Revenge II escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 23
Capítulo XXIII




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Miguel parou em frente à porta do apartamento 702, em um bairro residencial de padrão razoavelmente alto, e respirou fundo. Já havia ido até ali com todos os outros guardiões, mas era a primeira vez que tinha o ímpeto de ir visitar alguém por si mesmo. Apesar de ainda se sentir inseguro, sabia que havia ido até ali por um motivo, então era melhor fazer isso logo.

Ele apertou a campainha, e então, esperou. Ouviu barulhos do outro lado, e um grito de “eu já disse para baixar o fogo, garoto!”, e então, Hoshina Utau despontou pela porta, usando as roupas folgadas e confortáveis que ela costumava usar quando estava em casa, e com um semblante surpreso por ver quem estava à sua porta.

— Micchan! Que surpresa, o que você está fazendo aqui? – ela viu o garoto, em seu uniforme escolar ainda, mesmo já sendo quase noite. Ele sorriu sem graça, e ela sabia que havia algo errado com ele. Miguel não era o tipo de pessoa que fazia visitas do nada…

— Você e o Ikuto não apareciam mais no Royal Garden, então eu pensei em vir e… ver como vocês estavam… - ele mordeu os lábios, fitando a moldura da porta. Grace teria dado um beliscão nele nesse momento, se estivesse ali. Ela odiava quando ele não ia direto ao ponto, e isso era uma coisa que ele costumava fazer com frequência.

— Entre… - Utau deu espaço na porta, sorrindo para ele.

— Com licença… - ele adentrou, tirando os sapatos como havia aprendido a fazer desde que chegara ao Japão. Largou a mochila em um canto, e acompanhou Utau até a sala.

Surpreendentemente, visualizou Ikuto do outro lado, na cozinha, usando um avental e mexendo nas panelas. Aquela cena era tão absurda que o português resolveu abster-se de comentários.

— Não, Ikuto! Vai estragar tudo! Eu já disse que não é pra colocar peixe aí! E o fogo tem que estar baixo! – Utau correu até a cozinha, tirando um pacote de filés de peixe congelados nas patinhas de Yoru para colocá-los de volta na geladeira.

— Mas eu quero comer peixe, nya~ - ele reclamou, manhoso.

— E se eu colocar o fogo mais alto, vai fazer mais rápido, não é? – Ikuto argumentou, como se fosse algo muito óbvio.

— Não! Isso só vai queimar a comida! Faça como eu disse, ou então vá cozinhar na sua casa! – Utau foi tentando ajeitar o que quer que Ikuto tivesse estragado, e enquanto isso, Miguel acomodou-se no sofá da sala.

— Hey, Micchan – Iru chamou. O infame apelido havia se espalhado bem rápido entre os charas também, mas Miguel se acostumara com isso. – Onde está a Grace-chan?

— Ela foi para casa com o Kukai… eu vim sozinho, dessa vez… - ele respondeu.

— Ah! – Eru foi quem suspirou – Ela é tão legal! Sabe muitas coisas sobre romance~ Eu gosto de conversar com ela…

Com a menção da palavra “romance”, Miguel logo ficou desconfortável, mas tentou disfarçar o máximo possível. Por outro lado, estava preocupado. O que raios Grace andava ensinando por aí, sobre romance e afins? Boa coisa não deveria ser…

— Desculpa, Micchan, eu fui tentar salvar o jantar… - Utau apareceu novamente, voltando e se acomodando no lugar ao lado dele – O que você quer conversar?

Miguel não se lembrava de ter chegado a mencionar que queria conversar sobre algo, mas a verdade é que era exatamente isso o que ele queria, indo até ali. Queria conversar com alguém sobre o seu dilema com Guilherme. Ter uma segunda opinião, um conselho, uma ajuda, qualquer coisa… apenas dividir aquelas preocupações e ter alguém que o ouvisse, já seria ótimo. Ele tinha muitas opções, era verdade. Poderia falar com Kukai ou com algum dos irmãos dele… com Nagihiko, com Tadase, Kairi… mas ele sabia que nenhum dos garotos, por mais compreensivos ou empenhados em ajudar que pudessem ser, se sentiriam confortáveis de falar sobre aquilo com ele, ou mesmo entendê-lo.

