Revenge II escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 17
Capítulo XVII




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O céu lá fora ainda estava meio escuro, mas Anna esperava pacientemente em uma das salas vazias do último andar, assim como Nagihiko havia combinado com ela. As classes empilhadas perto do quadro negro deixavam evidente que ninguém usava aquela sala em especial, há algum tempo. Tinha sido difícil acordar tão cedo, antes mesmo de amanhecer, e ainda achar o caminho para a escola sozinha e no frio, mas ela não se importava, pois finalmente, ela teria as suas aulas de etiqueta, e então se tornaria alguém com pelo menos metade do refinamento de Nadeshiko, eu era assim que ela sonhava.

Nagihiko havia recomendado que Anna dissesse a todos que estaria tendo aulas extras de japonês com um professor, caso alguém perguntasse, e foi isso que ela disse à Rima na noite anterior. Ela mentia muito mal, era verdade, mas Rima acabou deduzindo que talvez ainda estivesse nervosa por causa da visita do seu primo, que chegaria naquela mesma noite, então nem deu atenção a esse fato.

A inglesa olhava pela janela e via que ninguém chegara ainda na escola, exceto por ela e por Tsukasa, que por acaso também era o zelador e abria a escola todas as manhãs bem cedo. Ele não perguntou o motivo de ela estar ali àquela hora, no entanto, desconfiava que de alguma maneira, ele já sabia muito bem.

Claro que ela sabia que jamais chegaria aos pés de Nadeshiko, que provavelmente treinou aquilo a vida inteira, enquanto ela havia feito inúmeras classes de etiqueta durante anos e jamais conseguira evoluir. Ela sabia que a maneira que uma Yamato Nadeshiko se portava era diferente de uma refinada dama inglesa, e de certa forma, parecia mais deslumbrante, ou melhor, parecia combinar mais com a atmosfera ao redor dela… E ainda, ela sentia que Tadase gostaria mais de algo como aquilo. Balançando a cabeça, ela tentou reordenar os pensamentos. Claro que aquilo não era completamente por causa de Tadase… talvez apenas em parte. Mas ainda, ela sabia que queria fazer aquilo por ele também.

— Você está pronta, Lewis-san? – a voz suave despertou a sonolenta garota dos seus pensamentos conturbados. Ela sobressaltou, saltando da cadeira onde estava sentada olhando pela janela, e se colocou em pé praticamente em posição de sentido.

— Yes!

Entrando pela sala, Nadeshiko caminhou a passos inaudíveis e delicados até a garota. Usava a versão feminina do uniforme, com botas de couro marrom que iam até a metade da perna, e meias-calças escuras, já que estava bem frio. Os cabelos estavam amarrados no alto da cabeça, com a fita vermelha usual.

— Nós temos que nos apressar, para conseguir fazer alguma coisa antes dos outros chegarem. – ela lembrou – Para ser específica, nós temos exatamente 2 horas e meia antes que os outros comecem a chegar para a aula. Acha que consegue?

— Yes! – Anna exclamou com uma confiança que não possuía. - I'll do my best! (Vou fazer o meu melhor!)

— Então vamos iniciar – Nadeshiko sorriu, gentilmente – Começando pela postura…

~

Nadeshiko se esforçava para fazer Anna andar, sentar e se comportar de maneira adequada, o tempo passou rapidamente. Nadeshiko sentia que Anna já sabia sobre todas aquelas regras e etiquetas sociais, apenas tinha dificuldade de colocá-las em prática, seja pela falta de jeito ou por simplesmente não prestar atenção. Era mais como se ela já tivesse tido aulas como essas, mas ainda não soubesse, ou não conseguisse, agir da maneira que foi ensinada.

Enquanto isso, alguns alunos começavam a chegar na escola. Entre eles Stéffanie vinha chegando. Ela acordou mais cedo para ir encontrar com a sua irmã, e vinha com ela e mais Yaya, que se arrastava para a divisão do elementar, reclamando sobre ter que acordar cedo demais. Rosário queria conhecer melhor a escola onde a irmã estava estudando, e por isso a espanhola a trouxe a essa hora, para ver tudo antes que estivesse cheio de estudantes. Depois de mostrar o pátio todo, e o Royal Garden, elas voltaram para o prédio principal, mostrando andar por andar. Quando enfim chegaram ao último, Rosário disse que desceria para falar com o diretor da escola, e Stéffanie já estava a seguindo, quando ouviu um barulho alto de algo sendo derrubado, e então um pedido de desculpas em inglês.

