Revenge II escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 46
Capítulo XLVI




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/405728/chapter/46


– Não pode ser... Kaori?! - Nagihiko e Stéffanie, que tinham acabado de retornar à pousada debaixo de uma verdadeira tempestade de neve, exclamaram em uníssono, ambos pasmos com a presença inesperada da inimiga ali, ainda mais naquela condição deplorável
Pero qué rayos esta chica está haciendo aquí (Mas o que raios essa garota está fazendo aqui)?! - a espanhola exclamou, sentindo o rancor que nutria por aquela garota retornar inesperadamente, por um instante fazendo ela se esquecer do que havia acontecido entre ela e Nagihiko momentos atrás
– Nós a encontramos perto da floresta que rodeia a pousada, há poucos metros daqui... a garota estava um verdadeiro trapo quando a encontramos, tinha que ver - Rima respondeu, enquanto tentava alcançar inutilmente um cobertor em uma prateleira alta demais do armário para ela conseguir pegar
– Ela estava literalmente gelata a morte quando trovammo, gravemente avvolto e quello che sembrava un campo di rifugio montato a metà su di lei, così abbiamo finito per portare la ragazza (morrendo de frio quando a encontramos, muito mal agasalhada e com o que parecia ser uma cabana de acampamento montada pela metade em cima dela, então acabamos trazendo a garota) para a pousada antes que ela acabasse morrendo sufocada pela neve ou coisa parecida - Giovanni acrescentou, pegando o cobertor que Rima tanto teimava em tentar alcançar, muito embora ele também tivesse precisado se colocar na ponta dos pés para alcançá-lo
– Puxa, ela parece mesmo um picolé humano desse jeito... está praticamente azul de frio! - Nagihiko exclamou, se aproximando alguns passos, vagamente curioso, para espiar melhor a garota debaixo da enorme montanha de cobertores
– Mesmo todos esses cobertores não parecem ser o suficiente para aquecê-la... será que não devíamos chamar um médico, ou levá-la para um hospital, ou algo parecido? - Amu indagou enquanto Rima cobria a garota com o cobertor que Giovanni lhe entregara
– Eu duvido muito que haja algum hospital perto daqui, ainda mais com esse tempo horrível que está fazendo - Kairi respondeu
– Mas, desse jeito, ela pode acabar pegando hipotermia ou coisa assim,.... mesmo todos esses cobertores não parecem ser o suficiente para aquecê-la - Tadase observou - Será que não deveríamos colocá-la perto de alguma lareira acesa ou coisa assim?
– Olha só, que ótima ideia, Rey... de esa manera puede llegar a morir el fuego, y se librará de esta chica una vez por todas (desse jeito ela pode acabar morrendo queimada, e nos livraremos dessa garota de uma vez por todas)! E ainda podemos fazer parecer que foi um acidente... - Stéffanie murmurou, parecendo mais decidida em aproveitar aquela situação para derrotar Kaori de uma vez do que em ajudar a inimiga
– Bem, parece que a ideia da lareira está fora de cogitação, pelo menos por enquanto, Hotori-kun - Nagihiko acrescentou, com uma gota na cabeça - Demo nee... o que raios essa garota devia estar fazendo aqui afinal?!
– Boa coisa é que não devia ser... - Miguel murmurou, pensando na mesma coisa que devia estar se passando pela cabeça da maioria dos ali presentes: De que Kaori provavelmente viera espiá-los, e possivelmente, armar algum tipo de armadilha contra eles, mas seu plano acabou saindo pela culatra. Shunsuke pensava na mesma coisa nesse instante, embora tivesse optado por ficar quieto e não dizer absolutamente nada, pelo menos até que seus nervos se acalmassem. Não contava com a presença de Kaori naquela pousada, seja em seu estado irritante e convencido de sempre, ou nesse estado deplorável em que se encontrava, de qualquer forma aquilo muito provavelmente colocaria seu disfarce em risco, então ele precisava pensar muito cautelosamente sobre como agir antes de fazer qualquer coisa precipitada
– Mas foi realmente uma surpresa a Kaori-chi aparecer assim de repente, e justo nessa época do ano... - Yaya comentou, observando a garota desmaiada como se estivesse em um zoológico admirando algum animal incomum em sua jaula - Esse é o último dia do ano afinal, amanhã já é ano novo!
– Ah, sim... Yaya tem razão - Kukai concordou, parecendo ter se esquecido disso por um momento - O que vamos fazer agora? Tínhamos planejado visitar o templo amanhã, mas... com a Kaori aqui, nem sei se isso será possível...