Entre as garotas, suas alternativas eram vetadas logo de cara. Stéffanie ficaria tão embaraçada que o trataria mal por causa disso, e ter uma conversa séria com Yaya parecia uma piada só de se pensar. Ele tinha a impressão de que Amu ficaria ainda mais indecisa do que ele próprio. Anna provavelmente iria querer transformar a história dele num mangá, e Rima nem o daria atenção. Antes de pensar muito no assunto, Miguel se viu com apenas uma única opção em vista. Utau… Ela podia ser um pouco empolgada com certos assuntos, era verdade, mas era mais velha, e devia ter mais experiência. Além disso, os dois eram bons amigos desde a chegada dele no Japão, e Miguel sentia que podia confiar na garota, sem hesitar.

— Tem algo… que aconteceu. E eu preciso de ajuda… - ele enfim confessou, esfregando as mãos uma na outra, visivelmente constrangido. Utau o fitou com atenção, incentivando-o a prosseguir – Você… você sabe sobre as visitas que estão agora no Japão, não é?

— Bem, é claro. O primo da Lewis-chan, a irmã da Blanca-chan, e um amigo seu… ah… - o rosto de Utau iluminou-se ao dizer isso em voz alta, e ela compreendeu tudo de uma vez só. Miguel corou, ao perceber que ela também havia entendido, mas pelo menos, isso o livrava de uma longa explicação – Esse amigo… é aquele amigo…

— E-exatamente. – ele confirmou.

— Mas… agora estou confusa. Se ele fez aquilo que você me contou, e rejeitou você, por que viria para o Japão para te ver? Isso não faz muito sentido…

— Eu também não entendi a princípio, no entanto… ele conversou comigo, e disse que… mudou de ideia… sobre isto… - Miguel evitava a todo custo olhar para Utau, e sua voz tremia um pouco mais a cada palavra. Aquilo era difícil! Muito mais do que ele pensara, ao ir até ali – Ele decidiu… dar-me outra chance… e recomeçar…

— Ele quer ser seu amigo de novo? – Utau indagou, surpresa.

— Hm… não… - Miguel baixou ainda mais o rosto vermelho, não sabendo exatamente como explicar. Para falar a verdade, nem ele sabia precisamente o que Guilherme queria. Ele nunca disse claramente quais eram as suas intenções, o que ele realmente queria com Miguel. A palavra “namoro” nunca foi mencionada, pelo que ele recordava. O que poderia responder agora?

— Ele quer só “pegar” você, é isso, não é? – Ikuto surgiu pela porta da cozinha, escorando-se despreocupadamente na parede, com uma colher na mão. Miguel arquejou, embaraçado e indignado com a insinuação.

— Não diga dessa forma, Ikuto! – Utau repreendeu-o – Então, o seu amigo está mesmo disposto… a ficar com você, é isso? – ela voltou-se para Miguel, com o semblante desanuviado.

— Pelo que ele disse, eu acho que sim… - Miguel voltou a se encolher – Mas… eu não sei o que fazer…

— E você ainda gosta dele, Micchan? – Utau tentava ser o mais delicada possível ao lidar com o assunto. Miguel respirou fundo, pensando com cuidado na pergunta. Era a mesma que ele vinha se fazendo desde que Guilherme chegara, e ainda não havia conseguido uma conclusão.

Seu coração batia rápido, toda vez que chegava perto dele. Ele ainda se sentia daquela forma, quase anestesiada, cada vez que falava com ele. E quando ele o fitava com aqueles olhos azuis… Miguel perdia completamente a noção do que estava fazendo… Porém… a cada vez em que pensava nisso, o rosto sorridente e simpático de Shunsuke vinha na sua mente, como se estivesse lembrando a ele sobre sua nova vida no Japão, querendo desesperadamente que ele pensasse em Guilherme apenas como passado.

