Revenge II escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 72
Capítulo LXXII




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Miguel e Matthew caminhavam lentamente de volta para os quartos, este último tentando adiar o máximo possível a evidente reação negativa que os demais Guardiões teriam ao vê-lo. Miguel estava comendo um dos vários doces que haviam comprado enquanto Matthew falava:


— Eu encontrei a Kaori ontem.
— O que?! - Miguel quase cuspiu o doce na cara dele tamanho foi o choque - Depois de tudo o que aconteceu, você ainda anda a se encontrar com aquela rapariga (garota)?
— Claro que não. Eu fui até o supermercado e esbarrei com ela por acaso - Matt respondeu - Ela me contou que pretende voltar para casa.
— Como assim, voltar para casa?
— Não sabia? Ela mora fora da cidade - Matthew contou - Na verdade nunca conversamos sobre a vida um do outro, só falávamos sobre o trabalho, mas, por algum motivo, ela começou a tagarelar no meu ouvido ontem… acho que queria desabafar ou coisa assim. Enfim, parece que o pessoal da Corporação Yamabuki fez uma promessa falsa para ela de realizar os sonhos dela se, em troca, a Kaori os ajudasse a capturar Batsu Tamas e lutar contra os Guardiões. Mas como o plano acabou sendo um fiasco e a empresa foi praticamente destruída, não restou mais nada para a Kaori fazer aqui. Ela disse que, depois de tudo o que aconteceu, só quer ficar longe de confusão, ou seja, longe de vocês Guardiões, e por isso decidiu voltar pra casa.
— Sábia decisão a dela - Miguel comentou - E qual era o sonho da Kaori afinal?
— Sei lá - Matt deu de ombros - Ser repórter ou coisa parecida, eu suponho, julgando pelo tipo de Chara Nari que ela tem…
— Chegamos - Miguel o interrompeu - Preparado para morrer?
— Urgh… nem um pouco - Matthew gemeu - Mas não tem outro jeito. Bem, vamos lá.


Miguel abriu a porta do quarto dos garotos e, felizmente (ou não), todas as meninas tinham dado um jeito de escapulir para lá também. Os que estavam em melhores condiçõs estavam jogando baralho e fazendo um tremendo alvoroço. Por um lado, isso era bom, pois Matthew não teria que repetir a mesma história várias vezes. Por outro lado… bem, com todos os Guardiões reunidos, ele provavelmente iria morrer.
Anna foi a primeira a levantar a cabeça quando a porta do quarto se abriu.


