Revenge II escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 68
Capítulo LXVIII




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Apesar de exausta e ferida, Amu tentava desesperadamente entrar em contato com os dois grupos estantes. As lutas e prováveis destruições na arquitetura do prédio parecia de alguma forma ter interferido no sinal do comunicador, mas, depois de alguns segundos tentando, ela conseguiu entrar em contato com os amigos. Após alguns minutos de espera, um dos grupos chegou onde eles estavam. Era o grupo de Miguel.


— Tadase! Are you okay? Not hurt? (Você está bem? Não se machucou?) - Anna veio correndo na direção dele, quase tropeçando no meio do caminho de tão preocupada que estava com o namorado.
— Eu estou bem, Anna-san - o loiro a tranquilizou - O problema é o que vamos fazer com ele - Tadase indicou Ikuto com a cabeça.
— Ikuto! - Yaya foi correndo até onde ele estava, com um leve ar de curiosidade. Ele continuava preso dentro da cápsula dourada do Holy Crown, murmurando "destruir Guardiões" - Ué... o que aconteceu com ele? - ela entortou a cabeça para o lado.
— Continua hipnotizado - Kukai respondeu com um ar sério que não combinava com ele - Foi uma sorte o Tadase ter conseguido prendê-lo desse jeito, senão estaríamos perdidos.
— Mas não podemos mantê-lo desse jeito para sempre, precisamos trazer o Ikuto-niisan de volta ao normal - Tadase lembrou - Só não sei como fazer isso... alguém tem alguma ideia?
— Eu adoraria poder ajudar, mas... I have no idea (não faço ideia) - Anna murmurou cabisbaixa.
— Ah! E se você e a Amu-chi usassem o Platinum Heart, Tadase? - Yaya sugeriu sorridente.
— Já tentamos isso, mas não deu certo - Tadase balançou a cabeça em negação, tentando disfarçar o quanto estava abatido - Alguma ideia, Gonçalves-kun? - ele encarou Miguel, que não havia dito uma única palavra desde que se
reunira ao grupo. Esboçava apenas com um olhar deprimido enquanto encarava os próprios pés. Como não obteve resposta, Tadase o chamou novamente, dessa vez mais alto - Gonçalvs-kun? Está me ouvindo?
— Hein? - Miguel foi bruscamente trazido para a realidade, encarando Tadase, que agora exibia um olhar preocupado. Não era hora de ele se preocupar com seus problemas pessoais... não podia ficar pensando no imenso vazio dentro de si agora que sabia que Shunsuke e Matthew eram a mesma pessoa, ele poderia se lamentar por isso o quanto quisesse depois. Mas não agora - Ah, me desculpe. Eu... estava um pouco distraído.
— Você está bem? - Tadase insistiu.
— Tadase... na verdade, o Micchan... - Anna começou a dizer, mas foi interrompida.
— Estou ótimo. Só um pouco machucado, como todos aqui, mas estou bem - Miguel mentiu - Então, sobre o Ikuto... se ele foi infectado com a energia negativa dos Batsu Tamas, então precisa ser purificado com alguma técnica ou objeto bastante poderoso. Seu Humpty Lock possui o poder de purificar Batsu Tamas, certo Amu? - ele voltou-se para a garota.
— Sim, mas, se nem o Platinum Heart deu certo, então duvido que eu possa fazer isso sozinha.


E como que respondendo às dúvidas e problemas de todos ali presentes, o grupo que faltava chegou. Todos estavam ofegantes de tanto correr, alguns apoiando as mãos nos joelhos quando finalmente pararam. Rima vinha mais atrás, desacostumada a correr tanto.


