Quanto Tudo Começou A Mudar. escrita por Lina Pond
- Mãe?
Minha mãe estava deitada na espaçosa cama de casal. Meu pai já tinha saído para trabalhar.
- Emma? – ela disse sonolenta – Está tudo bem?
- Sim, sim. Eu só... Preciso fazer uma coisa.
Ela se virou em minha direção. Minha mãe era linda. Tinha cabelos idênticos aos meus e um rosto feliz. Mesmo com as rugas, ela continuava uma das mulheres mais bonitas da cidade e apesar de recatada, dava trabalho para o meu pai.
- O que foi Emma? Você está me assustando.
Corri até a cama e me deitei ao lado dela.
- Você me empresta seu carro? – sorri, tentei parecer o mais amigável possível.
- Para?
- Ok, eu vou te contar. É que o Aaron... – eu odiava mentir para minha mãe – Precisa de uma carona para buscar umas coisas em uma tia, que mora perto. Mas não dá para trazer as coisas andando sabe? Nós vamos como amigos, claro.
- É claro – Minha mãe repetiu, sorrindo. – Tudo bem, mas esteja em casa para o jantar.
- Eu te amo – eu disse lhe dando um beijo na bochecha, pegando a chave e indo para a garagem.
Eu estava de pantufas, mas tinha colocado um par de sapatilhas na bolsa. Prendi meu cabelo em um coque e passei brilho labial. Apesar de não ser um projeto de Mariana, eu até estava bem para quem quase não dormiu.
Cheguei à casa do Aaron as sete e vinte e um. Eu era péssima com pontualidade.
Ele abriu a porta e eu dei um sorriso tímido.
- Estou atrasada, desculpa!
- O carro é seu, eu que devia encontrar um serviço de táxi vinte e quatro horas.
- Táxi? Em Long Live? Você é mesmo um sonhador.
Dei a partida no carro e passamos a maior parte da viagem discutindo nossos gostos musicais completamente diferentes. Eu tinha o direito de ser mulherzinha em relação à música, mas Aaron achava que eu devia dar uma chance para o rock. NÃO!
- Nem toda música de rock é só feita de gritos!
- Eu sei – respondi, prestando mais atenção no caminho do que normalmente – Você pretende ficar voltando para a casa dos seus pais todo final de semana? Quer dizer, sem um carro?
- Eu estou pensando em comprar uma moto.
- Hm! – Eu acho que isso pareceu um rosnado.
- O que foi? – ele perguntou, preocupado.
- É que você pode sair da cidade grande, mas a cidade grande não sai de você.
- Você acha que seu pai não me deixaria sair com você, se eu , você sabe, tivesse uma moto?
- Ele não me deixaria sair com você se soubesse a sua idade. A moto seria só a desculpa.
Quase passamos da faculdade. Entramos no campus e eu procurei um lugar para estacionar.
- E então – parei o carro e olhei para Aaron – Pronto?
- Pronto – ele disse e suspirou.
Coloquei minhas sapatilhas e desci do carro. Estava com uma blusa de lã comprida, porque sabia que o lugar da faculdade era normalmente frio. Mas Aaron não parecia saber disso.
- Parece que dessa vez sou eu que vou ter que te emprestar a jaqueta.
Ele riu, mas continuava tenso. Caminhamos pelo campus, que era bonito, mas simples. Eu não entendia porque alguém da cidade grande ia querer vir cursar faculdade aqui. E o pior é que a faculdade de Long Live era super complicada de entrar. Então burro ele não era.
Subimos o elevador e entramos no que futuramente seria o quarto dele. Era pequeno e ele teria que dividir com alguém, mas parecia confortável. Sentei na cama.
- É... Fofo!
- É terrível – ele disse, se sentando ao meu lado.
- Não exagera. Você pode ser bem... feliz aqui.
- É um pouco longe de casa né? – ele parecia triste.
- Depende de onde você considera sua casa.
- É um pouco longe de você Emma. Quer dizer, você é a única pessoa, além do bêbado do Mark, que é legal comigo.
- Mas você está em um lugar cheio de pessoas da sua idade. Você vai fazer amigos.
- É...
- Qual é Aaron... Você não pode julgar um quarto, uma faculdade, uma cidade por só ter conhecido metade dela.
