte I – Charlie Manson 


 

Charlie teve uma perda de memória passageira que o fez ficar algumas horas sem reconhecer ninguém. Ele só retornou a consciência normal quando viu Silena desacordada e ferida, coisa que o despertou alguns sentimentos.

Já haviam se passado três dias desde o incêndio na escola.  Logo o grupo migrou para outro lugar ao norte da cidade: uma casa boa e confortável. Cada um se encarregou de algumas tarefas: Elizabeth, a enfermeira, cuidava dos ferimentos do grupo, Charlie e Alice iam à procura de comida, enquanto o professor Antônio vigiava a casa. Silena, ainda desacordada e doentia, não pode ajudar em nada.
 Nenhum lobo aparecera nos últimos dias. Desde então, eles batalhavam caçando plantas e animais comestíveis na floresta. Nas caçadas diárias, Charlie e Alice punham suas habilidades a prova (por mais que o garoto não tivesse nenhuma habilidade com caça).

– Anda logo, bundão! – Gritou Alice para seu novo amigo magricelo, que estava demorando demais.
– Já vou! – Resmungou o garoto, que agora descia as escadas todo desengonçado, tentando fechar o zíper de sua calça.
 

O menino franzino vestia uma camisa social azul, calças jeans e um all star velho que encontrou no lixo. Já a garota ruiva não passava maquiagem há dias, pois não tinha muito tempo pra pensar em beleza. Mesmo assim, a garota da capa vermelha vivia linda e estava vestida com uma camisa preta do Nirvana, saia xadrez, meias até o joelho e uma sapatilha preta. Seu capuz vermelho não poderia ficar para trás, claro.
 

Os dois adolescentes pegaram suas blusas de frio e foram para mais uma caçada diária. Por conta do grande volume de neve que caía, ficava cada vez mais difícil de achar bons bichos na floresta. A maioria estava escondida em suas tocas e cavernas.
 

Não demorou muito para que os dois adolescentes chegassem à mata. Os pinheiros estavam brancos por conta dos pequenos flocos de neve que caiam no chão gélido e áspero. O vento soprava suavemente, ecoando pelo local.
 

Assim que adentrou a floresta, ambos perceberam uma estranha movimentação perto do riacho.

– Ouviu isso? – Perguntou Charlie a Alice, um pouco assustado.
– Não faço ideia. São barulhos de passos humanos, mas... Ninguém que sobreviveu iria se aventurar por aqui. – Respondeu a menina ruiva, tranquilamente.
 

Assim que se aproximaram mais do pequeno rio, puderam ouvir algumas vozes humanas, porém o vento soprando fortes os atrapalhava um pouco a audição. Eram vozes masculinas e grossas, com um breve sotaque americano.

Quando eles se aproximaram das rochas que cortavam o riacho, puderam visualizar um grupo de cinco pessoas. Eram todos homens em roupas militares com um capacete preto lhes cobrindo a cabeça.

Todos estavam armados com fuzis, exceto o mais baixinho da tropa, que estava carregando uma pistola na mão.

– Quem são esses caras? – Sussurrou o menino de olhos azuis.
– Não sei. – Foi tudo o que a menina ruiva respondeu.
– Você ouviu algum barulho? – Perguntou um dos homens do grupo ao seu companheiro.
– Você sempre ouve coisas demais, Jack. Deveria se tratar! – Contestou o outro, rudemente.
– Ora, prestem atenção na missão, seus incompetentes! Enquanto nós não acharmos os sobreviventes dessa porcaria não poderemos sair daqui – Disse o homem que carregava a pistola, aparentemente o comandante do time.

– Então, esses caras vão nos salvar? – Perguntou Charlie, baixinho.
– Não confio em pessoas assim. E muito menos acredito que sejam do governo Canadense ou do Americano. Devem ser alguns militantes idiotas. – Respondeu a garota da capa vermelha.
– Então, realmente pode haver pessoas vivas lá fora. – Comentou Charlie, com um pouco de esperança. – Será que isso só aconteceu aqui em Times City, e não no mundo inteiro?
– É provável, Charlie. Mas não passam de suposições... Agora imagine, que, se nossa cidade for a única que estiver com esses problemas, deve haver uma enorme cerca nos separando do resto do mundo. Eles não podem transformar isso em uma epidemia global.
– Uhum. – Assentiu o garoto, baixinho.

