Naquela noite, Percy e Annabeth dormiram em camas e quartos diferentes, mas com um sentimento muito semelhante ao do outro dentro de si. Um sentimento de tranquilidade, de felicidade, de que estavam completos. Sim, embora o garoto custasse a aceitar e quase guiasse seu cérebro a pensar o contrário, seu coração não se deixava levar e o fazia sentir tudo o que ele não queria. Esse é o grande problema de pensar apenas com o cérebro, esquecemos que ele faz todas as vontades que queremos, ao contrário do coração, que nos faz sentir exatamente o que ele quer e nem temos a audácia de reclamar, apenas nos deixamos levar por seu embalo. Foi uma noite longa para o garoto, que pensava em quantas coisas estavam acontecendo em sua vida, tudo ao mesmo tempo, pensava também que todos esses problemas tinham nome e sobrenome: Annabeth Chase. E o pior de tudo, na cabeça dele, era que simplesmente não conseguia odiá-la.

No dia seguinte, pela manhã, Percy acordou com um peso extra sobre seu corpo. Annabeth pulava como louca em cima dele e aquilo o estava irritando.

– Acorda, namorado! – E dava gargalhadas enquanto se mantinha pulando em cima do garoto.
– Para quieta, louca. – Ele a puxou por uma das mãos e Annabeth caiu ao lado dele, sentada.
– Nada disso! Vamos acordando, que hoje teremos um longo dia. – Ela tinha um tom autoritário.
– Que horas são? – Ele tentava abrir os olhos através da claridade que adentrava o quarto, sem sucesso. Puxou então um travesseiro e tapou sua cabeça.
– Nove horas.
– Da manhã? – Percy gritou irritado.
– Não, da noite, idiota. Olha como está escuro lá fora. – Annabeth foi irônica.
– Muito engraçadinha você. – Fingiu uma falsa risada e já tinha descoberto que a essa hora, ele não conseguiria mais dormir, então, se sentou na cama e ficou encarando Annabeth que estava com um vestido simples e uma tiara da mesma cor do vestido na cabeça. Ela aparentava ser uma menina muito mais nova do que realmente era, naquela roupa. Aliás, ela tinha um jeito infantil de se vestir que era muito característico dela, o que, de certa forma, atraía Percy. Ela sabia se vestir de acordo com sua idade, não precisava ser sexy, nem vulgar, mas era bonita ao seu modo, embora ainda continuasse sendo muito chata e infernizadora de vidas, na opinião do garoto. – Onde nós vamos? – Ele perguntou emburrado.
– Ao shopping! – Ela batia palminhas, empolgada.
– Não, Anne. Você não me acordou nove horas DA MANHÃ – frisou o manhã – para ir ao shopping, né?
– Sim, to te esperando lá em baixo, vai ser legal.
– Muito – Percy murmurou entediado.

Os dois saíram de mãos dadas – exigência de Annabeth! – da casa dos Chase e entraram no carro onde o motorista já os esperava com o motor ligado e pronto para sair. Junto deles, saíram três carros que faziam a escolta de Annabeth sempre que ela precisava fazer alguma coisa fora de casa.

– Andar de carro me dá sono – Annabeth murmurou enquanto encostava sua cabeça no ombro de Percy – Eu quase sempre durmo.
– Eu tinha esquecido disso – Ele disse sorrindo.
– Eu odeio isso – Ela disse meio irritada.
– Relaxa, dormir é bom.
– Não, eu to me referindo aos guarda-costas – E apontou para um dos carros através da janela. Percy deu um longo suspiro.

– Deve ser difícil pra você...
– E é! Pode acreditar. – Dizia enquanto bocejava.
– Seu pai só pensa na sua segurança.
– Eu sei, mesmo assim... daria tudo pra ter um dia sozinha, sem ninguém por perto. A sensação que tenho sobre minha vida é que estou sendo vigiada a cada segundo, isso é tão assustador, sei lá. – Percy nunca tinha parado pra pensar em como deveria ser difícil para ela. Sempre pensou que Annabeth tinha uma vida fácil, era rica, nunca precisou trabalhar para se sustentar, nunca viveu a vida de verdade. Mas, esqueceu de pensar que mesmo na riqueza, a felicidade não é plena. Ela tinha que estar sempre escoltada, nunca foi para o colégio, sua única amiga era sua prima, não tinha amigos, não convivia com ninguém, não foi a festas, não fez parte da equipe de líder de torcida, não teve um baile de formatura e nem qualquer outra coisa realmente marcante para a adolescência de uma garota. Percy pensava que entraria em depressão caso sua vida fosse assim. Mas Annabeth estava sempre feliz, o motivo disso, certamente, era uma razão desconhecida para o garoto. Quando chegaram ao shopping, Percy acordou Annabeth calmamente, que abriu um sorriso ao ver os olhos azuis do garoto a mirando com atenção. Fez um carinho na bochecha de Percy e ele se contorceu para desviar, Annabeth não ligou muito, então, eles desceram do carro.

– O que faremos hoje? – Percy perguntou, seu tom era como se estivesse sendo torturado ou alguma coisa desse tipo.