– Aquela tempestade de neve lá fora também não parece estar contribuindo para irmos visitar o templo amanhã, então talvez devêssemos apenas nos concentrar em cuidar dela - Kairi respondeu, ajeitando os óculos - Se ela melhorar até amanhã, talvez possamos ir visitar o templo, mesmo que seja só de tarde
– Mas,será que é mesmo uma boa ideia fazer isso? She may appear to be weak and helpless now, but... is still our enemy after all (Ela pode parecer estar indefesa e fraca agora, mas... ainda é nossa inimiga afinal)... - Anna lembrou, temendo seriamente o que Kaori poderia tramar caso melhorasse durante a ausência deles e tentasse preparar algum tipo de armadilha
– Realmente, a Lewis-san pode ter razão... isso seria no mínimo arriscado demais - Tadase concordou preocupado
– Ahh, já sei! - Yaya exclamou, erguendo a mão no ar como se fosse responder uma pergunta feita em sala de aula (o que provavelmente ela nunca tinha feito) - Se ela melhorar, podemos levar a Kaori-chi no templo amanhã com a gente!
– Ahn... e-eu não sei se essa é uma boa ide... - Miguel começou a dizer, mas logo foi interrompido
Ah, you're right! (Ah, você tem razão!) Desse jeito podemos continuar cuidando dela, and also we will make sure she will not sneaking anything against us, since we will all be together to watch it! (e também teremos certeza de que ela não vai aprontar nada contra a gente, já que estaremos todos juntos para vigia-la!) - Anna concordou, parecendo ter adorado a sugestão da ruiva - Você também não acha uma boa ideia, Stéffanie? - ela virou-se para a espanhola
Yo no sé (Eu não sei)... não me importa, ni siquiera sé si esta tormenta de nieve dejará mañana para ir al templo (não sei nem se essa tempestade de neve vai parar até amanhã para irmos até o templo)... façam o que quiserem, não me importo... - a Rainha estrangeira respondeu, deixando seu jeito irritado e mal-humorado de lado por um instante, e dando meia volta, em direção à porta
– Nee, aonde está indo, Onee-chan? - Yaya chamou
– Não é óbvio? Acabo de sobreviver à uma tempestade de neve, como essa chica estúpida desmaiada aí, preciso de um banho quente com urgência! - ela exclamou em resposta, sua costumeira irritação voltando por um momento, e deixou o quarto em seguida, batendo a porta atrás de si. Kaori remexeu-se com o barulho, mas apenas mudou de posição embaixo da montanha de cobertores, sem acordar.


Ao retornar para seu quarto compartilhado com o italiano, Stéffanie pegou a primeira muda de roupas limpas que encontrou em sua mala e dirigiu-se ao banheiro mais próximo, sem se importar realmente com o quão gelado seu corpo estava. Não quis se arriscar a tomar banho nas fontes termais depois do ataque que ela e as demais garotas tinham sofrido no dia anterior, ainda mais estando sozinha, sem falar que a fonte devia estar era congelada com toda aquela neve, então resolveu optar pelo chuveiro mesmo. Queria apenas que aquele dia exaustivo e absurdo acabasse de uma vez. Queria poder acordar de repente e perceber que toda aquela avalanche de informações e acontecimentos inesperados não tinham passado de algum sonho maluco que sua mente pudesse ter produzido sem sua permissão, ou talvez, algum pesadelo. Mas sabia muito bem que isso não ia acontecer, ela lembrava-se claramente do sonho que havia tido naquela manhã, que não foi muito melhor do que a realidade que a torturava como se ela fosse uma prisioneira de seus próprios pensamentos e desejos, que pareciam se tornar cada vez mais insanos.


É claro que ela já tinha lido incontáveis histórias sobre esse tema, já tinha inclusive escrito contos desse gênero, então sabia perfeitamente o que acontecia depois, e como lidar com essa situação... mas, apenas teoricamente, é claro. Na prática, aquilo parecia ser milhares de vezes pior, mais difícil, e infinitamente mais embaraçoso e irritante do que ela jamais poderia imaginar, uma verdadeira missão impossível. Sempre pensou que havia nascido apenas para ler, assistir e escrever histórias com esse tema, mas não para viver uma. Jamais pensou que algo assim poderia acontecer com ela... então, mesmo conhecendo a teoria, não tinha a menor ideia de como coloca-la em prática.