Vaya por delante, hermana…(Vá na frente, irmã) - ela disse, olhando desconfiada para a sala do final do corredor, de onde vinha o som - Sólo voy a ver algo… (Vou só verificar uma coisa…)

De acuerdo. (Está bem) – Rosário concordou sem se importar, e desceu as escadas na frente. Assim que ela sumiu para o andar de baixo, Stéffanie caminhou cuidadosamente até a porta. Seu senso de escritora farejava alguma boa história. Aquela voz era de Anna, mas o que ela estaria fazendo tão cedo em um andar que quase não era usado? Será que ela estava com Tadase? Ah, Stéffanie estava curiosa.

Ela encostou o ouvido na porta, prestando atenção em cada som.

S-sorry… Eu acabei dropping the classes (derrubando as mesas)… - a voz da inglesa estava lamuriosa, ela parecia cansada. Ouviu o som de alguém arrumando as classes novamente no lugar, e mais pedidos de desculpas de Anna.

— Está bem… essas coisas acabam acontecendo por que você se mexe muito quando fala, Lewis-san. – S´teffanie ofegou, ao reconhecer de imediato aquela voz. Era Nadeshiko!! E se aquela era Nadeshiko, então… obviamente, era Nagihiko quem estava ali com Anna! Mas o que eles estariam fazendo em uma sala vazia, quando ninguém mais estava na escola?

Tentando se controlar, S´téffanie tentou abrir uma frestinha da porta, sem fazer barulho, para espiar melhor. Viu Anna de pé em um canto, e a frente dela, Nadeshiko dizia alguma coisa muito seriamente. Elas não pareciam muito próximas, mas de qualquer forma, aquilo era intrigante.

I know… (Eu sei) - Anna parecia um cãozinho que era repreendido por ter feito coisa errada - I should stop moving (Eu deveria parar de mexer) tanto as mãos enquanto falo. Gesticular muito is not good. (não é bom.)

— Exatamente. Sem gestos espalhafatosos ou muito espaçosos… apenas mova a mão lentamente, perto do seu próprio corpo, e sem tanta frequência, ao se dirigir a outras pessoas. – Nadeshiko moveu delicadamente a mão enquanto falava, dando ênfase ao assunto – E tente não apontar tanto para os outros, apenas quando for estritamente necessário.

I get it. (Entendi) – Anna acenou com a cabeça, tentando imitar o gesto de Nadeshiko, mas sem tanta coordenação.

Pero… qué es eso ...? (O que é isso?) – Stéffanie franziu os olhos, irritada instantaneamente. Aqueles dois andavam se encontrando secretamente para fazer sabe-se lá o que, era isso mesmo? Maldito cabeludo, o que ele pensava que estava fazendo? Não importava que fosse Nadeshiko ou Nagihiko, aquilo simplesmente não parecia certo! Stéffanie sentiu seu sangue ferver, e estava com tanta raiva que se esqueceu de segurar a porta, e ela se abriu lentamente, fazendo o barulho característico. Nadeshiko e Anna sobressaltaram, ao ver a espiã em seu posto de observação, agachada à frente da porta.

Stéffanie sentiu o rosto queimar, de exaltação e constrangimento, e se ergueu no mesmo segundo, saindo dali a passos duros, sem nada a dizer. Estava descendo as escadas, praticamente soltando fogo pelas ventas, quando viu Tadase lentamente subindo. Ele sempre vinha para a escola bem cedo, não era surpresa vê-lo andando por aí para checar tudo.

— O que houve, Blanca-san…? – Tadase ofegou, assustado ao ver a garota descendo as escadas com tanta fúria, vindo em sua direção.

Ah, no sé, ni quiero saber! Ese estúpido Nagihiko levou Anna a una sala vacía, y yo no sé lo que están haciendo juntos! (Eu não sei e nem quero saber! Aquele idiota do Nagihiko levou Anna para uma sala vazia, não faço ideia do que eles fazem juntos!)– ela quase gritou, alterada, e Tadase empalideceu, sem acreditar.

— A L-lewis-san está com o Fujisaki-kun? D-de novo? – ele gaguejou, vendo suas suspeitas se confirmando. Então realmente, Anna havia ficado mais próxima de Nagihiko depois de saber sobre a verdade… Ele não sabia exatamente como, mas isso parecia ruim.

