Antonym escrita por TimeLady


Capítulo 7
7


Notas iniciais do capítulo

EU SEI, EU PROMETI QUE SERIA UMA AUTORA MAIS RESPONSÁVEL, ME PERDOEM!

Eu realmente tenha muita coisa acontecendo na minha vida agora e eu realmente estou sem tempo para nada, muito menos de escrever. Além disso, esse capitulo é um dos mais importantes da série e eu fiquei dias escrevendo ele, reescrevendo, mudando e editando para conseguir deixa-lo legal, mas chegou ao ponto que eu resolvi chutar o balde e só postar.

Espero que curtam!



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Quando Jane dizia que ele não era alguém do lado físico da vida, ele realmente queria dizer isso. Não era modéstia, mesmo porque até onde o loiro se conhecia (e esse campo de conhecimento, em especial, era grande, talvez até grande demais) ele não era modesto. Ele gostava que as pessoas soubessem o que ele fez e não dispensava um elogio, mas existe uma diferencia entre isso e gostar de se exibi para o mundo.

[Afinal, ele havia aprendido sua lição]

Então, é. Jane não era um exemplo de preparação física.

Ainda mais perseguindo um garoto muitos anos mais jovem, provavelmente acostumado com esse tipo de situação, já que ele usava todos os métodos possíveis para se despistar alguém. O menino disparou corredor adentro, virando em esquinas repentinamente e derrubando coisas em seu caminho com uma força surpreendente para seu tamanho. Depois de quase tropeçar pela quinta vez em uma maca virada com violência em sua direção, o loiro fez um juramento silencioso de que a partir daquele dia iria melhorar sua saúde física.

Ou talvez ele só parasse de tentar perseguir crianças de oito anos de idade.

Ou nove.

Deveria ser três.

E esse pensamento ainda fazia sua cabeça rodar de dor. Como aquilo era possível?

“Cuidado!” Foi o único aviso que teve antes de quase quebrar o nariz contra uma porta de armário sendo aberta repentinamente. Travou os joelhos e se jogou para o lado, o que o fez girar sem controle por alguns segundos, derrubando algumas pessoas alarmadas no caminho, mas ele logo conseguiu voltar ao seu eixo. “Desculpe!” Gritou enquanto voltava a correr, a ponta de uma jaqueta esfarrapada sumindo no corredor seguinte.

Disparou com o máximo que suas pernas lhe permitiram (e seu terno, e eu vou te dizer, ternos são de longe a pior roupa para se usar em uma perseguição. James Bond é completamente sem cabimento) fazendo um esforço fenomenal para conseguir alcançar aquela criança. Ouviu um clang! alto e virou a esquina do corredor branco para ver uma porta de metal escrita ESCADARIA bater com violência contra seu batente.

Um gelo frio escorreu para seu estomago, o medo de perder aquele menino de vista fazendo seus pensamentos sumirem.

[... antes que suma novamente]

Algo lhe disse que se Patrick Jane perdesse aquele garoto de impossíveis nove anos, ele nunca mais veria aqueles olhos cor de ouro.

[Está vulnerável...]

E algo lhe trouxe as forças para acelerar. Porque para Jane existem certas coisas no mundo que são completamente inaceitáveis e uma delas é uma criança ferida. Sozinha. Tem certas pedras que a humanidade joga que ele simplesmente não consegue aceitar. Para ele não se mata uma luz só porque ela é pequena.

E ele ia provar isso para o mundo.

Seus sapatos de couro bateram contra o chão polido do hospital, criando eco no exato segundo que empurrou a porta e entrou num longo e claustrofóbico poço rodeado de escadas, subindo e descendo. O barulho de outro par de pés (tênis velhos, gastos) vindo de cima da sua cabeça o fez ir imediatamente em direção à subida. Sem poder evitar, olhou para cima.

Lá estava ele, o pequeno vulto escondido entre camadas de roupas velhas e rasgado correndo degraus acima. As mãos pequenas segurando nos corrimões, como se para auxilia-lo a se empurrar adiante, enquanto a sua respiração agitada ecoava até Jane. Entretanto, uma desregulação e um soluço agudo interromperam a sequencia bem controlado de ar entra e ar sai o que fez o ex-vidente imediatamente procurar por uma cor diferente da prata das escadas e o preto das roupas do jovem e ele viu.