— Puxa, finalmente vocês chegaram! Estão atrasa... minha nossa, o que aconteceu com você, Blanca-san? - Kairi interrompeu o que prometia ser um longo sermão ao ver que Stéffanie estava com cortes feios no rosto e nos braços, e um tanto descabelada.
— Ela andou brigando com a Kaori - Nadeshiko respondeu, revirando os olhos.
— Hahá, eu sabia que isso ia acontecer! - Yaya soltou uma risada - Você venceu, não é, Onee-chan?
— E você tem dúvidas, sua tonta? - a espanhola resmungou.
— Essa é a minha Onee-chan! Pena que a Yaya não estava lá para assistir...
— Lamento interromper o que certamente seria um assunto divertido em outras circunstâncias, mas temos algo mais importante para resolvermos agora, Yaya - Utau lembrou.
— Ah, sim, é verdade... gomen nee, Utau-chi - Yaya coçou atrás da cabeça sem graça.
— Bem, como podem ver, nós encontramos o Ikuto - Kukai fez um gesto amplo, indicando o mais velho com a mão - O problema é que ele continua agindo feito um boneco psicopata que quer nos matar.
— Para trazê-lo de volta ao normal seria necessário purificá-lo, não é? - Rima indagou.
— Sim, mas o problema é que não sabemos como - respondeu Kairi.
— Já tentamos usar o Platinum Heart, mas nem isso funcionou... simplesmente não sabemos o que fazer - Utau passou a mão pelos cabelos, angustiada.
Beh, può essere una strana combinazione (Bem, pode ser uma combinação estranha), mas, e se tentássemos usar o poder do Humpty Lock junto com isto? - Giovanni sugeriu, segurando o crucifixo que carregava pendurado ao pescoço.
Creo que puede funcionar (Acho que pode funcionar) - Stéffanie respondeu.
— É mesmo... daquela vez você purificou todos aqueles Batsu Tamas usando o poder desse crucifixo, não foi? - Amu recordou, um sorriso esperançoso surgindo em sua face - Muito bem, vamos tentar então!


Amu colocou-se ao lado de Giovanni, de frente para Ikuto. Os dois respiraram fundo, se preparando e, ao sinal de Tadase, que desfez a cápsula que prendia o mais velho, os dois atacaram antes que ele pudesse alcançá-los. Um forte
clarão cegou-os durante vários segundos de tão poderoso que foi o ataque combinado. Ouviu-se o berro de Ikuto, mas ninguém conseguia sequer tentar abrir os olhos para ver o que estava acontecendo. Vários segundos depois, a claridade ofuscante causada pelo ataque combinado de Amu e Giovanni foi se dissipando, e os Guardiões piscaram com força, tentando se acostumar novamente com a luz.


Os primeiros que conseguiram focalizar o ambiente depararam-se com Ikuto esparramado no chão, de braços e pernas abertos, a boca entreaberta, e bastante ofegante. O Chara Nari distorcido criado pela Corporação Yamabuki havia sido desfeito, e agora ele trajava suas roupas normais, um tanto surradas e rasgadas em alguns pontos onde havia sido ferido durante a batalha.


