Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 17
Coração despedaçado


Notas iniciais do capítulo

Nunca pensei que Mama Dean teria um capítulo dramático... Mas eis que ele surge... Espero que gostem!



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Sam, ansioso, marcara a festa com apenas quatro dias de antecedência. O tempo pareceu passar devagar, mas, finalmente, o momento de receber seus convidados estava próximo.

Agora, entusiasmado, arrumava o Bunker feliz da vida, sendo ajudado por Castiel e pela vovó. Colocaram balões por todos os cantos, enfeitando tudo. Hilary agora preparava os quitutes para oferecer mais tarde aos convidados.

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Quatro dias se passaram também na toca real dos Bicudins. Durante esse período, Matilda encontrou-se com Dean diariamente e passou a maior parte do tempo com ele, fazendo-lhe companhia.

Impressionante como os seres humanos conseguem se adaptar tão bem às mais diversas situações... Dean já se sentia em casa, totalmente acostumado ao modo de vida de sua “nova família”. Aprendera a gostar não apenas de Matilda, mas também da sempre preocupada Mafalda, e dos estranhos monarcas: Rainha Bicudaça e Rei Bicudão.

Naquele momento, sentado em seu ninho, Dean pensava neles com carinho. Estava muito grato por acolherem a si e à sua filhinha como se fossem de fato da família.

– Está na hora de nanar! – o caçador disse pegando Samantha nos braços. Como ela estava crescendo depressa... Cada dia mais linda e mais esperta...

Samantha bateu as asinhas em sinal de protesto.

– Ahh, nada disso, sua levadinha... Está na hora de nanar sim! Recolhe essas lindas asinhas. – Mama Dean disse então carinhosamente.

Samantha abriu um sorriso, esgarçando o biquinho vermelho. Que coisa mais linda! Era o primeiro sorriso que dava para a mamãe. Dean olhou para ela abestalhado e emocionado.

– Minha bonequinha... Sorrindo para a mamãe! Imagina quando você aprender a falar “mamã”? Eu vou ficar todo bobão, sabia? – Ele disse olhando a criança nos olhos – Mamã, mamã. – repetiu para a filha.

TOC TOC TOC

O caçador se surpreendeu. Não esperava ninguém àquela hora.

– Dinner, eu preciso falar com você... – a voz de Matilda soou nervosa, e Dean pôde sentir o desespero no olhar bicudo da criatura, quando esta apareceu em frente à porta de seu quarto.

– Meu Deus, Matilda, o que houve? – ele perguntou aflito, se aproximando da amiga em seguida.

– Dinner, venha comigo. Preciso falar com você em particular, e as paredes aqui tem ouvidos...

Dean olhou para a filha, que já estava dormindo. Impressionante como os bebês dormem depressa. Colocou-a cuidadosamente no berço, e, em seguida, saiu atrás da princesa, apreensivo.

Quando chegaram a um local bem afastado, o caçador pôde notar como a amiga estava trêmula.

– Matilda, me diz logo o que está acontecendo... – pediu o homem, nervoso.

– Dinner, tem algo sobre a minha família que você precisa saber...

Dean apenas olhou para ela arregalado, esperando que revelasse algo terrível.

– Nós comemos carne humana...

O louro encarou a amiga e sorriu. Era isso? Só isso? Mas isso ele já sabia, certo?

– Eu sei... – respondeu o rapaz sem entender direito.

– Os nossos prediletos são homens, jovens adultos, altos, corpo atlético, de pele clara...

Onde Matilda estava querendo chegar? Dean não estava entendendo mais nada. Para que precisava saber as preferências alimentares dos Bicudins? A ele, pouco importava...

– Ok... – respondeu.

– Dinner, só estou tendo coragem defalar com você hoje, mas quando você bateu aqui naquele dia... Todo mundo te enxergou como uma enorme comida ambulante que veio se entregar a nós...

O rapaz sorriu. Estaria Matilda prestes a se declarar a ele? Era mesmo difícil resistir a todo o seu charme, disso ele tinha certeza... E todo aquele papo de “pensamos em te comer, mas hoje você é parte da família...” não precisaria ser dito em particular e por uma Bicudin tão nervosa. A não ser que fosse mesmo seguida por uma declaração de amor.

Dean, apesar de lisonjeado, começou a sentir-se desconfortável. Como dizer a uma criatura tão amável que o que sentia por ela era apenas amizade?

Matilda continuou seu discurso.

– Sabe, Mafalda estava procurando o humano perfeito para servir em seu jantar de aniversário. E você é perfeito, Dinner... Por isso minha mãe deixou você ficar... – A Bicudin olhou para o chão, envergonhada. Era péssimo ter que dizer tudo aquilo. Mas ela gostava do Dinner de verdade... Precisava alertá-lo para que fugisse dali antes que fosse tarde demais.