 O restante da conversa daquele grupo não passou de besteiras. Os assuntos eram sempre os mesmos: mulheres, dinheiro, carros e poder. “Estou ficando náuseas, esses caras só pensam nisso”, se questionou Charlie, em seus pensamentos. 
 

Já se passou meia hora quando os homens pararam de conversar e foram investigar o local. Um deles passou bem perto de Alice, o que fez com que ela desce ordens para que Charlie voltasse ao seu destilo.

PÁ! O barulho de um tiro ecoou pelo local, quebrando o silêncio intenso da floresta. “Não, eles não podem nos matar”, pensou Charlie, assustado. Ele e Alice saíram em disparada rumo à sobrevivência. A garota ruiva estava com seu arco e flecha a postos enquanto Charlie segurava uma pequena pistola, a qual ele mal sabia atirar.

 Assim que olharam pra trás, perceberam que estavam cercados por um carro e dois homens que vinham a pé. Eles apontaram suas metralhadoras para os dois adolescentes, que só se renderam, esperando a morte.
– Se eu morrer saiba que eu te acho bonitinha, Alice. – Sussurrou Charlie no ouvido da menina ruiva.
– Você é um babaca. – Foi tudo o que ela disse.
O garoto não era muito o tipo de cara que conseguia fazer charme para as garotas e sempre que tentava ser assim fracassava. Mas como estava prestes a morrer, isso não fazia muita diferença.
– Ora, ora parem de namorico! – Anunciou o homem baixinho, líder do grupo.
– Mas senhor, eles só são crianças. Não vale a pena mata-los. – Disse o cara que aparentemente se chamava Jack.
– Sim, eu até que tenho pena deles. Mas fiquem cientes de que a Capital dá um bom dinheiro pela carne desses dois! – Anunciava o líder do esquadrão como se Charlie e Alice fossem mercadorias.
– Eu não vou ser morta por nenhum idiota como vocês. – Retrucou a menina ruiva.
 “Ela quer se auto suicidar?”, pensou Charlie. 
 Alice levantou-se do chão, saindo da posição de rendimento. Sacou um pequeno instrumento musical de madeira, aparentemente uma flauta, e tocou algumas notas suavemente.

– Mas que porcaria você tá fazendo, Alice! Eu não quero ver uma amiga minha morrer! – Gritou, Charlie, raivoso.
 

O líder dos militantes sacou sua pistola, ameaçando Alice. Consequentemente, a menina não se importou, argumentando:

– Aposto que vocês nunca mataram alguém. Primeiro, a postura de pegar na arma está errada. Segundo, nenhum atirador profissional iria ter o diálogo de vocês. Além do mais...
 

Quando ia completando frase, a menina ruiva foi interrompida.
– CALE-SE! – Disse um dos militantes, apontando um fuzil para a cara da garota ruiva. 
 

Assim que ele ia puxar o gatilho, uma enorme criatura de quatro patas saltou sobre o homem, matando-o de imediato. Se aproveitando do medo do grupo, Alice sacou seu arco e flecha, perfurando e imobilizando os outros quatro membros do grupo.
 

Charlie estava paralisado, era um espectador a parte. Ele socou a neve com força até seus dedos sangrarem. “Como sou inútil, não fiz nada...”, pensou o menino de olhos azuis.  

 Seu momento de indignação foi quebrado por um enorme tigre branco, que partiu pra cima dele, o lambendo.

– Hey, Zeus! Ele é amigo, e por mais que seja bonitinho sua carne é ruim – Ordenou Alice ao enorme felino, como se ele fosse seu bichinho de estimação.
– Hã... É... Não me diga que... – Gaguejou Charlie.
– Ah, sim. Zeus é meu tigre. 
– Que tipo de pessoa tem um tigre? E que tipo de pessoa dá um nome tão ridículo pra um animal? – Questionou-se Charlie.
– Hey, é o nome de um deus grego! – Retrucou a menina ruiva!
– Odeio os gregos, principalmente os deuses. Zeus não é um cara tão legal como no Percy Jackson... – Justificou-se o menino.
– Ah, é. Esqueci que você teve péssimas lembranças da Grécia. Não queria tocar nesse assunto... – Lamentou-se a garota da capa vermelha.
– Tudo bem. – Disse Charlie sorrindo pra Alice. E ele nunca sorri (exceto quando está rindo de alguma piadinha infame).

