Cartas Em Chamas. escrita por Hitomi Ai


Capítulo 5
Pintado de vermelho




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Fomos instruídos a vestir roupas específicas que estavam em nossos guarda-roupas. A minha era preta, e ao lado dela havia um par de luvas brancas. Estranhei o porquê da cor de minha roupa ser preta, e as luvas brancas. Luvas brancas para quê, exatamente?

Me olhei no espelho. Francamente, parecia que eu ia fazer uma apresentação de circo. A roupa de Louis era preta e vermelha, com correntes douradas e uma capa. A de Zain era bem leve, para facilitar o movimento. Louis parecia mais alto. Mais do que já era.

- Prontos? –Eu disse enquanto ajustava a gola da minha camisa.

Os dois concordaram com a cabeça. Mas antes de tomar qualquer iniciativa para chegar lá, pensei que se eu usasse o teletransporte, ficaria muito fraco para lutar. O que eu poderia fazer? Era o único meio de locomoção até o campo de batalha que existia. E se eu não o fizesse, ficariam bravos comigo. Então me concentrei para fazer a teletransportação.

Olhei para trás. Todos estavam preparados. Coloquei minha mão esquerda para a frente. Fechei meus olhos. Senti tudo se distorcendo de novo. Parece que não havia mudado nada desde a última vez em que eu fiz o teletransporte. Mas aí... Uma leve dor de cabeça surgiu. Fiquei com um pouco de vertigem, mas me recusei a reportar para Louis e Zain. Aquela não era hora de meu estado físico piorar. Senti o vento nos rodeando muito forte. Achei que aquilo era normal.

Chegamos ao campo de batalha. Logo em que chegamos eu caí um pouco para trás, mas Louis me segurou.

- Está tudo bem? –Ele perguntou.

-Sim... –Respondi enquanto segurava a minha cabeça com minha mão esquerda.

Sentamos numa espécie de arquibancada, onde todos os jogadores estavam reunidos.

Havia muitos jogadores; muitas pessoas no local. Parecia uma arena. Estavam todos assustados, confusos, com medo, e ao mesmo tempo, confiantes, entusiasmados, e loucos para poder saírem daquele local.

Nisso J desce até o campo de batalha.

- Bem-vindos, bem-vindos! –Ele estava com um grande sorriso em sua face, como se estivesse achando aquilo muito interessante e divertido. –Chega de treinos, não é mesmo? Muitos de vocês passaram cerca de um mês aqui treinando, treinando e treinando. Mas agora vem a batalha real. Uma delas. Ou vocês ganham e SOBREVIVEM, ou vocês perdem e MORREM. Entenderam? Ou vive, ou morre! Não existe empate! –Ele deu uma risada muito alta. – Agora vamos começar a luta!!

De repente, desce uma mulher. Uma mulher não, uma garota. Aparentava ter 13 anos de idade. Cabelos prateados, longos. Olhos com quase nada de pigmentação. Depois eu reparei que ela era albina.

- Os combates serão realizados dormitório X dormitório, em equipes por enquanto, até a ordem de Sua Majestade, o Rei do Baralho. –Disse ela enquanto lia um papel.

Em seguida ela abriu asas e voou direto para cima.

Eu e Zain ficamos espantados, mas Louis não. O olhar dele era de quem já vira muita coisa na vida.

- Agora, quarto 111 X 132! –Disse J.

- Qual o nosso quarto? –Sussurrei para Zain.

- Parece que é o 340. –Zain sussurrou para mim.

Então nós começamos a conversar sussurrando, enquanto Louis estava sentado logo atrás de nós, perdendo a paciência.

- Posso saber por que vocês estão sussurrando?! –Gritou Louis.

Eu e Zain ficamos em silêncio. Mas logo depois fomos surpreendidos pelo que aconteceu no campo de batalha. Tudo ficou vermelho. Parecia o inferno. De repente desce uma dupla de garotas de um lado, segurando correntes de prata. Enquanto do outro lado do campo de batalha desce outra dupla de garotas segurando, cada, uma espada de aço.

