Inopino escrita por Roberta Matzenbacher


Capítulo 10
Capítulo dez


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal!
Ok, eu estou super envergonhada aqui. Sei que demorei meses para postar a sequência, e também não tenho desculpas para isso, quer dizer, até teria, mas isso foi há muito tempo. Só tem uma coisa que me impediu de postar, na verdade: inspiração. Eu estava presa em uma parte deste capítulo e não conseguia sair de jeito nenhum! Foi horrível, sério, não desejo isso a ninguém. Acabei excluindo a história, voltando com ela, dei um tempo, fiquei afastada... até mesmo acabei aquela fanfic de HoN que eu disse que terminaria, dizendo a mim mesma que a partir de agora eu me focaria exclusivamente em Inopino. Isso significa que vocês terão postagens bem mais frequentes, e eu não vou desistir até que ela esteja finalizada!
Pois bem... como eu estava sem escrever nela há algum tempo, acho que fiquei um pouco enferrujada. O capítulo, pra mim, não ficou no mesmo nível dos outros, mesmo que eu tenha me esforçado a beça nele. No fim, aquele bloqueio criativo serviu para me deixar longe da personalidade do Dimka também, argh! Que ódio! Peço que me digam se algo estiver fora da casinha, tá bem? Me digam o que acharam, claro, se tiver alguém aí ainda, hahaha. Tomara que vocês não tenham me abandonado!
Enfim, gostaria de dedicar esse capítulo a duas pessoas maravilhosas que fizeram recomendação! Lecter e analumoraes, sem palavras para expressar sobre isso, sério! A minha jujuba já sabe que eu sou apaixonada por ela e por tudo o que ela escreve, mas a Analu ainda é um pouco nova por aqui... ainda precisa se acostumar com as minhas loucuras, hahahahaha.
Ah, também quero agradecer pelos comentários! Eu os amei de paixão, ok? Obrigada!
Pois bem... acho que é isso. Vamos ao capítulo.
Boa leitura.



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Capítulo dez

Eu estava atrasado.

Não que eu estivesse reclamando, no entanto. Conversar com Alberta me ajudou a organizar melhor meus pensamentos e conter a angústia, é claro, mas isso me tomou muito tempo, fazendo com que eu precisasse praticamente correr em direção ao prédio de aulas, onde eu faria a fiscalização junto de outros guardiões. Minhas passadas eram largas, apressadas, e meu nervosismo crescia conforme os segundos passavam e eu ainda me mantinha fora do meu posto. Entretanto, uma voz ao longe quebrou a linha de meus pensamentos e me fez retesar.

Belikov. – A pessoa chamou, mas eu não me virei na sua direção, apenas continuei a minha caminhada/corrida de forma apressada. – Belikov! – A voz chamou mais uma vez. Parei de andar e me virei para trás a ponto de ver um Laurence ofegante, correndo rapidamente até mim. – Nossa, é realmente difícil encontrar você. Estive te procurando há algum tempo.

– Eu estava ocupado, resolvendo alguns assuntos. – Respondi evasivamente. – E tenho que fiscalizar a próxima aula, por isso, estou com um pouco de pressa. Vamos indo até lá enquanto você me diz o que aconteceu, tudo bem? – Ele concordou com um aceno e me seguiu pelos corredores assim que comecei a andar novamente. Entretanto, para minha surpresa, Laurence não iniciou seu tagarelar como de costume, pelo contrário, ele parecia estar pensativo.

– E então... – Comecei hesitante, instigando-o a falar de uma vez. – Por que quis me procurar? Há algum problema com os portões?

– Ah, não. Nada disso. – Ele me tranquilizou rapidamente. – Não há nenhum problema com os portões.

– Então, o que é? – Insisti.

– Bem, como você deve saber, os guardiões que vieram para o resgate das estudantes vão partir de volta amanhã. Só que Yuri sugeriu que fizéssemos uma festa para comemorar o sucesso de todos na missão e o empenho que o pessoal teve ao capturar Rosemarie e Vasilisa em Portland. E como todos eles seriam uns fracassos sem você, pediram-me para lhe passar o recado.

– Uma festa? – Inquiri sem muita animação.

– É. Sabe, mais para descontrair do clima pesado de trabalho. O pessoal está indo embora amanhã à tarde, de qualquer maneira. Planejamos sair da Academia com quatro carros. Assim que as aulas acabarem, iremos a um bar qualquer, não perguntei para ter certeza de qual. – Ele me encarou com expectativa. – Mas e aí? Topa?