 Zeus tinha mais de 1,80m em pé. Era corpulento, tinha a pelagem branca e alguns traços negros. Seus olhos eram azuis como o oceano. Mesmo assim, Manson pareceu não gostar muito dele, então tentou evita-lo.
– Nós ainda temos que resolver muitas coisas por aqui. – Disse a menina ruiva, pondo seu capuz vermelho na cabeça.
 

Assim, os dois andaram por entre as árvores com Zeus e com a fina neve caindo por suas cabeças.

Parte II – Silena Bouvier.

 Enquanto dormia,  Silena não teve sonhos muito bons. Na primeira vez, sonhou que estava num quarto fechado e completamente branco, amarrada numa camisa de força. Seu corpo inteiro sangrava, enquanto ela implorava por ajuda.
 

Já na segunda vez, ela estava num hospital médico, recebendo injeções na veia de um homem velho e barbudo, com expressões rudes.
– Onde eu estou! – Gritou Silena, ao acordar.
– Calma, meu amor. – Disse uma voz feminina tranquilizadora. – Você está bem.
– Enfermeira Elizabeth?! O que a senhora, hã... – Perguntou Silena a mulher loira.
– Você se feriu numa luta, contra o que mesmo? Ah, é... Contra uns lobos que querem dominar o mundo. Mas você sobreviveu. – Indagou a enfermeira, tentando tranquilizar sua paciente.
– Então, tudo é verdade? O que aconteceu com Phil, Charlie, eu... – Sua voz já estava fraquejada, um pouco chorona. 
– Sim, meu amor. – Lamentou Elizabeth.

Por mais que quisesse ser forte, Silena sentia muito pelo o que vinha acontecendo. Ela era a mais feliz de todos os sobreviventes, e, bem, ter sua vida estragada por um apocalipse não era lá muito bom.
– Você precisa comer alguma coisa. – Sugeriu a enfermeira. – Vamos até a cozinha, eu preparo um jantar pra você.
– Tudo bem. – Assentiu a garota de cabelos marrons finos, levantando-se.
 

Silena sentiu que seu abdômen doía muito, assim como todo seu corpo dolorido e cheio de hematomas. Mesmo assim, ela não enfrentava grandes dificuldades para se levantar e andar alguns metros.

 Chegando à cozinha, havia uma pequena mesa rústica no canto. Nas paredes laranja-mecânica havia fotos de ídolos do rock antigo, como: John Lennon, Kurt Cobain e Jimmy Hendrix, além de alguns cd’s de música alternativa. A forte luz acesa, aliada com a pintura laranja quente, dava a impressão de que estava calor dentro da cozinha, por mais que estivesse nevando lá fora.

 Elizabeth botou seus longos cabelos loiros para trás, amarrando-os num rabo de cavalo, e então começou a puxar assunto com Silena. Elas falaram sobre namorados, faculdade, esmaltes e roupas. Essas coisas de mulheres, sabe?
 

A menina percebeu então que não era a única que tinha algo a perder. E que pensar que só ela estava sofrendo era algo egoísta, de certo modo. Ela parou para pensar nisso quando descobriu que todos os sobreviventes tinham objetivos na vida. Elizabeth iria cursar medicina avançada no próximo ano, para deixar de ser só uma enfermeira na escola. O professor Antônio iria para Toronto ensinar educação física num bom colégio particular, e também ficaria mais próximo de seu filho. Alice e Charlie, mesmo parecendo meio mórbidos, ainda eram muito novos, e teriam toda uma vida pela frente.
 

Pensar como as coisas seriam, e não como são não é algo muito legal. É bom e mau ao mesmo tempo.

 Assim que terminou de tomar sua sopa de ervilhas, Silena foi para o quintal da casa ver como era a luz do dia (coisa que ela não via há três dias. O carrancudo e barrigudo professor Antônio estava olhando para a neve com uma caneca cheia de café em uma mão enquanto a outra segurava um velho de taco de madeira.
– Pegar friagem faz mal! – Resmungou o rabugento Antônio.
– Ah, dá um tempo professor. – Foi tudo o que  respondeu.
 

O resto da tarde foi completamente calmo e normal, o tipo de dia que todo mundo precisa para esquecer-se de seus problemas. Silena passou o resto da tarde conversando com a enfermeira, sua nova amiga.
 