— Micchan! Você demor… WHAT ARE YOU DOING HERE (O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI)? - o sorriso dela se desfez automaticamente quando viu Matthew. A garota apontava para ele com uma expressão furiosa que não combinava nem um pouco com ela.
— Hey! Bom te ver também, Lewis-chan! - Matt tentou exibir um sorriso amigável, como da época em que era apenas "Shunsuke". Mas é claro que aquilo não iria dar certo.
— Pois não há nada de bom em te ver! Como ousa aparecer aqui depois de tudo que nos fez passar?! - Utau esbravejou.
— Bem, na verdade eu preciso dizer uma coisa para vocês…
No tenemos nada que hablar con un hijo mentiroso traidor de puta sucia como tú, maldito traicioneras! (Não temos nada para falar com um mentiroso traidor filho de uma cadela imunda como você, seu maldito traiçoeiro!) - Stéffanie gritou muito rápido em espanhol, com cara de quem iria matá-lo se ele se aproximasse mais.
— Não entendi uma palavra do que você falou, mas você com certeza me xingou com algum palavrão em espanhol, não foi? - adivinhou Matthew.
— Na verdade foram vários - Nagihiko corrigiu - E geralmente eu a repreenderia por isso, mas dessa vez ela tem razão em ficar irritada desse jeito. É melhor sumir daqui antes que acabe levando uma bela surra, seu traidor asqueiroso.
— Mas eu já disse que só quero conversar…
— E nós já dissemos que não temos nada para falar com um mentiroso como você! - Stéffanie gritou de volta, e finalmente Matthew entendeu o que ela havia dito antes - Seu maldito, eu vou te matar… aaai! - ela chegou a se levantar para bater em Matthew, mas sentiu uma pontada no pulso machucado e voltou para onde estava sentada.
— Ei, você ainda está com o pulso torcido. Até entendo que você queira matá-lo, mas desse jeito só vai piorar - Nagihiko avisou. Se ele "entendia" o desejo psicopata da namorada, então Matt estava realmente em apuros.
— Droga… Yaya! Bate nele por mim! - Stéffanie exclamou.
— Deixa comigo, Onee-chan! - Yaya deu um chute na canela de Matthew, aparentemente feliz em poder se vingar de alguma forma do garoto.
— Hey! That hurts! (Isso dói)! - Matt reclamou, pulando numa perna só - Come on (Vamos lá), eu só quero conversar com vocês…
— Já falamos que não temos nada para conversar com um traidor ardiloso como você - Rima lhe lançou um olhar mortal - Depois de tudo o que aconteceu, não sei o que você pensa que pode ter a falar conosco.
— Bem… eu trouxe doces - Matthew ergueu a sacola de doces que trazia consigo, embora duvidasse que aquilo fosse de grande ajuda.
— Acha que pode nos comprar com simples doces?! - a voz de Yaya soava ofendida, mas ela arrancou a sacola de doces da mão dele mais rápido que um raio - Você fez o Micchan sofrer demais, e nós nunca o perdoaremos por isso! Agora fora daqui!
— Droga, será que não podem me ouvir nem por um minuto? Eu já disse que só quero conversar… ei, Miguel, será que pode me dar uma ajuda aqui?
— Eu não - o português cruzou os braços - Eu disse que você teria que se virar com isso sozinho. Você mereceu depois de tudo o que fez.
— Ei, espere aí, Gonçaves-kun - Tadase chamou - Por que deixou o Matthew entrar aqui depois de tudo o que ele fez? Você, mais do que ninguém, deveria odiá-lo!
— É, devia, mas… - Miguel coçou atrás da cabeça, sem saber o que responder - Bem, se querem tanto assim ouvir explicações, então escutem as dele.
— Muito bem - Tadase assentiu a contragosto - Vamos te dar cinco minutos - ele falou, levantando os cinco dedos da mão direita - Diga o que veio fazer aqui nesse tempo, e nem um segundo a mais, ouviu?
— É isso mesmo, cinco minutos já está bom até demais para alguém que só contou mentiras desde que nos conhecemos - Kukai falou de cara emburrada.
— Diga logo suas desculpas esfarrapadas ou o que quer que seja - Amu abanou a mão, fazendo pouco caso.
— E depois vá embora e nunca mais apareça na nossa frente. Puede que haya esguince en la muñeca, pero mis piernas son grandes. Me encantaría una patada en el culo (Eu posso ter torcido o pulso, mas minhas pernas estão ótimas. Vou adorar chutar o seu traseiro) - Stéffanie acrescentou com um ódio mortal nos olhos.
— Outra vez eu não entendi essa sua última frase, mas tenho certeza de que você me ameaçou de morte ou coisa parecida - Matthew deduziu. Ele suspirou, torcendo para que apenas cinco minutos fossem suficientes para fazer todas aquelas pessoas entenderem que ele realmente estava arrependido - Okay, here I go (Muito bem, lá vou eu): Suponho que não vai adiantar eu simplesmente vir aqui e dizer que estou arrependido de tudo o que fiz… embora essa seja a verdade. Pelo menos, em parte.
— Como assim, "em parte"? - Tadase ergueu uma sobrancelha.
— Estaria mentindo se dissesse que me arrependi de ter me aliado ao pessoal da Corporação Yamabuki. Fiz isso para… - ele fez uma pausa. Não queria ter que contar seu sonho para todas aquelas pessoas que o odiavam e queriam colocá-lo para fora do quarto a pontapés - Bem, para realizar um desejo que eu tinha. Por isso, precisava do Embrião. E o jeito mais rápido de obtê-lo era me aliando a eles.
— E corrompendo os ovos do coração de centenas de crianças inocentes - Utau acrescentou da cama onde estava - Olhe, garoto, eu já fiz isso enquanto trabalhava apra a Easter. Tenho uma boa noção do quanto isso é errado.
— Eu sei disso. Sei que você, e também o seu irmão, também já fizeram um trabalho semelhante ao meu. Mas vocês se arrependeram no final e foram perdoados, não é? - Matt a encarou de volta - Eu queria apenas o Embrião. Queria muito… para realizar um desejo que eu tinha. Na verdade, ainda gostaria de realizar, mas… agora entendo que é impossível - ele desviou os olhos para o chão, sem conseguir encarar ninguém. A maioria ali, se não todos, podiam ver a tristeza estampada no rosto do garoto - E pensar que por alguns instantes eu tive o meu tão desejado Embrião em minhas mãos… mas acabei deixando o meu desejo egoísta de lado quando vi o estado em que o Miguel se encontrava naquela luta. A perna quebrada, a hemorragia e aquele machucado horrível na cabeça… my God, não consigo nem pensar o que faria se o pior se tivesse acontecido…
— Hemorragia? - Miguel o interrompeu, os olhos arregalados em choque - Ninguém me falou nada sobre isso…
— Nós não queríamos te preocupar, Micchan - Anna falou como quem pede desculpas - E, no fim das contas, you were the one who came out unscathed, so we better not say anything (você foi o único que saiu ileso, por isso achamos melhor não falar nada).
Aspetta un minuto (Espere um pouco) - disse Giovanni - Está dizendo que o seu desejo para o Embrião fosse que os ferimentos do Miguel se curassem?
— O poder do Embrião é incrível, não é? - Matt sorriu sem graça.
— Pensando bem, faz sentido - Kairi comentou coçando o queixo - É a única explicação para ele ter saído daquela luta sem nenhum arranhão.
— Ei, pessoal - Amu chamou - Já passaram os cinco minutos. Acho que o Matthew já se explicou até demais. E então, o que vocês acham?
— É uma história incrível… mas quem garante que é verdade? - Kairi perguntou - Ele pode estar mentindo de novo.
— Realmente… se isso for algum tipo de plano dos Yamabuki para se vingar de nós, estaríamos bastante encrencados se acreditássemos nele. Principalmente agora que estamos todos hospitalizados - Nagihiko concordou.
— Mas, se fosse um plano, então por que o Matthew teria usado o Embrião para curar o Micchan? - Utau indagou.
Maybe the power of love has made him switch sides (Talvez o poder do amor tenha feito ele mudar de lado)! - Anna exclamou sonhadora - Foi isso, não foi, Matthew?
— É, mais ou menos isso - o garoto coçou o rosto, olhando para o lado. Do jeito que Anna falava parecia tornar tudo mais embaraçoso.
— Eu continuo achando essa história muito estranha - Rima falou com ar desconfiado.
— Ei, eu me lembrei de uma coisa - Kukai falou de repente - Você se lembra do que a Kaori nos disse quando fomos destruir o laboratório daquele cientista louco? - ele virou-se para Yaya - Que ele já tinha atrapalhado a luta várias vezes e quase tinha deixado seu disfarce ser descoberto só para proteger o Miguel…
— Ah, é mesmo! - Yaya exclamou - Ela disse que o Matt devia gostar mesmo do Micchan!