Parece que a la británica le gusta travestis, talvez deberías usar un vestido para ella se fije en ti! (Parece que a inglesa gosta de travestir, talvez você devesse usar um vestido para ela se interessar por você!)– ela gritou por fim, dando as costas pra Tadase, deixando-o perdido e cheio de receios. Nem bem ela havia descido, Nagihiko surgiu correndo pelo corredor. Estava vestido como garoto, mas os cabelos ainda estavam presos, ele corria sem nem olhar por onde estava indo, e sem notar Tadase no pé da escada. Obviamente, estava atrás de Stéffanie.

P-prince Charming! – Anna arquejou, ao sair da sala e ver Tadase ali também. Será que ele havia visto alguma coisa?

— Lewis-san… - Tadase corou, e olhou para o outro lado, parecendo triste – Etto, o que houve…?

I don’t know!(Eu não sei!) Steffanie de repente appeared (apareceu) and Naddy saiu correndo to change clothes in the bathroom, and went after her... (trocar de roupas no banheiro e então saiu correndo atrás dela…) – Anna disse tudo muito rapidamente, gesticulando amplamente da forma exatamente ao contrário do que Nadeshiko acabara de ensinar - Oh, I do not want them fight (não quer que eles briguem) por minha culpa! I have to explain everything to her... (Eu tenho que explicar tudo para ela) – ela murmurou por fim, descendo as escadas da maneira que podia, para seguir os outros dois e explicar o que acontecia para a espanhola.

Mais uma vez, Tadase ficou para trás. Ele suspirou, largando-se e sentando no primeiro degrau da escada. Talvez Stéffanie estivesse certa e ele deveria arrumar alguma maneira de chamar a atenção de Anna novamente, afinal…

~

Quando Anna enfim conseguiu alcançar Nagihiko e Stéffanie, eles já estavam conversando, e ela resolveu não interferir, saindo imediatamente pela porta lateral. Pediria desculpas a ela mais tarde, e então, teria que desistir de vez de ser uma “Yamato Nadeshiko”. Bem, de qualquer forma, aquilo não era para ela. Ela jamais conseguiria.

— … é como eu disse! Ela só queria ter aulas de boas maneiras com a Nadeshiko, para ser mais como ela! – Nagihiko explicou, desamarrando os cabelos, exasperado. Stéffanie arqueou uma sobrancelha, desconfiada – E eu ainda acho que isso é para impressionar o Hotori, sabe?

Creo que ella realmente quería impresionar el (Acho que ela realmente queria impressionar o) Reizinho – Stéffanie cruzou os braços, virando o rosto - Pero, francamente, por qué tenías que hacerlo a solas con ella, hein? Solo! Em un lugar vacío! (Mas, sério, por que você tinha que fazer isso sozinho com ela, hein? Sozinhos! Em um lugar vazio)

— Ela disse que não queria que o Hotori-kun soubesse! – Nagihiko suplicou – Eu só estava ajudando uma amiga, Blanca-san, não tem nada demais nisso! Onegai, não fique com raiva de mim de novo. Gomen por ter escondido outra coisa de você, eu não queria…

— Ah, tá. Cierto, cierto, lo entiendo. (Certo, eu entendi.) – ela balançou a mão, fazendo pouco caso. - No estoy brava más, feliz ahora? – entoou com sarcasmo, e Nagihiko respirou aliviado, sorrindo para ela. Ela corou ligeiramente, e desviou o olhar, irritada – P-pero ... si es así, la próxima vez ... Quiero ... ayudar también, entonces. – ela baixou o tom de voz.

— Hai! Eu tenho certeza de que a Lewis-san vai apreciar sua ajuda também! – ele bradou, grato por Stéffanie ter entendido. Ouviram um ruído baixo de passos, e inconscientemente, se afastaram um do outro. Nem haviam notado que estavam assim tão perto.

— Rosario! Cuánto tiempo está aí? – s´teffanie exclamou, sobressaltada, ao ver a irmã surgindo pelo lado onde o corredor virava para a esquerda.

Me perdí mientras buscaba la oficina del diretor. (Me perdi enquanto procurava pelo escritório do diretor.) – Rosário sorriu sem graça – Me puede ayudar? (Pode me ajudar?)

Por supuesto, vamos (Claro, vamos!) – Stéffanie andou com a irmã até o lado oposto. Antes de virar o corredor, olhou para trás, e quando viu Nagihiko acenar para ela com um sorriso no rosto, corou furiosamente, virando-se para frente no mesmo segundo.

— Ah, ainda bem que ela não ficou maluca comigo de novo… - ele suspirou mais uma vez, passando a mão pelos cabelos, aliviado, enquanto girava para descer as escadas.

