Paralelas escrita por MrNothing


Capítulo 3
Sofá




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Irineu atravessou a sala e pela primeira vez em dezesseis anos, treze meses e quarenta dias, olhou para aquele sofá. Sua expressão levemente confusa, trazendo uma cor escura da pele que se apresentava oleosa, encarava o revestimento azul amarelado, com várias manchas pelo estofado, como a mancha da esquerda inferior, onde normalmente sua tia senta quando vem visitá-lo, que se criou quando o seu pai derramou gordura quente enquanto devorava um espeto bem graúdo de picanha. Mas não era simplesmente a idéia de haver um sofá ali que o intrigava na sua posição curvada em oitenta e nove graus para frente com as mãos no bolso, mas aquele sofá que se encontrava a exatos dois metros e trinta e sete centímetros de distância o entristeceu levemente, causando uma rápida aglomeração de água no canto direito do seu olho esquerdo, ao lembrar que possivelmente aquele algodão que servia de preenchimento em noventa e seis por cento do estofado teria sido plantado por famílias pobres na china. Ele teve pena daqueles indianos que levantariam cedo do dia para meter as mãos magras da fome que os atormentam desde o inicio da vida, que se pensar bem seria uma vida já marcada para sofrer. Talvez Irino quisesse alisá-lo ali mesmo, naquele milissegundo que a idéia passou pela cabeça, porque o sofá estava gentil com ele, não se movera desde que Irinelson chegara a sala e ficara estancado. Mas o que o sofá pensava era o porquê ainda não haviam limpado as manchas presentes na cobertura dele, pois aquela mancha da direita que eu havia citado não foi a única, teve outra também na esquerda inferior que seu cachorro Glausco subiu e mijou, e só a lembrança desse dia o sofá já sentiu arrepios, e Irano percebeu isso quando olhou horizontalmente em uma estimativa de dois com margem de erro de cinco em um plano cartesiano partindo dele como o ponto zero. Mas mesmo nesse rápido raciocínio desde que entrou Eliseu não conseguiu se sentir satisfeito em ficar encarando o sofá, e contraindo os músculos da face sorriu para aquele móvel imóvel da casa. O sorriso de um formato de concha com curvatura de vinte graus para cima, demonstrou o interesse de Alexandre em passar adiante aquelas memórias trocadas entre os dois, memórias que levavam o peso dos sentimentos, peso semelhante a uma vaca prenha que foge do seu marido para dar a luz aos cabritos recém-nascidos, mas certamente essa vaca não conseguiria fugir de Alisson porque ele encarava o sofá tão certeiro que nem o leitor conseguiria imaginar. Porém ficaria feliz se tentasse tal imaginação visto que só ela é capaz de entrar no coração da nossa personagem que vive tão experiência agora e que certamente esse momento a marcaria pelo resto da sua vida. E poderia deixar esquecido para vocês o fato de o sofá ter grandes curvaturas nas suas bordas, mas nunca lhes omitiria tais detalhes porque o que dá a atração a pessoa que deseja sentar é o quanto o sofá é curvado para ela, e esse sofá era totalmente curvado para ele. Lucas não admitiria que já teria passado cinco segundos parado em frente o sofá para pagar esse mico, pois ninguém em sã consciência sequer fica em pé em frente a um sofá vazio enquanto você pode sentar. E pensando nisso foi tomado pela idéia de que alguém da sua família poderia entrar na sala em uma velocidade constante e se deparar com o sofá vazio, e certamente esse alguém independente de atarefado se sentaria para tirar o prazer daquele ilustre sofá. O sofá se sentido glamoroso deixou-se rosar por completo e Anastácio sentiu que estava cometendo um grave erro naquele momento. O que será que aqueles angolanos pensariam dele tendo que passar por tanto trabalho plantando algodão para o ser humano gastar mais de sete segundos olhando para o sofá. E se sentindo obrigava a revisar esses pensamentos para botar de vez na cabeça que era um pecador, Oliver levanta oito centímetros o pé para avançar em direção a tentação. E depois de dez segundos perdidos nessas longas lembranças, João se senta.


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