— É… ela me repreendeu por isso, aliás. Disse que sempre soube que, no final eu jogaria tudo para o alto só para ficar com o Miguel. E ela tinha razão - Matthew disse como quem fala do tempo, embora tivesse ficado sem jeito por justo Kaori ter tido alguma influência positiva nesse assunto.
See? I said! (Viram? Eu disse!) O amor do Matthew pelo Micchan acabou curando a maldade que havia dentro dele! - Anna exclamou com empolgação.
— Bem, se até a Kaori disse isso, então talvez… - Amu interrompeu-se no meio da frase, notando uma coisa - Espere aí, quando isso aconteceu?
— Ontem.
— Vocês dois ainda estão se vendo? - Giovanni ergueu uma sobrancelha.
— Na verdade não. Eu a encontrei no mercado por acaso - Matt contou - Ela me disse que vai voltar para a casa dela, fora da cidade. Parece que, depois do desastre que foi o plano da Corporação Yamabuki, ela quer ficar o mais longe possível de encrenca e, principalmente, longe de vocês.
— Bem, ao menos ela tomou uma boa decisão - Nagihiko comentou.
— Ela parecia estar irritada particularmente com você - Matthew contou.
— Hein? Comigo por que? - Nagihiko apontou para si mesmo com ar de inocência.
— Porque você extorquiu informações dela - Stéffanie o lembrou - Bueno, ya que nunca veo que la chica de nuevo, que ya es grande (Bem, desde que eu nunca mais veja aquela garota de novo, já está ótimo).
— Sim, conseguimos nos livrar da Kaori, isso é muito bom. Mas agora resta saber o que vamos fazer com o Matthew - Rima falou, encarando o garoto. Os olhares dos demais seguiram o dela. Matthew sentiu-se como se fosse um touro prestes a ser abatido com toda aquela gente zangada encarando ele.
— Acho que a decisão final deve ser do Gonçalves-kun - Tadase opinou - Ele foi o que mais saiu prejudicado nessa história afinal, então acho que ele é quem deve decidir o que fazer com o Matthew.
— Por favor, Micchan, me diga que você decidiu torturá-lo - Stéffanie pediu.
— Você é assustadora, sabia? - Matt falou para ela.
— Na verdade eu decidi perdoá-lo. Lamento desapontá-la, Stéffanie - Miguel respondeu, embora não lamentasse coisa nenhuma.
— O QUE?! - metade das pessoas ali exclamaram ao mesmo tempo, algumas em idiomas diferentes.
— Mas por que?! - Amu exclamou indignada - Micchan, esse garoto te enganou durante meses, ele te fez sofrer…
Eso mismo! Porque es mentiroso, traidor, no se puede confiar en él (Isso mesmo! Ele é um mentiroso traiçoeiro, você não pode confiar nele)! - Stéffanie apoiou.
Calm down you two, please! (Acalme-se vocês duas, por favor)! - Anna pediu - Se o Matthew veio até aqui para se desculpar, deve ser porque ele realmente gosta do Micchan!
— Bem, acho que todo mundo merece uma segunda chance. Se eu tive uma, ele também pode ter - Utau sorriu levemente.
— Bem, se essa é a decisão do Miguel, então que seja… mas já vou avisando, se você magoar o Miguel outra vez, vai ter que se ver com a gente, ouviu Matthew?! - Kukai exclamou.
— É isso mesmo - a espanhola acrescentou - Não ouse fazer o Micchan sofrer outra vez, senão eu juro que vou te bater tanto que vou fazer você vai se arrepnder de ter nascido.
— Ah, eu acredito em você - Matthew respondeu - Mas não precisam se preocupar, eu já aprendi minha lição. Isso não vai acontecer.
— Acho bom mesmo, mocinho - Rima o encarou com um olhar mortal. Ele se esforçou para segurar uma risada por alguém tão pequena quanto Rima ter usado "inho" para se referir a ele - A propósito, pode tirar esses óculos. Já sabemos que você é o Shunsuke mesmo.
— Na verdade sou um pouco míope - Matt contou - Eu usava lentes de contato quando tinha que lutar. Era horrível ter que enfiar aquela coisa nos olhos.
— É séro? Depois de tudo o que aconteceu, você vai ficar reclamando de ter que usar lentes de contato? - Miguel ergueu uma sobrancelha.
— Meus olhos são sensíveis - Matthew respondeu na defensiva, e os outros não aguentaram. Acabaram caindo na gargalhada. Pouco a pouco, até os mais rancorosos acabaram se esquecendo da irritação e mágoa que sentiam por Matthew. Era quase como se estivessem conversando com Shunsuke de novo.
— Matthew, você reclama por coisas pequenas demais, sabia? - Stéffanie o repreendeu - Me gustaría poder quedarme aquí un poco más (Eu gostaria de poder ficar aqui mais um pouco) para saber se você tem outras dessas frescuras que nós não sabíamos.
— Então fique, aposto que sou muito menos fresco do que voc… - Matt interrompeu-se no meio da frase, o sorriso desaparecendo do seu rosto - Ah, é mesmo. Agora que tudo acabou, vocês… vão voltar para os seus países de origem, não é? - ele pareceu repentinamente receoso. Claro que já sabia disso, havia conversado sobre esse assunto há pouco tempo mas, ver os outros estrangeiros diante de si pareceu aflorar sua preocupação - Ei, Miguel. Quanto custa em média uma passagem para Portugal?
— O que? Por que está a perguntar isso agora? - Miguel respondeu a pergunta dele com outra pergunta.
— Bem, como eu disse antes, não há mais nada que me prenda nesse país - Matthew lembrou - Então, se você vai voltar para Portugal, eu quero ir junto com você!
— Kyahh~ que fofo! - Yaya exclamou.
— Anna-chan tinha razão, o amor pelo Micchan acabou curando ele de toda aquela maldade - Utau comentou sorrindo.
— Vocês querem parar com isso? - Miguel pediu - E você não precisa comprar uma passagem para Portugal, Matt.
— O que? Por que?!
— Na verdade, eu… - Miguel remexeu-se no mesmo lugar, sem saber como dizer aquilo - Eu liguei para os meus pais. Contei que já tinha cumprido a tarefa que me deram, que era a finalidade desse intercâmbio, e perguntei quando precisava voltar. E eles me falaram… que eu não precisava ter pressa. Que eu poderia permanecer mais um ano aqui fazendo intercâmbio se quisesse, na verdade… resumindo, acho que não faz muita diferença para eles se eu vou não voltar.
— Como assim? Por que os seus pais diriam uma coisa dessas?! - Kukai exclamou.
— Eles nunca me aceitaram como eu sou, você sabe, Kukai… todos vocês sabem disso. Então, suponho que eles não iriam gostar de me ver namorando outro rapaz… as pessoas não aceitam esse tipo de coisa muito bem em Portugal - Miguel contou com um sorriso triste - Enfim, parece que eu posso ficar aqui o tempo que eu quiser.
— Não acredito nisso… não sei se fico feliz ou revoltado - Matthew falou em choque. Depois de tudo o que tinha feito para tentar trazer sua mãe de volta, é claro que iria ficar no mínimo irritado em saber que alguém poderia ter pais assim - Que tipo de pais não iriam querer o filho por perto só porque ele gosta de garotos?! Ah, Miguel, eu sinto muito…
— Não lamente. Fique feliz por eu poder ficar no Japão - Miguel respondeu - É claro, não posso morar na casa do Kukai para sempre, preciso arranjar outro lugar para ficar…
— Ah, não se preocupe com isso! Leve o tempo que quiser para ajeitar sua vida! - Kukai falou em tom despreocupado.
I'm so happy (Estou tão feliz) que você também vai poder ficar aqui, Micchan! - Anna exclamou, quase pulando de alegria.
— Como assim "também"? - Kairi indagou.
— Ah… I received a letter from my cousin Arthur this morning (Eu recebi uma carta do meu primo Arthur hoje de manhã) - Anna contou, torcendo as mãos uma na outra nervosamente - Ele disse que eu continuaria sendo inútil e inconveniente se voltasse para minha vida antiga na Inglaterra, então propôs um acordo, para que eu continue meus estudos aqui, até o final do ensino médio, e então, faça uma faculdade de Relações Internacionais. No futuro, ele disse, a Embaixada Inglesa do Japão pode achar alguma utilidade para mim, e eu serei muito mais conveniente estando aqui do que jamais fui na Inglaterra. Então, eu… vou poder continuar vivendo aqui no Japão… - ela concluiu, sem conseguir conter o sorriso que se espalhava por seu rosto.
— Kyaaah! Anna-chi vai ficar também! - Yaya exclamou, abraçando a inglesa, que soltou uma exclamação de dor por causa dos machucados. Kukai obrigou Yaya a soltá-la, embora também não parasse se sorrir.
— Isso é incrível! Micchan e Anna-chan vão continuar com a gente! - Utau exclamou eufórica.
— Se deu bem, hein Tadase? - Utau ergueu o polegar para ele, com o sorriso terrivelmente parecido com o do irmão.
— Pare com isso, Utau-chan, parece até o Ikuto-niisan falando…- Tadase respondeu, irremediavelmente corado.