~

Depois disso, as aulas começaram normalmente, como em todos os dias. Tadase, porém, estava distraído e pensativo, e não era em Matthew ou em batsu-tamas que ele pensava com tanto afinco, enquanto o professor explicava a matéria no quadro-negro. Será que Stéffanie estava mesmo certa? Quer dizer… ele sabia que Anna gostava de coisas como romance entre garotos, e ainda garotos vestidos de meninas… e ela havia ficado muito empolgada com Nagihiko afinal de contas! Eles estavam mais próximos… e ele ainda não sabia o que faziam juntos no final das contas… então, se ele conseguisse captar a atenção dela de alguma forma… qualquer que fosse…

Aquela ideia descabida de Stéffanie ainda rondava sua mente. Ele não sabia o que fazer, e estava entrando em desespero de tanto pensar. Se Kiseki soubesse o que estava cogitando fazer, iria surtar de tanto desgosto. Bem, ele não precisava usar um vestido afinal! Se apenas fizesse cosplay de algum personagem que ela gostasse, talvez fosse suficiente…



Após a aula, seria a reunião dos guardiões, e Tadase se forçou a parar de pensar em ideias malucas e se concentrar na reunião, mas no fim das contas, ele estava completamente sozinho no Royal Garden, terminando seu trabalho. Nagihiko e Kukai ambos havia ido para os treinos dos times de basquete e futebol, respectivamente. Kairi pediu licença para ir fazer um trabalho escolar na biblioteca, e Tadase desconfiava que ele estivesse fazendo a parte de Yaya também, já que ela havia ido com todas as outras garotas e mais Miguel tomar chocolate quente na cafeteria Amakawa do outro lado da rua, para mostrar o lugar a Rosário. No final, Giovanni acabou indo para a biblioteca junto com Kairi, por que mal conseguia entender a matéria para estudar, e necessitava urgentemente de um dicionário italiano-japonês.

Sozinho novamente com seus pensamentos, ele voltou a imaginar maneiras de conquistar a atenção de Anna. Isso parecia tão fácil antes, ela apenas ficava admirada com qualquer coisa que ele fizesse… mas agora, que ela havia se acostumado com todos, e eles conviviam a tanto tempo que ela se habituou muito facilmente, isso apenas não parecia mais ser suficiente. E ele não aguentava isso.

Tomando sua decisão, Tadase se ergueu da cadeira, olhando seguramente para a mesa vazia. Kiseki, que praticamente dormia ao seu lado, se assustou.

— O que está fazendo, Tadase?

— Tem algo que preciso tentar. – ele disse rapidamente, correndo em direção à porta com determinação.

Kiseki ficou para trás, meio perdido com aquela movimentação estranha, e alguns minutos, Tadase retornou, com uma caixa de papelão escrito “fantasias do clube de teatro” na borda. Ser guardião, e ter acesso ás chaves de todas as salas tinha suas vantagens… mas Tadase não se sentia nem um pouco orgulhoso disso. Na verdade, estava arrependido desde o exato momento em que decidiu seguir aquele conselho sem fundamento, mas já era tarde, pois ele chegara longe demais.

Depois de dar uma olhada no conteúdo da caixa, Tadase voltou a sentar na cadeira, soltando o ar, completamente derrotado. Não havia maneira de ele fazer aquilo! Era muita humilhação… Mesmo que ele já tivesse feito isso em outras ocasiões, como quando Nagihiko obrigou ele e Kukai a usar o uniforme feminino, ou naquela vez em que as garotas os vestiram dessa maneira como punição por ter as espionado, em nenhuma das vezes ele fizera isso por vontade própria. Porém, ele lembrava que Anna ficara muito animada na segunda circunstância, então, ele continuava em dúvida.

— O que é tudo isso, Tadase? O que você pretende fazer? É um plano pra dominar o mundo? – Kiseki perguntou rapidamente, agitado. Tadase não estava com vontade de explicar sua teoria mirabolante sobre como conquistar uma garota usando saia, mas Kiseki não aceitava ficar sem resposta.

— É apenas… algo que me ocorreu. Nada importante… - ele suspirou. – Eu não quero conquistar o mundo todo… só uma pessoa já bastaria…

— Do que você está falando, Tadase? Você vai usar essas coisas? – Kiseki afundou no mar de tecidos e rendas, e só então percebeu que eram roupas femininas – Por que você faria tal coisa tão indigna e sem propósito, hein? Não me diga que planeja ser como aquele valete…! Que humilhação! Que disparate, Tadase! No que você estava pensando?!

