Inopino escrita por Roberta Matzenbacher


Capítulo 4
Capítulo quatro


Notas iniciais do capítulo

Fiquei TÃO feliz com o trailler VA que não pude resistir!
Vou postar a cena do encontro!!!!! Eu sei, ainda esperaria um pouquinho mais e tal, mas eu realmente não me contive, de tão animada que eu estou, mas vocês terão mais da minha exaltação nas notas finais, então... Mas, cara, só uma coisa: mistura isso ao fato de a Richelle ter lançado aquele POV DIVINO, já imaginaram a minha alegria? ~voltando...
Sério, pude constatar que muitas das coisas que eu escrevi condiziam perfeitamente com a história dela e, é claro, amei tanto que coloquei um pouco de spoiler... Mas bem pouco! Ela conseguiu ler meus pensamentos! (ou eu os dela, sei lá kkkkk).
Porém, porém, fiz absoluta questão de deixar o que eu escrevi antes de ela lançar o dela, e quero que vocês se juntem a mim na MINHA ANIMAÇÃO!!!! Vocês mal notarão a diferença entre os POVs, isso eu prometo!
MEU DEUS, ESPERO QUE GOSTEM!!



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Capítulo quatro

Circulamos a casa devagar.

Ela não possuía nenhuma cerca, – afinal era um campus fechado e bem protegido – por isso, aproximar-nos de cada janela para averiguar qual delas pertencia às garotas não foi complicado. Porém, estava escuro demais para definir qual dos quartos pertencia a elas, mesmo que nossa visão Damphir fosse um pouco privilegiada no período noturno.

Restava-nos então apenas ficar lá por cerca de poucas horas até percebermos algum tipo de movimentação vinda de um dos cômodos. Esperar por algo desconhecido e incerto levaria tempo, mas isso era, ironicamente, o que tínhamos de sobra naquele momento. Também não podíamos simplesmente arrombar a casa e sequestrá-las sem maiores explicações. Mesmo que os Alquimistas – humanos que sabiam da existência dos vampiros e camuflavam nossas aparições – nos ajudassem a escapar da polícia caso algum dos moradores denunciasse o ocorrido, fiquei receoso quanto a contatá-los. Esse era um assunto confidencial para a Academia e a Corte, e eu não quis um alarde maior que o necessário.

Ao contrário do que eu imaginava, entretanto, a espera acabou não sendo tão grande no final das contas.

Estávamos parados a alguns metros de distância, logo depois de concluirmos que os quartos se localizavam na parte leste da casa. A impaciência já quase me sufocava inteiro quando, à aproximadamente três horas da madrugada, percebi uma fraca luz proveniente de uma das janelas abertas do segundo andar. Ronald e Zora aparentemente também notaram a mudança no ambiente, pois suas cabeças se viraram ao mesmo tempo em direção à fonte luminosa, imediatamente após eu a ter percebido. Virei-me rapidamente para eles e disse em tom baixo:

– Fiquem na minha retaguarda, eu vou verificar mais de perto.

– Tudo bem. – Confirmou Ronald.

– E se não forem elas? – Zora nos interrompeu de repente, sua expressão nervosa. – Os humanos podem estranhar a situação e nos denunciar.

Nós já havíamos discutido a questão mais cedo, exaustivamente. E sua insistência me irritou um pouco.

– Eu sei disso, inclusive essa é a única parte falha do plano, mas se não arriscarmos perderemos a chance de capturá-las. – Eu disse, encerrando a discussão. Zora apenas balançou a cabeça afirmativamente, sem pronunciar mais nada.

Ambos me seguiram silenciosamente pela rua, até pararmos ao fim de uma enorme árvore que estava no jardim do outro lado da calçada. A negritude da sombra era perfeita para esconder a minha silhueta àquela hora da noite, então me esgueirei sobre ela para poder espiar a janela, mesmo sabendo que era uma atitude desprezível. Porém, quando parara próximo ao tronco, um miado raivoso acabou me assustando tremendamente, tirando minha atenção da casa. Virei para trás a ponto de ver um pequeno gato passar correndo por mim e saltar para dentro da janela aberta do quarto. Ele ficou lá durante alguns minutos e logo se acomodou no parapeito de madeira clara, olhando seus arredores, ou melhor, averiguando as minhas movimentações – já que animais possuíam uma estranha antipatia pelos Dhampir. Eu aproveitei o fato de que ninguém ali naquela casa sabia de minha presença para me aproximar um pouco mais, podendo assim enxergar perfeitamente bem o que quem quer que fosse estivesse fazendo.