Os dois estrangeiros restantes observavam a algazarra que os amigos faziam com um olhar meio perdido. Claro que estavam felizes por Anna e Miguel, mas não podiam evitar de sentir uma pontinha de inveja. Stéffanie encarou Giovanni, que estava sentado na cama ao lado, com um semblante abatido. Era óbvio que o garoto se encontrava na mesma situação que ela.


— Parece que não demos a mesma sorte que eles - ela falou, anormalmente calma. Não, aquilo não era calma… estava mais para tristeza.
— Do que está falando? - ele indagou, estranhando a falta da costumeira irritação no tom de voz da garota - Entendo que você esteja triste, afinal, você tem namorado. Já eu… - ele não soube como terminar a frase. No fim das contas, não tinha conseguido transmitir seus sentimentos para Rima. E não havia mais sentido em fazê-lo agora que ia voltar para sua casa na Itália. Estava tão afogado nesses pensamentos que se sobressaltou ao notar os olhares esperançosos dos demais Guardiões voltados para ele e a espanhola.
— Por que está me olhando com essa cara de cachorro que caiu da mudança? No es todo mundo que tiene buenas noticias (Não é todo mundo que tem boas notícias) - Stéffanie virou a cara emburrada ao sentir o olhar de Nagihiko pressionando-a. Giovanni balançou a cabeça, abatido, quando os demais olharam para ele.
— Entendo… nem tudo é perfeito - Nagihiko lamentou.


—--------------


Quando completou uma semana desde o fim da luta todos já haviam recebido alta do hospital, inclusive Ikuto, que era o que tinha sido mais ferido. E agora, estavam se preparando para o que parecia ser mais difícil do que qualquer batalha que já tivessem travado: Dar adeus aos seus novos amigos estrangeiros.


Todos os Guardiões japoneses, inclusive Utau, Ikuto, e até mesmo Matthew, foram acompanhá-los até o aeroporto. Miguel também foi junto, é claro, embora não fosse viajar para lugar nenhum, e Anna, que precisaria voltar para a Inglaterra apenas para resolver alguns assuntos diplomáticos e aproveitar para rever seus pais, mas logo retornaria ao Japão.


