Quanto Tudo Começou A Mudar. escrita por Lina Pond


Capítulo 6
Você pode, só por um segundo, me deixar te beijar?




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 Só soltamos nossas mãos quando entramos no carro da minha mãe. O clima ficou tenso e eu aumentei a temperatura do carro, porque sabia que Aaron estava com frio.

Passamos uns dez minutos sem conversar, enquanto ele olhava pela janela, pensativo.

- Então – eu disse diminuindo a velocidade do carro – Você está bem?

- Sim – ele respondeu e voltou a olhar para a estrada.

Coloquei a mão na marcha e só então ele escorregou sua mão e a colocou sobre a minha. A mão dele era tão gelada, tão diferente da minha. Era como se ele passasse frio 24 horas por dia. Eu me senti um pouco em Crepúsculo pensando assim.

- Sabe – Aaron finalmente estava falando – Eu não sei se quero morar naquele campus.

- Eu não acho que você tem escolha.

- Eu podia – ele disse, finalmente olhando pra mim – Tirar um ano de folga. Trancar minha matrícula e só fazer faculdade quando...

- Quando eu começar a faculdade? – engoli seco.

- Não – ele disse, sério – Quer dizer, não é como se eu estivesse seguindo você e tal.

- É claro que não.

- É só que... Eu acho que quero um tempo para conhecer esse mundo novo.

- Você está em uma cidade que sequer existe no mapa. Eu admiro sua vontade de querer se aventurar, mas não tem nada de bom aqui.

- Tem você – ele disse de cabeça baixa.

- Aaron... – respirei fundo – Você sabe que eu tenho escola, certo? Por mais que você esteja sempre por perto, eu não vou estar. Então é uma boa ideia você ter algum hobbie além de sair comigo.

- Ai – ele disse fazendo careta.

- Não faz isso.

- Tudo bem – ele entrelaçou as mãos sobre o colo – Se você não quer minha companhia é só dizer “Aaron você é chato, sai daqui!”.

- Nossa – eu sorri – isso seria duro.

- E você sempre pensa no bem ao próximo certo?

- Certo – eu disse, pressionando minhas mãos com força no volante. – Aaron?

- Sim? – ele olhou pra mim, aqueles olhos verdes me medindo, esperando por um pedacinho de esperança.

- Você podia arranjar um emprego.

Ele engoliu seco.

- Um emprego? – Aaron estava meio pálido.

- Você sabe o que é isso, certo?

- Claro que eu sei – ele soou ríspido – Desculpa.

- Tudo bem – respondi, focando na estrada.

- É só que... Eu nunca trabalhei.

- O que? – minha cara de surpresa quase refletia na sua de vergonha.

- Você já?

- Eu trabalho o ano inteiro – respondi – Eu estou de férias agora.

- No que você trabalha?

- Na creche. Com um bando de crianças choronas, sabe? Eu amo.

- Você tá sendo irônica – ele disse, sorrindo.

- Na verdade não. Eu realmente gosto deles.

- Ok e no que eu poderia trabalhar?

- Você poderia trabalhar no Mavericks? Sorvete de graça pra mim, uhu!

- Ah é claro, sua interesseira – ele disse colocando a mão no meu ombro. É ridículo como eu noto cada detalhe.

- Ou você poderia... Não, é uma péssima ideia.

- Não – ele disse, rindo – Me fala.

- Você podia trabalhar na carpintaria do meu pai.

Ele parecia chocado.

- Quer saber – falei, sem graça – Esquece. Não é como se eu estivesse empurrando você para conhecer meus pais. Quer dizer isso é doentio. Você não precisa. A gente não... Ai o que eu to fazendo... Quer saber, esquece que eu disse isso. Nós podemos procurar outro emprego e...

- Para o carro – Aaron me interrompeu, mais sério que o normal.

Será que eu tinha feito uma burrada tão grande assim?

Estacionei o carro em um canto qualquer e me virei para ele. Ele segurou meu rosto e me puxou para ele... E então me beijou. Será que ele estava vendo se eu valia a pena? Quer dizer, se eu beijasse super bem, talvez ele se interessasse em conhecer meu pai.

- Você está viajando, não está? – eu nem tinha notado que ele já tinha me soltado.

- O que? Não... Quer dizer...

- Você pode, só por um segundo, me deixar te beijar?

- Oh! – eu exclamei um ‘oh’ mesmo. Meu Deus, que vergonha – Me desculpa. Eu só estava...

- Eu sei – ele disse e se aproximou novamente. E eu deixei minha mente vaguear dessa vez. E foi muito melhor. Melhor até que o primeiro (que, não contem para ninguém, tinha sido o melhor da minha vida).

Quando nos afastamos, nós dois estávamos sorrindo.

- O que foi isso? – eu disse tentando controlar meu sorriso.

- Eu quero trabalhar com seu pai. Eu quero conquistar ele. Mais do que eu quero conquistar você.

- Você é louco – eu disse, lhe dando outro beijo.

Nós conversamos o caminho inteiro sobre os dons da carpintaria. Eu sabia que ele não ligava para aquilo, mas ele continuava acenando com a cabeça e sorrindo e fazendo piadas que não faziam sentido nenhum e meu coração ia amolecendo cada vez mais.

Quando chegamos até sua casa, nossas barrigas já doíam do quanto nós rimos.

- Boa noite – eu disse, olhando para frente.

- Isso é ridículo – ele disse rindo e eu olhei para ele – A garota me deixando em casa.

- É, eu não ia falar nada mas...

- Eu vou aprender a dirigir. – ele disse, sério.

- Eu posso te ensinar.

- É, nós podemos conversar sobre isso – ele disse, me roubou um beijo e saiu do carro.

Abri o vidro e berrei:

- Você está insinuando que eu sou uma má motorista Aaron?

- Jamais – ele disse, mordendo os lábios – Nós só quase morremos três vezes hoje.

Dei partida no carro e o vi entrar em casa pelo retrovisor. Aumentei o rádio e dirigi os poucos quilômetros até minha casa cintilante. Juro que dancei um pouco enquanto dirigia. Meu Deus, talvez eu seja mesmo terrível.

Estacionei o carro da minha mãe na garagem e desliguei o som. Puxei minha bolsa e sai na ponta dos pés. Entrei pela porta do fundo, pronta para evitar meu pai. Quando passei pelo corredor, vi a luz da sala ligada e segui para lá.

O rosto da minha mãe estava vermelho e meu pai estava sério:

- Emma, nós precisamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Primeiro, me desculpem pelo pequeno sumiço. Esse final de semana foi louco, mas cá estou. Eu amei escrever esse capítulo. Ah e a surpresa ruim já vem no próximo, espero que vocês não se decepcionem. Beijos!