— Ikuto! - Utau foi correndo até ele, ajoelhando-se ao lado do irmão. Sacudiu-o com o máximo de cuidado que conseguiu, devido à ansiedade que sentia, tentando acorda-lo.
— Utau-neechan, cuidado! Ele pode ainda estar sendo controlado! - Tadase tentou avisar, mas era tarde demais. Ikuto tinha aberto seus olhos. Duas belas safiras que refletiam o rosto preocupado da irmã.
— Utau...? - ele chamou com a voz fraca - O que está fazendo aqui? O que... o que foi que eu...? - Ikuto levou a mão à cabeça, fechando os olhos com força. Aparentemente, ele se lembrava do que havia feito enquanto estava sendo controlado.
— Ikuto, está tudo bem - Amu aproximou-se alguns passos, tentando reconforta-lo - Não foi culpa sua, você não sabia o que estava fazendo...
— Eu sabia sim - ele interrompeu - Sabia, mas não conseguia parar. Meu corpo se movia contra minha vontade. Você tem ideia do quanto isso é frustrante? Do quanto é doloroso?
— Hmm... não, não tenho - Amu respondeu sinceramente, um tanto sem jeito.
— Por que vieram atrás de mim? - Ikuto escondeu os olhos com uma das mãos - Vocês são idiotas por acaso? Vocês podiam ter morrido, sabiam? Eu podia ter matado todos vocês. Várias vezes.
— Talvez - Tadase respondeu - Mas nós nunca deixaríamos um amigo para trás. Principalmente depois de tudo pelo que você passou para nos ajudar, Ikuto-niisan.
— Hunf... isso é mesmo a sua cara, Reizinho - Ikuto forçou um sorriso, descobrindo os olhos. Em seguida sentou-se, deixando escapar um gemido de dor e, encostando-se em uma parede, acrescentou - Bem, já que vocês me encontraram, suponho que também tenham achado os documentos que eu peguei antes de ser capturado, não é? - ele indagou, e Tadase assentiu - Tem outras coisas que eu descobri antes de me capturarem. Primeiro, uma esquisitice que estão querendo construir com aquele monte de Batsu Tamas que a Kaori e o Matthew estão juntando feito loucos - ele fez uma pausa,
arregalando os olhos, como se tivesse se lembrado de algo muito mais importante - O Matthew! É mesmo! Aquele pirralho traiçoeiro duas-caras... ah, meu pequeno português, eu sinto muito, isso provavelmente vai doer... - ele voltou-se para Miguel com um olhar de piedade que não combinava com ele.
— Se é sobre ele ser o Shunsuke, não precisa se preocupar em ter que me dar a má notícia, eu já sei disso - Miguel respondeu tentando soar despreocupado, sem sucesso.
— O QUE?! - os demais gritaram em uníssono.
— Ué? Você já sabia? - Ikuto indagou espantado, ignorando os berros dos demais.
— Na verdade descobri agora a pouco... estava a lutar contra ele, quando a capa do Matthew rasgou, e... eu vi seu rosto. Não tinha como negar, era ele mesmo - Miguel contou sem encará-lo - E você, Ikuto? Como ficou sabendo disso?
— Ah... eu estava escutando escondido uma conversa entre Matthew e aquele cientista louco que criou os Batsu Tamas modificados, o Takagi, e acabei descobrindo tudo. Pretendia contar isso para vocês, mas aquele pirralho me pegou no flagra e me nocauteou. Foi quando começaram a me controlar.
— Vocês dois, querem parar de conversar entre si?! - Amu exclamou o mais alto que pôde - Que história é essa sobre o Matthew ser o Shunsuke-kun?!
— É apenas isso o que você acabou de dizer, Amu - Miguel respondeu simplesmente.
— Mas... não pode ser...
It's true (É verdade). Nós vimos o rosto dele depois que a capa do Matt rasgou. Era mesmo o Shunsuke - Anna confirmou com ar triste.
— E pensar que o Shun-chan esteve nos enganando esse tempo todo... ele parecia ser tão legal - Yaya lamentou.
— Ele era mais do que apenas "legal", Yaya - Miguel murmurou. Kairi deu uma cotovelada em Yaya, tentando fazê-la parar de falar o que não devia.


Shunsuke não era apenas alguém "legal". Miguel não tinha nem palavras para descrever o quanto Shunsuke era importante para ele. A vida toda sentiu-se diferente, estranho, sozinho, isolado das outras pessoas, pelo simples fato de gostar de garotos. Seus pais não aprovavam suas preferências. Ele não tinha amigos em Portugal que o apoiasse quanto a isso. Seu primeiro amor, Guilherme, lhe deu não apenas um fora, mas também um soco na cara quando ele se declarou. E depois, foi até o Japão dizendo que tinha mudado de ideia, mas estava apenas iludindo-o, pois não tinha a menor intenção de assumir um compromisso com outro rapaz para as outras pessoas. Mas Shunsuke não era assim. Ele não apenas foi o primeiro amigo que Miguel fez no Japão (tirando os Guardiões, é claro), como também o apoiou quando descobriu sobre suas preferências. E fez até mais do que isso, defendeu-o de Guilherme e o pediu em namoro. Assumiu o relacionamento deles publicamente sem vergonha ou medo algum. Aqueles foram os dias mais felizes da vida de Miguel... mas, infelizmente, foi tudo uma farsa.


Shunsuke, ou melhor, Matthew, apenas tinha usado Miguel para poder se aproximar dos Guardiões e obter informações sobre eles com mais facilidade. Informações pessoais que apenas pessoas íntimas teriam.... como seus gostos, pontos fracos, mudanças de temperamento, fobias, o nível do relacionamento entre cada um. Se não fosse por isso, ele jamais saberia com tanta facilidade que Anna pertencia à realeza. Que Nagihiko e Nadeshiko eram a mesma pessoa. Que Giovanni tinha dificuldade em se relacionar com garotas. Que Stéffanie tinha medo de cachorros. Que Amu havia se envolvido em um complicado triângulo amoroso. E isso era só o topo da lista.