I'll be back in two or three days (Eu estarei de volta em dois ou três dias) - Anna prometeu enquanto Tadase segurava suas mãos entre as dele - Só preciso resolver alguns assuntos com Arthur, assinar alguns documentos… ainda tem muita coisa que ele precisa me explicar. E eu também preciso decidir onde vou morar, I can't live in the house of Miss Mashiro forever (não posso viver na casa da Senhorita Mashiro para sempre).
— Vou esperar ansioso - Tadase falou, preocupado com este último detalhe. Ele não conseguia imaginar Anna morando em uma casa sozinha - E vou te ligar todos os dias.
— Também vamos esperar ansiosos! - Utau pareceu surgir do nada, e deu um forte abraço em Anna - Vamos sentir saudades, Anna-chan!
— É, trate de voltar logo, inglesinha, ou o Tadase vai ficar insuportável enquanto lamenta pela sua ausência - Ikuto fez um cafuné na garota, bagunçando seus cabelos - Vamos sentir sua falta.
— Vamos sentir muitas saudades! De todos vocês - Amu acrescentou, parecendo estar prestes a chorar.
— Também vamos sentir saudades - Giovanni falou com um sorriso triste - E obrigado por ter me hospedado esse tempo todo, Tadase - ele virou-se para o loiro - Sinto muito pelo incoveniente…
— Não diga isso, Agostinni-kun, nós é que temos que agradecer - Tadase respondeu - Não teríamos conseguido vencer essa batalha sem a ajuda de vocês.
— Nisso eu vou ter que concordar - Matthew se intrometeu - Vocês jamais teriam conseguido me derrotar sem esses quatro estrangeiros. Principalmente o Miguel, é claro.
— Não está ajudando, Matt… - o Rei português murmurou.
— Bem, acho que ele tem razão dessa vez - Tadase admitiu - Todos vocês foram peças fundamentais nessa batalha. Jamais nos esqueceremos do que vocês fizeram por nós.
— Não precisa falar desse jeito, assim eu fico sem graça - Giovanni sorriu desconcertado - Ho passato meno tempo con voi che gli altri (Eu passei menos tempo com vocês do que os outros), mas estou muito feliz por ter conhecido cada um de vocês.
— Piko, Onne-chan… por que vocês têm que ir embora? Por que não ficam com a gente também? - Yaya exclamou. Ela pulou em cima de Stéffanie de repente, que exclamou alguma coisa incompreensível em espanhol - Não vai embora, Onee-chan! Fica com a Yaya, por favor!
Déjame, Yaya! Tengo que ir a casa! (Me solta, Yaya! Eu tenho que voltar pra casa!) - a garota tentou empurrar Yaya para longe, mas ela tinha grudado feito chiclete - Escute, eu agradeço por ter me hospedado esse tempo todo, mas eu preciso voltar para a Espanha agora. Você deveria estar feliz, sem mim por lá, não vai ter ninguém para te bater quando você fizer alguma besteira…
— E agora, quem vai bater na Yaya quando ela fizer besteira? - a ruiva exclamou aos prantos.
— Yaya, você é masoquista por acaso? - Kukai indagou com uma gota na cabeça.
— Ei, Yaya-chan. Me empresta a sua Onee-chan por um instante? - sem esperar por uma resposta, Nagihiko puxou Stéffanie pelo braço, soltando-a da ruiva, e a levou para um canto mais afastado do aeroporto onde os outros não poderiam ouvi-los.
— O que foi? - Stéffanie perguntou, encarando o vaso de planta atrás de Nagihiko. Ela realmente não queria ter aquele tipo de conversa.
— Como assim "o que foi?". Você sabe…
— Eu preciso voltar para casa, Nagihiko - ela falou a óbvia e dolorosa verdade - Desde el principio sabías (Desde o começo você sabia). Eu só vim para o Japão para ajudar com o caso dos Batsu Tamas modificados. Agora que o problema já está resolvido e o culpado foi pego, minha missão foi cumprida e meu intercâmbio terminou. Tengo que volver a España ahora. (Eu preciso voltar para a Espanha agora).
— Não existe mesmo nenhuma possibilidade de você ficar? Por mais remota que seja? - Nagihiko insistiu. Ele não conseguia acreditar que iria terminar assim. Não podia aceitar um final daqueles. Depois de tudo o que passou para ficar com ela, ser separado da pessoa que amava por… bem, por outro país… parecia bastante injusto - Gonçalves-kun e Anna-chan também vieram para cá pelo mesmo motivo, e vão ficar no Japão. Por que você não pode ficar também?
— Micchan tem problemas com os pais dele, que no parece que quieren que el hijo vuelva a casa (que parecem não querer que o filho volte para casa). E a Anna tem esse negócio com a Embaixada… gostaria muito de ver como ela vai dar conta de algo tão grande - Stéffanie deu um sorrisinho triste - Mas infelizmente não vou poder - ela se forçou a encarar Nagihiko - Eu gosto do Japão. Gostaria de poder continuar vivendo aqui, com vocês, mas não posso. Acho que isso significa… que estamos terminando… é isso?
— Não, não é isso - Nagihiko segurou a mão dela entre as suas. A garota sobressaltou-se com a firmeza que havia em seu olhar - Eu não passei tanto tempo insistindo em me aproximar de você para depois termos que terminar só porque você vai para outro país. Vamos continuar nos falando. Pela internet, e eu vou te ligar sempre que puder…
— Nagihiko… não precisa fazer isso - ela desviou o olhar do garoto novamente, puxando a mão de volta.
— Por que está dizendo essas coisas?! Você… não gosta mais de mim…?
— Não é isso… - Stéffanie contraiu os lábios, sentindo o rosto esquentar - De acuerdo, digamos que hicimos lo que está diciendo (Certo, digamos que fizéssemos o que você está dizendo). Digamos que trocássemos e-mails diariamente, e nos falássemos pelo telefone… estaria tudo bem para você deixar as coisas desse jeito?
— Como assim?
— Estou dizendo que só poderíamos conversar. Nem poderíamos ver os rostos um do outro. E você não poderia fazer… aquelas coisas embaraçosas comigo… - ela corou ao dizer aquela última frase - Uma hora ou outra você acabaria se cansando de mim.
— Mas que conversa é essa agora? Eu jamais me cansaria de você - Nagihiko apoiou as mãos nos ombros dela, fazendo a garota ofegar com a aproximação - Se estou pedindo para você ficar, é porque gosto de você. Porque quero ficar com você, será que não entende isso? Eu jamais me cansaria de você!
— Ah, iria se cansar sim. Na verdade, não sei como ainda não se cansou - ela abaixou a cabeça, encarando os próprios pés - Ya sabes, nunca he tenido amigos en España (Sabe, eu nunca tive amigos na Espanha). Os outros Guardiões de lá precisavam me aturar porque eu também tenho uma Shugo Chara. Eu sei que tenho uma personalidade horrível, que sou temperamental, e irritante, e não consigo fazer nada para mudar isso, eu simplesmente sou assim. Usted acaba de enamoraste de mí porque (Você só se apaixonou por mim porque)… - ela fez uma pausa, pensando em como concluir a frase, e voltou a encarar o garoto - En realidad, yo no sé por qué (Na verdade eu não sei porque). Mas, seja lá qual for o motivo, quando eu voltar para casa, você vai acabar se esquecendo de mim, e vai poder seguir com a sua vida. Vai poder se apaixonar por alguma outra pessoa que seja mais gentil e tenha uma personalidade melhor… você merece ficar com alguém assim.
— Stéffanie de la Blanca - Nagihiko a encarou com um ar desconfiado - Por acaso você está me dizendo todas essas coisas porque está se sentindo insegura?
Qué? Por supuesto que no! (O que? Claro que não!) - a expressão dela mudou em um piscar de olhos, perdendo totalmente a calma que exibia até um segundo atrás - Até parece que eu ficaria abalada só porque estaremos em continentes diferentes, e eu não poderei ficar de olho em você, nem vou saber o que você anda fazendo, ou com quem está andando… por supuesto que no estoy insegura sólo por un poco de algo insignificante como esa (é claro que eu não estou insegura só por causa de uma coisinha insignificante como essa)!
— Acho que está sim - Nagihiko continuou - Acho que você está com medo de eu te trocar por outra garota depois que você for embora. Ou de dizer que gosto de você enquanto conversamos, mas estar sendo infiel.
Juro que voy a matar si lo hace algo así! (Eu juro que te mato se você fizer algo desse tipo!) - ela exclamou, o rosto vermelho de raiva e vergonha misturadas.
— Essa sim é a Blanca-san que eu conheço - Nagihiko riu - Você deveria saber que eu não vou fazer nada disso. Eu amo você, e apenas você - ele disse - E, respondendo a sua pergunta não feita, eu não decidi me apaixonar por você. As pessoas não decidem por quem vão se apaixonar, elas simplesmente se apaixonam, e foi isso o que aconteceu comigo. Conheço muito bem suas qualidades e defeitos, e amo cada um deles. E, não importa que você esteja em outro país, eu sempre vou te amar. Mesmo sendo essa garota temperamental com personalidade difícil de se lidar, como você mesma acabou de dizer - ele concluiu, dando uma piscadela.


