Abriu os olhos com dificuldade, era a segunda vez na semana que dormia em cima daquela mesa, se continuasse assim acabaria dando um jeito em sua coluna. Espreguiçou-se e olhou o relógio, estava com uma vantagem de vinte minutos em relação ao seu despertador. Levantou e caminhou até o banheiro, precisava tomar um banho relaxante antes de ir para a escola, o trabalho estava acabando com a sua disposição para levantar cedo e para estudar. Mas ela tinha que dar a volta por cima, precisava fazer isso se quisesse passar na prova e conseguir uma bolsa de estudos para assim se mandar daquele lugar. Cidade pequena não era o seu forte e nunca seria, pelo menos não no momento. Ouviu alguém bater na porta de seu quarto e em seguida entrar sem ser convidado, por tamanha educação ela já sabia quem era.

- Mãe eu já vou descer! – Gritou do banheiro e ouviu a mulher resmungar para em seguida retirar-se do local. Alguns minutos depois ela saía já vestida e pronta para enfrentar aquele inferno que todos chamavam de escola, desceu as escadas com uma cara de poucos amigos e viu sua mãe sentada à mesa ao lado de seu tio e o filho dele. – O que você foi fazer no meu quarto?

- Olha o respeito, isso é jeito de falar com a sua mãe Yasmin? – Perguntou o homem moreno, quase careca, com uma barba enorme. Ela odiava aquela coisa na cara dele, mas era seu tio e a pessoa que ajudava sua mãe a pagar as contas da casa então não podia reclamar. Ele não morava ali, mas sempre aparecia para tomar café da manhã junto com o filho.

- Que seja! Só quero saber o que ela foi fazer lá. – Disse abrindo a geladeira e colocando um pouco de suco em um copo. Não iria tomar café da manhã, seu humor não estava bom e se ficasse ali ele só iria piorar.

- Yasmin fale direito com a sua mãe. – Disse o homem que agora estava de pé e fuzilava a garota com o olhar.

- Quer que eu fale como? – Disse com a voz indiferente, sempre era assim. Todas as manhãs aquele cara estava ali tentando lhe dar uma lição de moral como se fosse seu pai. – Nem minha mãe de verdade ela é! Faça-me o favor Marcos, acha que eu sou cega?

- Já chega! – A mulher que estava sentada agora mostrava sua autoridade, aproximou-se da garota e apontou a cadeira para que o homem sentasse e assim ele o fez. Virou-se para a menina a sua frente e apenas deu um beijo em sua testa antes de estender uma quantia de dinheiro para a garota que a recebeu. – Vou trabalhar durante a noite, quero que fique em casa e não saia para lugar nenhum, estarei em casa para fazer seu café, boa aula Yasmin.

- Valeu. – Dito isso saiu da casa com o semblante sério.

Yasmin Morales era uma das melhores alunas de sua escola, mas isso não era o suficiente para realizar os seus sonhos. A garota de apenas dezesseis anos, estatura mediana, cabelos loiros que iam um pouco abaixo dos ombros, olhos azuis e pele alva esperava muito mais do que apenas trabalhar naquela cidadezinha. Por isso empenhava-se dia e noite em estudar para uma importante prova que garantiria uma bolsa de estudos para uma das melhores escolas, mas existia um problema: essa escola era do outro lado do mundo. Sua mãe Manuela não gostava da ideia, mas era isso ou ver a filha desistir de estudar. Por mais que Yasmin negasse seu carinho pela mãe, no fundo ela sabia que se a mulher não tivesse a adotado ela estaria no meio da rua ou quem sabe ainda estaria esperando que alguém aparecesse para adotá-la. O dia da tão temida prova era hoje, ela tinha que conseguir pelo menos 90% de acerto para passar e ser aceita. Chegou à escola em menos de vinte minutos, dessa vez não chegara atrasada, pois havia pegado a bicicleta de um amigo emprestada. Dirigiu-se a sua sala sem falar com ninguém, não tinha muitos amigos e não se esforçava para consegui-los. Perdida em pensamentos não percebeu a hora passar e quando deu por si o diretor estava na sala comunicando que as provas seriam entregues em alguns minutos e desejando-lhes os mais sinceros votos de boa sorte ele retirou-se para que o professor pudesse organizar os alunos. Cerca de três horas depois Yasmin saia da sala com o coração na mão e todas as suas esperanças depositadas naquela prova, caminhou até a bicicleta e pôs-se a pedalar para enfim chegar a casa. Alguns alunos tentaram saber como era a prova, mas ela não estava disposta a falar nada o que não condizia com a sua personalidade falante. O dia correu normalmente para a loira, ela se limitou a poucas palavras em conversas e não saiu de casa. Todo o cansaço de dias estudando a acertava com uma força incrível e assim ela adormeceu no sofá enquanto assistia a um programa qualquer e sonhava que estava realizando os mais singelos e sinceros sonhos de adolescente.

O dia amanheceu nublado o que para Yasmin era um mau sinal. A garota tomou banho e saiu para a escola sem comer nada, usou a bicicleta de seu amigo de novo, tinha que devolver aquela coisa antes que ele pensasse que ela a havia roubado. Assim que chegou percebeu que havia algo estranho, as pessoas a olhavam de canto de olho, muitas chegavam a sair de seu caminho e as poucas que a encaravam cochichavam algo enquanto a observa. Franziu o cenho seguindo até sua sala, antes que chegasse lá foi parada pelo diretor.

- Me acompanhe senhorita Morales. – Disse fazendo um gesto para que a garota o seguisse e assim ela fez. Quando estavam em sua sala ele apontou a cadeira para que a garota sentasse, mas ela se recusou. – Preciso lhe contar algo e preciso que você sente-se para isso.

- Pode me contar enquanto estou em pé, não sou tão frágil assim. – Yasmin disse com o semblante sério.

- É sobre a sua prova. – Falou e viu a garota sentar em seguida, parece que ela não era tão firme assim. Respirou fundo para enfim prosseguir com o que tinha que dizer a garota. – A porcentagem para passar era de 90%, você acertou 95%.

- O que? – Yasmin disse surpresa, em seus olhos surgiam as primeiras lágrimas.

- Parabéns, você agora é uma aluna da melhor escola do Japão. – O diretor abriu um pequeno sorriso para a expressão de felicidade da garota, era merecido que ela passasse. – Sua mãe esteve aqui e agora eu preciso de sua assinatura para confirmar sua matricula.

- Claro que eu assino. – Disse assinando o papel que lhe fora estendido.

Conversou mais um pouco com o diretor antes de poder voltar a sua sala, mas ela estava feliz demais para prestar atenção na aula. Pela primeira vez desde que descobrira o que queria, Yasmin estava realmente feliz e sorria sem medo de que as pessoas lhe fizessem perguntas. Estava acostumada a ser estranha e não ter amigos, mas agora iria mudar de cidade, de vida e porque não encontrar um amigo ou uma amiga?