Inconscientemente, tocou os lábios com a ponta dos dedos, lembrando-se de quando Nagihiko a beijou sem pedir permissão. Indignou-se consigo mesma ao lembrar do quão cálida e agradável tinha sido aquela sensação... e, ao mesmo tempo, tão irritante e atrevida. Ela não sabia se queria bater nele por ousar fazer uma cosia dessas, ou se queria abraçá-lo e correspodner às ações atrevidas deles... e, ao se dar conta disso, sentiu uma enorme vontade de espancar alguém, seja lá quem fosse, apenas para descarregar toda a frustração que sentia. Por um momento, se sentiu muito tentada em descarregar toda aquela mistura de sentimentos confusos em Kaori, ela podia fraca e indefesa, mas ainda era uma inimiga afinal. Mas, sabia perfeitamente bem que, mesmo que fizesse isso, não ajudaria em nada a resolver a situação em que se encontrava.


Enquanto a espanhola ainda sofria com seu conflito interno, os demais enfim resolveram deixar Kaori descansar sozinha quando ela finalmente parou de tremer e pareceu estar dormindo mais sossegada, cada um indo fazer uma coisa diferente. As garotas estavam agora reunidas na sala, especulando sobre como raios Kaori tinha ido parar ali tão perto da pousada onde se encontravam e sobre o que deveriam fazer com ela: se deviam cuida da garota até que ela melhorasse e, talvez levá-la com eles até o templo no dia seguinte para poderem ficar de olho nela, como Yaya sugeriu, ou aproveitar que ela estava nesse estado indefeso para tentar ao menos arrancar alguma informação dela e dar um jeito em Kaori de uma vez por todas, como Stéffanie sugeriu. Nenhuma das duas opções pareciam muito viáveis na verdade, mas Anna e Yaya pareciam ter gostado mais da primeira opção.


Já os garotos estavam agora no salão de jogos, se revezando para jogar pingue-pongue, enquanto outros conversavam, esperando por sua vez de jogar, e também por tomar conta de Kaori, já que não parecia nada seguro deixar a garota sozinha por muito tempo. Agora vez tinha sido a vez de Shunsuke ir ver como ela estava, e Miguel estava muito tentado a ir junto com ele, achando no mínimo uma péssima ideia deixar o namorado sozinho com aquela garota, ainda mais se ela acordasse agora, mas como Kukai o arrastou para disputar uma partida de pingue-pongue com ele, isso não foi possível.


No quarto em que Amu e Rima estava dividindo, o garoto ajeitou melhor os vários cobertores que envolviam Kaori, enquanto media sua temperatura, ainda preocupado sobre como deveria agir em uma situação delicada como essa, ainda mais quando ela acordasse. O que, surpreendentemente, aconteceu agora.


– Hmm... Mattchan...? - Kaori murmurou fracamente ao conseguir distinguir aquele vulto disforme diante de seus olhos como seu "parceiro no crime"
– Não. Eu sou o Shunsuke agora - ele corrigiu, deixando seu sotaque americano de lado, mesmo quando estava sozinho com Kaori - Faça o favor de não me chamar assim, pelo menos enquanto estivermos aqui
– Aqui...? - ela repetiu confusa, ainda fraca demais para discutir com ele - O que... onde... é aqui...?
– Estamos numa pousada onde os Guardiões vieram passar o ano novo. Yaya estava explorando sabe-se lá o que na floresta dos arredores, até que encontrou você, fez o maior escândalo e, quando os outros te encontraram, trouxeram você pra cá - o rapaz explicou - Foi um choque e tanto te encontrar aqui... principalmente pra mim
– Ah, sim... você devia estar curtindo a sua pequena "viagem de lua-de-mel" com seu namoradinho português, e... espera aí... o que você disse? - Kaori interrompeu-se, absorvendo lentamente as palavras dele - Você disse que... aqueles pirralhos Guardiões... me salvaram? - ela repetiu, e o garoto confirmou com um aceno de cabeça - Ahhh céus, que vexame... não acredito que fui salva pelos meus piores inimigos, me sinto tão patética...! Acho que poderia morrer de vergonha agora mesmo... - ela lamentou-se
– Ao invés de morrer de vergonha, é mais provável que você morra de frio, isso sim - "Shunsuke" respondeu, conferindo a temperatura dela no termômetro - Você já está com 35ºC, se sua temperatura continuar abaixando assim, é bem capaz de você acabar pegando hipotermia como o Tadase falou. Então, vê se deixa esse seu orgulho de lado pelo menos por hoje e descanse, antes que acabe morrendo congelada. Tente dormir mais um pouco, você precisa ficar em repouso até melhorar. Depois traremos alguma coisa pra você comer, tente ficar quietinha até lá, ouviu? E, se você se sente mesmo tão incomodada com a humilhação de ser salva por seus inimigos, ao menos tente compensar isso não arranjando problemas desnecessários para mim. Afinal, "Shunsuke" não te conhece, certo?
