Aprendendo Amar ... escrita por MA


Capítulo 3
Vivendo com uma sombra




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Depois de mais uma rodada de choros Betty empurrou Armando e se soltou de seus braços. Já passava das 13 horas, tudo realmente tinha sido longo e pesado.

- Eu quero ler a carta – Ela disse novamente.

- Eu não vejo o porquê –

- Eu quero – Ela disse firmemente.

- Tudo bem –

Armando pagou a conta e Betty foi direto para o carro dele, a aparência de ambos denunciava o choro o que gerou olhares curiosos a medida que eles iam saindo do chalé, mas nenhum deles perceberam isso, seus problemas eram maiores do que qualquer olhar torto ou coisa do tipo. O caminho mais uma vez foi em silencio e dessa vez rápido, Armando correu o quanto pode para chegar logo, ele abriu a porta e Betty entrou, era a primeira vez que ela entrava no apartamento dele. Ele olhou o sofá e encontrou a carta amassada.

- Você tem certeza disso? –

- Eu preciso disso – Ele lhe entregou a carta e ela se acomodou no sofá, ela chorava novamente, os apelidos que Mario a chamava, o modo como descrevia os encontros, saber que ele era o autor de todos os bilhetes e presentes, foi tão dolorido quando saber de toda a história. Ela acabou de ler a carta e a amassou novamente a jogando no sofá e se levantou pegando sua bolsa.

- Aonde você vai Betty? –

- Embora doutor –

- Eu te levo –

- Não acho que seja necessário, eu pego um táxi e me viro, eu sempre me virei sem o senhor e acredite, me virava muito bem. Nem mesmo o Miguel me usou e me fez sofrer tanto quando o senhor –

- Betty, você acredita que eu te amo? – Ele perguntou com seu coração mais apertado do que nunca.

- Eu não acredito no senhor – Ela virou as costas e saiu abrindo sozinha a porta. Armando a deixou ir.

Betty precisava de um tempo longe de todos, ela não estava com psicológico de ver ninguém, então sem muito pensar pegou um táxi e o mandou ir até a rodoviária, lá ela comprou uma passagem apenas de ida para o interior e foi para a pequena fazenda de sua velha avó. Lá era o único lugar que ela se sentiria protegida e seu pai não iria brigar por ela ter ido, bastava ela dizer que ficou com saudade de sua avó, acima de tudo, Armando não a encontraria lá.

Já era tarde da noite quando Betty bateu na porta de sua avó, a velha senhora se assustou ao ver a neta lá, ela já não chorava, nem tinha o rosto vermelho, mas a tristeza era notória.

- Minha filha, o que faz aqui essa hora? – Betty apenas suspirou e abraçou sua velha vó, enterrou o nariz na roupa da avó, ela amava aquele cheiro, desde menina, cheirava a sabão de coco.

A semana passou lentamente, Betty ficou na fazenda ajudando a velha dona Rosa a cuidar dos bichos, cozinhar, limpar a casa e a noite jogava buraco com a avó. Armando se angustiava cada dia mais, ele não tinha noticias de sua Betty, quando ligava em sua casa apenas diziam que ela tinha ido para o interior ver sua avó, mas nem o nome da cidade eles lhe davam, era apenas o interior e ele também parou de ligar quando um seu Hermes desconfiado o encheu de perguntas. As meninas do quartel e mais Patricia estavam em polvorosas querendo saber o motivo de Betty ter tirado umas férias, se corria pelos corredores até fofocas que a mesma tinha sido demitida e cada uma por um motivo mais descabido do que o outro.

Era noite, Betty distribuía as cartas do baralho e sua avó preparava um chá quente para elas tomarem enquanto jogavam.

- Minha filha, então você vai mesmo embora amanhã cedo? –

- Sim vovó, comprei a passagem para o primeiro horário –

- Tem certeza que já está pronta para ir? – Betty não contou nada a sua avó, mas a velha senhora tinha experiência de vida suficiente para saber que algo tinha ocorrido e sua neta tinha ido se esconder no campo.

- Espero estar –

Betty desembarcou do ônibus, estava chovendo e seus óculos molharam, ela os tirou do rosto para enxergar melhor sem aquela película de água, quando ela ia guardar o óculos na bolsa um menino peralta de uns seis anos veio correndo e esbarrou nela, os óculos foram direto ao chão e o menino os pisou quebrando a lente em pedaços mínimos.

- Meu filho, espere – Uma mulher falou correndo e conseguiu pegar o menino, ela viu o estado dos óculos de Betty e ficou vermelha de vergonha – Me desculpe, me perdoe, esse menino está agitado hoje, eu lhe pago óculos novo –

- Não se preocupe com isso, já estavam mesmo velhos esse – Era uma mentira, mas ela não queria que a mãe brigasse com o menino.

- Esse menino só me apronta, eu faço questão de pagar novos óculos – A mulher insistiu.

- É sério senhora, não precisa – A mulher que devia ter pouco mais de 30 anos olhou para Betty e sorriu ainda bastante envergonhada.

Betty teve que ir direto ao médico pegar a receita dos óculos e em seguida ir a uma ótica que pudesse os aprontar para o mesmo dia, na ótica ela ficou tentada a comprar um modelo igual ao seu antigo, porém acabou comprando um com uma armação mais moderna e menor. Já era quase fim de tarde quando ela recebeu os novos óculos. Ela olhou o relógio em seu pulso, se corresse daria tempo de ir até sua dentista, ela precisava apertar o aparelho, estava lhe incomodando e a clinica ficava na rua de trás de onde ela estava.

Sua surpresa foi grandes quando a sua dentista disse que ela não precisaria mais do aparelho, ela já estava com eles a tantos anos que tinha perdido a esperança de um dia tira-los, a dentista falou que se ela quisesse era só espera-la atender a um último paciente e depois tiraria o aparelho dela. Betty sabia que seria tarde quando tudo acabasse, mas ela não se importou e aceitou a proposta.

Betty chegou em casa bem tarde, seu pai brigou por ela está chegando tarde, por ter ido viajar sem avisar e por mais uma série de coisas sem sentido que ela não prestou atenção, sua mãe apenas olhava a filha preocupada, sua menina estava triste e ela podia ver isso, mas também notou logo que sua filha não tinha mais aquele sorriso metálico e nem aqueles óculos ridículos e se alegrou, enfim sua filha estava se abrindo para o mundo e saindo de sua própria sombra.


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