Dean baixou os olhos e corou.

– Quê isso... Eu estou muito longe de ser perfeito... – o rapaz falou lisonjeado. A ficha ainda não caíra para ele. Os Bicudins eram sua nova família, e se algum dia haviam pensado em comê-lo, já tinham mudado de ideia. E o passado, já passou... Não ia ficar guardando mágoas.

– Dinner... O aniversário da minha irmã é amanhã... Você precisa fugir daqui depressa... Antes que...

– Fugir? – Dean olhou para ela arregalado. – Fugir por quê?

– Para não virar o jantar! – A Bicudin disse enfática. Será que Dean não havia entendido ainda o que ela estava querendo lhe dizer?

Fugir? Virar jantar? Não... Não era possível...

– Você está brincando, não está? – Dean realmente não podia acreditar. O olhar que lançou à amiga foi de cortar o coração.

– Dinner, olha, eu gosto de você de verdade... E é por isso que estou lhe dizendo isso. Você precisa voltar para casa. E ninguém pode saber dessa nossa conversa antes de você partir.

Dean tentou engolir as lágrimas. Por que todo mundo, sempre, o decepcionava? Descobrir que sua nova família no fundo só queria mesmo comê-lo era um golpe duro demais.

– Olha, você precisa fugir hoje a noite. O aniversário da minha irmã é amanhã... Mas vai ser fácil para você, porque nós fomos convidados para uma festa, e meus pais e Mafalda vão sair da toca mais tarde... Eu vou dar um jeito de me atrasar e deixar que eles saiam primeiro. Então passo no seu quarto e te ajudo na fuga. Os empregados em geral dormem cedo...

– Obrigado, Matilda... – o caçador disse, simplesmente. - Vou para o meu quarto e te espero mais tarde...

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– Os canapés da vovó estão mesmo uma delícia... Mas a gente precisa pensar em alguma coisa para servir aos convidados mais sanguinários... O que você acha, Cass?

– Quer que eu vá até um hospital roubar um pouco de sangue? – o anjo perguntou solícito.

– Não! – protestou a velha que ouvia tudo de longe. – Aqui, olha! – disse ela trazendo uma jarra transbordando de um líquido vermelho.

Sam e Castiel se aproximaram.

– O que é isso vovó? Suco de laranja com beterraba? Você acha mesmo que vai enganar algum vampiro com isso? – Sam soou irritado.

A velha pareceu desconcertada. Depois se recompôs e falou com a voz bem firme.

– Pois é isso que terão. Castiel não pode sair de casa. Seu pai não quer que ele saia em hipótese alguma. Certo, Cass?

O anjinho confirmou obedientemente e Sam rolou os olhos, indignado.

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Dean segurava Samantha no colo. Seu olhar agora era frio e resoluto. Não podia contar com ninguém mesmo... Eram apenas e ele e sua filha contra o resto do mundo. Fugiriam dali para Deus sabe onde...

– Dinner... Eles já foram...

– Já estou pronto. – O caçador disse para Matilda com firmeza quando esta surgiu para buscá-lo.

– Certo... - A Bicudin forçou um sorriso. Não gostava de despedidas. – Então vamos?

O caçador assentiu. Segurando Samantha firmemente no colo foi em direção à amiga. Matilda pareceu apreensiva.

– Dinner... Você sabe que não pode levar a Samantha... Mas eu vou cuidar muito bem dela, prometo!

– Como assim não posso levar a Samantha!? – A voz do homem saiu desesperada.

A Bicudin ficou chocada. Pensou que Dinner já soubesse disso... Não era por esse motivo que estava todo choroso quando ela lhe falou sobre a fuga horas mais cedo?

– Dinner... Você não tem condição de criá-la... Samatha já bebe uma grande quantidade de sangue. Se você der do seu, vai acabar morrendo...

Dean fitou a princesa, zangado. De forma alguma deixaria que lhe tirassem sua filhinha.

– Eu dou um jeito. Roubo o banco de sangue do hospital...

– Mas, Dinner... E depois, quando ela crescer mais? Samantha não pode viver só de sangue. Logo ela vai precisar comer carne humana também... E fresca! Ela não sobrevive sem isso.

– Não! Sem Samantha eu não fico! Tudo menos isso! – vociferou o rapaz, agarrando-se ainda mais à filha.

Só de pensar em se separar dela parecia que seu coração ia explodir para fora do peito. Ele não sobreviveria sem seu bebê, seu bem mais precioso... Daria um jeito de alimentá-la. Faria o que fosse preciso... Ele conseguiria dar um jeito! Sim, com certeza. Daria um jeito!