Porém, mesmo preparado para qualquer tipo de situação como eu era, o que vi não pôde me chocar mais.

Eu estava concentrado na cena que se desenrolava a minha frente, tentando decifrar o que acontecia sob a luz fraca que provinha de um abajur ao lado da cama de uma das garotas, quando reconheci imediatamente os traços de Rosemarie. Ela estava com a cabeça inclinada para o lado, seus longos cabelos escuros caíam suavemente em uma cascata pelo colchão. A posição em que estava era perfeita para que...

Para que Vasilisa pudesse afundar as presas em seu pescoço exposto.

Eu fiquei completamente petrificado, nenhum pensamento coerente se fez em meu cérebro a partir daquela cena que se desenrolava diante de mim. Jamais havia visto uma Dhampir dar sangue a um Moroi, embora eu soubesse muito bem que isso ocorria, até mais frequentemente do que eu considerava natural. Mesmo vivendo em meio a uma comunidade de meretrizes de sangue em Baia, eu não era completamente acostumado a esse tipo de situação. Na verdade, meus traumas de infância não me permitiam enxergar isso com bons olhos.

Automaticamente, e quase que por conta própria, lembranças totalmente desagradáveis de meu pai alastraram minha mente. Eu tentei impedi-las usando toda força de vontade que possuía, mas de nada adiantou. A rua deserta, as construções e a janela a minha frente... Tudo foi substituído aos poucos pelas paredes claras da minha casa em Baia, e o vi andando pela sala mais uma vez, tal qual uma criança assustada. As imagens eram tão vivas em minhas lembranças que praticamente ouvi seus sapatos fazendo barulhos ritmados no assoalho de madeira escura enquanto gritava com qualquer um que o desagradasse. Eu me encontrava encolhido atrás do sofá, observando-o beber até cair no chão, bater cruelmente em minha mãe – e sem poder fazer nada para impedir. Ele era péssimo para ela, usando de seu tamanho e força para machucá-la.

Ele também bebia o seu sangue.

O choque provocado pelo repentino pensamento felizmente me fez voltar à minha realidade atual de imediato. Balancei a cabeça, tentando assim espantar as cenas inconvenientes, e, por sorte, elas foram abandonando minha mente aos poucos. Eu não queria pensar naquilo agora, muito menos comparar o que acontecia entre as duas garotas com os maus tratos que meu pai fizera a minha mãe anos atrás. As situações eram completamente diferentes, Vasilisa precisava se alimentar, afinal era Moroi e... Espere.

Então foi dessa maneira que Vasilisa sobrevivera durante estes dois anos?

Eu estava chocado, abismado – mais uma vez só àquela noite. Nunca antes imaginei que uma estudante Dhampir faria algo dessa magnitude a sua colega Moroi tão facilmente e sem receios.

Sempre soubera que diversos comportamentos e atitudes eram severamente criticados pela sociedade Moroi, pois eram para muitos um fetiche barato e sujo. Dhampir que davam seu sangue – principalmente mulheres – eram vistas como meretrizes de sangue, vadias. É claro que eu nunca pensei exatamente assim, afinal cresci em meio a esse mundo escondido, e ficava imaginando o que levara essas pessoas a escolher tal caminho depravado. Por isso me admirei tanto com a coragem de Rosemarie em doar o seu sangue a Vasilisa, mesmo que fossem amigas próximas. Fora um ato nobre e de absoluta necessidade, e eu tinha certeza de que elas preferiam que continuasse como um segredo.

Estava tão perdido em minhas divagações que deixei escapar uma de minhas lições mais valiosas: não permitir que os sentimentos tomem conta de minhas ações. Despreocupado, ou melhor, descuidado, acabei não percebendo que Rosemarie fora trôpega até a janela e observou seus arredores com olhos afiados e perspicazes até que...

Bem, até que percebeu minha presença ali nas sombras.

