Cartas Em Chamas. escrita por Hitomi Ai


Capítulo 4
Experimento diabólico




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A primeira noite no Jogo. Ou melhor, nesse experimento. O Rei falou que somos cobaias. Pelo modo que ele deu aquele discurso, parecia um maníaco por sangue e morte. Mas parece que há algo nisso. O discurso não foi muito claro. Não consegui dormir à noite pensando nisso.

Quando vi que todos estavam dormindo, eu levantei com muito cuidado e abri a porta. No momento em que abri, uma rajada de vento muito forte apareceu de repente, apesar do corredor ser um local totalmente fechado. Não entendi aquilo, mas meus cabelos ficaram desarrumados.

– Nossa... Isso tudo aqui de noite é mais sombrio ainda... –Eu disse enquanto pegava uma das velas que estavam no corredor.

Fui andando normalmente. Meus olhos estavam vermelhos. Estava me lembrando da minha casa. De Dave, da senhora Muffim... Por um momento eu perdi a esperança. Deveria me adaptar logo a este local, caso não conseguisse voltar para casa. Se eu soubesse, eu ao menos deixaria uma carta de despedida. Bem, isso nem importaria, já que minha existência naquele mundo foi completamente apagada. Dei um longo suspiro.

Então eu ouvi passos. Passos rápidos atrás de mim. Não sabia o que estava acontecendo, mas fiquei com medo. Então eu comecei a andar rápido por precaução. Quando senti o perigo, comecei a correr. A correr mais e mais rápido. Ouvia risadinhas. Risadinhas de um maníaco que acabara de sair do hospício. Não sabia mais o que fazer além de correr.

– Não vou deixar você... ESCAPAR!!!! –Ouvi uma voz logo atrás de mim.

Então uma criatura pulou logo na minha frente. Eu de qualquer maneira fiquei um pouco mais aliviado, por ver que a criatura era aparentemente humana. Mas o que não me deixava 100% relaxado, era o fato dela estar segurando um facão.

– Ei, o que você está fazendo?! –Gritei.

– Ora... Então você quer se tornar o Rei também, quer, quer, quer? –Ela disse enquanto posicionava a faca embaixo do meu pescoço, o ferindo lentamente.

– Não sei do que você está falando! Pare de me ferir assim!

– Ahahahaha, que ingênuo! –Ela enfiou ainda mais o facão no meu pescoço.

O sangue já estava começando a escorrer pelo meu pescoço. Então eu criei forças para levantar meu braço, e segurar o braço dela, afastando a faca. Até que tirei com tudo, e dei um salto para trás de uma forma que nem mesmo eu acreditei.

– Vou te matar. –Disse ela.

Era sem dúvida uma garota por volta de seus 12 anos de idade, cabelos azuis bem escuros e longos, pele um pouco bronzeada, altura de aproximadamente 1,50 m. Mas havia algo errado. Seus olhos estavam vermelhos. Não que nem os meus que eram de sono mesmo, mas a íris dela estava vermelha. Como olhos de demônio, ou outro tipo de ser diabólico.

Ela partiu com tudo para cima de mim com a faca em mãos. Não sabia o que fazer, ela estava em velocidade supersônica.

Então, achando que aquele já era o meu fim, coloquei meus braços na minha frente, torcendo pelo melhor possível. Quando ela já estava cerca de um centímetro de mim, fechei meus olhos. Depois de alguns segundos nada ainda havia acontecido, então abri meus olhos. Quando eu olhei, ela tinha sido arremessada para a parede. Não entendi o que estava acontecendo. Ela olhou para mim surpresa, e voltou para o segundo ataque com o facão. Me levantei, então quando ela estava próximo a me atingir, eu fiz um ataque-contra, pegando a faca, e enfiando no seu estômago. No momento em que fiz isso, meus olhos se arregalaram. Por quê fiz aquilo? Era como se meu corpo tivesse se mexido sozinho, sem meu comando. A garota cuspiu muito sangue, e logo em seguida, caiu no chão, morta, espalhando seu sangue sobre o carpete no chão do corredor. Recuei. Pus minhas mãos sobre a minha boca. Estava horrorizado, nunca havia matado alguém na minha vida daquela forma.

Fiquei olhando por alguns minutos aquele cadáver no chão. Aquele sangue manchando o carpete. Eu estava enjoado. Eu queria vomitar naquela mesma hora. Mas não podia. Toquei suavemente com meus dedos o local em que a garota me atingiu. O sangue já havia se coagulado, mas senti uma cicatriz no pescoço se formando. Estava ardendo.

– E agora?! O que eu faço?! Eu deixo ela aí mesmo, ou eu levo comigo?!