E Miguel era o alvo perfeito. Matt poderia ter escolhido seduzir qualquer uma das outras garotas, mas ele provavelmente o escolhera devido à sua insegurança, sua fraqueza, sua carência... e pensar que era tão fácil alguém
iludi-lo com promessas vãs e palavras bonitas apenas para conseguir o que deseja. Miguel deveria saber que nunca encontraria alguém que o amasse de verdade, sendo como é. Sendo diferente. Tendo gostos tão estranhos. E ainda por cima deixou que isso interferisse e prejudicasse a missão na qual deveria estar ajudando. Foi para isso que ele veio até o Japão afinal, para ajudar a resolver o problema dos Batsu Tamas modificados, e não para arranjar um namorado. Miguel precisava se focar nisso, e em nada mais.


— Gonçalves-kun, eu... eu sinto muito. Eu nem sei o que dizer... - Tadase murmurou, chocado.
— Ah, Micchan... vem aqui - Utau aproximou-se dele e o abraçou. Miguel sabia que precisava se desvencilhar dela, antes que começasse a chorar ali mesmo, mas uma parte dele queria continuar lá, sem precisar fazer mais nada. Miguel
sentiu uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto antes que pudesse contê-la.
— Não acredito que o Shunsuke fez isso... cara, como não percebemos antes?! - Kukai exclamou indignado.
— Aquele moleque sabia disfarçar muito bem - Ikuto comentou.
— É verdade - o ruivo concordou - Cara, eu sinto muito, Miguel, de verdade.
— Isso não vai ficar assim! Voy a puñetazo ese bastardo tanto que cuando terminé (Eu vou socar tanto aquele maldito que quando eu terminar), nem a mãe dele vai reconhecê-lo de tão desfigurado que a cara dele vai ficar! - Stéffanie colocou-se de pé, excepcionalmente irritada.
— Ah, pelo amor de deus, não comece com isso de novo, Blanca-san - Nadeshiko pediu - Você praticamente já espancou a Kaori, agora quer arranjar briga com o Matthew também?
Por supuesto! (Mas é claro!) Não ouviu o que eu disse?
— Matthew é um garoto, e é mais forte, não vá pensando que vai ser tão fácil derrotá-lo em uma luta corpo-a-corpo como você fez com a Kaori - Nadeshiko lembrou.
— Acha que não sou páreo para um garoto, é?? - Stéffanie exclamou com cara de quem iria desafiar Nadeshiko para uma luta para provar de que era capaz de vencer um garoto.
— Muito bem, já chega disso! - Utau soltou Miguel e deu um tapa na cabeça da espanhola.
— Ai! Qual é o seu problema?! - Stéffanie exclamou, massageando o local onde Utau havia lhe acertado.
— Não é hora para ficar discutindo uma coisa tão boba, será que não percebeu? - a loira exclamou de volta.
Pero Matthew hizo Micchan llorar! No puedo perdonar a alguien que haz un amigo mío llorar... así que quiero acabar con él! (Mas o Matthew fez o Micchan chorar! Não posso perdoar alguém que faz um amigo meu chorar... por isso quero acabar com ele!) - a espanhola exclamou, agora parecendo uma criança que tentava justificar o motivo da pirraça que estava fazendo.
— Ela não sabe mesmo demonstrar seus sentimentos - Nadeshiko murmurou para ninguém em especial, passando a mão pelos
cabelos.
— Mas a Stéffanie está certa! Não podemos deixar que o Shunsuke... I mean (quero dizer), que o Matthew saia impune depois de tudo o que ele aprontou com o Micchan! - Anna colocou-se de pé também, com um ar irritado que não combinava com ela.
— É isso aí! Vamos vingar o Micchan! - Yaya apoiou, levantando-se em um salto.
— Ah, que ótimo, a loucura dela é contagiosa - Nadeshiko revirou os olhos.
— Obrigado, garotas, mas não precisam fazer isso - Miguel colocou-se de pé também, enxugando os olhos com as costas da mão e forçando um sorriso, que saiu meio triste - Agradeço a intenção, mas eu mesmo quero resolver isso com o Shun... digo, com o Matthew.
But Micchan... nós queremos te ajudar! - Anna exclamou.
— Você não precisa passar por tudo isso sozinho. Não mais. Lembre-se de que você tem amigos agora - Amu acrescentou, sorrindo, tentando reconfortá-lo.
— Eu sei. E agradeço de verdade a boa intenção de todos vocês. Mas este é um problema somente meu, não quero envolver mais ninguém nisso - o português respondeu o mais polidamente que conseguiu. Ele já havia sofrido uma perda e tanto ao ser forçado a se lembrar mais uma vez que viver um romance de verdade estava fora de cogitação para ele. Não queria sofrer outra desilusão. Claro que confiava em cada uma das pessoas ali presentes, mas, perder as amizades que tanto custou a conquistar... seria sofrimento demais de uma vez só - A propósito, eu sinto muito pelo que aconteceu. Foi minha culpa o Matthew ter se aproximado tanto de nós e ter adquirido tantas informações sobre os Guardiões. Se não fosse por minha causa...
— Não se preocupe com isso, Gonçalves-kun, você não tem culpa de nada - Tadase tentou tranquiliza-lo.
— Não tinha como adivinhar quem ele realmente era - Giovanni acrescentou.
— Micchan, deja de ser tan orgulloso y simplemente acepta nuestra ayuda (deixe de ser tão orgulhoso e aceite logo a nossa ajuda)! Vamos acabar com o Matt juntos! - Stéffanie insistiu.
— Ela tem razão dessa vez - Rima concordou - Lembre-se de que o Matt controla todos aqueles Batsu Tamas, não vai ser nada fácil derrotá-lo.
— Eu sei disso, mas vou dar um jeito - Miguel respondeu - Quero acertar as contas com ele e derrotar o Matthew eu mesmo. Sozinho.