A brisa balançava seus cabelos levemente para os lados, expondo seu pescoço e a horrível mordida avermelhada que ali se instalava. Deixando-me um pouco enjoado. Ela parecia não estar em seu perfeito juízo e também não conseguia enxergar meu rosto, para meu alívio. Fiquei imaginando o que ela veria se pudesse me enxergar ali: um homem perigoso que suspeitamente se encontrava parado diante de sua janela como um depravado? Ou, quem sabe, somente um cara assustado que não conseguia desviar seu olhar do dela por puro choque e horror? Eu só conseguia olhar para aquela marca, sem me desviar em nenhum momento. Nós nos encarávamos em silêncio, cada qual com seus pensamentos. Os meus, de pura curiosidade, já os dela, não sei, provavelmente estava mais assustada do que um pássaro selvagem preso rudemente à gaiola para pensar em algo coerente.

Tarde demais, percebi que aquela comparação se revelava completamente errada. Não era ela o pássaro preso... Mas sim eu mesmo. Era eu quem me submetia a uma rotina pesada diariamente, recebendo ordens de meus supervisores sem poder reclamar. Preso a uma gaiola chamada St. Vladimir. Já ela, oh, ela fora uma adolescente completamente impulsiva que fugira para se tornar livre e acabara carregando consigo a herdeira da posição em sua família: a última Dragomir.

Ela poderia tentar correr o quanto quisesse, mas eu sempre daria um jeito de encontrá-la. Porém, hoje eu não estava com a menor vontade de perdê-la de vista. Rosemarie estava fraca pela perda de sangue e afetada pelas endorfinas contidas na saliva de Vasilisa, por isso não poderia lutar ou correr e, assim, minhas chances de capturá-las subiriam consideravelmente.

Continuei estagnado no mesmo lugar por instantes que pareciam intermináveis, nem me importando com o fato de que ela pudesse sair correndo dali a qualquer segundo. Por isso, acabei não percebendo a aproximação de Ronald, que caminhara rapidamente em minha direção, parando a alguns poucos metros de distância. Sua voz preocupada saindo quase estridente demais:

– Dimitri, o que você pensa que está fazendo? – Seu tom de voz intercalava entre receoso e irritado. – Ela provavelmente sairá correndo agora.

Virei-me em sua direção e o repreendi com o olhar. Muito embora Rosemarie tenha percebido minha presença ali no jardim, não teria como saber quem eu realmente era. O plano deveria ser sigiloso e sem, em hipótese alguma, fazer algum alarde. Ele encolheu os ombros e murmurou um “Desculpe” antes de dar de ombros distraidamente e caminhar na direção contrária a que eu me encontrava. Bem, Rosemarie já sabia quem nós éramos. Agora não fazia mais tanto sentido manter a postura discreta. Olhei para a janela novamente, mas dessa vez ela estava vazia. A Dhampir escapara.

Aproximei o rádio transmissor até meus lábios.

– Malcom. – Chiou a voz de Adam assim que atendeu a meu chamado.

– Aqui é Belikov. Alvo tentando escapar. Fique atento.

– Pode deixar. – Ele respondeu imediatamente.

Caminhei com Ronald até onde Zora estava praticamente trotando de um lado para o outro como um cavalo nervoso. Assim que nos avistou, ela correu rapidamente até nos encontrar no meio do caminho, seus braços erguidos exageradamente sobre a cabeça.

Bufando em exasperação, ela pronunciou:

– O que aconteceu lá, você está louco? Como permitiu que Rosemarie o visse? Ela certamente percebeu que nós somos guardiões, agora as duas tentarão fugir. De novo!

– Belikov. Como deixou isso acontecer? – Repetiu Ronald, aflito.

– Fiquem calmos. Está tudo sob controle. Rosemarie aparentemente está incapacitada e, se tentarem fugir, nós facilmente as pegaremos.

– Como pode saber disso? – Questionou Zora. – Não temos notícias delas há quase dois anos, se ela estivesse incapacitada não teríamos como realmente possuir esse conhecimento.

– Pude perceber enquanto as olhava pela janela. – Tentei explicar, mas falhando miseravelmente.

Zora e Ronald me lançaram olhares curiosos, aparentemente querendo saber o que eu queria dizer ao me referir que notara esse fato olhando apenas pela janela. Maldição! Não deveria ter falado sobre esse assunto logo agora.

Para minha sorte, senti o bip do rádio transmissor apitando como louco em meu bolso. Coloquei-o próximo a meus lábios.

