Quando Percy chegou na casa dos Chase com Annabeth junto e em seus cuidados, o relógio já marcava duas horas da madrugada. O garoto tentou fazer tudo com o menor barulho possível, afinal, se Atena visse Annabeth naquele estado, ficaria muito, muito brava, no mínimo. Ele colocou a garota no sofá com muito cuidado para que não acordasse. Ela estava com os cabelos loiros desarrumados e tapando, pelo menos, metade do rosto; as roupas estavam todas bagunçadas, pois Percy teve que segurá-la pela cintura pra conseguir carregá-la e isso bagunçou e amarrotou um pouco a roupa, que horas antes, estava impecável.

– O que eu faço com você, hein? – Percy murmurou sozinho enquanto colocava os cabelos dela para trás da orelha, tendo uma melhor visualização do belo rosto de Annabeth. Ela se mexeu um pouco no sofá e Percy pode sentir o cheiro de álcool emanando. Ele não poderia deixar Annabeth naquela situação, lembrou então, que no quarto da garota tinha um banheiro incluso, pegou-a pela cintura novamente e subiu as escadas até o quarto. Ligou o chuveiro morno e enquanto esse despejava água, deixou-a dentro da banheira com roupa e tudo e desceu as escadas para encontrar alguma coisa que tirasse o cheiro de álcool da sala, ou os Chase acabariam pensando que alguma orgia havia acontecido ali e isso, bem, não seria muito legal. Quando regressou ao banheiro, Annabeth tinha os olhos cerrados e já estava sem metade das roupas – Sempre facilitando meu trabalho – Percy resmungou. Fez um esforço sobrenatural pra não olhar para o corpo dela e ficou enchendo a banheira com todos os sais possíveis que achou por ali, a verdade era que estava desesperado por qualquer coisa que tirasse o cheiro de álcool da garota.
– Pp-percy? – Annabeth chamou, num tom muito baixo.
– Oi? Como você está se sentindo? – Ele se abaixou para ficar exatamente na mesma altura dela, já que Annabeth estava sentada na banheira.
– Dor, rodando, cabeça, vomita – Ela despejava as palavras sem nenhuma ordem que realmente tivesse nexo, mas, pelo que Percy pode entender, ela definitivamente não estava bem.
– Consegue ficar aqui mais um tempo? – Annabeth segurou sua mão e o puxou e se não fosse pelos reflexos ninjas de Percy, ele tinha ido parar dentro da banheira junto com ela. – Vai ser rápido, prometo. Só vou pegar um café pra você, tudo bem? Tudo vai melhorar, eu prometo. – Percy deu um beijo na testa dela e foi saindo. Depois de mais alguns minutos dentro da banheira, Annabeth, que já estava um pouco melhor, se cansou de ficar ali e saiu, se enfiando dentro de um chambre de banho rosa que encontrou jogado por alguma parte do banheiro. Percy voltou com o café e encontrou Anne sentada na ponta da cama, olhando para um ponto fixo. – Já está melhor? – Perguntou enquanto entregava o café pra ela.
– Um pouco – Respondeu ela com a voz um pouco rouca – O que aconteceu?
– Não se lembra?
– Não muito, lembro de estar com Edward em um lugar bem iluminado, que fazia tuti tuti tuti e ai depois eu já estava na banheira com você.
– Talvez eu deva te contar tudo que aconteceu amanhã, vai estar com a consciência recuperada.
– Pode ser, só quero dormir agora. – Annabeth devolveu a xícara para Percy e como uma criança, foi engatinhando para de baixo das cobertas.
– Boa noite, Anne. – Ele lhe deu outro beijo na testa e a garota sorriu. Fazia muito tempo que ele não lhe chamava de Anne. Percy apagou as luzes e saiu do quarto, deixando Annabeth segura, por fim.

Xx

Annabeth teve uma noite tranquila, se não contarmos o fato de que estava com uma dor de cabeça maior que o Estádio Rungrado May Day* e via o mundo todo rodando, mesmo que por sonho. Depois de muito se virar na cama e conseguir apenas dar umas cochiladinhas hora ou outra, de no máximo uns cinco minutos cada uma, Annabeth ficou realmente furiosa e resolveu deixar a preguiça de lado e ir procurar algum remédio que pudesse dar jeito nisso. Colocou um pijama de inverno quando percebeu que estava só de chambre e calçou suas pantufas peludinhas com estampa de vaquinha. Abriu a porta e foi se direcionando ao banheiro, mas, novamente tinha que ter passado por aquela porta maldita. Aquela porta que tanto a atormentava, e que, ao mesmo tempo, a fascinava. Para Annabeth, era estranho como pessoas e lugares podiam te fazer sentir tão bem em um certo momento e logo depois causar um mal tão grande, um mal que só poderia ser concertado pelas mesmas pessoas e lugares que outrora lhe fizeram mal, era confuso, ela sabia. Mas, era assim que ela se sentia em relação ao quarto de Percy e também em relação ao garoto. Aliás, ela se sentia confusa em relação a tudo que estava acontecendo entre eles. Tinha tantas mágoas em relação a Percy, mas, quando ela estava mal, ele era a única pessoa que conseguia fazer com que ela sorrisse novamente, isso era uma coisa que nem mesmo Rach – a pessoa que ela tinha mais próxima em toda sua vida – conseguia fazer. Annabeth pensou em se aproximar e agradecer a Percy por ter cuidado e se preocupado com o estado lamentável em que ela se encontrou aquela noite, mas, quando chegou perto da porta: surpresa!