— Eu… acho que ainda gosto dele… - o português sussurrou, admitindo isso também para si – Mas… não é tão simples…

— É por causa daquele loiro dos óculos? – Ikuto insinuou, e Miguel engasgou de novo, corando até a ponta das orelhas.

— S-s-shunsuke é só um amigo… e-ele… nunca pensaria em mim desta forma, q-quero dizer… - sem saber o que dizer, Miguel se recolheu ao silêncio.

— Não é por que ele é só um amigo que você não possa se sentir dessa forma sobre ele também, Miguel… - Utau opinou, segurando as mãos do amigo entre as suas, com semblante compreensivo – Você gosta do Shunsuke, é por isso que está em dúvida, não é mesmo?

— Eu… sei que não há jeito de ele corresponder-me… - Miguel confessou, em um sussurro, baixando o rosto até escondê-lo sob a franja – Então… eu nunca… n-nunca namorei, nem nada assim… e… e… gostaria de saber… como é… ter alguém para você, ao seu lado, dessa forma…

— Ah, Micchan! – Utau não conseguiu se conter, e abraçou com força aquela figura frágil e vulnerável que era Miguel naquele momento. Ele não resistiu como normalmente fazia, e deixou que Utau o consolasse. Estava se sentindo tão perdido, tão pequeno, que apenas queria deitar, dormir, e não acordar mais até que os seus problemas estivessem resolvidos. – Você tem que fazer aquilo que vai te trazer felicidade… aquilo que vai te deixar em paz… Não pense no que as outras pessoas querem que você faça, ou simplesmente no que é mais fácil… é uma decisão difícil, mas… é só você quem pode fazê-la. O que quer que você escolha, eu e todos os seus amigos, nós vamos apoiá-lo. Está bem assim?

— Tudo bem. Obrigado, Utau… muito obrigado mesmo, por ouvir-me… - ele se ergueu, sorrindo fracamente para ela.

— Que isso, eu adorei ouvi-lo, espero ter ajudado em alguma coisa… Sempre que quiser conversar, eu estarei aqui – ela acariciou de leve os cabelos castanhos do garoto, e ele abriu um pouco mais o sorriso. Seu coração estava mais leve, e ele se sentia tranquilo. Ainda não sabia o que ia fazer, provavelmente passaria a noite em claro, pensando nisso… mas estava feliz, por ter alguém com quem dividir as suas preocupações. Era algo novo para ele, ter amigos para quem pedir conselhos… mas… era bom também.




~



No dia seguinte, como esperado, Miguel não havia pregado o olho, pensando no que fazer. Estava com olheiras tênues abaixo de cada um dos olhos, e absolutamente cansado. Pensava que tinha conseguido tomar uma decisão, depois de pesar muito cada um dos lados, mas ainda não estava totalmente certo de que era aquilo o que queria. Não havia nem conseguido tomar café da manhã, seu estômago estava cheio de borboletas, e suas pernas estavam bambas… Ele só queria que tudo isso terminasse logo, para ele parar de se sentir dessa forma.

A aula passou e ele nem sentiu. Ficou olhando para fora o tempo todo, e só percebeu que era de fato hora do almoço quando Kukai o chamou para ir comprar comida lá embaixo. Miguel saiu da sala, mas foi direto para a biblioteca, arrumando uma desculpa qualquer. Grace não achava certo ele ficar se escondendo dessa forma, mas ele não queria acabar encontrando com Shunsuke pelos corredores, não agora. Precisava fazer o que tinha que fazer, antes de qualquer coisa, ou se arrependeria depois.

Ele só saiu da biblioteca depois que o sinal para o fim do intervalo soou duas vezes, e foi direto para a sala. O tempo pareceu correr mais rápido quando ele retornou, e a aula teve um fim. Não havia mais tempo para fugir, ele precisava fazer isso agora, ou perderia completamente a motivação.

Enquanto Kukai seguia para o Royal Garden, Miguel novamente arrumou uma desculpa qualquer, e enquanto Grace se juntava aos outros Charas, ele tomou o lado oposto. E como esperado, lá estava ele. Avançando pelo caminho na sua direção, vindo do portão frontal, Guilherme sorria, presunçoso, caminhando até ele. Assim como previra Miguel, ele viria no fim das aulas, cobrando pela sua resposta. E ele já a tinha.