– Belikov.

– Aqui é Malcom. Movimentações suspeitas na porta dos fundos há poucos minutos, elas estão indo para o sul, há um carro estacionado na esquina da Brown. – Ele fez uma pequena pausa e em seguida acrescentou: – Mas elas não vão muito velozes... Parece que uma delas está bêbada...

– Ótimo! – O interrompi, eu já sabia o bastante. – Sigam-nas. Estamos a caminho.

Sem mais uma palavra a Ronald e Zora, virei-me rapidamente em direção à rua indicada. Eu havia estudado o mapa daquele lugar como se para uma importante prova final e, pensando por esse lado, realmente o era. Minha nota deveria ser a máxima, ali não me eram permitidas falhas. Decorei cada milímetro de espaço que aquele campus possuía e sabia de cor que aquela rua em particular ficava a apenas quatro quarteiros de distância de onde nós estávamos. Por isso minhas longas pernas me fizeram alcançar o caminho mais depressa que os outros dois, e pude ouvi-los gradativamente mais distantes conforme minhas passadas aumentavam. Procurei quase inutilmente me acalmar enquanto sentia que meus batimentos cardíacos saltavam como loucos em meu peito.

Finalmente teríamos a princesa Dragomir de volta! Todo o meu trabalho não seria em vão novamente, agora eu tinha encontrado, finalmente, um propósito. Se eu me sentia completo ou realizado? Não, longe disso, eu ainda possuía muitos outros problemas a enfrentar. Mas o contentamento fluía em mim loucamente, como uma espécie de incentivo a meus passos. Eu queria acabar com tudo isso e começar a exercer aquilo que eu de fato mais queria: proteger Vasilisa Dragomir.

Assim que avistei ambas a aproximadamente duas quadras do carro estacionado na esquina, apressei-me em me esconder próximo ao veículo. Ali, havia um muro alto de pedras que tinha uma leve curvatura e poderia me cobrir suficientemente bem; ao mesmo tempo em que me permitia boa visibilidade dos arredores. Ronald e Zora se juntaram a mim assim que conseguiram me alcançar, posicionando-se prontamente para o ataque. Observavam-me de esguelha, esperando apenas por meu sinal.

Nós não precisamos esperar muito tempo até que elas aparecessem, no entanto, apesar de que estivessem correndo não muito velozmente. Assim como Adam havia rapidamente percebido e relatado, Vasilisa carregava a Dhampir dopada como se ela estivesse a ponto de desmaiar. E eu aproveitei essa deixa e a de que os guardiões estavam eventualmente cercando a rua para bloquear seu caminho pouco antes de elas alcançarem o carro estacionado a poucos metros de distância, descruzando meus braços antes protetoramente sobre o peito e as encarando pacificamente.

Elas chegaram a um impasse, estavam completamente cercadas e sem lugar algum para onde pudessem escapar. E percebendo minha presença prontamente como uma ameaça maior, Rosemarie ignorou quaisquer que fossem suas fraquezas imediatamente, agarrando Vasilisa bruscamente pelo braço e a empurrando para trás de si, em um movimento defensivo onde o corpo da Dhampir servia como uma espécie de escudo protetor. Depois de alguns segundos, porém, o restante dos guardiões alcançara o pequeno círculo em que estávamos posicionados ao redor das estudantes e assumiram suas posições de batalha, todos esperando minha autorização. Esta uma que não veio, entretanto. Meus olhos estavam focados nos castanhos escuros de Rosemarie, – que pareceu finalmente tê-los notado ao seu redor – mas também não os desviou dos meus.

Desatenta, pensei. Um sorriso de escárnio dançando em meus lábios. Se tivesse pensado com antecedência poderia ter evitado tudo isso...

Mas em que merda eu estava pensando?

Sua atitude inconsequente jamais permitiria a ela uma análise fria da situação. Eu já sabia que nosso encontro seria totalmente imprevisível, afinal não tinha certeza sobre o que esperar de suas reações, que eu só podia imaginar – fato esse que de forma alguma me agradava. Porém, em nem uma hipótese eu poderia pensar a favor dela, afinal sua incapacidade me era favorável. Ela não tinha outra escapatória, por isso talvez estivesse pensando em um tipo de rendição. Era o mais sensato e o que eu escolheria sem pestanejar se estivesse em sua situação. Além disso, pouparia consideravelmente meu trabalho. Isso seria um benefício para ambas as partes.