Parecia uma luta satânica. Elas tinham várias habilidades. As com as espadas, manejavam-nas graciosamente, enquanto as outras, voavam e tentavam chicotear as oponentes. Elas não haviam piedade. Uma das espadachins deu um salto pirueta enquanto a oponente estava distraída, e cortou-a no meio com sua espada. Aquela cena foi chocante. Os mais sensíveis da arquibancada, desmaiaram. Até os mais fortes não estavam aguentando.

Logo depois, a oponente teve um ataque de ódio. Queria vingar sua parceira. Então partiu para cima das duas, com sua corrente de prata e chicoteou uma das espadachins que voou longe, até bater de costas no final do campo de batalha. Onde fraturou a coluna e cuspiu muito sangue, logo em seguida morreu. O campo de batalha já estava com cheiro de sangue. Já estava sendo possuído por dor, sofrimento, sangue, morte e ódio. As duas que sobraram estavam com sede de vingança. Ódio mortal. Então a espadachim foi acertada pela corrente. Seu rosto ficou um pouco desfigurado, escorrendo sangue. Então, com ódio, a espadachim deu o golpe final, apunhalando o coração da oponente pelas costas. Todo o campo de batalha ficou em silêncio. A garota da corrente caiu, morta. A espadachim, sem fôlego, tirou a espada de dentro da oponente, que já estava ensopada de sangue. Houve um silêncio por três minutos. Logo depois, muitos aplausos. Ou era isso, ou enlouquecer. A vencedora caiu de joelhos. Lágrimas e sangue escorriam pelo seu rosto. O pior de tudo é que aquilo era apenas o começo.

Ao longo do tempo, houve várias batalhas. Algumas, uma equipe sobreviveu. Outras, todos morreram. Um banho de sangue. Uma decoração de vermelho. E um toque final de desespero.

Pessoas choravam, outras gritavam, outras se matavam.

- Zain... Zain, por favor... –Eu disse olhando para Zain.

- O que foi, Masao? –Perguntou Zain.

- Será... Será que... Eu poderia sentar mais próximo de você?

- C-Claro.

Aquilo durou horas e horas. Aquela matança infernal. Eu já havia passado mal duas vezes.

Então J reapareceu, com uma outra roupa, e um desenho de uma estrela negra, pintada envolta de seu olho direito. Agora voltou a parecer um circo. Acho que poderíamos chamar o campo de batalha de circo diabólico.

- Agora o momento mais esperado! Temos um novato! Um novato! Apresentando agora, quarto 560 contra... –J ficou verificando uma lista enorme. –Contra o quarto 340!!!!

- Zain, Louis! O quarto 340 não é o nosso?!

- Sim... –Disse Zain, espantado.

Vimos um trio. Dois garotos e uma garota.

- Achava que só pudesse dividir o dormitório com pessoas do mesmo sexo. -Sussurrei para Louis e Zain.

- Vai ver abriram uma exceção. –Disse Louis.

- Quem sabe a terceira é um garoto fantasiado de garota só pra nos confundir? –Disse Zain, pensando em todas as hipóteses.

- É uma hipótese a considerar... –Respondi.

- De qualquer forma, vamos! –Disse Louis enquanto dava um salto para o campo de batalha.

Eu e Zain pulamos logo em seguida. Todos os três estavam armados. Um dos garotos estava com uma espada elétrica, o outro garoto estava com cartas de baralho, a garota estava com dois leques gigantes pontiagudos.

- Ora, ora, eles não tem armas? –A garota disse esnobando.

- Hahaha, essa luta vai ser fácil! –Disse um dos garotos enquanto preparava sua espada elétrica.

- Com certeza mano. Vamos derramar muito sangue de vocês. –Disse o outro garoto.

- Eles parecem muito confiantes, não é? –Zain sussurrou.

- Isso já era de se esperar. –Disse Louis.

