Quanto Tudo Começou A Mudar. escrita por Lina Pond


Capítulo 7
Eu não posso te contar tudo.




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Senti meu corpo estremecer e me sentei no sofá. O que eu tinha feito de errado?

- Mãe? – fui em sua direção o que a fez desabar em lágrimas.

- Emma...

- Pai – agora eu estava chorando – O que está acontecendo?

Ele se sentou do meu lado e segurou minha mão.

- Lizzie... – meu corpo inteiro gelou. Senti toda minha pressão escorrer pra fora de mim só de ouvir o nome dela e tenho certeza que fiquei pálida – Lizzie nos contou hoje que... Que dormiu com alguém. Sem ela querer.

- Sem ela querer? – engoli seco.

- Emma, alguém abusou da sua irmã.

Perdi o chão. Não existia mais nada. Todo aquele dia incrível tinha acabado de fugir pelos meus dedos.

- Onde ela está? – eu disse, meus lábios tremendo.

- Emma – meu pai tentava me acalmar

- ONDE ELA ESTÁ? – gritei, ainda segurando a mão da minha mãe.

- No quarto dela – ele abaixou a cabeça.

Subi correndo, como se um clarão me guiasse. Eu não via nada. Esbarrei em um vaso, mas não senti nada. Minto, senti algo quente. Meu braço devia estar sangrando. Eu não ligava. Abri a porta com tanta força que assustei Lizzie. Ela estava encolhida na cama, lendo um folheto sobre abuso sexual. Seus olhos marejaram quando ela me viu, em prantos, sangrando, tão descabelada quanto suas bonecas.

Corri em sua direção e a segurei em meus braços. O sangue manchava minha jaqueta, mas eu não ligava. Ela estava segura em meus braços. E eu a apertava com tanta força que provavelmente a estava machucando. Quando ela finalmente conseguiu se livrar de mim, pude ver como seus olhos estavam inchados.

- Quem foi? – eu disse, rangendo os dentes.

- Emma...

- Elizabeth, me diz quem foi.

- Eu o amo. – ela sussurrou e meu mundo desabou.

- Você o ama? O CARAMBA! – Agora eu entendia a seriedade do meu pai. Ela tinha sido estuprada e sequer se importava em ser defendida.

- Eu não queria isso, mas... Não foi culpa dele. Nós dois...

- Quem é?

- Eu não vou te contar, inferno! – ela tremia e pela primeira vez eu notei que ela tinha parado de pintar as unhas de rosa. E isso doeu muito.

- Você vai nos matar Lizzie. Esse garoto, ele abusou de você...

- Ele me ama – ela gritou.

- Eu amo você – sussurrei – a mamãe, o papai. Não esse garoto.

- Você não sabe de nada. Você nunca se apaixonou. Você – ela estava sorrindo – Você não entende. Ele me escutava. Sobre tudo.

- Eu não te escuto? – eu estava tão chocada, eu sentia as lágrimas fugindo de mim.

- Você é minha irmã mais velha, droga! – ela parecia cansada – Eu não posso te contar tudo.

Me sentei no cama, orando para que eu acordasse e tudo aquilo fosse um sonho. Eu não me importava que Aaron fosse parte do sonho, se isso que está acontecendo agora, também não fosse real.

- Lizzie – entrelacei minhas duas mãos pra ver se conseguia parar de tremer – Ele... Ele se cuidou?

Cuspi as palavras. Saber que sua irmãzinha foi obrigada a fazer sexo era uma coisa. Mas fazia meses que Lizzie tinha se tornada uma moça e era assustador demais pensar o que... o quão grande aquela situação podia se tornar.

Lizzie começou a chorar e eu tive minha resposta. A puxei para meu colo e acariciei seu cabelo até ela dormir. Então me deitei ao seu lado e dormi também.

Acordei com um gosto amargo na boca. Sentei-me e tirei com força demais os fios de cabelo que atrapalhavam minha visão. Arranquei minha jaqueta manchada e vi o sangue seco em um corte não muito importante. Me levantei e me enfiei no chuveiro, de roupa e tudo. Deixei a água me lavar e por alguns segundos e sorri. Então escorreguei na banheira e me enrolei. Apertei meus joelhos e chorei tudo que tinha para chorar. Solucei por pelo menos meia hora. Só então sai e coloquei meu roupão. A dor finalmente estava começando a incomodar quando desci as escadas. Minha mãe estava sentada na sala, lendo uma revista. Me sentei ao seu lado e levantei minha manga.

- Meu Deus Emma – ela jogou a revista longe – Como você fez isso?

- Longa história mãe. Você acha que pode fazer um curativo ou algo?

- Eu vou pegar as coisas.

Ela se levantou para ir em direção à cozinha, quando eu a interrompi.

- Mãe?

- Sim amor?

- Cadê a Lizzie?

- Foi com seu pai até a delegacia. Ela não quer contar quem é o namorado secreto, ele acha que pressão pode resolver.

- Não vai – eu disse, olhando para longe – Ela é igual a ele. Não vai desistir do que sente.

- Você acha que ela o ama? De verdade?

Respirei fundo e contei até três. Não queria falar o que era impossível guardar:

- Ela não teria feito o que fez se o não amasse.

- Não amor – minha mãe sorria agora. Um sorriso pequeno e desafiador – Na idade dela a gente pensa que é amor. Só vê aquilo, nada em volta. Na sua idade é amor. Quando ao invés das coisas em volta perderem o foco, elas voltam a brilhar. Eu sei que logo você vai sentir isso.

Coloquei a mão no meu machucado só para sentir arder e ver se eu estava realmente acordada.

- Não sei se eu quero mais sentir isso mãe. Se eu estivesse por perto...

- Emma – minha mãe disse com a voz rígida – Não foi sua culpa. Nem minha, nem do seu pai. Nem da Lizzie a culpa foi. O verdadeiro culpado está por ai sendo um bastardo ridículo, conquistando garotinhas.

- Bastardo – eu ri – Você está assistindo muito Game of Thrones.

- Vou buscar os curativos. Se comporte.

Deitei no sofá e puxei meu celular. Tinha recebido uma mensagem de Aaron, algo sobre nós irmos a um parque de diversão hoje.

“Não posso. Problemas em casa. Depois conversamos.”

Meu coração doeu. Eu não queria ser dura, Na verdade, eu queria ir ver o pôr-do-sol hoje. Com Aaron. Mas eu podia fazer isso sozinha.


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Notas finais do capítulo

Esse foi um capítulo muito difícil de escrever, primeiro porque eu não tenho irmã mais nova, segundo porque era um assunto, digamos complicado. Eu me baseei muito no filme "Confiar" que é muito bom e trata sobre esse assunto de por mais que a garota aceite fazer sexo com a pessoa, se ela se sente pressionada a fazer isso, é estupro. Enfim, as coisas vão ficar um pouco mais complicadas agora. Beijos!