Mas, ao contrário do que eu pensava, ela tomou uma posição ainda mais defensiva à frente de Vasilisa e falou em uma voz que não passava de um grave rosnado:

– Deixe-a em paz. Não a toque.

A garota estava evidentemente derrotada, não havia chances para escapar, mas ainda assim mantinha sua guarda rígida e confiante diante da princesa, como se eu fosse o único empecilho. Em momentos como esse, eu ficava contente que meus longos anos de experiência, tanto na Rússia como nos Estados Unidos, houvessem me ensinado a camuflar meus sentimentos tão bem – por que eu estava surpreso. Muito surpreso. E enquanto lidava com a garota Dhampir, eu subitamente entendi com perfeita clareza como elas se mantiveram fora do nosso alcance por tanto tempo. Por pura sorte? Para chamar a atenção dos pais ou o restante da Escola? Kirova era uma tola se pensava assim. A princesa não precisava de mais nada para se proteger além daquela armadura selvagem que me olhava desafiadoramente com seus olhos escuros.

Ela.

A lendária Rose Hathaway.

Agora eu entendia perfeitamente bem porque todos os estudantes da Academia insistiam em chamá-la de tal forma. Havia um misto de paixão e intensidade que irradiava dela, quase algo palpável. Tensão cobria cada pedaço de seu corpo enquanto ela me encarava, desafiando-me a fazer qualquer movimento. Ela possuía uma ferocidade que eu realmente não esperava – que ninguém esperava, percebi de repente, todos pareciam não enxergar nada além de seus registros escolares delinquentes e sua fama de irresponsável. Mas o brilho em seu olhar dizia claramente o contrário: que ela não estava ali para brincadeiras e lutaria com bravura até seu último suspiro antes de deixar qualquer um ferir Vasilisa, que ainda permanecia grudada à suas costas.

E, assim como minha antiga comparação para ela se revelara errada, – que um pássaro preso e assustado certamente era a última coisa que poderia defini-la – uma nova e totalmente inesperada tomou meus pensamentos repentinamente: ela me fez lembrar um gato selvagem encurralado. Elegante e austera, mas plenamente capaz de arranhar qualquer desavisado se provocada.

E, mesmo com a pouca luz naquela noite ventosa e escura, eu podia perceber claramente que ela era linda – de uma maneira exótica e letal – e isso me pegou desprevenido também. Eu primeiramente imaginei que ambas estariam muito diferentes das fotos em seus arquivos, mas nunca pensei que seria algo tão marcante. A imagem não lhe fazia justiça: cabelos compridos e escuros emolduravam um rosto cheio de uma beleza bruta, em que um homem poderia facilmente ter seu coração partido. Os olhos, embora cheios de ódio por mim, ainda conseguiam fazê-la sedutora. Ela poderia estar acuada, desarmada e debilitada, mas Rose Hathaway possuía muitas outras armas.

Eu não queria ser forçado a lutar com ela, por isso ergui as mãos em um gesto apaziguador conforme dava um passo à frente. Foi um erro, pude ver pela sua expressão, que escureceu.

– Eu não vou... – Ainda insisti em dizer, mas foi vão.

Ela atacou.

Eu observei, atentamente, tudo acontecer de maneira lenta, prevendo os seus passos assim que ela veio em minha direção. Não me surpreendi tanto com a agressão em si, mas sim que ela tentaria defender sua protegida mesmo com suas chances de escapar sendo quase nulas. Deveria ter ficado surpreso? Provavelmente não. Como já havia percebido, era óbvio que Rose estava disposta a fazer qualquer coisa e lutar contra qualquer um para proteger Vasilisa. E eu a admirei por isso, – admirei muito – afinal essas eram qualidades raras e veneráveis em um guardião. Porém, não me impediria de revidar para bloqueá-la. Afinal a princesa ainda estava sob minha responsabilidade e continuava sendo meu principal objetivo esta noite.

E, embora Rose tivesse tamanha fúria e confiança, seu ataque fora desajeitado e fácil de desviar. Ela tinha parado há muito tempo com os treinos na Academia, por isso seus golpes não possuíam tanta técnica e eram fracos. Só que eu também não havia medido suficientemente bem minha força e, ao acertá-la para desviar dela, acabei desequilibrando-a. Rose, não se recuperando muito bem da pancada, começou a cair – e foi aí que me lembrei da perda de sangue que ela sofrera não mais que meia hora atrás.

