Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 16
Lábios macios também comem carneiros.




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– Vovó, eu sei que o Dean foi embora porque quis... Mas eu me preocupo com ele! Está solto pelo mundo criando “Chuck, o brinquedo assassino” como se fosse sua filha...

Hilary rolou os olhos. Aquela história de tratar a filha do irmão como se fosse um monstro precisava acabar.

– Sam, a polícia está a procura do seu irmão... Não tem nada que você possa fazer, filho...

– Dean é esperto, vovó... A polícia não sabe procurar por ele tão bem quanto eu...

Hilary perdeu a paciência. Como aquele jovem esquizofrênico podia se achar superior aos detetives de polícia profissionais...

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Abraçado a Samantha, Dean temia pela própria vida. Não que achasse que os Bicudins eram uma ameaça. Eles simplesmente não viviam de forma compatível com sua vida humana... Como poderia ele aprender a comer carne humana para sobreviver? Não conseguiria... Não podia entretanto simplesmente se deixar morrer. Não agora que era responsável por uma linda criança. Teria que tomar uma decisão. Debilitado e confuso, o caçador pensava em uma solução mas não parecia encontrar nenhuma.

– Dinner!

O rapaz viu a porta se abrir revelando Matilda, que entrou no aposento com uma travessa cheia de frutas e verduras cozidas. O louro não pôde acreditar no que viu. Não pensou que sua amiga bicuda fosse de fato se esforçar para trazer aquelas coisas para ele. Em um impulso, o caçador levantou-se do ninho e deu um beijo na bochecha da monstra.

– Obrigado, Matilda! Você é a melhor! – disse com entusiasmo.

Matilda sentiu a boquinha macia de Dean estalando contra sua pele. O que era aquilo? Ela não sabia, afinal seres bicudos não beijam... Sentiu sua face esquentar e sorriu bobamente.

– O que foi isso? – perguntou espantada.

Dean temeu ter sido um pouco atrevido, afinal aquela era uma princesa... Mas a expressão confusa de Matilda fez o rapaz perceber que ela de fato nem mesmo sabia o que era um beijo...

– Um beijo – respondeu. – Uma manifestação humana de afeto...

– Afeto? – Matilda corou novamente.

– Sim, os humanos beijam seus amigos, seus parentes, seu parceiros... – o caçador falou com a boca empanturrada de banana. – Desculpa, se você não gostou. Eu me esqueci que vocês tem uma cultura diferente.

– Ahh, Dinner, não tem problema... Eu gostei muito... Gosto de aprender sobre os humanos. Agora coma que eu tenho que resolver umas coisas.

Matilda sentia seu coração palpitar. Que boca mais macia era aquela... Como um ser tão feiinho podia ser tão atraente ao mesmo tempo. Dinner era um fofo!

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– Sammy, querido. E se eu te convencesse que a filha do seu irmão não é perigosa? Você deixaria essa busca para lá?

Sam ponderou. Se Samantha não fosse de fato um monstro, não teria com que se preocupar, e mais dia menos dia seu irmão estaria de volta. Afinal Sam acreditava que Dean não conseguiria viver assim tanto tempo longe dele...

Sim, se soubesse que seu irmão estava bem de verdade, não precisaria ir atrás dele. Difícil mesmo seria a vovó convencê-lo que a Bicudin mirim não era uma ameaça. Acenou a cabeça afirmativamente.

– Ótimo! – sorriu a velha. – Então coma o cozido de carneiro que a vovó fez e depois podemos conversar. Prometo que se não conseguir te convencer dessa vez você pode ir atrás do seu irmão. Combinado? – Hilary tinha uma expressão bondosa nos olhos. Sam teve que concordar.

Após devorarem um carneiro inteiro com batatas e molho de hortelã, Sam e Castiel, que agora era também um apreciador da comida da vovó, sentaram-se na sala com ela.

– Vou contar uma história... Pode ser?