Ele mataria se fosse preciso, não mataria? Teria que matar, por mais difícil que fosse... Conseguiria suprir as necessidades da filha... Não conseguiria? Será que conseguiria? E se não conseguisse? Os olhos de Dean encheram-se de lágrimas. Lançou o olhar mais triste do mundo a Matilda.

– Ela vai ter uma vida boa aqui... Eu vou cuidar muito bem dela. Você sabe que eu gosto de crianças, e Samantha já é acostumada comigo... – A Bicudin então falou comovida. Sabia o quão doloroso estava sendo para seu amigo humano deixar a filha.

As lágrimas corriam livremente no rosto do rapaz. Como poderia se despedir de Samantha? Ele nunca mais seria inteiro sem ela. Beijou a filha com todo amor e colocou-a no ninho. Era impossível dizer qualquer palavra. Elas simplesmente não sairiam.

– Vamos... – Disse Matilda colocando a asa no ombro do rapaz e conduzindo-o até a porta. Dean precisava ir embora depressa, antes que a movimentação que faziam despertasse a curiosidade de algum empregado.

A Bicudin abriu a porta da toca.

– Vá, Dinner. Volta pra casa. Enxuga essas lágrimas, que você é um homem corajoso. Sua filha está bem aqui comigo...

O caçador agradeceu, abraçou a amiga, mas era impossível disfarçar o quanto estava arrasado.

Dean andou a esmo por um bom tempo. Nem ele mesmo sabia para onde estava indo. Queria voltar para casa e reencontrar o irmão, mas antes disso precisava colocar a cabeça no lugar.

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– Tem alguém na porta! – Sam anunciou entusiasmado. Correu até ela e abriu. Era Benny.

– Benny, meu camarada! Tudo bem com você? – o caçador atirou-se nos braços do vampiro dando-lhe um caloroso abraço.

– Eu estou ótimo Sam... É você que me preocupa... Está tudo bem? – perguntou confuso.

– Tudo. Tudo ótimo. Castiel arranjou uma vovó para a gente, e ela é uma pessoa especial. Abriu os meus olhos para muitas coisas, e hoje sou outra pessoa. Queria te pedir desculpas por qualquer coisa que tenha tido contra você no passado...

Benny viu Castiel se aproximando e lançou-lhe um olhar preocupado. O irmão de seu querido amigo Dean não estava bem, de jeito nenhum...

– Vem, Benny, deixa eu te apresentar à vovó. – falou o anjo, ignorando o olhar indagativo do outro.

Hilary achou Benny encantador. Serviu suco de beterraba quando lhe contaram que ele era um vampiro. O pobre ser sobrenatural bebeu por educação.

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Onde estava com a cabeça quando pegou um ovo de monstro para criar? Como podia ser assim tão idiota? Por que sempre fazia as piores escolhas possíveis?

Dean lembrou-se do ovo solitário largado no ninho. Ele era tão branquinho e tão lisinho... Era lindo de verdade... Debaixo de todas as lágrimas que lavavam seu rosto, Dean sorriu. Amara aquele ovo assim que olhara para ele pela primeira vez.

Lembrou-se de tudo o que fizera para escondê-lo de Sam. Passaram por tantas coisas juntos... O ovo guardado na barriga de um ursinho de pelúcia... Viveram situações engraçadas. As lembranças fizeram Dean sorrir novamente. E quando fingiu estar possuído pelo espírito de uma garotinha? Até vestidinho cor-de-rosa ele usou... Tudo para poder ficar tranquilo no dia do nascimento da filha.

As lágrimas voltaram a rolar quando Dean lembrou-se da primeira vez que viu sua bonequinha de biquinho vermelho. Era a criança mais linda do mundo... A emoção de amamentá-la, e agora, recentemente, de vê-la dar o primeiro sorriso. Mas ele nunca ouviria ela chamá-lo de mãe... Sentiu uma dor aguda no peito ao pensar nisso.

Idiota, isso que ele era. Precisava esquecer de tudo. Como ele pôde pensar que poderia ser feliz como mãe de uma pequeno monstro? Logo ele, que era um caçador? Fora caçador desde sempre, e isso que haveria de ser para o resto de sua vida... Teria que seguir adiante. Voltar para perto do irmão e combater todo ser sobrenatural que surgisse a sua frente. Mataria todos que cruzassem seu caminho, sem piedade. Afinal eles não tinham nenhum pudor em enganá-lo para servi-lo como jantar. Mereciam morrer, todos! Ou bem, quase todos... Todos com exceção de Cass, Benny, e agora também Matilda e Samantha.

– CASTIEL!!!! – Gritou o caçador. Estava pronto para voltar para casa.


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