— É só que… a Lewis-san parece tão mais próxima dele ultimamente… eu pensei que talvez… já que ela gosta dessas coisas…

— Você pretendia usar um vestido apenas por causa daquela garota? Tadase, você algum dia será o Rei de todo o Universo! Não precisa de algo como isso para chamar a atenção de uma simples garota!

— Às vezes eu acho que preciso sim – ele resmungou, afundando o rosto entre os braços – E ela não é uma simples garota…

— Você acha mesmo que vale a pena fazer algo tão constrangedor apenas por isso? Só por causa dela?

— Talvez… por ela, valeria a pena.

— Então tente…

— O que? – Tadase ergueu a cabeça rapidamente, pensando que tinha ouvido mal. Kiseki o encarava seriamente.

— Um Rei nunca toma decisões erradas. Se você acha que precisa fazer isso, então faça. Não deixarei que se arrependa do que não fez! Eu não irei pará-lo! Você veste qualquer uma dessas coisas, e eu vou cuidar a porta para ninguém entrar! Quando você perceber o quão ridícula é essa ideia, irá desistir de toda essa maluquice, e ninguém ficará sabendo!

— Kiseki! – Tadase exclamou, admirado. Se até mesmo Kiseki o encorajava dessa forma, Tadase se sentia muito mais confiante para ao menos tentar. Se ficasse ruim demais, ou se ele se sentisse desconfortável com isso, então desistiria, e ninguém jamais saberia da sua loucura.

Kiseki voou para a porta do Royal Garden, para montar guarda. Mesmo que não concordasse com aquela ideia – e de fato, pensava que aquilo ia contra todas as suas convicções – ainda era seu dever como Shugo Chara apoiar as vontades do seu dono, fossem elas quais fossem. E de qualquer forma, ele desistiria disso assim que se visse no espelho, e percebesse o quão ridículo pareceria dessa forma.

O pequenino já estava convicto de que nada daria errado, e que a dignidade de Tadase permaneceria perfeitamente a salvo, quando viu ao longe as garotas se aproximando. Yaya vinha à frente, pulando escandalosa, enquanto Amu tentava fazê-la parar de falar besteiras antes que Stéffanie batesse nela de novo. Rima parecia aborrecida por não poder ir para casa logo para ver seu programa de comédia, pois Anna queria passar na livraria para ver os lançamentos dos mangás. Miguel vinha mais atrás, tonto com toda aquela falação, e ainda cansado, pois passou a maior parte do tempo naquela cafeteria tentando convencer a inglesa de que ela não podia fazer um mangá yaoi com ele e Shunsuke como personagens principais. Claro que não tinha adiantado nada. A irmã da espanhola sorria calmamente, aprovando a atmosfera amigável entre as garotas.

Quando o grupo finalmente chegou à frente da porta, Kiseki já estava em desespero. Se ele entrasse para avisar Tadase, os outros entrariam também, e como ele já devia estar vestido há essa hora, todos o veriam. Se ele não fizesse nada, eles entrariam de qualquer jeito. E ele era apenas um, ainda que fosse o Rei dos Shugo Charas, não podia conter todas aquelas pessoas de uma só vez!

— Ninguém entra! – ele gritou, sobressaltando os guardiões, e até a irmã de S´teffanie, que ainda era capaz de ver Shugo Charas mesmo sendo adulta.

— Por quê? Aconteceu alguma coisa, Kiseki? – Amu interviu, preocupada.

— Tadase está sozinho aí dentro… - Rima lembrou, intrigada

— Aconteceu alguma coisa com ele? – a mente de Yaya já começou a fervilhar com ideias.

— Não, claro que não! – Kiseki ficou nervoso repentinamente. – Ele ordenou que todos os plebeus ficassem longe por hoje!!

— Ei, isso não é coisa que o Tadase diria… - Miguel estava desconfiando.

Los chicos no están tramando algo, no és? (Os meninos estão planejando alguma coisa, não é?) – Stéffanie encarou o pequeno Rei bem de perto, ameaçadoramente – Como la vez que trataron de trancar-nos en el gimnasio! (Como quando tentaram nos trancar no ginásio!)

— Não é nada disso!

— Eeeeii, Reizinho~ - Grace cantarolou – O que você está escondendo da gente, hein?

— Kusukusu~ a cara do Kiseki tá engraçada!

— Aahh, alguma coisa está estranha ~desu~

— Agora a Pepe-tan quer ver, dechu!!