Ele estava segurando minha mão. Por que ele estava segurando minha mão?
- Sabe, existe um motivo para eu ter voltado pra cá. E tudo parece difícil agora.
- Mudanças são difíceis – Eu não sei de onde encontrei alguma sabedoria sobre mudanças, já que passei minha vida inteira naquele interior – mas junto com elas, nós ganhamos experiências. E nada nessa vida pode ser mais gostoso do que colecionar amigos ao redor do mundo, sentir saudade e poder voltar, abraçar alguém que você não vê há muito tempo ou carregar consigo aqueles que você sabe que não conseguiria deixar.
- Meu Deus – Aaron estava sorrindo de orelha a orelha.
- O que foi? – perguntei, um pouco assustada.
- Eu já posso te beijar no segundo encontro?
E eu sorri.
E ele se aproximou tão devagar, que eu pensei que nunca ia acontecer. Ele entrelaçou seus dedos no meu e com a outra mão, segurou meu rosto. Eu não me lembro de ter beijado qualquer outra pessoa e gostado, como gostei daquela vez. Não foi babada, exagerado ou sexy. Foi incrível. Ele encostou seus lábios nos meus e manteve suas mãos entrelaçadas na minha. Ele não enfiou a língua na minha boca como um adolescente cheio de hormônios. Foi tudo calmo, com pausas para que nós dois pudéssemos respirar e sorrir. Nós nos beijamos três vezes. E então ele beijou minha testa e segurou minha mão. Saímos do quarto e só então eu comecei a imaginar que se me apaixonasse, ele ia estar sempre a quilômetros de distância e meu coração doeu.
***
- Então...
Nós dois estávamos sentados em um banco no meio do campus comendo o Mcdonalds (que ele pagou) e tomando um refrigerante tão gelado, que me dava calafrios.
- Você já notou que você fala muito “então”? – falei, rindo.
- Vou colocar isso na lista de coisas que tenho que mudar antes da faculdade.
- Ah – fiz um bico – Por quê? Eu gosto.
- Então vai para a lista de coisas que eu nunca vou mudar.
Nós rimos.
- Vamos jogar um jogo – ele disse, animado.
- Nananinanão. Eu estou comendo agora.
- Eu não vou te fazer correr. – ele disse, jogando o pacote do seu lanche na lixeira. – É o jogo das perguntas. Nós dois fazemos perguntas, e o outro responde.
- Eu tenho o direito de não responder? – Perguntei e dei outro gole no refrigerante.
- É claro – Aaron respondeu.
- Ok.
- Eu começo. Com quantos anos você deu seu primeiro beijo? – ele parecia tão sério que me assustava.
- Nossa, já começamos assim? Hm, 13. Minha vez. Quantos relacionamentos de verdade você já teve?
- Ai – ele disse rindo – Você é boa nisso. Um. E você?
- Nenhum – eu disse rindo – Venci.
- Nota-se que você é competitiva – ele disse, mas eu podia ver seus olhos brilharem. Será que ele achava que ele ia ser meu primeiro relacionamento sério?
- Só um pouquinho – eu sorri.
- Seu pai –ele assumiu um tom negativo na voz – O que ele vai achar de mim?
- Por que você liga para o que meu pai vai achar.
- “Por que você liga para o que meu pai vai achar” – ele repetiu fazendo uma voz sonsa – Porque eu realmente quero que ele goste de mim.
- Meu pai gosta de todo mundo.
- Duvido que ele vá gostar do rapaz interessado na sua menininha.
- Oh, tem algum rapaz interessado em sua menininha? – eu disse, sorrindo.
- Oh, talvez.
Eu terminei meu lanche e joguei o copo de coca no lixo.
Nos levantamos e ele segurou minha mão. SEGUROU MINHA MÃO. ASSIM DO NADA. NO MEIO DO CAMPUS. Eu estava derretendo.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Compensei o último capítulo hein? Além de grande, esse capítulo tem beijo UHUU. Agora me digam, o que vocês acham do Aaron fazendo faculdade hein? Quer dizer, o grande problema é ficar longe de vocês-sabem-quem.
Estou amando as reviews de vocês, beijos ♥