A garota corou furiosamente ao ouvir aquilo e abriu a boca, parecendo querer continuar discutindo, mas ele a calou com o beijo. Talvez o último beijo que eles tivessm. Ela não tentou resistir dessa vez. Apenas deixou que Nagihiko a abraçasse e tomasse seus lábios para si. Talvez nunca mais fosse sentir o gosto deles novamente afinal.


— Vou te visitar nas férias - ele disse assim que a soltou - Prometo.
Y usted tiene un accidente pasaporte (E você tem passaporte por acaso)? - ela perguntou aquilo apenas para disfarçar o embaraço que sentia.
— Claro que tenho. Já fiz algumas apresentações de dança na Europa antes - Nagihiko lembrou.
— Isso significa que Nadeshiko tem passaporte - Stéffanie corrigiu. Ela deu um suspiro - Bem, que seja. Vou te mostrar a Espanha quando você for lá - ela disse, enfim sorrindo. Ouviu então uma voz feminina pelo autofalante anunciando os próximos vôos que iriam sair e pedindo para os passageiros embarcarem - É o meu vôo…
— Vamos. Os outros também vão querer se despedir de você - ele chamou, e os dois voltaram para junto do resto do grupo.


Os outros estavam ao redor de Anna e Giovanni, a maioria tentando conter as lágrimas, alguns desistindo de fazer isso e chorando escandalosamente. Yaya agora abraçava Giovanni como se ele fosse um brinquedo que ela teria que devolver para a loja (o que de fato era algo semelhante) e chorava aos prantos, enquanto Amu estava agarrada à Às estrangeira dizendo o quanto sentiria falta dela, embora Anna fosse voltar dentro de poucos dias. Eles viraram a cabeça ao ver Nagihiko e Stéffanie se aproximando e Yaya finalmente largou o italiano para correr na direção da Rainha estrangeira novamente.


— Onee-chan! Yaya vai sentir tanto a sua falta… eu sei que você é irritante, escandalosa, ciumenta, e temperamental e violenta… mas a Yaya gosta de você assim mesmo!
Gracias por la sinceridad (Obrigada pela sinceridade) Yaya - Stéffanie resmungou, com cara de quem ia bater nela. Ela respirou fundo, aparentemente tentando se controlar. Em seguida fez um cafuné na garota, bagunçando seus cabelos ruivos.
— Onee-chan…? - Yaya a soltou, erguendo os olhos para encará-la, no mínimo chocada por não ter apanhado.
— Acho que vou sentir um pouco a sua falta também - a espanhola falou, olhando para o lado.
— É sério? - os olhos da ruiva chegaram a brilhar.
Por supuesto (É claro). Não vai ter mais ninguém em que eu possa bater quando eu chegar em casa - Stéffanie voltou a sorrir. Um sorriso nada amigável, que fez Yaya se encolher.
— Vamos, não seja chata, Stéffanie! Não sabemos quando vamos nos ver de novo, não assuste a Yaya desse jeito! - Utau pediu, abraçando a garota.
No sabemos si vamos a ver de nuevo (Não sabemos nem se vamos nos ver de novo) - a garota murmurou.
— Vamos sentir falta de vocês. De todos vocês - Ikuto falou. Até ele, que passava menos tempo com os Guardiões, e vivia sempre sorrindo de forma suspeita por motivo nenhum, parecia triste.
— Tentem voltar algum dia vocês dois, okay? Assim poderão ver que estou cuidando muito bem do Miguel - Matthew falou com um sorriso estampado no rosto.
— Acho bom você cuidar dele mesmo, ou vou voltar especialmente para te dar uma surra - a espanhola o encarou de cara feia.
— Signorina Lewis, cuide dele por nós, está bem? - Giovanni pediu.
— Okay! Deixem comigo! - Anna exclamou, com cara de quem levaria aquela tarefa a sério.