— Oi, Miguel… - ele sorriu, passando a mão de leve no braço do português, que se arrepiou de cima a baixo com o toque suave. – Podemos conversar agora?

— Sim… vamos encontrar algum lugar… - ele foi conduzindo Guilherme à frente, até pararem em um dos bancos de madeira espalhados pelo pátio, à sombra de uma grande árvore. Os dois sentaram, e Miguel resolveu que deveria começar logo a falar. Ele tremia muito, e não sabia bem por onde começar. Sua voz havia sumido, sua garganta estava seca. Ele podia muito bem estar tendo um ataque do coração nesse momento, os sintomas eram parecidos com isso. se desmaiasse agora, seria muito humilhante. – Guilherme… eu… eu tenho minha resposta, para você…

— Eu sabia… - Guilherme sorriu de canto, erguendo a mão para passa-la displicentemente pelos cabelos castanhos dele – Você demorou… mas acabou percebendo o que era melhor, não é?

— Bem, eu…

— Micchan! – o grito entusiasmado fez Miguel engolir em seco, e Guilherme soltou um sonoro palavrão, soltando Miguel no mesmo instante, e pulando para ficar longe dele no banco também. – O que você está fazendo aqui? Não deveria estar no Royal Garden? – obviamente era Yaya, que vinha com Kairi pelo caminho através do bosque da divisão elementar, e só então ela pareceu perceber que ele estava acompanhado ali. Um brilho de compreensão iluminou seu olhar.

— Eu só estou conversando com Guilherme, eu irei para lá depois… - ele respondeu rapidamente, e Yaya já estava se preparando para uma bateria de questões, provavelmente das mais embaraçosas.

— Vamos, ás, todos estão esperando por nós. – Kairi assentiu uma única vez, sensato o bastante para saber que estavam sendo empecilhos, e tratou de ir arrastando Yaya dali.

— Espera, Iinchou, a Yaya quer… – felizmente, ninguém ficou sabendo que Yaya tanto queria, pois ela foi mais do que imediatamente levada pelo caminho, sem chance de escapar.

— Ah… ainda bem que ela foi embora… - Guilherme suspirou, aliviado. – Vamos encontrar outro lugar, mais afastado… - ele levantou, e Miguel o seguiu, em silêncio, ainda pensando em muitas coisas.

Os dois acabaram indo para os fundos do prédio, onde ficavam as escadarias externas, e o muro. Havia ali um pequeno pátio, que mal era usado, por ficar exatamente atrás das paredes do ginásio e dos depósitos, com apenas algumas arvores espalhadas em pequenos espaços, e os garotos sentaram na mureta que dividia os canteiros.

— C-como eu ia dizendo, Guilherme, eu já tomei minha decisão…

— Estou a ouvir… - o loiro sorriu amplamente, aproximando-se ainda mais de Miguel, agora que estavam sozinhos.

— Mas antes, eu preciso perguntar uma coisinha… - ele hesitou, brincando com os pés na terra do pátio, fazendo desenhos abstratos.

— Podes falar…

— Pois, por que você sempre se esquiva quando qualquer um dos guardiões aparece? – ele conseguiu dizer, ainda que seu coração se apertasse terrivelmente – Quero dizer, tu sempre te afastas, vai embora… eu nem mesmo o vi conversar com nenhum dos meus amigos, nem tive a chance de apresentá-lo direito…

— Eu vim aqui só para te ver, é claro. Mas… não quero que eles acabem tendo a ideia errada, mesmo assim… - ele deu de ombros, como se não fosse nada importante.

— Como assim? – Miguel ergueu o rosto, intrigado – Você não veio porque… decidiu aceitar os meus… m-meus sentimentos?