—---


Vários minutos depois, com o grupo reunido novamente e quando todos haviam se recomposto, na medida do possível, eles corriam o mais depressa que podiam na direção do terraço do prédio. No meio do caminho, escutaram um estrondoso barulho, que lembrava muito uma explosão. As suspeitas deles se confirmaram ao se depararem com um elevador destruído do qual saída uma grande quantidade de fumaça instantes depois de escutarem o barulho, então não tiveram escolha a não ser subirem os vários lances de escada que o prédio possuía.


Depois do que pareceram horas intermináveis, o grupo chegou, completamente exausto, até a última sala do andar mais alto daquela enorme empresa. Não havia quaisquer sinais de explosão por ali, mas eles podiam ouvir o som baixo de duas pessoas conversando. Tadase fez sinal para que os outros permanecessem em silêncio, o que não era uma tarefa fácil para a maioria ali, e se aproximou com cautela da porta entreaberta. Dentro da enorme sala, havia um homem de costas para eles, de modo que não era possível ver o rosto dele. Tudo o que eles podiam ver era que ele usava um jaleco branco e tinha o cabelo um tanto bagunçado. Gesticulava freneticamente enquanto falava com o homem sentado atrás da mesa diante dele. Este sim tinha seu rosto visível, ainda que o ângulo de onde espiavam não ajudasse muito. Ele trajava um terno risca-giz e uma gravata vermelha, tinha os cabelos castanhos bem alinhados penteados para trás, cheios de gel. Suas feições severas e o olhar um tanto egocêntrico e egoísta lembrava vagamente alguém, embora Tadase não se lembrasse exatamente quem era.


— Eu estou dizendo, chefe, ela está pronta! Minha mais perfeita obra-prima finalmente foi concluída e está pronta para uso! - o homem de jaleco exclamava, evidentemente orgulhoso de si mesmo.
— Tem certeza dessa vez, doutor Takagi? - o homem de terno indagou com certa desconfiança - Você disse a mesma coisa da última vez quando criou aquela coisa sobre alterar as tais transformações criadas por aqueles ovos, mas só resultou em uma grande catástrofe... aquilo me deu um enorme prejuízo.
— Aquilo só aconteceu porque a menina Kaori roubou minha invenção antes  queela estivesse pronta! - o homem chamado Takagi exclamou - Eu estou falando sério dessa vez, o senhor mesmo pode conferir se quiser!
— Bem, quero mesmo conferir com meus próprios olhos - o outro homem respondeu - E então? Já arranjou uma cobaia? Vamos precisar de uma para trajar a sua preciosa invenção.
— Pensei em usar a menina Kaori, como um castigo por ter destruído minha última invenção... ou talvez até mesmo o Matthew. Qualquer um dos dois serve.
— Tem razão. No entanto, por mais imprestáveis que pareçam, os dois ainda são úteis para lutar contra aqueles moleques Guardiões - o homem ponderou - Melhor usar aquele garoto que eles capturaram, o tal de Ikuto. Assim, se por
acaso falharmos, o prejuízo não será tão grande.
— Minha invenção não irá falhar! o senhor pode ter certeza disso.