Huelo algo de misterio en el aire! (Sinto o mistério no ar!)

— I'm curious too! (Eu estou curiosa também!)

Com todas as charas, e mais suas donas, falando ao mesmo tempo, Kiseki ficou tonto.

— Já chega! – ele bradou, nervoso – Só a inglesa pode entrar, ninguém mais!

Who? Me? (Quem? Eu?) – ela havia ficado quieta o tempo todo, realmente preocupada com o que havia acontecido com Tadase lá dentro, e agora estava genuinamente surpresa.

— Sim! Tem alguma outra inglesa aqui? E ande logo antes que eu mude de ideia! O resto de vocês continua aqui!!!

— Mas…

— Sem “mas”! Essas são as ordens supremas do Rei!!!!

Que pequeño más audaz! (Tão pequeno mais tão ousado!) – Rosário riu gentilmente, afagando de leve a cabecinha de Kiseki, que só ficou mais irritado com o gesto – Está bien, obedeçam el pequeño rey, que está tratando muy duro... (Tudo bem, obedeçam o Reizinho, ele está tentando com muito afinco) – ela sugeriu.

All right… then(Está certo, então…), eu devo entrar? – Anna murmurou, confusa.

— Que seja, apenas ande logo! – Kiseki já estava no seu limite.

Temerosa, Anna abriu a porta do Royal Garden lentamente, e colocou a cabeça para dentro. Olhou ao redor. Estava vazio. Ela fechou a porta e continuou andando, até ouvir alguns ruídos vindos da sala de arquivos. O seu coração bateu mais rápido, enquanto ela se aproximava do local. Bateu fracamente na porta.

— Kiseki, é você? – A voz de Tadase respondeu – Entre aqui, eu acho que preciso de ajuda…

Como ouviu que Tadase precisava de ajuda, Anna não pensou duas vezes em abrir a porta. Quando viu do que se tratava, sentiu que podia desmaiar.

Tadase estava no canto oposto da sala de arquivos, e suas roupas estavam jogadas a um canto. Ao invés do uniforme, ele trajava um vestido azul-claro, de mangas bufantes e cheio de babados brancos e armações que deixavam a saia volumosa, com várias camadas. Ainda estava de meia-calça branca, mas descalço. Na cabeça, uma fita branca fazia um grande laço bem no topo.

— P-p-prince… - Anna murmurou, incrédula, embora a palavra mais adequada nesse caso fosse ser “princesa”.

— L-l-lewis-san… - Tadase estava tão corado que parecia que sua cabeça ia explodir a qualquer segundo. – V-você n-não… ah… ahh q-que vergonha!!!! – ele correu se esconder atrás de uma das estantes, desejando que um buraco se abrisse ali mesmo e o engolisse de vez.

N-no, Prince Charming…– Anna balbuciou confusa, tentando detê-lo – You… What is happening? Why…? por que are you dressed dessa maneira?

— N-não… não era pra você ter me visto assim… - Tadase choramingou, encolhido no cantinho entre a estante e a parede, em posição fetal. – Gomenasai, Lewis-san, eu mostrei esse meu lado vergonhoso, e me arrependo tanto por ter tido essas ideias estúpidas…

What are you talking about? (Do que você está falando?) – Anna continuava sem entender. Estava começando a ficar preocupada, pois Tadase parecia prestes a chorar – Please, fique de pé...

Mesmo relutante, ele fez o que ela pedia, e ficou de pé novamente. O vestido azul se ajustou em seu corpo magro, e só então Anna pode analisá-lo de perto, e seu rosto corou furiosamente, enquanto sua boca se abria em um “o” de surpresa.

— E-eu sei que pareço um pervertido agora, e que você deve estar pensando que sou ridículo, m-mas eu posso explicar! – ele murmurou nervosamente, escondendo o máximo que pudesse do seu corpo com os braços. Recusava-se a encarar Anna diretamente, desviando o rosto em chamas para o lado oposto.

C-c-cute…

— Nani?! – ele se surpreendeu com o sussurro. Não sabia se havia entendido direito, mas Anna ainda o encarava boquiaberta, e os olhos dela brilhavam intensamente por trás dos óculos.