— Foi isso sim… - Guilherme sorriu com facilidade – Só que… isso não significa que todo mundo precisa saber disto. Eu quero ficar contigo, quero mesmo! Mas não precisamos sair espalhando isso por aí… vai ser um segredinho só nosso, não é? – ele se inclinou na direção de Miguel, prendendo-o com um olhar. – Eu pensei que fosse óbvio… Sabe, não é como se eu pudesse sair por aí dizendo que você é meu… minha… namorada, ou qualquer coisa assim…

— Sim, bem… - Miguel gaguejou. Não, não era bem assim que ele tinha imaginado. Na verdade, ele pensou que o que Guilherme queria era ser seu namorado, mas… parecia que não era bem assim para ele. Claro que ele sabia que seria difícil para alguém como Guilherme, que sempre fora popular com as garotas, cheio de amigos, de repente assumir-se dessa forma, porém… Miguel imaginou que eventualmente isso pudesse acontecer. O que Guilherme parecia querer dizer, no entanto, era que eles permaneceriam juntos em segredo… para sempre. Um pequeno segredinho sujo, algo vergonhoso, indigno, que precisava ser escondido a todo custo. Um passatempo oculto. Um erro…

— Você sabia que seria assim, não é? – Guilherme sussurrou, e seu hálito batia no rosto de Miguel – Mas… mesmo assim, eu ainda quero você… Você é tão bonito, Miguel… tanto quanto uma garota… eu nunca havia percebido realmente, até aquele dia… - ele se inclinou e beijou os lábios despreparados do português, por um breve segundo, antes de continuar. Prendeu-o pela nuca, encarando-o diretamente – Sem falar que será muito melhor do que ter uma namorada de verdade. Sem reclamações, sem ciúmes, sem gritinhos histéricos e discussões sobre a “relação”. E você ainda pode jogar videogame comigo… - ele sorriu de lado, e tomou os lábios de Miguel mais uma vez, agora mais profundamente, sem dar a ele a chance de resposta.

Miguel sentiu-se tonto. Havia planejado vir até ali para aceitar a proposta de Guilherme e sair com ele. Não que ele tivesse muitas alternativas, foi a conclusão a que chegou. Quem mais aceitaria ficar com ele, corresponderia aos seus sentimentos? Shunsuke era somente seu amigo, e a relação deles nunca passaria disso, Miguel sabia. Esperanças só o faziam sentir-se tolo. E estava cansado de ficar sozinho. Não queria passar a vida sem saber o que era sentir-se amado, acolhido nos braços de alguém. E de uma forma ou de outra, Guilherme estava disposto a oferecer isso a ele. Não da maneira com ele sonhou, mas… ainda poderia ser o bastante.

Enquanto se afastava, sem fôlego, Miguel hesitou. Era a primeira vez que beijava alguém daquela maneira, e seu coração parecia que iria saltar pela boca. Todo seu rosto pegava fogo. Guilherme ainda tinha o mesmo sorriso vitorioso no rosto. Repentinamente, uma música surgiu do nada e tomou o ambiente, e dando um pulo no mesmo lugar, Miguel percebeu que era seu celular.

— A-alô? – ele murmurou, ainda ofegante e nervoso.

Miguel? – a voz de Shunsuke fez o coração de Miguel acelerar mais uma vez, loucamente. – Onde você está, Miguel? A Ás acabou de me encontrar e disse que… ah! Encontrei você…

Miguel olhou para trás, a tempo de ver Shunsuke aparecendo por trás do prédio principal, com um sorriso aliviado, que logo se transformou em uma carranca ao ver Guilherme. O loiro português se ergueu do lugar, colocando-se em posição defensiva à frente de Miguel, mas o outro apenas o ignorou, e dirigiu-se diretamente à ele.

— Shunsuke, o que…

— O que vocês estão fazendo aqui? – ele indagou rapidamente, parecendo apreensivo.

— Conversando. Somos velhos amigos, e não nos vemos há um bom tempo, o que isso tem a ver com você? – Guilherme respondeu na frente de Miguel, encarando Shunsuke com ar ameaçador.