A voz feminina no autofalante anunciou os próximos vôos que partiriam novamente. O próximo vôo para a itália foi anunciado também.


I nostri voli lasceranno allo stesso tempo (Nossos vôos vão sair no mesmo horário)? - Giovanni perguntou.
— Pois é. Achei que ao menos um de nós poderia ficar mais tempo para se despedir… que la mala suerte (que falta de sorte) - Stéffanie suspirou.
— Bem, ao menos a Signorina Lewis vai poder ficar por mais algum tempo, não é? - Giovanni voltou-se para a garota.
Yeah, meu vôo só sai daqui a meia hora - Anna confirmou, enquanto a voz feminina no autofalante solicitava novamente que os passageiros embarcassem.


Eles se abraçaram e se despediram uma última vez, Yaya, Utau e Anna chorando. Até mesmo Amu não conseguiu conter as lágrimas. Giovanni estava evidentemente embaraçado em ser abraçado por tantas pessoas, e Stéffanie um tanto desconfortável, mas aquela poderia ser a última vez que veriam aquelas pessoas, seus amigos que custaram tanto a conquistar, então fizeram um esforço para deixar o constrangimento de lado. Ao lado deles, os Shugo Charas também se despediam uns dos outros, alguns com lágrimas nos olhos, outros aos prantos, tão tristes quanto seus donos.


Depois que a longa despedida terminou, Stéffanie e Giovanni voltaram a segurar suas malas, agora consideravelmente mais cheias do que quando tinham chegado devido a enorme quantidade de coisas que haviam adquirido enquanto estavam no Japão, e se viraram para encarar os amigos.


— Bem, então é isso. Até algum dia, eu acho - a espanhola forçou um último sorriso para os amigos e começou a caminhar com desâsnimo, cruzando o salão, sendo seguida por Giovanni, que parou no meio do caminho ao ouvir uma voz chamando seu nome.
— É isso mesmo, Giovanni?! Você vai partir sem dizer nada?


O garoto virou-se para ver que Rima o encarava furiosa, os olhos marejados. É claro que isso só podia significar uma coisa: Ela sabia. Oh céus, ela sabia o que Giovanni sentia por ela… há quanto tempo ela havia descoberto? Como ela descobriu? É verdade que seu Chara Change poderia tê-lo denunciado, e as situações em que se meteu por causa do Chara Nari de Kaori poderia tê-la feito perceber os sentimentos dele, mas quando isso aconteceu? Bem, isso não importava agora. E também não importava mais o que ele sentia por Rima. Ele estava indo embora, tinha que voltar para a Itália… desperdiçou tempo demais por causa do medo de ser rejeitado, medo de ela odiá-lo… e agora iria perder Rima para sempre.


— Isso não faz mais diferença, Signorina Mashiro… eu preciso voltar para a Itáiia - ele falou com um sorriso triste.
— Sim, eu sei disso. Mas você ainda está aqui, não está? - ela lembrou, avançando alguns passos na direção dele - Você é idiota, Giovanni? Por que ficou calado sobre isso durante todo esse tempo? Por que estava planejando ir embora sem me dizer nada sobre isso?!
— E-Eu… bem… - o garoto corou, desviando o rosto para o lado - Non sono mai stato bravo a trattare con le ragazze, si sa che (Eu nunca fui bom em lidar com garotas, você sabe disso). Mas melhorei bastante desde que vim para cá e conheci vocês… você especialmente, Signorina Mashiro. Mas eu ainda tinha medo de que você me odiasse se eu… bem…
— Eu nunca iria te odiar, Giovanni - ela falou, as lágrimas quase transbordando dos olhos - Estou com raiva de você por ter escondido isso de mim sim, com muita raiva. Mas eu nunca te odiaria. Afinal, eu sinto o mesmo…
— Signorina Mashiro… tem uma coisa que eu quero muito fazer. E talvez você fique com ainda mais raiva de mim, mas eu preciso fazer isso antes de voltar para casa.


Rima ergueu o rosto para encará-lo, curiosa, e então sentiu as mãos dele em sua face, trazendo-a para mais perto de si, até selar seus lábios nos dela. Rima arregalou os grandes olhos cor de mel em choque, mas logo se deixou levar e os fechou, segurando a camisa dele com as mãos pequenas e o trazendo para mais perto de si. Notou que Giovanni tentava ser o mais gentil possível, e que, assim como ela, não tinha nenhuma experiência no que estava fazendo, mas ficou feliz com o que ele tinha feito. Ela enfim tinha conseguido beijá-lo, mesmo que uma única vez.


Giovanni estava surpreso com aquilo. Não apenas surpreso com a súbita ousadia que tivera, mas também com o quanto Rima era delicada. Ele sabia que ela aparentava ser frágil como uma boneca, mas, tocando-a desse jeito, ela parecia ser ainda mais delicada do que ele imaginava. O corpo dela era tão pequeno, e seus lábios eram tão suaves, tão macios… ele se arrependeu profundamente por não ter conseguido se declarar para ela apropriadamente mais cedo, mas também ficou feliz por ter conseguido fazer isso antes de partir. Tinha uma vaga consciência de que todos os seus amigos estavam assistindo os dois agora e que faziam um tremendo alvoroço no meio do aeroporto, o que o deixou ainda mais constrangido, mas isso não parecia importar agora. Tudo o que importava naquele instante era Rima, e nada mais.