O garoto da espada elétrica veio partindo com tudo para cima de Zain que desviou com uma pirueta no ar. Seu corpo parecia muito leve. Então Zain, ainda no ar, abriu seus braços e usou seu próprio corpo como arma para atingi-los, que se machucaram, e logo depois Zain voltou.

- Zain! Use a telepatia para nos avisar dos movimentos!! –Gritou Louis. –Masao! Tente desvendar algum outro poder, RÁPIDO!

Nós concordamos, mas eu não estava muito confiante em mim mesmo.

Louis deu um salto para trás para desviar um ataque da espada elétrica. Enquanto estava no ar, levantou sua mão direita enquanto segurava sua cabeça com a mão esquerda, e atacou o inimigo com seu poder.

O garoto da espada foi jogado de um lado para o outro, se quebrando, mas ainda assim parecia firme.

O garoto do baralho então partiu para o ataque. Ele levitou todo o baralho de cartas com a maior facilidade, e logo em seguida levitou a si mesmo e ficou no ar, atrás de suas cartas, que começaram a pegar fogo. Então ele começou a atacar com as cartas, que partiram com tudo para cima de Zain, mas na hora, Louis interferiu, ficando na frente de Zain e controlando as cartas contra o oponente que ficou com queimaduras de 2º grau pelo rosto. Agora enquanto eles lutavam, a garota se dirigia até mim, abrindo seus leques e sorrindo de uma forma nada legal. Recuei um pouco. Então ela começou a levitar e a tentar me atingir com o leque. Na hora em que ela fez isso, eu pus minhas mãos sobre a minha cabeça. E aconteceu o mesmo que na noite passada. A garota foi arremessada. Mas é algo que eu não posso controlar.

- Hum, escudo é? Que poder incrível! Mas que COVARDIA! –Ela disse enquanto ia fazer outro ataque, e eu me defendia com meus próprios braços.

Até que eu resolvi tomar iniciativa.  Levantei minha mão direita e a mexi para o lado direito rapidamente. Nesse momento algo inesperado aconteceu. Eu comecei a levitar. E eu passei a controlar.

- Vai passar a ficar na ofensiva agora? Já era hora! –Ela continuava a falar.

Então partiu para o próximo ataque, dessa vez, mirando em meu estômago. Cruzei meus braços na frente de meu rosto e fechei meus olhos. Depois eu os abri, e separei meus braços rapidamente, e gritei:

- VOCÊ NÃO VAI ME VENCER!!!

Foi inesperado. Aquilo saiu da minha boca sem querer.

No momento em que desfiz meus braços e gritei, um vento surgiu do nada, arrancando o chão e indo em direção à garota. Senti que eu estava ficando fora de controle. A íris de meus olhos ficaram mais vermelhas. Meus cabelos loiros-claros começaram a se movimentar.

Então voei um pouco mais para cima e levantei minha mão esquerda. Raios começaram a brotar de minha mão.

- D-DEMÔNIO!!!!! –A garota gritou apavorada.

Lancei aquela espécie de raio contra ela, na qual foi arremessada mais uma vez. E depois movimentei o corpo dela, e fui rasgando.

- Tenha piedade!!!! –Ela gritou mais uma vez.

- Ter piedade, você diz? TER PIEDADE?! Não era você que estava cheia de si, dizendo que ia conseguir me vencer?

- Minhas desculpas!!!

Me aproximei dela em velocidade supersônica. Toquei no seu queixo com minha mão direita e o levantei um pouco, até ficar à altura de minha cabeça. Sorri. Depois pus mais força e quebrei o pescoço dela. Todos no campo de batalha estavam assustados; espantados; surpresos. Louis, Zain, e os dois garotos estavam olhando para mim. Então os dois garotos me olharam com ódio. Um deles lançou suas cartas de baralho, com mais fogo ainda, e ainda maiores. Mas controlei tudo com muita tranquilidade. Quando elas estavam avançando contra mim, eu simplesmente levantei minha mão direita em forma de “pare” e as rodopiei acima de mim, em seguida cerrei meus punhos e elas se transformaram em cinzas e caíram direto no chão.