– Hai... - ela murmurou, fechando os olhos cansada. Geralmente discutiria quanto à isso, e se aproveitaria da situação para colocá-lo em alguma situação delicada, mas estava tão exausta e enfraquecida agora que resolveu deixar para provocá-lo depois que melhorasse mais um pouco, voltando rapidamente a adormecer, enquanto o garoto deixava o quarto.


– E então? Como ela está? - Miguel indagou assim que o mais alto retornou ao salão de jogos
– Está com 35ºC, mas ainda está dormindo... talvez devêssemos levar uma sopa para ela comer depois que a garota acordar ou coisa assim, algo que possa aquecê-la - Shunsuke respondeu, omitindo a breve conversa que havia tido com Kaori - Demo nee... quem raios é aquela garota afinal, hein Miguel? - ele fingiu curiosidade, já que, tecnicamente, nunca deveria ter encontrado Kaori na vida afinal
– Ahn... - o português titubeou, sem saber o que responder, e olhou para os demais, como em um pedido mudo de ajuda
– Não estou gostando dessa sua cara de nervoso e de toda essa hesitação... quem é ela afinal? - Shunsuke insistiu, fingindo estar desconfiado - Não me diga que é algum outro amor não-correspondido seu, como aquele garoto Guilherme??
– Ahh não, não mesmo, sem chance disso acontecer!! - Miguel exclamou com mais convicção dessa vez, com incontáveis motivos para Kaori não ser algo assim - Aquela garota é... e-ela se chama Kaori, como você deve ter ouvido dos outros, e na verdade é... ahn...
– E-Ela é amiga da Yamabuki-san! - Tadase exclamou, interrompendo o gaguejar do português - Se lembra? Nós há vimos durante o Festival Escolar, quando montamos aquele café apenas dos Guardiões, para juntarmos dinheiro suficiente para poder doar para o orfanato... você estava lá, se lembra? Era aquela garota que estava junto da Yamabuki-san, que discutiu com a Blanca-san e acabou levando uma surra dela...
– Ah, sim... agora me lembro - Shunsuke respondeu, recordando que de fato isso havia acontecido. Fingiu estar mais calmo com aquela explicação, finalmente deixando Miguel livre de seu interrogatório - Mas então, o que aquela amiga da Yamabuki Saaya-san está fazendo em um lugar desses afinal?
– Vai saber... f-forse lei ha trascorso le vacanze qui troppo e si è perso o qualcosa del genere (t-talvez ela tenha vindo passar as férias aqui também e se perdeu ou coisa parecida) - Giovanni arriscou a primeira desculpa esfarrapada que lhe veio à cabeça
– S-Sim, como ela é amiga da Yamabuki-san, deve ser rica também, então... t-talvez tenha se perdido no meio do caminho, com toda essa nevasca lá fora, e não conseguiu chegar à pousada... deve ter sido algo assim... - Kairi acrescentou, tentando tornar a mentira esfarrapada do italiano mais convincente
– Ah, sim... é, deve ter sido isso mesmo - Shunsuke respondeu, dando de ombros e resolvendo fazer de conta que acreditava naquela explicação mal-feita dada por eles, ao que os demais suspiraram aliviados, felizes que ele tivesse engolido toda aquela baboseira - Bem, mas a garota está dormindo agora, então não há muita coisa que possamos fazer por ela por enquanto. Mas agora, é a vez de outra pessoa ir cuidar dela, eu quero jogar! De quem é a vez?
– Ah, acho que o Fujisaki-kun ainda não jogou... - Tadase lembrou
– Gomen, mas eu não estou com muita vontade de jogar agora... será que pode ir outra pessoa na frente? - Nagihiko respondeu, mal prestando atenção no que eles conversavam. Já havia tomado banho também, precisando urgentemente aquecer seu corpo depois daquela tempestade de neve que tinha enfrentado, e agora voltara a usar uma yukata como os demais
– Ehh?! Que estranho, você adora qualquer tipo de jogo que seja! - Kukai exclamou surpreso, sem ter a menor ideia do que afligia o amigo
– Bem, se ele não está com vontade, não vai ter graça jogar contra ele - Shunsuke respondeu, dando de ombros - Ah, já sei! Venha jogar comigo, Miguel!