Sam sorriu. Como Hilary pretendia convencê-lo com uma simples historinha. Assentiu. Logo poderia partir a procura do irmão com o consentimento de Hilary, e por conseguinte de Castiel. O anjo não usaria mais seus poderes para mantê-lo preso naquela lugar.

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Após se alimentar, Dean se lavou com pôde e tirou uma bela soneca. Sentiu-se revigorado ao acordar. Samatha parecia feliz e bem disposta. Não era justo que ele vivesse naquela comunidade, comendo e dormindo, sem ajudar em nada... Pegou a filhinha e saiu com ela para um passeio.

– Dinner! – O caçador avistou Mafalda correndo em sua direção. – Onde você pensa que vai?

– Estou dando uma volta com a Samantha, e queria ajudar vocês com alguma coisa... Fazer algum trabalho. Não quero viver aqui como um parasita.

Mafalda não gostou daquela história. Dinner tinha que guardar todas as suas energias, descansar bastante. Precisava permanecer o mais sedentário possível até o dia da festa. Faltavam poucos dias agora.

– Dinner, você ajuda mais ficando no quarto... – reclamou a bicuda.

– Ahh não, não gosto de me sentir um inútil...

– Você pode me ajudar, vem cá! – Disse então Matilda que apareceu por trás. Ela tinha ouvido a conversa dos dois. Se ela não podia evitar o sacrifício do homem, podia pelo menos proporcionar-lhe bons momentos antes da morte.

– Matilda, ele precisa descansar!!! – Berrou Mafalda exasperada.

– Pode deixar que vou cuidar bem dele. Venha comigo, Dinner!

Dean sorriu para a princesa mais velha e aproximou-se dela.

Mafalda saiu zangada e batendo pé. Foi direto contar para a mãe que sua irmã estava tentando sabotar o seu jantar de aniversário.

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– Sua irmã não precisa se preocupar tanto comigo, eu já me sinto bem... – Dean comentou de bom humor. Estava se sentindo verdadeiramente acolhido agora. Os Bicudins eram criaturas muito amáveis. Acolheram um desconhecido e tratavam dele com todo carinho.

Matilda sorriu para o caçador. Pobrezinho, como podia ser tão inocente... Em seguida ela o levou para um passeio pelas dependências da toca. Mostrou Bicudins que trabalhavam na faxina, e outros na cozinha sob a supervisão de Maria do Bico.

– Eu poderia ajudar na faxina... – sugeriu o louro. Trabalhar na cozinha seria ruim demais, sabendo que comiam carne humana. Dean tentava não pensar nas vítimas que eram caçadas pela floresta. Tempos atrás o rapaz teria feito de todos os Bicudins seus inimigos. Mas agora via o quanto isso era bobagem. Eles comiam carne humana para se alimentar... Era artigo de primeira necessidade.

– Dinner, você não precisa se apressar a nos ajudar com serviço, sabe? Mafalda tem razão... Samantha ainda é muito pequena e te dá trabalho... Quando ela estiver um pouquinho maior te daremos uma ocupação. Que tal?

Dean concordou agradecido. Ficou agradecido também pelo tour que fizeram pela toca real. Matilda contou histórias da realeza Bicudin, tudo muito interessante... No fim do dia, ela conduziu o rapaz até seu quarto.

– Boa Noite, Matilda. Obrigada por me fazer companhia hoje. Foi muito legal passar o dia com você...

– Me dá outro beijo? – a Bicudin perguntou sem jeito.

Dean sorriu e estalou um beijo na testa da amiga, despedindo-se dela.

Quando Matilda se afastou sentia-se esquisita. A vontade que tinha era de ficar recebendo beijos sem parar... Estaria apaixonada? Como isso era possível? Sentia-se como um humano que caiu de amores pelo peru de Natal... Só podia mesmo estar doida... Mas Dean era tão... Tão... Tão... Tudo!