Atraindo seus olhos como um imã, a cor que passara a representar tantas coisas diferentes para ele pulsava de modo repulsivo no corrimão, arrastando-se a medido que aquele garoto subia. Um rastro de cor.

Vermelho.

Sentiu o choque amortecer seus membros enquanto registrava as manchas de sangue no prateado.

Vermelho

[Vulnerável.]

Meu Senhor, não.

Sem hesitar, começou a pular de dois em dois degraus, correndo com o máximo de seu corpo para cobrir a distancia de poucos metros entre os dois, ignorando como sua lateral gritava de dor e seus músculos queimavam. O som dos dois tipos de calçados contra o metal ecoava pelo local como uma musica de filme de ação, enquanto que a respiração acelerada era os efeitos de tensão para os espectadores.

Nem um minuto a mais nessa correria escada a cima, Jane notou uma desaceleração lenta na velocidade do garoto. Era de se esperar. Constituição forte ou não, um garoto é um garoto, além do fato de que correr em linha reta é bem mais fácil do que subir uma escada. O que também era outra pergunta disparando contra o crânio do loiro, muito embora ele nem ao menos tivesse realmente refletindo sobre elas. Por que ele decidiria subir?

Ouviu um grito agudo surpreso e dolorido, infantil, e ergueu os olhos azuis para se deparar com a visão do corpo pequeno tropeçar em algo e cair para frente com um estalo. Metal contra pele. Um choro de dor ecoou pelo local, misturado a um soluço estrangulado e isso foi o bastante para fazer as forças de Jane aumentar de repente.

Um choro de criança.

[Você está segura, você é amada e você é sábia.]

Encaixou sua mão no corrimão e usou seu braço como uma alavanca, girando velozmente a curva da escada. Parou então naquela plataforma, seus sapatos fazendo um ultimo encontro violento contra o chão metálico. Sua respiração era rápida e curta, o que fazia seu peito subir e descer incessantemente, além de tremores por seus músculos que diziam claramente câimbras quando ele fosse dormir. Seu coração pulsava como se estivesse dentro de sua cabeça, sua lateral inteira gritava de dor devido a uma respiração inadequada e ele suava, deixando seu estado final com um toque nada elegante.

Outro aspecto da vida real que não é parecido com filmes: perseguições não são românticas.

Mesmo assim, Jane ignorou tudo isso quando viu a cena diante de si.

O garoto havia caído sobre a plataforma entre as escadas, um dos pés em um tênis surrado e velho ainda ligeiramente preso ao degrau que o fez cair. Estava ligeiramente encolhido, abraçando ao seu braço direito com força contra o peito. Vestia, como Jane havia visto, roupas completamente esfarrapadas: uma calça moletom preta velha e remendada em varias partes, com um rasgo particularmente grande nos joelhos, uma camiseta amarelada com uma estampa que a muito havia sumido, por cima uma jaqueta de pano preto, grande demais para o seu corpo pequeno, com um capuz que cobria seu rosto puxado para cima e nas mãos pequenas luvas vermelhas sem os dedos, aumentando o ar de criança de rua.

Sempre que alguém se aproxima de você com uma criança e a pergunta Quantos anos de idade? é solta pelos lábios de um dos dois lados, nos temos a tendência a olhar para o pequeno e avaliar a altura. O tamanho do corpo, apesar de já ter sido provado que varia de cada um para cada um, é sempre usado como um indicador de idade. Quando mais miúdo for, menos anos damos.

Naquele momento Jane não lembrava o que o havia feito dar sequer a possibilidade de dez anos para aquele garoto, porque em todos os sentidos possíveis da palavra, ele era pequeno. Além da estatura minúscula, ele era magro como um pano torcido e isso era visível mesmo com as roupas, largas em seus membros. Para olhos de alguém que sabia que o corpo de uma criança não deveria ter tantos ângulos agudos assim, aquela visão doía na alma.

Um suspiro cheio de agonia escapou daquela figura caída e com um salto Jane se lembrou do vermelho e se adiantou rapidamente, porque osso contra metal deveria doer bem mais do que carne contra metal. Mas assim que deu alguns poucos passos escadas acima, assim que sua mãe se esticou para tentar ajudar, dois pares de olhos dourados o encararam arregalados e cheios de um terror tão absoluto que Jane congelou imediatamente.

Ele só havia visto esse tipo de medo em rostos de vitimas de sequestro ou tiroteio, geralmente quando havia uma arma de fogo apontada para elas.