– Ehh?! M-Mas eu acabei de jogar contra o Kukai...
– Certo, você já jogou contra ele, e agora é a vez de jogar comigo! - Shunsuke insistiu
– M-Mas eu não sou muito bom em jogos... - o português murmurou, remexendo-se desconfortável
– Pois se você não jogar comigo, eu vou "me vingar" de você por isso durante a noite, hein... - Shunsuke ameaçou, com um sorriso terrivelmente semelhante ao de Ikuto, fazendo o Rei estrangeiro gaguejar algo incompreensível em português, corando até a raiz dos cabelos. Miguel suspirou derrotado, decidindo por apenas aceitar seu destino e ser derrotado em mais uma partida de pingue-pongue.


Enquanto Kukai gritava, dizendo que Miguel precisava se esforçar mais se quisesse ao menos acertar a bola com a raquete, enquanto dava gargalhadas, Kairi analisava estrategicamente sobre as vagas possibilidades do português vencer e dizia que, teoricamente, isso muito provavelmente era impossível de acontecer, Giovanni pensava em algum jeito de conseguir escapar dali antes que fosse "condenado" a ter que jogar também, e Tadase tentava não pensar no que exatamente poderia ser a "vingança" da qual Shunsuke falara e tentava se concentrar em apenas assistir ao jogo, nenhum deles reparou quando Nagihiko saiu discreta e silenciosamente da sala de jogos, caminhando sem pressa pelos corredores desertos, sem rumo definido, até que abriu uma das portas, dando uma espiada no jardim. A enorme nevasca que caiu como uma tempestade havia finalmente cessado, e agora todo o jardim estava coberto de um branco puro, mal dando para distinguir as plantas, pedras, ou o chão à sua frente, tudo parecendo ser apenas uma imensidão branca. Suspirou, olhando para os lados sem procurar nada em especial, como se esperasse que alguma solução pudesse aparecer magicamente diante dele, mas o que encontrou foi outra coisa. Stéffanie estava sentada na varanda, à alguns metros de distância, balançando as pernas nervosamente e encarando o céu, como se esperasse que alguma solução para seu conflito interno pudesse cair dele. Aproximou-se devagar e em silêncio, até que, quando estava próximo o bastante para ser ouvido, chamou:


– Blanca-san? O que está fazendo aqui fora nesse frio? Vai acabar pegando um resfriado assim - ele pronunciou-se, muito embora não estivesse em posição de dizer isso, já que estava fazendo a mesma coisa. Esticou a mão para levá-la para dentro mas, assim que a garota ouviu sua voz, levantou-se rapidamente, colocando-se em posição defensiva
Qué rayos está haciendo aquí?! (O que raios está fazendo aqui?!) Já não me perturbou o suficiente por hoje? Quiero estar sola, déjame en paz! (Quero ficar sozinha, me deixe em paz!) - a espanhola exclamou, e sua expressão demonstrava uma estranha mistura irritação e pânico
– Te deixarei sozinha, se você assim desejar, mas só depois que você der minha resposta - Nagihiko respondeu, aparentando mais tranquilidade do que realmente sentia
– Q-Q-Que resposta?? - ela indagou, ainda em posição defensiva
– Você sabe muito bem do que eu estou falando - ele respondeu, aproximando-se alguns passos - Sobre o que eu te disse esta tarde, quando ficamos presos naquela cabana abandonada no meio do nada - ele respondeu como se fosse muito fácil e natural tocar nesse assunto. Stéffanie ofegou, e balbuciou algo incompreensível em espanhol que, embora ele não tenha entendido, parecia ser apenas mais um de sua enorme lista de xingamentos - Por favor, diga algo na minha língua. Seja a sua resposta boa ou ruim, eu preciso saber qual é
– Y-Y-Yo no... err... isto é... u-usted no debia.... t-t-ter hablado aquelas cosas... e-eu te disse pra não dizer aquilo, droga! Por que você tinha que insistir, olha só o problema que você arranjou agora!! - ela já ia sair correndo de novo, mas Nagi foi mais rápido e a segurou pelo pulso, impedindo-a de fugir