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Era uma vez uma família de carneirinhos. Mamãe carneiro, papai carneiro, e dois filhotinhos: Beto e Brito. Beto e Brito eram grandes companheiros, e o mais velho, Beto, estava sempre protegendo o irmãozinho. Eles viviam muito felizes e unidos, brincando e pastando por belos campos verdejantes. Além deles, vários outros carneirinhos viviam por ali. Eram todos muito amigos e viviam em harmonia.

Sam e Castiel prestavam atenção na historia, curiosos em saber onde Hilary queria chegar.

Certa vez Brito chamou os pais aflito. Estava brincando com seus amiguinhos quando um monstro horrível se aproximou. O monstro era feio e muito mau. Assassinou o amigo de Brito e carregou seu corpinho com ele.

Mamãe e papai carneiro ficaram alarmados. Proibiram seus filhinhos de saírem para brincar. Volta e meia um membro da comunidade desaparecia. O monstro estava a solta, e assassinava sem dó.

Em uma tarde ensolarada, Beto, o filho mais velho, cansado de não fazer nada, resolveu desobedecer seus pais. Saiu para passear sozinho. Beto estava saltitando alegremente quando, apavorado, viu um monstro horroroso andando em sua direção. O pobre carneirinho quase morreu do coração.

– Quem mandou desobedecer? – comentou Castiel com pouca simpatia. Sam olhou para ele perplexo.

– Mas o carneirinho conseguiu escapar, não foi, vovó? O Brito não pode viver sem o Beto...

Hilary continuou.

– Pois é, Sammy... Mas Brito precisou aprender a viver sem o irmão... Beto foi levado por um caçador, conhecido por big Herbert. Big Herbert era um sujeito pobre e bem grandão, mas tinha uma família e zelava por ela. Aquele dia era aniversário de seu filho, e Herbert queria comemorar.

Quando Big Herbert chegou em casa com a caça, foi uma grande festa. O filho gostava muito de carneiro ensopado com hortelã. Igual ao que eu fiz para vocês...

Sam sentiu seus olhos se encherem de lágrimas. Herbert era um monstro, que destruíra a vida dos pobres carneirinhos. Em compensação, era humano... Fazia o que podia para alegrar a família. Sam sentiu-se um hipócrita. Quem disse que os humanos eram melhores que os Carneiros? Ou melhores que os Bicudins?

Finalmente Sam percebeu que estava sendo especifista. Um tremendo idiota... Logo ele, que sempre fora tão tolerante no passado. Não era de julgar ninguém... E agora estava ali apontando o dedo para um bebê e acusando-o de ser monstruoso. Logo a criança que seu irmão acolhera com tanto amor...

– Sam, você está chorando? – Castiel olhou intrigado para o amigo. – Vovó, essa história foi triste... Você não pode inventar outro final? – perguntou o anjo.

Antes que Hilary pudesse responder, Sam abraçou a velha com força.

– Obrigado por abrir meus olhos, vovó! Eu entendi a moral da história. Não posso julgar a filhinha do meu irmão. O que é um monstro afinal?

Hilary sorriu e afagou os cabelos de Sam. Sabia que o rapaz iria compreender. Apesar de doido, Sam era inteligente...

Castiel olhou aturdido sem entender mais nada. Sam estava triste ou feliz afinal? As vezes achava que nunca entenderia os humanos...

– Vovó, vou fazer as pazes com todos que julguei monstros um dia. Daremos uma grande festa, que tal?

A velha sorriu de uma orelha a outra. Convencera o rapaz, e uma festinha até seria legal para animar um pouco.

Sam pegou um pedaço de papel e começou a fazer uma lista. Colocou o nome de todos os monstros que conhecia. Familiares de alguns que tinha matado pessoalmente... Outros que havia enfrentado e escaparam com vida. Vampiros, wendigos, shapeshifters, demônios...


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