– Kate, estou te ligando agora, eu sei que é tarde, mas o assunto é urgente e eu sei que você costuma dormir tarde mesmo por causa dos relatórios... E bem, eu tenho a leve impressão de que você só me atenderia se estivesse com muito, muito sono. – Annabeth ainda não conseguia acreditar. Por que Percy fazia tanta questão de se desculpar com Kate? Ele nunca deu a mínima para nenhuma das garotas que ficou, será que ele estava gostando de Kate? – Eu liguei só para pedir desculpas, a garota que estava comigo aquele dia, não é minha n.... – Annabeth invadiu o quarto de Percy exatamente nesse momento, impedindo que ele tentasse esclarecer as coisas com Kate, o medo de realmente perder ele, estava enfiando uma faca no coração de Annabeth naquele momento, ela tinha que fazer alguma coisa.
– Oi, meu amor.. vamos fazer um chocolate quente pra assistir nosso filme, então? – Annabeth praticamente se jogou ao lado de Percy e falou bem alto perto do telefone, para que Kate pudesse escutar.
– Annabeth, cheg... – Annabeth tapou a boca de Percy e tirou o celular da sua mão, eles ficaram numa briga pela cama para ver quem pegava o celular primeiro, Annabeth girou para um lado e Percy a puxou pelo braço, ela deu a volta por cima do corpo dele e ele tombou um pouco para o lado, fazendo com que ela caísse deitada na cama e, ele por cima. Annabeth da um pequeno sorrisinho e aperta a tecla de desligar bem na cara de Percy. – Ops! – Ela murmura com uma confiança inabalável.
– Eu estou tão cansado de você – Ele gritou.
– Ah, cansado de mim, né?
– Sim, você não faz ideia do quanto.
– Então, por que raios você ficou cuidando de mim, hoje?
– E-eu fiquei preocupado com você.
– Só isso?
– Só.
– Você é tão hipócrita com aquele papo todo de que eu só te quero porque não posso te ter e sei lá mais o que, mas ficou todo enciumadinho quando eu resolvi sair com o Edward, né?
– Duas coisas pra você: Eu não fiquei com ciúme e, eu pensei que você tinha perdido sua memória recente, bonequinha.
– Três palavras pra você: Vai, tomar, no...
– Quatro palavras.
– Quem se importa?
– Então você não perdeu a memória? Lembra de tudo que aprontou pela noite e ficou me fazendo de palhaço?
– Palhaço você já é por nascença, né? Eu nem precisaria me esforçar muito se eu quisesse fazer isso, mas, não... eu realmente perdi a memória.
– Então?
– Então o que? Quer saber? Eu vi mesmo você me espiando na janela com o Ed, ok? Não sabe nem disfarçar.
– E você sabe muito, né, Annabeth? Faça-me o favor. – Ela botou a língua pra ele e Percy foi mais rápido que ela, segurando a língua da garota, enquanto ela arregalava os olhos e encarava ele. – Quer realmente saber o que o Ed fez pra você essa noite? – Ao pronunciar o nome do garoto, Percy tinha muito deboche na voz – Te embebedou e te levou pra um motel depois, foi isso que ele fez. E ainda disse que aturou uma chata como você a noite inteira e que eu nem deixei ele ter direito ao merecido prêmio da noite dele. – Ele soltou a língua de Annabeth e a garota deu um suspiro de alívio – Viu? Você é tão chata, que nenhum cara te aguenta, quer logo te levar pra cama. Annabeth se irritou e empurrou Percy com as pernas, ficando por cima dele.
– Se eu sou tão chata, por que é que você também não larga do meu pé? – Annabeth prendeu os braços de Percy na cama e foi se aproximando mais dele – Ontem, por exemplo, eu estava destinada a sair pra sempre da tua vida, mas, hoje já estamos aqui de novo e adivinha? Não fui eu quem te procurei. Percy encarou Annabeth dentro dos olhos, eram de um azul tão intenso, lindos. Mas o mais estranho para ele é que sabia exatamente como decifrar tudo que Annabeth tentava traduzir no olhar, sabia se ela estava triste, com raiva ou feliz, apenas olhando em seus olhos. De repente pensou em como seria se eles tivessem uma chance de ser feliz, ele não queria se apegar a ninguém, mas, ter ela ali em cima dele, o fazia pensar que ele talvez não pensasse mais nela só como uma simples irmã depois de todos os últimos acontecimentos. Annabeth se aproximava cada vez mais dele, Percy estava se entregando e finalmente cedendo aos encantos da garota. Mas, de repente um baque de coisas estourou em sua cabeça, como a diferença de idade deles, o quanto eram diferentes em suas personalidades e o quão diferente era seu nível social e que talvez, ainda estivesse sim ligado a ela por um lanço fraternal, ele não sabia o que era, só sentia que não conseguia ficar com ela. Definitivamente, não era certo.
– Eu não consigo, Annabeth. Você é minha irmã, eu não consigo, para com isso. – Ele se desvencilhou dos braços dela e deixou Annabeth cair com o corpo na cama, enquanto ele ficava de pé no quarto.
– Você sabe que não me vê apenas como uma irmã, Percy. A gente já passou dessa fase faz tempo. Eu sei que em algum lugar ai dentro do teu coração você sabe disso, então não se arrependa com a forma que as coisas vão acontecer daqui pra frente. – Annabeth sai do quarto, deixando Percy em um estado aflito.

* Estádio Rungrado May Day: Maior estádio do mundo, localizado na Coreia do Norte. http://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio_Rungrado_May_Day