– Eu disse aquilo porque é como eu realmente me sinto. O que foi, agora não posso nem mesmo expressar meus sentimentos? - ele perguntou retoricamente - Além do mais, eu quero muito saber os seus... - ele levou a outra mão até o rosto dela, tocando-a de leve, mas a garota conseguiu se desvencilhar dele, muito embora seu pulso continuasse preso à outra mão do Valete
– N-Não é que você não possa expressar seus sentimentos, mas... n-no puedo vivir esas cosas, yo no nací para esto! Yo sólo escribo historias, ya sea en este tema o sobre cualquier otra cosa, pero yo no vivo de ellos! (eu não posso viver coisas assim, eu não nasci pra isso! Eu apenas escrevo histórias, sejam sobre esse tema ou sobre qualquer outra coisa, mas eu não vivo elas!) - a espanhola exclamou em resposta, mesmo a pergunta dele tendo sido apenas retórica, ainda tentando inutilmente desvencilhar-se da mão dele para fugir dali
– Sei perfeitamente o quanto você adora escrever, mas não significa que você não possa viver algo assim também. Na verdade, acho que vivenciar uma história assim poderia até te dar inspiração e te ajudar a escrever histórias ainda melhores, sabia? - Nagihiko falou, tentando levar a conversa para um rumo que ela ao menos pudesse se interessar mais - Além do mais, você também é uma pessoa, não é? E como qualquer outra pessoa, tem todo o direito de passar por esse tipo de experiência
– N-Não é verdade, nem todo mundo precisa passar por isso... - a garota teimou, ainda tentando pensar numa forma de escapar, muito embora sua mente estivesse tão enevoada que ela não conseguia formar nenhum pensamento coerente - M-Mi hermana, por ejemplo, no tuvo que pasar por ella, ni será jamás pasa (minha irmã, por exemplo, não teve que passar por isso, nem nunca vai passar)... maldición, eu devia ter feito como a Rosario e me trancado em um convento antes que algo assim pudesse acontecer!
– Ora, por favor, Blanca-san, qualquer um pode ver que você definitivamente não nasceu pra ser freira - Nagi revirou os olhos, sem nem mesmo conseguir imaginar uma coisa dessas - Vamos, pare de enrolar, e me responda logo, ficar prolongando esse assunto não vai ajudar em nada, sabe? Eu já te disse... que eu gosto de você. Não como uma amiga, mas... eu te amo. Quero que você seja minha namorada, mas você precisa dizer sua resposta. Você só precisa dizer um "sim" ou um "não"... seja lá qual for sua decisão, apenas me responda de uma vez
– N-N-Não fale isso como se fosse algo t-tão simples... i-isso é mais difícil do que parece, sabia?! - ela quase engasgou-se ao ouvir o garoto repetindo aquelas palavras, sua crise de pânico aumentando gradualmente e começando a vencer sua irritação. Conseguiu enfim desvencilhar-se de Nagihiko, e já ia sair correndo, mas ele apoiou as mãos em seus ombros, segurando-a com força e detendo-a novamente
– Sei perfeitamente disso. Por acaso acha que isso está sendo fácil pra mim? É claro que também é difícil! - ele exclamou, encarando-a nos olhos - Por que você não consegue me responder? Porque é assustador? Porque é embaraçoso? Porque eu sou apenas um garoto irritante que vive te incomodando? Ou porque... você me odeia?
Y-Yo nunca hablei que te odiava (Eu nunca disse que te odiava)! - Stéffanie exclamou com mais convicção do que pretendia - E-Eu com certeza não te odeio, pero... n-no es como yo tenía sentimientos por ti, o ... c-como que le g-gustas, ni nada... (não é como se eu tivesse qualquer tipo de sentimento por você, ou... como se gostasse de você, nem nada assim)... - ela murmurou baixinho, desviando os olhos dele
– Isso está me parecendo um "sim" mal-disfarçado, sabia? - Nagi perguntou retoricamente, deixando escapar uma risadinha - Então, por acaso isso quer dizer... que você aceita?