Enquanto isso, do lado de fora, todos escutavam atônitos a conversa dos dois homens.


— Aquele maldito cientista louco... então ele estava mesmo planejando me usar como cobaia - Ikuto resmungou entre os dentes.
— Mas o que é essa tal invention which they talking about? (invenção da qual eles estão falando?) - Anna indagou curiosa.
— Deve ser aquela coisa que encontramos no quarto andar - Nadeshiko respondeu - Era uma espécie de traje negro, constituído da energia negativa de vários Batsu Tamas que foram sacrificados apenas para criar uma coisa horrível
daquelas... você não iria querer ver aquilo, Lewis-chan, acredite.
— É horrível - Ikuto concordou - Eu também vi. Eles sacrificaram inúmeros Batsu Tamas modificados apenas para conseguirem criar aquela coisa, e por um motivo tão banal... francamente, esse homem é louco mesmo.
— Vocês também devem ser loucos, não é? - uma voz masculina muito familiar falou atrás deles, sobressaltado a todos. Eles colocaram-se de pé, em posição defensiva, dando de cara com Matthew. Ele não usava mais sua costumeira capa. Não precisava mais dela agora que todos já conheciam sua dupla-identidade. No lugar dela, vestia uma calça marrom, um casaco quadriculado comprido e uma boina, assemelhando-se estranhamente a uma roupa de detetive - Vocês devem ser muito loucos a ponto de virem até aqui, na sala do chefe e espionarem a conversa dele com o doutor Takagi. Ou talvez sejam apenas burros mesmo.
— Talvez. Mas pelo menos não somos mentirosos duas-caras como você - Miguel respondeu o mais secamente que pode - O que está fazendo aqui?
— Que pergunta boba. Estou fazendo o meu trabalho, Micchan.
— Não me chame assim! - Miguel exclamou, elevando a voz algumas oitavas - Nunca mais... me chame desse jeito.


Os outros entreolharam-se, perguntando uns aos outros mentalmente se deviam se intrometer ou não. Miguel de alguma forma pareceu perceber isso, e respondeu a pergunta não feita:


— Pessoal, podem deixar que eu cuido disso. Tentem descobrir o que o tal cientista louco e o outro homem estão tramando.
— But, Micchan... - Anna chamou, totalmente contra a decisão dele, assim como a maioria ali. Até entendia que ele desejasse isso, mas não queria deixar Miguel lutando sozinho.
— Eu disse isso antes, não foi, Anna? Que queria resolver este assunto eu mesmo - o português lembrou - Façam o que eu estou pedindo, por favor.
— Está bem... então vamos deixar ele com você, Gonçalves-kun - Tadase respondeu, obrigando os outros a concordarem com a decisão dele.
— Acha mesmo que pode me derrotar sozinho, Micchan? - Matt indagou, convocando seu exército de Batsu Tamas, que agora o envolviam como um escudo protetor.
— Eu não acho, eu sei que posso. E já disse para não me chamar assim - Miguel respondeu, sacando seu chicote. Encarou Matt nos olhos por alguns segundos, em silêncio. Ainda era difícil de acreditar que aqueles eram os mesmos olhos da
pessoa que tanto amava. De repente, reparou nas roupas diferentes que ele usava. Completamente diferentes da capa que ele estava acostumado a ver Matt usando - Essas roupas...
Oh, really (Ah, é mesmo)... vocês nunca tinham visto, não é? Esse é o meu Chara Nari. - Matthew respondeu com orgulho - Tive que escondê-lo durante todo esse tempo em nossas batalhas, mas finalmente posso usá-lo contra vocês. Isso sem contar o poder dos Batsu Tamas modificados... agora sim eu realmente serei imbatível - ele deu um sorriso um tanto convencido - Embora você tenha dado uma breve espiada nele quando aconteceu aquela estranha troca de Chara Naris lá no Royal Garden... naquela ocasião eu realmente pensei que vocês iriam descobrir a verdade sobre mim. Uma sorte vocês serem tão ingênuos.
— Então aquele Chara Nari era seu... - Miguel murmurou apenas, recordando-se da ocasião.
That's right (Isso mesmo). É irônico que justo você tenha se transformado com ele, não é?
— Por que eu? - Miguel indagou, porém já não se referia mais à ocasião dos Chara Naris trocados - Por que você resolveu escolher logo a mim? Você poderia ter seduzido qualquer uma das garotas Guardiãs, se era apenas para se
aproximar de nós e recolher informações, mas então... por que você me escolheu?
— Por que será, né...? - Matthew repetiu a pergunta, mais para si mesmo. Aquela era uma boa pergunta. Ele realmente poderia ter usado qualquer uma das outras meninas. Mas porque ele escolheu justo Miguel, que era um garoto? - Well... digamos que haviam vários motivos. Sua amiguinha inglesa, por exemplo, já estava caindo de amores pelo Reizinho. Eu mesmo podia perceber isso antes mesmo antes de me aproximar de vocês. E a sua amiga espanhola... sinceramente, ela tem uma personalidade horrível, e se irrita facilmente com qualquer coisa, eu não tenho paciência para aturar pessoas assim.
— E as Guardiãs japonesas?
— Algumas delas também já pareciam envolvidas demais com outras pessoas. Claro que haviam outras opções, mas... eu simplesmente achei que a melhor escolha seria você.