Estava em dúvida. O mundo estava desmoronando para mim. Pensei que seria melhor levar ela, do que deixa-la lá no meio do corredor. Isso provavelmente se tornaria um escândalo se alguém visse, eu acho.

Criei coragem para pegar “aquilo”. Não poderia deixa-la. Não poderia, isso seria um crime. Peguei o corpo, e pus sobre meu ombro esquerdo. Pesava. Nunca pensei que uma garota daquele tamanho pesasse tanto assim. Mas agora, o mais importante: Como voltaria para o meu dormitório?

Passei uns 3 minutos pensando. A noite estava ficando vermelha, como se o sangue da garota estivesse estimulando o céu a mudar de cor. Pensei que talvez pudesse me teletransportar. Mas estava nervoso demais para isso. Não, tinha que ao menos tentar. Então antes de me concentrar para fazer o teletransporte, senti um líquido caindo sobre mim. Olhei um pouco para trás. O resto do sangue da garota estava sujando a minha roupa. Tinha que aguentar para não vomitar. Não vomitar, não vomitar. Fiquei repetindo isso várias vezes. Até me concentrar para me teletransportar. Pus minha mão para frente, fechei meus olhos. Comecei a mudar o cenário. Só que dessa vez, nada se estilhaçou. Foi diferente. Todo o cenário ficou se distorcendo, como em um efeito de um aplicativo de webcam. Fiquei um pouco surpreso, mas tentei ignorar o fato do teletransporte ter mudado um pouco.

Cheguei no meu quarto. Era por volta das três da manhã. Abri meus olhos. Zain e Louis estavam em pé, espantados. Desesperados; chocados quando viram a cena. Eu não tinha mais forças, então a garota caiu no chão e logo em seguida eu caí, ao lado dela. Não desmaiei, mas me sentia muito mal. Como esperado, um pouco de sangue saiu da minha boca. Meus olhos estavam abertos, olhando para o nada, vendo tudo a minha frente, distorcido. Louis correu até mim, segurando meus ombros e me chacoalhando um pouco.

– Ei, Masao! O que aconteceu?! Aguente firme!

Eu estava perdendo a noção aos poucos do que estava acontecendo. Zain se aproximou da garota, e verificou seu estado físico.

– Ela estava possuída. –Disse Zain, enquanto olhava para os olhos dela. – Está morta.

Eu entendi. Queria responder alguma coisa; queria expressar minha surpresa. Mas eu não havia forças. Louis então me carregou até a cama ao lado da janela, e deu uma olhada na minha cicatriz no pescoço. Pegou algum líquido que eu não consegui reconhecer, e passou na cicatriz. Em seguida, pegou uma espécie de soro, e empurrou para a minha boca.

– Louis, olhe isso! –Disse Zain, enquanto pegava a faca que estava enfiada nela.

Eu caí para o meu lado esquerdo, em cima do travesseiro. Estava recuperando os sentidos.

Tossi um pouco.

– Masao, como está se sentindo? –Disse Louis.

– Eu... Eu quero vomitar. –Eu disse enquanto me levantava cambaleando, em direção ao banheiro.

– Afinal, como ela morreu? –Perguntou Zain.

Voltei para a cama. Louis estava dirigindo-se à mim com uma xícara de chocolate quente.

– Louis, como conseguiu fazer chocolate quente? –Perguntei um pouco surpreso.

– Não sei se você reparou, mas há uma copa cozinha aqui no quarto. –Disse Louis apontando um pouco para a frente como se aquilo fosse óbvio.

– Você não precisava ter feito isso. –Eu disse enquanto segurava a xícara com as minhas duas mãos e assoprava um pouco para esfriar o chocolate.

– Você queria morrer de fome? –Perguntou Louis enquanto olhava seriamente para mim.

– Não. –Continuei- Eu saí do quarto à noite porque estava com insônia-

– Você saiu do quarto à noite?! –Os dois me interromperam.

– Claro, não havia nada para fazer.

– Ao menos deveria ter nos avisado! –Disse Zain.

– Se eu os acordasse de madrugada só porque eu estava com insônia, a chance de vocês ficarem bravos comigo ou até mesmo chegarem a me dar um soco é muito alta.

Os dois ficaram em silêncio.

– Quando eu saí do quarto, ouvi passos atrás de mim. –Continuei- Então ela começou a gritar dizendo que ia me matar, que ela não deixaria eu ser o Rei. Dizia também que ela ia vencer esse tal jogo, e pelo que eu entendi, não ia deixar ninguém entrar no caminho dela. Depois ela me atacou usando um facão, e depois consegui fazer um ataque-contra.

– Entendo... –Disse Zain.