— Eu sou o melhor amigo dele daqui, e ouvi sobre você… - Shunsuke franziu os olhos, por trás das lentes dos óculos, e eles possuíam um brilho quase ensandecido de ameaça – Fiquei preocupado com o Miguel-kun…

— Shunsuke, não precisava…

— Miguel! Você contou a ele? – Guilherme virou-se para ele, indignado.

— Eu… eu não sabia, que você queria manter segredo… - Miguel respondeu em um sopro, esfregando as mãos uma na outra.

— Segredo? – Shunsuke repetiu, com um riso de escárnio que não parecia com ele – Então esse cara tem vergonha de você, é isso?

— Não é isso! – o loiro se apressou em gritar, irritado.

— Venha comigo, Miguel... – Shunsuke se aproximou, pronto para pegar Miguel pelos braços e arrastá-lo para longe daquele garoto, mas Guilherme o impediu, segurando seu braço com força.

— Você não tem nada a ver com isso, vá embora daqui! – ele gritou, em fúria, empurrando Shunsuke para longe – Não toque nele! Miguel é meu…!

— Seu o quê? Ele é seu o quê, Guilherme…? O que você sente por ele? Vamos, diga! - Shunsuke desafiou, com os olhos verdes pegando fogo. Guilherme ensaiou dizer alguma coisa várias vezes, mas simplesmente não conseguia. Olhou para Miguel como quem se desculpa. Não podia fazer aquilo, era demais. Não podia responder à nenhuma daquelas questões.

— Miguel, eu…

— Você está mesmo bem com isso, Miguel-kun? – Shunsuke se pronunciou para ele, dessa vez com um tom de voz mais brando. Miguel mordeu os lábios, e sentiu que estava à beira das lágrimas. Que patético! Ele estava sendo exatamente aquilo do que o chamavam quando estava em Portugal. Um maricas, idiota, que parecia uma garotinha chorona. Belo papel.

— Eu… e-eu não quero ficar sozinho para sempre… - ele chorou finalmente, e escondeu as lágrimas com as mãos, com os ombros tremendo, soluçando – Não estou bem com isso! Mas… é tudo o que eu posso ter…

— Não se rebaixe dessa forma… swe- quando percebeu que esteve a um passo de chama-lo de sweetheart, Shunsuke travou sua língua – V-você merece mais do que isso. Você é incrível. A pessoa mais maravilhosa que eu já conheci. Qualquer um ficaria honrado de ser visto ao seu lado. Você não merece um idiota mentiroso que sente vergonha de você. Você que deveria ter vergonha de andar com alguém como ele…

— Ei! O que é isso! – Guilherme protestou, ofendido, mas Shunsuke apenas o empurrou para o lado, ignorando-o por completo. Só tinha olhos para Miguel agora. Queria abraça-lo, dizer que tudo ficaria bem, consolá-lo. E foi exatamente o que fez.

— S-shunsuke…

— Você não precisa daquele traste… você não vai ficar sozinho, nunca, Miguel… - Shunsuke sussurrou no ouvido do menor, com sua voz mais doce. Encaixou-se perfeitamente nele, no abraço. – Você tem a mim… - Guilherme engasgou, enojado, sem saber como reagir àquela cena. Queria intervir, dizer que nada daquilo estava certo, levar Miguel dali… mas o fato era que seus supostos sentimentos não eram fortes o bastante nem para motivá-lo a ter alguma reação, qualquer que fosse. Ele acabou por se afastar, reconhecendo a derrota, e disposto a desistir. Sua motivação era baseada puramente em teimosia e impulso, e nada além disso. Para ele, era uma derrota, apenas mais uma.

— M-mas… eu sou tão… - ele soluçou, mas Shunsuke interrompeu.