P-prince Charming, you are so cute!!! Oh, my god!!!! (você é tão fofo! Oh, meu Deus!) – ela balançava as mãos freneticamente, sem saber o que fazer com elas. Queria poder abraçar Tadase naquele exato segundo, mas tentava se refrear a todo custo. Ele, por sua vez, parecia ainda perdido entre constrangimento absoluto e a confusão momentânea. – W-why are you dressed like that? (Por que está vestido assim?) You... you não está assim porque… descobriu que… like other things, is not it? (gosta de outras coisas, não é?) – ela falou rápida e nervosamente. De repente, a ideia de Tadase gostar, talvez, de garotos, a assustou, mesmo que ela gostasse, e muito, de coisas assim. – I mean, I will support the prince charming in any situation! (Quero dizer, eu vou apoiar o Príncipe Encantado em qualquer situação!) – ela se apressou em dizer.

— Não! Não, não é nada disso! – Tadase negou imediatamente – E só… e-eu… - ele não sabia como explicar aquela situação inegavelmente complicada em que se encontrava. – Eu percebi que você andava nervosa por causa da visita do seu primo e tudo mais… e como você estava ficando mais próxima do Fujisaki-kun, e parecia animada por ele se vestir como garota às vezes, eu acabei pensando que… você pudesse ficar feliz também… se eu fizesse isso… m-mas isso é tão ridículo, eu estou me sentindo patético por ter uma ideia tão idiota como essa…

No, Prince Charming! You really… really (você realmente)fez isso… for me (por mim)? – ela sussurrou, sem acreditar. Tadase acenou com a cabeça, escondendo o rosto corado atrás da franja – Eu… não sei… I do not know what to think about it, but... (Eu não sei o que pensar sobre isso, mas) saber que você se importa so much to me.. (tanto comigo). – ela ergueu o rosto e sorriu sem graça – I'm really happy! (Eu estou muito feliz!)

— Mesmo, Lewis-san? – Tadase levantou os olhos, tentando sorrir mesmo com o embaraço. Anna acenou com a cabeça vigorosamente.

And… You are ... a-are so cute...(E… você é tão fofo…) – os olhos dela voltaram a brilhar, e ela fazia a mesma expressão de quando via alguma coisa sobre seus mangás favoritos. Ergueu a mão, hesitante, balançando os dedos como se quisesse alcançar alguma coisa – Can I hug you? – ela indagou num sussurrou, mordendo os lábios para conter-se melhor.

— Hug… você quer dizer… - ele pensou por um momento – A-a-abraçar? – quando a palavra finalmente fez sentido na sua mente, Tadase sobressaltou.

Yes… Is it a problem (Sim… tem problema)? – Anna recuou.

— Não, não, absolutamente não! – ele se recompôs, e então se colocou exatamente em frente dela, sem mexer nem um milímetro – Você pode… ir em frente…

Okay, so… excuse me… (Ok, então… com licença…) - ela fechou os olhos com força, ignorando as batidas altas do seu coração e a timidez, e enlaçou o corpo de Tadase com ambos os braços, num gesto que queria realizar, de fato, toda vez que o via. Tadase ofegou, sentindo o cálido toque da garota, que o apertava com toda a força que possuía, embora não fosse realmente tanta assim. – Oh… so soft and lovely… You are so beautiful dressed like that, prince charming... (Ah, tão suave e encantador… você está tão lindo vestido assim, príncipe…)– ela admitiu, com os olhos fechados e um sorriso amável no rosto. Tadase, ainda que corado até a raiz dos cabelos, retribuiu o abraço.

— Eu fico feliz que você tenha ficado feliz, Lewis-san… - ele sussurrou, sorrindo fracamente. Ao que parecia, a tal ideia sem sentido havia dado certo, de alguma maneira, e Tadase já nem se sentia mais tão incomodado assim.

Thank you… (Obrigada)- ela ergueu o rosto, sorrindo alegremente - …for doing this for me. (por fazer isso por mim) – ajeitando os óculos acima do nariz, Anna se colocou na ponta dos pés, e tomando fôlego para reunir coragem, ela depositou um singelo beijo na bochecha avermelhada de Tadase, afastando-se logo depois. Tadase arquejou.

— L-lewis-san…

— Heeeeeyyy!!!! – uma batida na porta cortou completamente o clima, e os dois saltaram para longe um do outro – Anna-tan, você está a´´í? – ela Yaya quem chamava, é claro.

— Y-yes… - Anna respondeu temerosa. Por algum motivo, não queria sair dali agora, pois se abrisse a porta, as outras veriam Tadase naquela forma, e ela não queria que isso acontecesse. Ele estava tão fofo afinal… ninguém podia ver isso! Além dela… - Ahn… something is happening, Yaya? (aconteceu alguma coisa, Yaya?)