Ao cair da noite, todos ali já  estavam tristes por conta da demora de Charlie e Alice. Silena não queria pensar no pior, mas depois de tudo o que ela passou ser muito otimista não era algo legal. Então, o telefone da casa tocou. Todos ficaram gélidos, com medo. Então, a menina de olhos com cor de chocolate correu e atendeu.

– Alô?
 Então, uma voz metálica e artificial ecoou do outro lado do telefone. 
– Olá, aqui é a Capital. – Foi tudo que o anonimato disse.

Parte III - Alice Ivanov


 Alice tentou arrancar algumas informações do grupo de militantes que tentaram matar a ela e ao Charlie, porém não obteve nenhuma resposta concreta.

 Já passavam das 20h00min quando eles retornaram da caça, e o frio da noite não dava trégua.
 

Quando se aproximaram da casa onde todos os restantes dos sobreviventes estavam os dois adolescentes avistaram duas pessoas na porta. Ao se aproximarem mais, perceberam que eram Antônio e a garotinha loira que Charlie resgatou. Os dois estavam conversando e sorrindo, o que fez com que Alice ficasse surpresa. O professor de Educação Física não é lá um cara muito legal que vive sorrindo.
 Assim que chegaram perto da casa, Mandy, a menininha loira, abraçou Charlie.

– Estava com saudade de você irmãozinho. – Disse a pequena menina de sete anos, sorrindo.
– Ah, eu também, Mandy. – Charlie retribuiu o carinho.
 

Desde que Charlie resgatou a garotinha, os dois estabeleceram fortes relações. Bom, ela era só uma menininha de sete anos e passar por uma perda de parentes logo nessa idade não era algo muito agradável.
 

Charlie ficou lá fora, conversando com Antônio e Mandy. Já Alice, entrou na casa para ver como andavam as meninas. Quando abriu a porta da sala, percebeu que Silena estava ao telefone. 

– Como assim o telefone está pegando? – Perguntou Alice à Elizabeth, que estava do lado da garota de cabelos negros.
– Silêncio! – Sussurrou a enfermeira.
– Mas quem é Capital? – Perguntava Silena, ao telefone. – E como sabem nosso nome?
 

Um silêncio infame ecoou pelo local por pelo menos cinco minutos. Silena não falou nada ao telefone. “Coisas boas não vão acontecer”, pensou Alice.

 No momento exato em que Silena iria responder à voz anônima no telefone, um objeto redondo de metal, muito similar a uma bola, foi atirado dentro da sala, quebrando o vidro. Alice só teve tempo de gritar e empurrar, ao mesmo tempo, Silena e Elizabeth. Um clarão enorme surgiu por todos os cantos da casa. Quando abriu os olhos, a menina ruiva se deparou com uma enorme cena de destruição.  Toda a casa havia sido queimada e destruída e alguns móveis rústicos estavam com pequenas chamas. Somente o teto e uma mesa de pedra ficaram intactos, que foi o lugar onde elas se esconderam da bomba.

Então, ocorreu um pensamento na cabeça de Alice. “Charlie, Mandy, Antônio... Onde estão eles?”.

– O que aconteceu com eles? – Gritou Alice, levantando-se desesperada.
– Não, não pode ser! Charlie... Mas eu nem pude falar com ele ainda! – Lamentava Silena, com seu olho encharcado de lágrimas.
– Calma menina. – Tentava tranquilizar Elizabeth.
 

Assim que saiu lá fora, Alice não encontrou nada além de neblina, fumaça e neve, que lhe cobriam completamente a visão. Não conseguiu encontrar Charlie, Mandy e Antônio, por mais que gritasse por seus nomes. 

 Então, a menina ruiva sacou sua faca, cortando seus braços. Com o sangue escorrido, ela escreveu as seguintes palavras sob a neve que cobria o chão: “C, M e A”. A inicial do nome de seus três amigos desaparecidos.

– Prometo que vou vinga-los. – Disse a menina ruiva, ao lado de Zeus.


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Notas finais do capítulo

Ah, nesse capítulo não apareceu lobos porque decidi focar mais na apresentação da história, no aparacimento do verdadeiro inimigo.

Ps: O próximo capítulo sai nesse final de semana.



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