– Ela disse que não ia deixar você ganhar o jogo e se tornar... Rei? –Perguntou Louis.

– Sim. Será que isso quer dizer que... Quem ganhar poderá ser rei?! –Perguntei, um pouco intrigado.

– Provavelmente. Se ela ainda estivesse viva, daria para perguntar sobre isso.

– Ei, Louis, Masao, o que vamos fazer em relação ao corpo?


– Por enquanto, vamos deixar assim. Depois, temos que arranjar uma toalha ou um longo pano para poder enrolar o cadáver da garota nele.

E assim foi feito. Depois de algumas horas, enrolamos a garota numa toalha branca, e fizemos um enterro para ela no dia seguinte, no lado de fora daquele lugar que eu não sei especificar exatamente o que ele é. Talvez um palácio? Ou um internato, talvez?

– Ah sim, há algo que eu quero perguntar a vocês! – Eu disse.

– O que? –Perguntou Louis, pouco interessado.

– Quais os poderes de vocês?

Louis e Zain se entreolharam. Provavelmente não estavam esperando esse tipo de pergunta.

– Oh... Digamos que eu sou um ESPER*-Disse Zain

(ESPER*: Extrasensory Perception; Percepção Extra-Sensorial: indivíduo capaz de realizar telepatia e outras habilidades paranormais.)

– Um ESPER? Sério?! –Eu estava surpreso.

– Sim! Eu já havia notado essa habilidade desde criança, mas parece que o rei do baralho percebeu que eu poderia ser útil em alguma coisa. –Disse Zain rindo.

– E você, Louis?

– Eu... –Disse Louis enquanto olhava um pouco para baixo. –Eu mato.

– Você mata? –Perguntei enquanto me aproximava dele, curioso.

– Sim, eu... Desmembro... As pessoas... –Ele disse com uma expressão nada animadora.

Achei que talvez não devesse ter perguntado.

– Vamos voltar para a área interna. –Eu disse.

Fiquei mudo por todo o caminho até a volta ao dormitório. Pude sentir que Louis me observava, mas não quis falar nada para não ser rude. Quando chegamos, sentei logo em minha cama. Havia-se anunciado que o próximo torneio seria à noite, e todos nós tínhamos que ir.

Eu ainda me arrependia de ter perguntado quais eram os poderes de Louis. Qualquer um ficaria sem jeito ou até mesmo com medo de ouvir o que ele disse. Me sentia horrível.

– Ei, Masao, como é sua vida no mundo real? –Perguntou Zain.

– Minha vida... Ela é normal, eu acho... Ganho dinheiro fazendo algumas apresentações de ilusionismo para me sustentar. Minha tia trabalha numa loja famosa de Muffins e Cupcakes. Vou à escola todo dia, e minhas notas são consideradas... Excepcionais.

– Nossa! Não sei se tenho tios e meus pais vivem viajando, então posso me considerar morando sozinho. De vez em quando meus pais fazem visitas, mas na maioria das vezes mandam o dinheiro por correspondência. Mas enfim... Dá para sobreviver! Quanto as minhas notas... Hahaha, muitas vezes eu fico entre os que ficaram de recuperação. E quanto aos seus pais, Masao? –Zain continuou.

– Meus pais... Minha morreu quando eu tinha 3 anos de idade, ela estava muito doente mesmo. E meu pai morreu quando eu tinha 10 anos, num acidente de avião enquanto voltava para a Alemanha. Fiquei esperando ele no aeroporto por três dias consecutivos, até me informarem que meu pai havia morrido. Então minha tia, Rose, também conhecida como senhora Muffim, me adotou.

Zain ficou em silêncio. Louis sentou ao meu lado. Levantei a minha calça um pouco. Havia uma espécie de colar no meu tornozelo. Tirei.

– Esse... É o meu amuleto da sorte. Minha mãe me deu um ano antes de morrer. Meu pai sempre dizia que era especial. Nunca tiro ele, pois acho que me dá sorte. E me faz lembrar dos meus pais. –Eu disse enquanto sorria.

Então um holograma apareceu na nossa frente. Era J nele.

– Atenção, atenção! O primeiro torneio da semana vai começar! Por favor, jogadores, dirijam-se para o campo de batalha. Não tolero atrasos. Quem não comparecer será punido.

Em seguida o holograma desapareceu.

– L-Louis... Que tipo de punição é essa? –Perguntei.

– A morte. –Ele respondeu friamente.

Aquela seria minha primeira batalha. A decisão da minha vida. A roda já havia começado a girar para nós. Aquilo ia decidir meu destino. Fechei meus olhos e cerrei meus punhos. Estava pronto.


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