Ou nos rostos de mães na sala de espera de um centro de câncer.

Era medo, terror, ansiedade, desespero, era o temor total de algo além do controle. E aquele olhar vindo de um rosto que deveria abrigar somente sorrisos fez algo quebrar dentro de Patrick Jane, porque que mundo era esse que uma criança dessa idade tinha que suportar uma expressão dessas?

“Eu não vou te machucar” Falou, seus olhos jamais desviando do dourado. Viu o garoto engolir, seu pomo-de-adão ainda quase sem formação subindo e descendo rapidamente. Tentou mais uma vez, usando sua voz mais calma. “Eu não vou te machucar. Eu só quero ajudar”

Deu um passo cuidadoso para frente. Ele podia ter muito bem tirado uma faca das costas e gritado, porque o garoto imediatamente virou na escada, de modo que ficou de frente para o loiro, e recuou freneticamente para trás, seus tênis gastos fazendo um som agudo contra o metal enquanto as mãos pequenas e o corpo frágil provocavam baques surdos quando se encontravam com a escada.

O rosto jovem coberto por pó e sujeira que se contorceu de medo em sua direção era, em tanto modos, cansado. Não tinha a macieis redonda normal para essa idade, porque suas feições eram chupadas de gordura, com a pele clara que tinha um tom doentiamente branco, quase translucida, que deixava extremamente visível cada circulação de sangue. Tinha cabelos negros e encaracolados, bagunçado como se nunca tivesse encontrado um pente na vida e cortados de modo bizarro, como se o menino o tivesse feito com uma faca de cozinha. Tinha um pequeno corte nos lábios rosados, fruto talvez da queda, e uma cicatriz antiga cortando sua sobrancelha esquerda na vertical. Mas o que realmente, imutavelmente chamava atenção imediata e que nublava qualquer outro aspecto daquele rosto eram os olhos, grandes e brilhantes, que o encaravam arregalados de terror com seu ouro derretido que teria feito Midas se envergonhar, delineados por olheiras profundas e grossas.

De repente Jane lembrou exatamente o que o fez dar tantos anos a mais do que aquele garoto parecia ter, porque havia experiência naquele rosto. A ingenuidade e a inocência tão visíveis em um rosto de uma criança de seis anos já haviam sumido sem deixar traços naquelas feições assustadas. E foi isso que o fez parecer tão mais velho do que seu corpo físico apontava.

Uma pontada violenta de tristeza atravessou seu coração.

“Eu não vou te machucar” Repetiu, deixando sua voz o mais suave possível. Deu mais um passo para frente, devagar, sua sola do sapato quase sem fazer ruído contra o metal, mas manteve cada movimento seu visível e aberto. Seus olhos caíram no rastro de sangue que seguia o corpo do menino e seu coração pulou uma batida ao ver que era mais do que simples gotas. “Você esta ferido. Me deixa te ajudar”

Mesmo daquela distancia, Jane conseguiu ver uma falha momentânea na respiração do garoto – uma tremida a mais, um salto desproporcional do peito pequeno acelerado – e ele não soube dizer se isso era o medo, a dor ou as lagrimas que ainda não haviam caído dos olhos dourados.

Tentou mais uma vez. “Me deixa te ajudar, eu posso cuidar do ferimento-“

A voz era aguda como o de uma criança, mas também raspada e velha como um pedaço de couro abatido, parecendo vir de uma garganta quase nunca usada para nada além do grito. Mesmo assim as palavras foram bem pronunciadas e firmes em suas silabas, mas frágeis e tremulas em seu tom, como bolas de cristal ocas enfeitadas com o sotaque elegante de um britânico. Não saiu maior que um sussurro, fraco e ao vento. “Por que você esta fazendo isso?”

Jane se calou. Engoliu o nó em sua garganta.

[Desde quando crianças podem ter tanta dor na voz?]

“Porque eu quero te ajudar”

O loiro subiu mais um degrau, deixando visível o que estava fazendo.

Viu o menino apertar os lábios pálidos, a água em seus olhos ameaçando cair e as mãos do ex-vidente tremeram em sua direção, querendo poder confortar aquela criança. O jovem balançou a cabeça devagar, duas vezes e engoliu um soluço que o Patrick viu subir em seu peito. Está tudo bem se você chorar, ele queria dizer, não ajuda em nada, mas alivia um pouco o peito. Subiu mais um degrau.