– Compras, é claro! – Annabeth exclamou como se aquilo fosse óbvio. Percy rolou os olhos e os dois foram – acompanhados dos guarda-costas, é claro – entrando no shopping.
– Deixa eu ver se eu entendi – Percy fingia uma cara como se estivesse pensando em alguma coisa – você me trouxe pra ser seu carregador oficial de sacolas?
– Claro que não, pra isso eu tenho o Big J. – E um dos seguranças em volta deles deu um aceno todo sorridente para Percy, que se desligou por um momento da conversa, tentando imaginar a cena daquele grande cara, segurando uma sacolinha da Chanel – e cor de rosa! – Mas, já que você se ofereceu de tão bom grado dessa forma, eu deixo você fazer esse favor por mim hoje, mas, só por hoje, se não o Big J. Fica com ciúmes. – Percy sabia que Annabeth estava se divertindo as suas custas e não gostava nada daquilo.

O dia dos dois não foi dos mais produtivos, porém, foi muito divertido e eles passaram quase uma tarde inteira no shopping, se conhecendo. Percy segurava muitas sacolas e Big J. Mais algumas. Annabeth passou por uma joalheria e encontrou uma coisa que lhe agradou muito. Arrastou Percy para dentro da loja e perguntou a vendedora sobre as alianças expostas na vitrine.

– Alianças? Pra que? – Percy perguntou.
– Esqueceu que estamos namorando agora? Temos que ter aliança de compromisso, eu acho tão fofo. – Ela comentava empolgada.
– É um pouco cedo pra isso, Anne. Além do mais, quem compra as alianças é o namorado.
– Bobagem – Annabeth deu de ombros, já pegando as alianças e testando o seu número – Vamos, teste o seu também. – Percy bufou e começou a provar umas alianças e ver qual encaixava melhor em seu dedo – O meu é 17, moça. – Annabeth falou enquanto separava o 17 dos outros anéis.
– O meu 21.
– Olha, que legal. Você tem 21 anos e eu tenho 17, minha aliança é 17 e a sua 21, legal, né? – Percy lançava um olhar estranho para a garota – Cultura inútil, deixa pra lá. – E riu, sozinha. Annabeth pagou as alianças e os dois saíram com elas dentro de uma caixinha vermelha com o nome da joalheria estampado. A garota sentou perto de uma fonte dos desejos e Percy sentou ao seu lado. O barulhinho da água deixava a garota nervosa, mas, ela abriu as caixinhas da aliança e entregou uma a Percy.

– Você é meio doidinha, né? – Ele perguntou fazendo piada.
– Muito romântico você. – Ela murmurou emburrada enquanto tentava tentar tirar sua aliança da caixinha, que não saía de jeito nenhum. A força foi tanta, que a aliança acabou soltando da mão de Annabeth e voando direto para dentro da fonte – Que droga! – Ela murmurou irritada.
– E agora? – Percy perguntou.

– Eu vou pegar, ué. Segura minhas pernas aqui. – Ela disse e rapidamente se deitou com a barriga encostando na borda da fonte, Percy se apavorou e desceu dois degraus que separavam a fonte do chão, segurando as pernas de Annabeth.
– Sua maluca, sai dai – Percy tentava chamar ela. A multidão já se formava em volta deles e Annabeth continuava tentando pegar a aliança. O tempo ia passando e a multidão estava toda apavorada pensando que a garota queria se suicidar ou comentários maldosos desse tipo. Os seguranças do shopping começaram a chegar e dizer para Annabeth que não podia colocar as mãos na água da fonte.
– Sem pressão, ok? – Ela gritou com a cara ainda dentro da fonte.
– Vou ter que pedir que a senhora se retire – O segurança falou e quando foi tentar tirar a garota de lá, foi barrado por um dos seguranças de Annabeth.
– Vou ter que pedir que o senhor saía de perto da mocinha – Big J. Falou ironicamente enquanto peitava o segurança do shopping.
– Achei! – Annabeth gritou levantando com a cabeça e metade do corpo ensopados. As pessoas que estavam ali apenas pela tragédia se decepcionaram e foram saindo aos poucos, deixando apenas os seguranças junto de uma Annabeth encharcada e um Percy envergonhado.

– Vou ter que pedir que a senhorita se retire, está molhando todo o shopping – O segurança disse e atrás dele, Annabeth visualizou mais alguns seguranças chegando.
– Você sabe quem eu sou? Meu pai é Frederick Chase, provavelmente essa arminha que você está usando na cintura foi feita ou pelo menos teve um dedinho dele – Annabeth tinha um tom superior, os seguranças começaram a chegar e eram muitos perto dos seguranças de Annabeth, aquilo a assustou – Mas, eu vou aceitar as regras apenas porque sou uma pessoa educada. – Ela disse tentando manter o tom superior, mas já puxando Percy para fora do shopping, com seus guarda-costas escoltando os dois.

Xx

Ao chegarem no carro, Percy e Big J. Colocaram tudo no porta malas do carro enquanto Annabeth se secava com uma de suas toalhas novas, que comprara naquele dia mesmo. Entraram no banco traseiro ainda mudos e ninguém se atrevia a comentar a cena.

– Desculpa – Annabeth murmurou com uma carinha pidona e uma toalha enrolada na cabeça.
– Você é louca, hoje percebi isso.
– Não sou não, o que você queria que eu fizesse? Deixasse a aliança lá? Ela é tão linda – Annabeth fez uma cara tristinha e encarou a aliança que estava dentro de suas mãos. Percy olhava pela janela, com uma cara irritada. – Ei – Ela o chamou – Você ainda não colocou a aliança em mim.
– Por que não coloca você mesma?
– Porque não é romântico. Anda, Percy, coloca logo a aliança em mim. – Percy bufou e pegou a aliança. Com calma, a colocou no dedo de Annabeth, ela sorriu e deu um abraço nele, que não soube como reagir.