Quanto Tudo Começou A Mudar. escrita por Lina Pond


Capítulo 5
Eu já posso te beijar no segundo encontro?




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- Mãe?

Minha mãe estava deitada na espaçosa cama de casal. Meu pai já tinha saído para trabalhar.

- Emma? – ela disse sonolenta – Está tudo bem?

- Sim, sim. Eu só... Preciso fazer uma coisa.

Ela se virou em minha direção. Minha mãe era linda. Tinha cabelos idênticos aos meus e um rosto feliz. Mesmo com as rugas, ela continuava uma das mulheres mais bonitas da cidade e apesar de recatada, dava trabalho para o meu pai.

- O que foi Emma? Você está me assustando.

Corri até a cama e me deitei ao lado dela.

- Você me empresta seu carro? – sorri, tentei parecer o mais amigável possível.

- Para?

- Ok, eu vou te contar. É que o Aaron... – eu odiava mentir para minha mãe – Precisa de uma carona para buscar umas coisas em uma tia, que mora perto. Mas não dá para trazer as coisas andando sabe? Nós vamos como amigos, claro.

- É claro – Minha mãe repetiu, sorrindo. – Tudo bem, mas esteja em casa para o jantar.

- Eu te amo – eu disse lhe dando um beijo na bochecha, pegando a chave e indo para a garagem.

Eu estava de pantufas, mas tinha colocado um par de sapatilhas na bolsa. Prendi meu cabelo em um coque e passei brilho labial. Apesar de não ser um projeto de Mariana, eu até estava bem para quem quase não dormiu.

Cheguei à casa do Aaron as sete e vinte e um. Eu era péssima com pontualidade.

Ele abriu a porta e eu dei um sorriso tímido.

- Estou atrasada, desculpa!

- O carro é seu, eu que devia encontrar um serviço de táxi vinte e quatro horas.

- Táxi? Em Long Live? Você é mesmo um sonhador.

Dei a partida no carro e passamos a maior parte da viagem discutindo nossos gostos musicais completamente diferentes. Eu tinha o direito de ser mulherzinha em relação à música, mas Aaron achava que eu devia dar uma chance para o rock. NÃO!

- Nem toda música de rock é só feita de gritos!

- Eu sei – respondi, prestando mais atenção no caminho do que normalmente – Você pretende ficar voltando para a casa dos seus pais todo final de semana? Quer dizer, sem um carro?

- Eu estou pensando em comprar uma moto.

- Hm! – Eu acho que isso pareceu um rosnado.

- O que foi? – ele perguntou, preocupado.

- É que você pode sair da cidade grande, mas a cidade grande não sai de você.

- Você acha que seu pai não me deixaria sair com você, se eu , você sabe, tivesse uma moto?

- Ele não me deixaria sair com você se soubesse a sua idade. A moto seria só a desculpa.

Quase passamos da faculdade. Entramos no campus e eu procurei um lugar para estacionar.

- E então – parei o carro e olhei para Aaron – Pronto?

- Pronto – ele disse e suspirou.

Coloquei minhas sapatilhas e desci do carro. Estava com uma blusa de lã comprida, porque sabia que o lugar da faculdade era normalmente frio. Mas Aaron não parecia saber disso.

- Parece que dessa vez sou eu que vou ter que te emprestar a jaqueta.

Ele riu, mas continuava tenso. Caminhamos pelo campus, que era bonito, mas simples. Eu não entendia porque alguém da cidade grande ia querer vir cursar faculdade aqui. E o pior é que a faculdade de Long Live era super complicada de entrar. Então burro ele não era.

Subimos o elevador e entramos no que futuramente seria o quarto dele. Era pequeno e ele teria que dividir com alguém, mas parecia confortável. Sentei na cama.

- É... Fofo!

- É terrível – ele disse, se sentando ao meu lado.

- Não exagera. Você pode ser bem... feliz aqui.

- É um pouco longe de casa né? – ele parecia triste.

- Depende de onde você considera sua casa.

- É um pouco longe de você Emma. Quer dizer, você é a única pessoa, além do bêbado do Mark, que é legal comigo.

- Mas você está em um lugar cheio de pessoas da sua idade. Você vai fazer amigos.

- É...