"Porque, sem querer, eu acabei gostando de verdade de você. Não importa se você é um garoto, eu realmente amo você. Amo tanto que você quase me fez esquecer do meu verdadeiro objetivo várias vezes, quase me fez desistir disso tudo, me fez querer abandonar meu lado 'Matthew' e viver apenas como 'Shunsuke', apenas para poder continuar ao seu lado". Era isso que Matthew queria dizer para Miguel. Mas ele não podia. Não depois de tudo o que já havia acontecido. Seu principal objetivo era capturar o Embrião, ele não podia se esquecer disso. E, agora que Miguel já sabia da verdade, ele jamais o perdoaria, então... era melhor assim.


— "A melhor escolha fui eu"? - Miguel repetiu amargurado, alheio aos sentimentos de Matt - Sim, é claro... é porque eu era o mais inseguro, sendo o que sou, e por isso você achou que eu seria o mais fácil de ser conquistado, não é?
— É isso o que você pensa?
— É essa a verdade! Foi isso que você pensou quando decidiu se aproximar de mim só para me usar para espiar os meus amigos! - Miguel exclamou, sentindo seus olhos arderem com as lágrimas que começavam a surgir - Mas eu aprendi minha lição. Simplesmente não sirvo para isso. Não nasci para viver um romance, tudo bem. Eu já deveria saber disso. Mas não vou permitir que você faça mal aos meus amigos, ouviu bem?!
— Mas o que é todo esse barulho? - o homem que trajava o terno risca-giz saiu da sala enraivecido, seguido pelo homem de jaleco, deparando-se com a luta iminente. Depois dos longos segundos que levou para absorver toda a informação sobre o que estava acontecendo, quando ele já estava prestes a ter um acesso de raiva ainda maior, algo ainda mais inacreditável aconteceu, deixando não apenas ele, mas todos ali boquiabertos.


Outro barlho de explosão. Em seguida, uma garota de cabelos encaracolados que trajava uma estranha roupa negra arroxeada, que parecia se mover, surgiu no local, flutuando. Ela ria descontrolada, sua expressão, que já era naturalmente egocêntrica, dezenas de vezes mais egoísta do que o normal. E também um tanto cruel.


E Tadase enfim se lembrou a quem as feições do homem de terno lembrava. Ele era o dono daquela empresa, e pai da garota descontrolada que vestia o traje feito com os Batsu Tamas modificados.
Yamabuki Saaya.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas, Teffy-chan falando!
Pois é, várias confusões acontecendo ao mesmo tempo... mas vejamos pelo lado bom, ao menos o Ikuto voltou ao normal, vamos comemorar!
Agora vamos ver no que vai dar essa treta com a Saaya no próximo capítulo, com a Shiroyuki o/
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