– Y-Y-Yo nunca dice esto....! P-Pare de ficar tirando conclusões precipitadas, seu... estúpido, idiota, pervertido, perseguidor de estrangeiras atrevido! - a espanhola gritou, começando a desferir socos no peito dele, que acabaram não sendo tão fortes como ela pretendia e como Nagihiko já estava acostumado. Na verdade, parecia mais uma criança birrenta teimando em não obedecer alguma ordem
– Então, quer fazer o favor de me responder direito? - Nagihiko insistiu, soltando um dos ombros dela e levando a mão até seu queixo, forçando a garota a encará-lo nos olhos. Surpreendeu-se em ver o quanto ela estava corada
Y-Y-Yo no... rayos, no hace una chica a que dijera algo tan vergonzoso, pervertido gilipollas sádico! (droga, não obrigue uma garota a dizer algo tão embaraçoso, seu babaca pervertido sádico!) - a espanhola gritou, fechando os olhos com força, como se o fato de não encará-lo pudesse tornar aquilo menos constrangedor
– Sádico, eu?! - Nagi repetiu, surpreso com essa "nova ofensa" na enorme lista de xingamentos da espanhola - Bem, se quer olhar as coisas por esse ângulo, então acho que eu estaria mais pra masoquista mesmo... você que é uma sádica, já vive me batendo por qualquer coisa que eu diga
– Q-Qué queres decir con esto, seu imbecil?! Está querendo dizer que quer me bater, é seu lunático covarde espancador de mulheres?! - ela berrou de volta, indignada - Seu imbecil atrevido, perseguidor de mulheres... você é metade uma ainda por cima, e fica dizendo essas coisas, seu travesti maldito!! Si te atreves a tratar de hacer algo así, te juro que voy a patear tan fuerte en su "punto débil" que entonces sí que tendrá que hacer pis como una chica, me oyes (Se você ousar tentar fazer uma coisa dessas, eu juro que vou te chutar tão forte no seu "ponto fraco" que aí sim você vai ter que urinar como uma garota, ouviu bem)?!
– Não duvido nada que você seria capaz de fazer algo assim... - Nagihiko murmurou com uma gota na cabeça, fazendo uma nota mental para nunca mais tocar em qualquer assunto que tivesse sadomasoquismo como tema perto dela - E, de qualquer forma, você sabe muito bem que eu jamais faria algo assim... e, por favor, não coloque a Nadeshiko no meio dessa história, isso não vai ajudar em nada - o garoto suspirou, cansado - Apenas me responda de uma vez e acabe logo com isso. Por que você não consegue me responder afinal? Por acaso você... me odeia tanto assim, Blanca-san...?
– Eu... já disse que não te odeio, mas... t-também não é como se eu gostasse de você, quero dizer... - ela abaixou o rosto, encarando os próprios pés, ao mesmo tempo em que a franja escondia seus olhos - Y-Yo, bueno ... y-ya sabes lo mucho que me molesta, y no se cansa de hacerme bromas, pero ... n-no es como que no me gusta pasar todo el tiempo discutiendo contigo ... yo sólo me acostumbré com esto en realidad ... y que me perdería esta manera, quizás... quiero decir ... y además ... no me molesto mucho con todo el tiempo que se acerca a mí y después a mi alrededor. cierto... pareces un acosador hacerlo a veces, pero... n-no es tan malo... y también ... l-lo que hiciste esta tarde ... c-cuando nos quedamos atrapados en esa choza sucia... n-no estoy diciendo que me g-gustaba ni nada, pero... n-no quiere decir que era malo, así que... (Eu, bem... você sabe o quanto você me irrita, e não cansa de ficar me provocando, mas... não é como se eu não gostasse de passar o tempo todo discutindo com você... eu acabei me acostumando com isso na verdade, e... acho que sentiria falta de fazer isso, talvez... quero dizer... e também... eu não me incomodo tanto assim com você ficar o tempo todo perto de mim e me seguindo por aí... é verdade que você parece um stalker fazendo isso às vezes, mas... não é tão ruim... e também... aquilo que você fez hoje de tarde quando... estávamos presos naquela cabana imunda... eu não estou dizendo que gostei nem nada assim, mas... também não significa que foi ruim, então...) - Stéffanie gaguejava tudo muito baixo e depressa, sem saber como concluir aquele murmurar interminável, mas Nagihiko parecia ter milagrosamente entendido aonde ela queria chegar, mesmo que a própria garota se recusasse a admitir aquilo mais claramente
– Então, isso significa... que você aceita? - Nagi indagou novamente, interrompendo o titubear dela que parecia que não iria terminar nunca
– E-Eu não... err... q-quero dizer... d-droga, não me importa, apenas faça o que quiser! - Stéffanie exclamou em tom irritado, virando o rosto para o lado emburrada, parecendo ter voltado ao que era o seu "normal"
– Certo, certo. Então.... já que você disse para eu "fazer o que quiser", nesse caso... - Nagi murmurou sem completar a frase, e quando Stéffanie virou-se para encará-lo de novo, para ver o que ele queria dizer com isso, arrependeu-se imediatamente ao sentir Nagihiko encostando seus lábios nos dela mais uma vez no mesmo dia, pegando-a de surpresa.