- Qual é Aaron... Você não pode julgar um quarto, uma faculdade, uma cidade por só ter conhecido metade dela.

Ele estava segurando minha mão. Por que ele estava segurando minha mão?

- Sabe, existe um motivo para eu ter voltado pra cá. E tudo parece difícil agora.

- Mudanças são difíceis – Eu não sei de onde encontrei alguma sabedoria sobre mudanças, já que passei minha vida inteira naquele interior – mas junto com elas, nós ganhamos experiências. E nada nessa vida pode ser mais gostoso do que colecionar amigos ao redor do mundo, sentir saudade e poder voltar, abraçar alguém que você não vê há muito tempo ou carregar consigo aqueles que você sabe que não conseguiria deixar.

- Meu Deus – Aaron estava sorrindo de orelha a orelha.

- O que foi? – perguntei, um pouco assustada.

- Eu já posso te beijar no segundo encontro?

E eu sorri.

E ele se aproximou tão devagar, que eu pensei que nunca ia acontecer. Ele entrelaçou seus dedos no meu e com a outra mão, segurou meu rosto. Eu não me lembro de ter beijado qualquer outra pessoa e gostado, como gostei daquela vez. Não foi babada, exagerado ou sexy. Foi incrível. Ele encostou seus lábios nos meus e manteve suas mãos entrelaçadas na minha. Ele não enfiou a língua na minha boca como um adolescente cheio de hormônios. Foi tudo calmo, com pausas para que nós dois pudéssemos respirar e sorrir. Nós nos beijamos três vezes. E então ele beijou minha testa e segurou minha mão. Saímos do quarto e só então eu comecei a imaginar que se me apaixonasse, ele ia estar sempre a quilômetros de distância e meu coração doeu.

***

- Então...

Nós dois estávamos sentados em um banco no meio do campus comendo o Mcdonalds (que ele pagou) e tomando um refrigerante tão gelado, que me dava calafrios.

- Você já notou que você fala muito “então”? – falei, rindo.

- Vou colocar isso na lista de coisas que tenho que mudar antes da faculdade.

- Ah – fiz um bico – Por quê? Eu gosto.

- Então vai para a lista de coisas que eu nunca vou mudar.

Nós rimos.

- Vamos jogar um jogo – ele disse, animado.

- Nananinanão. Eu estou comendo agora.

- Eu não vou te fazer correr. – ele disse, jogando o pacote do seu lanche na lixeira. – É o jogo das perguntas. Nós dois fazemos perguntas, e o outro responde.

- Eu tenho o direito de não responder? – Perguntei e dei outro gole no refrigerante.

- É claro – Aaron respondeu.

- Ok.

- Eu começo. Com quantos anos você deu seu primeiro beijo? – ele parecia tão sério que me assustava.

- Nossa, já começamos assim? Hm, 13. Minha vez. Quantos relacionamentos de verdade você já teve?

- Ai – ele disse rindo – Você é boa nisso. Um. E você?

- Nenhum – eu disse rindo – Venci.

- Nota-se que você é competitiva – ele disse, mas eu podia ver seus olhos brilharem. Será que ele achava que ele ia ser meu primeiro relacionamento sério?

- Só um pouquinho – eu sorri.

- Seu pai –ele assumiu um tom negativo na voz – O que ele vai achar de mim?

- Por que você liga para o que meu pai vai achar.

- “Por que você liga para o que meu pai vai achar” – ele repetiu fazendo uma voz sonsa – Porque eu realmente quero que ele goste de mim.

- Meu pai gosta de todo mundo.

- Duvido que ele vá gostar do rapaz interessado na sua menininha.

- Oh, tem algum rapaz interessado em sua menininha? – eu disse, sorrindo.

- Oh, talvez.

Eu terminei meu lanche e joguei o copo de coca no lixo.

Nos levantamos e ele segurou minha mão. SEGUROU MINHA MÃO. ASSIM DO NADA. NO MEIO DO CAMPUS. Eu estava derretendo.


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Notas finais do capítulo

Compensei o último capítulo hein? Além de grande, esse capítulo tem beijo UHUU. Agora me digam, o que vocês acham do Aaron fazendo faculdade hein? Quer dizer, o grande problema é ficar longe de vocês-sabem-quem.
Estou amando as reviews de vocês, beijos ♥