Instintivamente, eu a alcancei em um segundo e segurei seus braços com força antes que atingisse o chão, mantendo-a firmemente próxima a mim. Em hipótese alguma gostaria de ser responsabilizado caso sofresse um ferimento mais sério. Seu longo e maravilhoso cabelo voou para longe de seu rosto, revelando aquelas repulsivas marcas no lado direito de seu pescoço. Eu as encarei novamente, petrificado. Mas por sorte camuflei bem minhas emoções para que ela não notasse a tamanha surpresa que me provocou ao tocar com os próprios dedos a ferida e constatar que ali havia sangue. Encontrei seus olhos assim que ela virou em minha direção, um leve rubor se formando em suas feições conforme balançava as densas mechas escuras para que cobrissem devidamente aquelas marcas.

Apesar da situação constrangedora, – tanto para ela quanto para mim – pude ver em sua expressão que ela recuperara a bravura de minutos atrás e erguia seu pequeno corpo novamente, preparando-se para outro ataque. Eu fiquei preocupado, afinal não queria ter de acertá-la mais uma vez, ela já parecia fraca demais. Porém, mesmo que não quisesse lutar contra essa garota corajosa, bela e imprudente, eu gostaria de poder… Bem, poder o quê? Eu não tinha a mais vaga ideia. Na verdade, meus repentinos pensamentos me surpreendiam mais até do que tudo o que ocorrera esta noite. Algo em mim dizia fervorosamente que eu precisava de mais além de uma luta injusta no meio de uma rua deserta no campus de qualquer Universidade em Portland. Havia potencial demais ali para ser ignorado. Essa garota poderia ser imparável se tivesse seus talentos guiados e aprimorados devidamente.

E assim, entendi perfeitamente o que eu gostaria de poder fazer: eu queria ajudá-la.

Só que ela precisava querer isso também.

Assim que Rose parou diante de Vasilisa, a princesa segurou suas mãos subitamente, tentando contê-la antes de tentar me atacar novamente.

– Rose. Não. – Ela procurou olhar fixamente em seus olhos.

Por um momento, nada aconteceu, e todos nós permanecemos imóveis, apenas as encarando com expectativa. Então, lentamente, a tensão e hostilidade se dissiparam do corpo de Rose. Bem, não toda a hostilidade. Ainda havia aquele brilho perigoso em seu olhar que me manteve alerta. O resto de sua linguagem corporal dizia que, embora ela não tivesse admitido derrota, ela havia concedido uma trégua – desde que eu não lhe desse motivo para me atacar novamente. O que eu não pretendia fazer. Também pretendia nunca subestimá-la novamente.

E me certificaria de que ninguém mais o faria.

Satisfeito com sua passividade, desviei finalmente meus olhos dos seus e foquei minha atenção na princesa. Era estranho pensar que, apesar de minha protegida, não a notara em nenhum instante desde que chegamos ali. Ela intercalava olhares nervosos entre mim e Rose, temendo que a amiga impulsiva fizesse outro repentino movimento. Mas eu estava certo de que mais nada viria dela, ao menos por enquanto. Por isso, prendi seu olhar brandamente, esperando por sua atenção. Vasilisa Dragomir era a última de uma linhagem prodigiosa e admirável, o que me obrigava a seguir certos protocolos reais, mesmo que fossem completamente arcaicos.

Eu me abaixei a sua frente.

– Meu nome é Dimitri Belikov. Vim para levá-la de volta a St. Vladimir, princesa.


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Notas finais do capítulo

Bem, como prometido, vamos surtar comigo?
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAH!
MEU DEUS, MORRI COM AQUELE TRAILLER, GENTE!
Isso me animou tanto, mas tanto, que eu TIVE que postar o capítulo quatro, agora IMAGINEM ESSA CENA NO FILME??? ~todos deliram.....
Ah, caramba, vou me acalmar em um segundo...
NÃO, MENTIRA! ESTOU MUITO HISTÉRICA PRA ME ACALMAR!
Gostaram do capítulo?? Gente, espero seus comentários!
BEIJOS ENORMESSSSSSSSS!!!!!