— Você é lindo. É incrível. Engraçado, divertido, gentil, prestativo. Inteligente. Perfeito. Nunca mais diga nada que seja pejorativo de você mesmo, Miguel, ou eu ficarei ofendido. – ele abraçou-o com mais força, acariciando o topo da cabeça dele – Se você tem medo de nunca ter a chance de provar o amor, então tente comigo. Se esse idiota serve, então eu também posso tentar…

— Shunsuke! – Miguel ofegou, empurrando-o daquele abraço, com o rosto lavado de lágrimas estampando sua surpresa – O que está a dizer…

— Saia comigo. Seja meu namorado, Miguel. – ele segurou o rosto do português com ambas as mãos, secando suas lágrimas – Eu vou cuidar bem de você! Muito melhor do que aquele idiota faria. Deixe-me ao menos tentar…

— Você não pode… Shunsuke! Eu sou… um garoto! – ele arquejou, incrédulo. Shunsuke sorriu, de uma maneira tão espontânea e linda que o coração de Miguel deu um looping completo no peito.

— Quem disse que eu me importo com isso? Pra falar a verdade, estou interessado em você desde que te conheci… você que não percebeu nada… - ele sorriu, encostando sua testa na de Miguel, vendo-o corar com somente essa ação. Era tão fofo… Shunsuke poderia ficar testando essas reações nele o dia inteiro.

— Eu não… acredito… - Miguel murmurou, lívido. Só podia ser uma sonho, uma miragem. Será que era efeito de algum batsu-tama com o qual ele andava lutando? Aquilo era surreal demais para ser real. E era bom demais, também. Não podia ser a realidade.

— Eu vou fazer você acreditar. – Shunsuke o trouxe para mais perto, e antes que percebesse, Miguel estava sendo beijado, pela segunda vez naquele pequeno espaço de tempo.

Shunsuke tinha urgência em provar seus sentimentos. Era um lado que Miguel desconhecia. Seus lábios se encaixaram perfeitamente, e Shunsuke segurou a cintura de Miguel possessivamente, fazendo-o ficar na ponta dos pés enquanto aprofundava o beijo. Suas línguas se entrelaçaram, e Miguel podia jurar que estava vendo estrelinhas por trás das suas pálpebras. Seu coração parara de bater. Suas mãos ainda tremiam, geladas.

Quando se afastaram, minimamente, pois foi somente o que Shunsuke permitiu que ele fizesse, Miguel sentiu que podia desfalecer. Nunca se sentira daquela forma antes. Mesmo quando Guilherme o beijara, e ele sentiu seu coração acelerar, não foi a mesma coisa. Agora, ele sentia seu coração flutuar, encher-se de um sentimento sublime, a ponto de quase transbordar. Era como se o mundo estivesse mais colorido, mais brilhante, recheado de luz por todos os lados.

Miguel não se aguentou, e o abraçou mais uma vez, com um sorriso tolo no rosto. Como recusar uma proposta daquelas? Ele nunca pensou que pudesse existir uma felicidade daquele tamanho. Então… realmente, esse tempo todo que ele sufocou ao máximo esse sentimento, não adiantou nada. Ele apenas crescia, e agora, parecia querer demonstrar toda sua extensão de uma só vez. Era aquilo o que ele queria, o que secretamente desejava ardentemente que acontecesse. Que Shunsuke o notasse, que retribuísse aos seus sentimentos. Era tudo o que ele sempre sonhou.

Shunsuke retribuiu ao abraço, girando-o no ar uma vez, sentindo-se também extasiado. Porém, no fundo do eu coração, toda aquela felicidade estava encoberta por uma sombra de medo. Havia agido puramente movido pelos sentimentos à flor da pele, não pensara nas consequências dos seus atos. E agora, Matthew, o que iria fazer?


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Notas finais do capítulo

Yoo, minna! Shiroyuki desu!!! Muuuito feliz de estar trazendo esse capítulo para vocês! É o meu favorito até agora XDD~ finalmeeeeeeente, Micchan conseguiu o que queria o/ Ou melhor, o que eu queria~ Quem aqui estava querendo ver isso? Eu sei que eu estava doida pra postar isso aqui *u*

Entãaao, Micchan ter finalmente conseguido um namorado, merece ou não um review?? E o Guilherme ter sido derrotado, também o// Não deixem de dizer o que acharam do capítulo, ok?? Tanto eu quanto a senpai ficamos sempre muito felizes com tudo o que vocês dizem~

bye bye~



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