— Sim, sim!!! Saia logo daí, você não tem tempo pra namorar! O seu primo, Anna-tan! Ele está aqui na frente da escola! Ele chegou!!!

Anna empalideceu, e olhou para Tadase como se pedisse ajuda. Ele percebeu na hora o quanto ela parecia desconfortável com isso, e tentou pensar em algo para ajudar.

— Vá indo na frente, Yuiki-san! – ele ordenou, sem ligar para o que quer que Yaya fosse pensar deles dois estarem trancados juntos na sala de arquivos – A Lewis-san já está indo! – assim que ouviram os passos rápidos da ás se afastando, Tadase se dirigiu à inglesa – Fique calma, está bem? Vai dar tudo certo.

He came early… (Ele chegou mais cedo) e sem avisar – ela murmurou, segurando com força na barra da saia de Tadase como se precisasse de apoio para se manter de pé - He always does that (Ele sempre faz isso) ... ele queria me pegar desprevenida, off guard... (de guarda baixa) – ela estremeceu, e Tadase não entendeu por que motivo ela ficaria tão nervosa com a visita de um parente - What I do, (o que eu faço)Prince?

— Vá indo na frente, para recepcioná-lo, está bem? – Tadase falou, gentilmente, acariciando de leve a cabeça da garota para acalmá-la – Eu vou… me trocar, e então irei até lá. Eu estarei do seu lado, está certo? Não fique nervosa. Tudo vai ficar bem.

A-alright, I'll go then ... (C-certo, eu vou indo, então) – ela confirmou, soltando Tadase e andando até a porta. Olhou mais uma vez para trás, e o olhar preocupado de Tadase a deu confiança. Sim, ele estaria lá, com ela… tudo ficaria bem.

Anna nem sentiu a distância que a levou até a entrada do Royal Garden, onde os guardiões estavam reunidos em um grupo, apresentando-se para o novo chegado. E lá estava ele, em pé em meio aos outros, com sua natural pose arrogante e altiva, que Anna conhecia como ninguém. Ele era pouca coisa mais baixo do que Miguel, e parecia absolutamente aborrecido por ser mantido ali, de pé, esperando. Tinha cabelos negros, iguais aos dela, mas seus olhos eram de um azul escuro e profundo. Vestia um terno completo, com um brasão entalhado do lado direito, e um colete, com a corrente de um relógio de ouro pendurado no bolso; assim que os olhos dele viram Anna se aproximando, ele soltou um som que se aproximava de um bufar impaciente, e colocou a mão na cintura, ignorando todos aqueles que falavam antes.

Anna tropeçou nas escadas, como sempre acontecia quando ela descia rápido demais por ali, e ele lançou a ela um olhar de desaprovação. Todos ficaram em silêncio, esperando para ver o que aconteceria entre eles.

How long no see, Artie... (Quanto tempo não nos vemos, Artie…) – Anna murmurou, erguendo-se e indo para perto dele. Não houveram abraços, nem mesmo apertos de mão, o garoto apenas acenou com a cabeça.

I already told you, my name is Arthur. (Eu já disse à você, meu nome é Arthur) – ele bradou com voz alta e clara, e Anna encolheu-se – Indeed, much time. But, by the way ... you stay the same. (Concordo, muito tempo. Mas, a propósito… você continua a mesma).

Ah… s-sorry…

No matter (não importa) – ele a interrompeu mais uma vez – I actually came here to take you back home. (Na verdade eu vim até aqui para levar você de volta para casa).

W-what?! (O quê?)


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Notas finais do capítulo

Kon'bawa minna-san~ Shiroyuki desu!

Tantas coisas acontecendo, o que acharam?? Bem, não sei se as aulas do Nagi resolveram muita coisa - tenho quase certeza de que não, mas parece que o Tadase arrumou o jeito perfeito de acalmar os nervos da nossa inglesa, hm? Por que o primo dela não é nada fácil de se lidar...
a próposito, temos imagens de referência!

Vestido do Tadase:
http://i1218.photobucket.com/albums/dd418/Shiroyuki_xxx/IrisWindsor6001009815.jpg


Arthur Lewis:
http://i1218.photobucket.com/albums/dd418/Shiroyuki_xxx/tumblr_m7ixslry631ry0ylso1_500.gif



Bem, gente, era isso~ espero pelos seus reviews, dizendo o que acharam do Arthur, do Tadase se travestir, das aulas de etiqueta furadas do Nagi~ tudinho!! Até a próxima com a Teffy-senpai, vocês não perdem por esperar!



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