- M-Minhas cartas!! –Disse o garoto, enquanto colocava as mãos no seu rosto e observava as cinzas de suas cartas caírem no chão.

Então os dois avançaram contra mim. Mas antes que eu fizesse algo para me defender, Louis usou rapidamente o seu poder, e começou a quebrar todos os ossos do espadachim. Eu recobrei a minha consciência. Quer dizer, não que eu tenha perdido a consciência, na verdade eu estava muito ciente do que estava fazendo. Mas parece que uma energia dentro de mim, me fez extrapolar. Fui caindo no chão. Então Louis foi rapidamente até mim para me pegar. Zain deu conta do último garoto. No fim estavam todos mortos. Menos a garota, que aparentava apenas gravemente machucada.

- Ah, sim! –Disse Zain, enquanto se aproximava da garota.

- Er... Você é menino ou menina? –Zain perguntou para ela.

A garota tentava usar suas últimas forças para olhar para Zain e dizer alguma coisa.

- Me...

- Me...?

- Nino... –Ela completou.

Então ela lentamente foi levando sua mão esquerda até sua cabeça. Então puxou lentamente o cabelo. Era uma peruca. O cabelo dele era bem curto e castanho. Em seguida Zain sorriu para ela.

- Obrigado. Descanse em paz. –Ele disse enquanto colocava as suas mãos sobre os olhos do garoto e fechando-os.

Logo em seguida J desce.

- Nossa, pessoal! Essa foi uma estupenda apresentação! Vocês são o quê, deuses ou demônios? Ou talvez os dois?! Bem, mas vocês venceram! Ah sim, devemos levar esse garoto para a enfermaria? –Perguntou J enquanto apontava para mim, que ainda estava nos braços de Louis.

- Por favor.

Depois de algumas horas, estava numa cama. Provavelmente da enfermaria. Eu estava com uma camisola verde-claro. Busquei forças para me levantar, e me encostar na parte de trás da cama. Então senti algo duro na minha barriga. Levantei um pouco a camisola, e pus minhas mãos sobre a minha barriga. Estava enfaixada com um material parecido com esparadrapo. Só que um pouco maior. Então eu me lembrei. Em uma hora, um dos golpes de leque daquela garota (que depois descobrimos que era garoto), me atingiu na direção ao estômago. Deve ser isso.

Nisso Zain e Louis entram.

- Toc, toc! Já está acordado? –Disse Zain sorrindo enquanto batia a porta e a abria ao mesmo tempo.

- Ah, s-sim... –Respondi. Percebi que minha voz estava um pouco fraca.

- Mas o que foi aquilo no campo de batalha? Você parecia um deus (ou demônio) fazendo um julgamento!

- Nem mesmo eu sei... –Respondi enquanto colocava minha mão esquerda em minha cabeça.

- Você aos poucos está descobrindo os seus poderes. –Disse Louis.

Olhei fixamente para ele e me lembrei do momento em que ele havia me pegado para eu não cair no chão. Desviei o olhar.

- Obrigado, Louis. –Eu disse enquanto olhava para o lado.

- Pelo quê? –Ele perguntou.

Na hora eu o olhei.

- Por ter impedido de eu cair com tudo no chão... Por te me salvo, resumindo.

- Você queria que eu te largasse para se quebrar no chão? –Disse Louis, e seu sarcasmo. Não podia esperar menos dessa resposta.

- Aliás, por que tem uma enfermaria aqui? –Perguntei enquanto olhava ao redor.

- Porque deixar uma pessoa ferida sem assistência sendo que ainda está viva é contra as regras. –Respondeu Zain. –Afinal, apesar de tudo, aqui também tem regras relativamente justas. –Ele sorriu.

Então nós ficamos conversando por um tempo.

Enquanto isso, J estava numa sala totalmente escura, cheia de cartas de baralho gigantes.

- Então... É ele o sucessor? –Perguntou alguém.

- Sem dúvidas, Vossa Majestade. Ele é o escolhido ao sucessor. Não só do baralho, mas como de todo o submundo. –Respondeu J.


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