A Rainha estrangeira soltou um ruído estranho, como um tipo reclamação reprimida, e voltou a bater nele, tentando inutilmente se desvencilhar, mas logo desistiu ao sentir o garoto deslizando as mãos até sua cintura, enlaçando-a e puxando a garota para mais perto de si. A espanhola cerrou os olhos com força, seu rosto queimando tanto que poderia muito bem estar com uma febre de 40ºC, e desistiu de bater nele, segurando a gola de sua yukata com força, parecendo indecisa se queria afastá-lo de si ou abraçá-lo de volta. Quando sentiu que Nagihiko começava a aprofundar o beijo, porém, uma luz pareceu acender na cabeça dela, e a estrangeira conseguiu tirar força o suficiente sabe-se lá de onde para empurrar o Valete para longe de si.


– D-Droga, não faça essas c-coisas assim do nada, estúpido! - ela gritou, tampando a boca com as mãos, como se temesse que ele pudesse tentar beijá-la novamente
– Mas, você disse pra eu "fazer o que quisesse", então... era isso o que eu queria fazer - Nagihiko respondeu em um falso tom inocente
– É só nisso que você pensa, seu pervertido idiota?! - a espanhola gritou de volta, o rosto ainda vermelho de raiva e vergonha misturadas - Escucha ... n-no es que me molesta ... hacer esto un momento o otro, pero... (Escute aqui... não é como se eu me incomodasse em... fazer isso uma vez ou outra, mas...) não faça essas coisas assim do nada! Sem falar que alguém pode ver! Y cuando digo "alguien" me refiero a Yaya, esa niña sería el mayor escándalo incluso sospechar acerca de ello! Y lo mismo pasa con Anna (E quando digo "alguém", quero dizer a Yaya, aquela menina faria o maior escândalo se sequer desconfiasse sobre isso! E o mesmo vale para a Anna), ela parece que foi "contaminada" por aquela pirralha escandalosa!
– Humm... então, isso significa que você prefere manter isso em segredo? - Nagihiko indagou, fingindo não ouvir o sermão que acabara de levar - Bem, eu adoraria poder contar isso para os outros agora mesmo, mas... talvez não faça mal manter segredo por enquanto. Na verdade, isso parece tornar tudo ainda mais emocionante...
– N-Não diga essas coisas constrangedoras tão facilmente, seu estúpido...! - ela deu outro fraco soco nele, sua mão escorregando até segurar a gola da yukata do Valete outra vez, e voltando a encarar os próprios pés. Nagihiko apenas sorriu outra vez, araciciando rapidamente o topo da cabeça da garota. Não conseguia nem descrever a imensa felicidade que sentia agora, e realmente adoraria poder compartilhar isso com todos, mas... realmente, fazer isso agora poderia ser demais para Stéffanie suportar, e não queria arriscar que ela voltasse atrás, então acabou por concordar em manter segredo por enquanto, ainda sem conseguir deixar de apreciar aquela maravilhosa sensação de que o ano novo que estava por vir poderia ser melhor do que ele jamais poderia imaginar
– Tudo bem, eu já parei, não precisa ficar brava - ele respondeu, ainda sorrindo - Anda, agora que tal extravasar toda essa sua raiva acumulada acertando algumas bolas, hein? Todos estão jogando pingue-pongue na sala de jogos agora, por que não vamos jogar com eles?
– Está certo... mas, se você sequer ousar mencionar isso, usted será un hombre muerto, compreendeu (você será um homem morto, entendeu)?! - ela avisou
– Sim, sim, é claro... - ele apenas concordou, ainda rindo. Voltou então para a sala de jogos, seguido pela espanhola, que não sabia se ficava feliz ou irritada com o que havia acabado de acontecer. Ela sentia seu coração surpreendentemente mais leve, como se tivesse acabado de resolver um enorme problema, muito embora ainda não soubesse ao certo como lidar com a inesperada situação em que acabara de se meter.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, meus queridos leitores e leitoras de plantão! Teffy-chan falando! o/
Podem comemorar! Demorou, eu sei, demorou MUITO, mas finalmente um de nossos casais mais enrolões da história fez um progresso definitivo... e se tornaram, de fato, um casal! E quem diria que esses dois iriam se entender primeiro do que a Anna e o Tadase, hein... alguém aí ficou surpreso? Digam o que acharam nos reviews onegai, estou louca de vontade para saber as opiniões de vocês! *-*
O próximo é com a Shiroyuki o/
Kissus^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Revenge II" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.