O garoto puxou o braço direito sobre o colo e o abraçou contra o corpo, encolhendo-se contra a parede. “E desde quando... vocês querem me ajudar?” Ele indagou, a voz emaranhada.

Jane subiu devagar mais um degrau e parou quando o menino encolheu mais ainda, tremendo. “É meio que nosso trabalho, ajudar as pessoas”.

E um som úmido, quebrado como um caco de vidro, ecoou fraco e vazio pelo lugar, e o loiro demorou um segundo a mais do que deveria para reconhecer aquilo como uma risada. Uma lagrima solitária escorreu pela bochecha branca do garoto, enquanto os olhos dourados o encararam cheios de vidro estilhaçado. “Essa... essa é uma ótima piada”.

Jane travou seus músculos no lugar, tentando evitar seu corpo de se mexer. Sorriu uma vez, puxando os lábios cuidadosamente, sentindo seu rosto como uma mascara de couro envelhecido. Talvez fosse. “Eu geralmente conto umas ótimas, mas essa infelizmente não é uma”. Seus pés deslizaram pelo ultimo degrau e pousaram na plataforma entre os lances. Agachou devagar até estar no nível do menino e viu-o observar seu movimento com olhos atentos, embora ainda estivessem... “Eu quero te ajudar. Posso?”

Esticou a mão.

O garoto, o impossível menino de oito anos piscou os olhos de ouro derretido, fazendo as lagrimas hesitantes escorrerem por seu rosto e olhou para a palma na sua frente, observando com cuidado os dedos marcados pela vida convidando-o. Jane o viu engolir em seco, seu corpo pequeno inteiro tremendo. Sua vontade de simplesmente se adiantar e abraça-lo o fez avançar meio milímetro para frente, antes que ele conseguisse se impedir.

Esperou.

“Ninguém pode me ajudar” Sussurrou o pequeno e machucou Jane ouvir a verdadeira crença do menino nessas palavras. A voz de Ângela ressoou por sua cabeça mais uma vez: Ninguém está além da ajuda.

“Por que não me deixa decidir isso?” Propôs e sorriu. Dessa vez, verdadeiramente.

Os olhos amarelos, cheios de inteligência, se voltaram para o azul-céu e Patrick fez algo que geralmente nunca se permitia fazer.

Abriu suas emoções e deixou o que sentia no momento completamente a mostra, sendo o mais honesto e sincero possível. Tentando e querendo mostrar a aquela criança experiente, ferida e com medo e com todos os motivos do mundo para não confiar nele, que Jane merecia um pouco de fé porque ele podia ser um filho da mãe arrogante a maior parte do tempo e um mentiroso de carteira assinada, mas ele não engava crianças. Porque, abençoadas sejam, elas eram o grupo além do limite para o ex-vidente, algo cristalizado e imortalizado na parte de trás de sua cabeça, onde ninguém tinha o direito de mexer.

Algo de seus sentimentos conseguiu ser transmitido, porque o menino deixou um soluço escapar por seus lábios e Jane sentiu os dedos pequenos e calejados, encobertos por uma luva rasgada e velha, roçarem tentativamente em sua palma antes de pousarem com hesitação. Ela tremia. O loiro sorriu e fechou com suavidade sua mão, cobrindo-a com sua outra mão livre.

“Está tudo bem” Falou gentilmente.

O garoto desatou a chorar e Jane finalmente fez o que seus braços formigavam para fazer dês do inicio. Devagar e com todo o cuidado de alguém andando sobre cacos de vidro, ele se adiantou até poder sentar do lado do corpo pequeno e envolveu-o, encostando a cabeça encapuzada contra seu peito. Abraçou a figura tremula e deixou seu colete ser molhado por uma chuva particular.

E Jane fez uma coisa que nunca gostou de fazer.

Prometeu.

“Vai ficar tudo bem”


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Notas finais do capítulo

... Eu ainda estou profundamente incomodada com a forma que esse capitulo saiu completamente diferente do que eu queria. Caiu numa trilha muito melosa e grande, talvez eu comece a diminui as descrições - essa é uma falha minha, eu tenho mania de descrever demais coisas que não são importantes para a historia. Desculpem!

Booom, aqui estamos num dos momentos cruciais dessa historia! Quem tiver um palpite sobre o que vai acontecer, comente!



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