Quanto Tudo Começou A Mudar. escrita por Lina Pond
Só soltamos nossas mãos quando entramos no carro da minha mãe. O clima ficou tenso e eu aumentei a temperatura do carro, porque sabia que Aaron estava com frio.
Passamos uns dez minutos sem conversar, enquanto ele olhava pela janela, pensativo.
- Então – eu disse diminuindo a velocidade do carro – Você está bem?
- Sim – ele respondeu e voltou a olhar para a estrada.
Coloquei a mão na marcha e só então ele escorregou sua mão e a colocou sobre a minha. A mão dele era tão gelada, tão diferente da minha. Era como se ele passasse frio 24 horas por dia. Eu me senti um pouco em Crepúsculo pensando assim.
- Sabe – Aaron finalmente estava falando – Eu não sei se quero morar naquele campus.
- Eu não acho que você tem escolha.
- Eu podia – ele disse, finalmente olhando pra mim – Tirar um ano de folga. Trancar minha matrícula e só fazer faculdade quando...
- Quando eu começar a faculdade? – engoli seco.
- Não – ele disse, sério – Quer dizer, não é como se eu estivesse seguindo você e tal.
- É claro que não.
- É só que... Eu acho que quero um tempo para conhecer esse mundo novo.
- Você está em uma cidade que sequer existe no mapa. Eu admiro sua vontade de querer se aventurar, mas não tem nada de bom aqui.
- Tem você – ele disse de cabeça baixa.
- Aaron... – respirei fundo – Você sabe que eu tenho escola, certo? Por mais que você esteja sempre por perto, eu não vou estar. Então é uma boa ideia você ter algum hobbie além de sair comigo.
- Ai – ele disse fazendo careta.
- Não faz isso.
- Tudo bem – ele entrelaçou as mãos sobre o colo – Se você não quer minha companhia é só dizer “Aaron você é chato, sai daqui!”.
- Nossa – eu sorri – isso seria duro.
- E você sempre pensa no bem ao próximo certo?
- Certo – eu disse, pressionando minhas mãos com força no volante. – Aaron?
- Sim? – ele olhou pra mim, aqueles olhos verdes me medindo, esperando por um pedacinho de esperança.
- Você podia arranjar um emprego.
Ele engoliu seco.
- Um emprego? – Aaron estava meio pálido.
- Você sabe o que é isso, certo?
- Claro que eu sei – ele soou ríspido – Desculpa.
- Tudo bem – respondi, focando na estrada.
- É só que... Eu nunca trabalhei.
- O que? – minha cara de surpresa quase refletia na sua de vergonha.
- Você já?
- Eu trabalho o ano inteiro – respondi – Eu estou de férias agora.
- No que você trabalha?
- Na creche. Com um bando de crianças choronas, sabe? Eu amo.
- Você tá sendo irônica – ele disse, sorrindo.
- Na verdade não. Eu realmente gosto deles.
- Ok e no que eu poderia trabalhar?
- Você poderia trabalhar no Mavericks? Sorvete de graça pra mim, uhu!
- Ah é claro, sua interesseira – ele disse colocando a mão no meu ombro. É ridículo como eu noto cada detalhe.
- Ou você poderia... Não, é uma péssima ideia.
- Não – ele disse, rindo – Me fala.
- Você podia trabalhar na carpintaria do meu pai.
Ele parecia chocado.
- Quer saber – falei, sem graça – Esquece. Não é como se eu estivesse empurrando você para conhecer meus pais. Quer dizer isso é doentio. Você não precisa. A gente não... Ai o que eu to fazendo... Quer saber, esquece que eu disse isso. Nós podemos procurar outro emprego e...
- Para o carro – Aaron me interrompeu, mais sério que o normal.
Será que eu tinha feito uma burrada tão grande assim?
Estacionei o carro em um canto qualquer e me virei para ele. Ele segurou meu rosto e me puxou para ele... E então me beijou. Será que ele estava vendo se eu valia a pena? Quer dizer, se eu beijasse super bem, talvez ele se interessasse em conhecer meu pai.
- Você está viajando, não está? – eu nem tinha notado que ele já tinha me soltado.
- O que? Não... Quer dizer...
- Você pode, só por um segundo, me deixar te beijar?
- Oh! – eu exclamei um ‘oh’ mesmo. Meu Deus, que vergonha – Me desculpa. Eu só estava...
- Eu sei – ele disse e se aproximou novamente. E eu deixei minha mente vaguear dessa vez. E foi muito melhor. Melhor até que o primeiro (que, não contem para ninguém, tinha sido o melhor da minha vida).
Quando nos afastamos, nós dois estávamos sorrindo.
- O que foi isso? – eu disse tentando controlar meu sorriso.
- Eu quero trabalhar com seu pai. Eu quero conquistar ele. Mais do que eu quero conquistar você.
- Você é louco – eu disse, lhe dando outro beijo.
Nós conversamos o caminho inteiro sobre os dons da carpintaria. Eu sabia que ele não ligava para aquilo, mas ele continuava acenando com a cabeça e sorrindo e fazendo piadas que não faziam sentido nenhum e meu coração ia amolecendo cada vez mais.
Quando chegamos até sua casa, nossas barrigas já doíam do quanto nós rimos.
- Boa noite – eu disse, olhando para frente.
- Isso é ridículo – ele disse rindo e eu olhei para ele – A garota me deixando em casa.
- É, eu não ia falar nada mas...
- Eu vou aprender a dirigir. – ele disse, sério.
- Eu posso te ensinar.
- É, nós podemos conversar sobre isso – ele disse, me roubou um beijo e saiu do carro.
Abri o vidro e berrei:
- Você está insinuando que eu sou uma má motorista Aaron?
- Jamais – ele disse, mordendo os lábios – Nós só quase morremos três vezes hoje.
Dei partida no carro e o vi entrar em casa pelo retrovisor. Aumentei o rádio e dirigi os poucos quilômetros até minha casa cintilante. Juro que dancei um pouco enquanto dirigia. Meu Deus, talvez eu seja mesmo terrível.
Estacionei o carro da minha mãe na garagem e desliguei o som. Puxei minha bolsa e sai na ponta dos pés. Entrei pela porta do fundo, pronta para evitar meu pai. Quando passei pelo corredor, vi a luz da sala ligada e segui para lá.
O rosto da minha mãe estava vermelho e meu pai estava sério:
- Emma, nós precisamos conversar.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Primeiro, me desculpem pelo pequeno sumiço. Esse final de semana foi louco, mas cá estou. Eu amei escrever esse capítulo. Ah e a surpresa ruim já vem no próximo, espero que vocês não se decepcionem. Beijos!