No entanto, devido à falta de experiência no assunto, os dois logo começaram a sentir falta de ar e tiveram que encerrar o beijo. Enquanto ofegavam, tentando recuperar o ar em seus pulmões, os berros estridentes de seus amigos os atingiram em cheio como metralhadoras:


Kyaaah~ I don't believe that! He did! Piko really did! (Eu não acredito nisso! Ele fez! O Piko realmente fez!) - Anna gritava com voz aguda, aos pulos.
— Até que enfim! Você demorou demais, viu? Ainda bem que a Yaya registrou esse momento único! - a ruiva exclamou, mexendo em seu celular cor de rosa.
— Meu Deus, você filmou isso? - Kairi indagou chocado.
— Mas é claro! Esse é o tipo de coisa que a gente só vê uma vez na vida!
— Deixa eu ver! Me passa esse vídeo, Yaya! - Stéffanie veio correndo sabe-se lá de onde e arrancou o celular das mãos de Yaya.
— Você já não tinha embarcado no avião? - Miguel perguntou com uma gota na cabeça.
— Acha mesmo que eu iria embarcar e perder esse momento histórico? - ela exclamou de volta enquanto passava o vídeo que Yaya gravou para o próprio celular - Jamais!
— Etto… senhorita Stéffanie de la Blanca? - uma funcionária do aeroporto chamou - A senhorita precisa embarcar, seu vôo vai partir em cinco minutos…
— Shhh, shhh! Ahora no! Yo no puedo perder esto! (Agora não! Eu não posso perder isso!) - Stéffanie abanou a mão para a mulher como se ela fosse um inseto incômodo.
— Mas senhorita…
— Eu compro outra passagem depois, não importa!
— É melhor não insistir, moça, ou ela vai acabar te batendo - Nagihiko aconselhou. A mulher pareceu alarmada e se afastou do grupo a passos rápidos.
Oh mio Dio, penso che morirò di vergogna (Ah meu Deus, acho que vou morrer de vergonha) - Giovanni escondeu o rosto corado nas mãos.
— Então, antes de morrer, faça isso direito - Rima pediu.
— O que? - ele tirou as mãos do rosto para encará-la.
— Quero ouvir o que você sente. Palavra por palavra.
— Ahh… Ho bisogno di fare questo (eu preciso fazer isso mesmo)? - Giovanni gemeu, sentindo seu rosto esquentar ainda mais.
— Você já me beijou na frente de todo mundo, qual é o problema em dizer? - Rima indagou.
— Certo… está bem - Giovanni virou-se de frente para ela e respirou fundo, como se isso pudesse lhe dar coragem - Signorina Mashiro… Non so per quanto tempo esattamente hai scoperto quello che sento (eu não sei há quanto tempo exatamente você descobriu o que eu sinto). Deve ser muito tempo, eu sou um péssimo mentiroso, e também sou ruim em esconder as coisas… e estou bastante arrependido. Io avrei detto più tempo (Eu gostaria de ter dito isso a você há mais tempo). Gostaria de ter passado mais tempo com você, sendo algo mais do que seu amigo… mas, infelizmente, não há como voltar no tempo. Eu não posso corrigir meus erros, mas posso aprender com eles. Eu sei que é tarde, mas eu quero dizer… que te amo, Mashiro Rima. Amo essa pessoa doce, gentil e delicada que você é… gosto de absolutamente tudo em você. E, não importa o que aconteça, mesmo que estejamos em países diferentes, eu sempre vou te amar.
— Não é tarde, Giovanni. Nunca é tarde par se dizer que ama alguém… - Rima falou, sentindo as lágrimas escorrerem pelos cantos dos olhos. Ela se atirou nos braços dele, abraçando-o com força - Eu também deveria ter dito. Sabia que você era lento demais para essas coisas, eu mesma deveria ter dito isso - ela soltou uma fraca risada, que saiu abafada - Eu também te amo, Giovanni… sempre vou te amar, sempre… - ela sentiu os braços do garoto envolverem seu corpo diminuto. Ficaram assim durante o que pareceram horas, mas não devia ter sido nem um minuto, pois alguns instantes depois eles escutaram novamente a voz feminina no autofalante anunciando a última chamada para os próximos vôos para a Itália e para a Espanha. Giovanni soltou a garota, ainda que contra sua vontade.
Ho bisogno di andare adesso (Eu preciso ir agora) - ele falou, parecendo mais triste do que nunca - Vou tentar voltar para visitar vocês. Nas férias, talvez.
— Vou cobrar essa promessa, ouviu? - Rima falou, limpando as lágrimas dos olhos.
— Anda, vamos andando, Romeu, ou vamos perder o vôo - Stéffanie arrastou Giovanni por uma das mãos, arrastando a mala de rodinhas com a outra enquanto escutava a voz no autofalante chamando os passageiros de novo - Estou começando a odiar essa voz, é sério - ela reclamou, lançando um último olhar triste para os amigos enquanto atravessava o salão, com o italiano em seu encalço.


Ela e Giovanni logo desapareceram no meio da multidão, deixando uma imensa sensação de vazio nos corações de cada um que permaneceram ali. Um vazio que jamais poderia ser preenchido novamente, pois eles eram pessoas insubstituíveis. Pessoas que todos eles amavam, e que não sabiam se voltariam a ver de novo algum dia.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas! Teffy-chan falando!
Pois é, depois de tanto tempo juntos, enfim chegou a despedida... todo mundo sabia que isso ia acontecer no final, mas né... ai, até eu fiquei triste aqui T_T
Bem, espero que vocês tenham gostado do capítulo e da declaração do Giovanni que finalmente saiu, sim, foi no final da fic, eu sei, desculpa a demora, mas saiu, é isso que importa! o/
O próximo é com a Shiroyuki!
Deixem reviews, por favor!
Kissus^^



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