Pensei na alternativa. Descontrair um pouco da rotina pesada não seria nada mal, ainda mais quando eu vinha trabalhando tão duro nestas últimas semanas, tanto para tornar a emboscada perfeita quanto em estudar minha futura protegida e cumprir meus horários normais na Academia. Dentre todos os guardiões dali, eu, provavelmente, era o que mais merecia tal descanso, nem que apenas por algumas horas.

Ah, claro, isso sem contar o fato de que há duas horas eu não teria outras responsabilidades a não ser fiscalizar os portões e fazer rondas pela escola. Isso antes de eu aceitar ser o mentor de Rose Hathaway.

– Não vou poder. – Respondi. – Tenho um horário de aula a cumprir.

– Aula? – Laurence parecia confuso. – Até onde eu sei, suas atividades extras acabariam juntamente com o término do resgate, assim como as dos outros.

– Eu tenho uma nova aluna. Rose Hathaway. – Tentei dar a menor explicação possível. Eu não queria que ele me bombardeasse com perguntas que eu não queria responder. – Sou seu mentor agora.

– Uau! Da recordista em infrações? – Ele riu. – Desculpe dizer, meu amigo, mas acho que você está seriamente ferrado.

– É. – Disse de mau humor, enquanto olhava cobiçosamente para dentro da sala de aula. Por que todos insistiam em falar isso? – Ao que parece.

– Oh, me desculpe, eu não quis soar tão estúpido, quero dizer, eu sei que são apenas fofocas dos alunos e já faz quase dois anos, mas... Bem, nada de mais com isso, certo? Ela pode até mesmo ter amadurecido de alguma forma durante esse tempo longe, ainda mais, guardando uma Moroi da realeza e tudo. As pessoas podem exagerar um pouco com as histórias, você sabe, com todas as festas e os boatos sobre ela ter feito... – Eu acenei em sua direção, calando-o.

– Eu realmente preciso entrar. – Eu disse. – Tenho que fiscalizar a aula de Stan.

– Tudo bem. Vou ver com Yuri se eles podem atrasar um pouco nossa ida até o bar. É sério, Belikov, se não fosse por você, nem teríamos pegado as estudantes. Eu acho que eles te devem essa.

Segurei o impulso de revirar os olhos. Laurence podia ser um novato bastante talentoso e capaz, mas sua tagarelice me irritava às vezes, tanto quanto sua insistência. Por isso, apenas acenei, distraidamente, com a cabeça, enquanto murmurava:

– Claro. – Eu não estava muito ansioso para ir a esta festa, portanto, se ele conseguisse que Yuri mudasse seus planos ou não, eu não me incomodaria. – Obrigado, Laurence.

– Disponha. – Ele respondeu, virando-se para o corredor e praticamente correndo de volta para onde quer que fosse.

Balançando a cabeça para os lados, segui para meu posto ao fundo da sala de aula. Não foi nenhuma surpresa encontrá-la praticamente lotada de aprendizes, além, é claro, dos demais guardiões que fiscalizariam a turma junto a mim. No fim das contas, o meu atraso, proveniente da conversa com Laurence, impediu-me de chegar mais cedo. Por isso, cumprimentei, rapidamente, meus colegas de trabalho e me posicionei, confortavelmente, contra a parede, enquanto aguardava a mesma monotonia diária que era o dia letivo em St. Vladimir.

Meus pensamentos voavam através das novas informações, que vieram a mim em tão pouco tempo. Eu tinha inúmeras tarefas a cumprir, mas minha mente parecia insistir que eu deveria deixar a maioria de lado para estudar, exclusivamente, as habilidades de Rose a fim de chegar a minha protegida. Havia algo que se mesclava às duas, e eu precisava descobrir mais sobre o único laço que as mantinha unidas de uma forma diferente dos demais.

Também havia, é claro, as novas palavras de Laurence. Em meio ao seu discurso atrapalhado, ele acabara dizendo algo completamente cabível e que se encaixava perfeitamente ao discurso de Alberta. A fama ou as manias agressivas e imprudentes de Rose não a descreviam por inteiro, ao contrário, eram apenas uma espécie de casca que a separava de seu verdadeiro “eu.” Era evidente que ou ela realmente era assim e acabou mudando com o tempo, ou ela tentava esconder uma personalidade completamente diferente. Por um lado, eu me sentia satisfeito por poder ser um dos únicos capazes de vê-la em sua completude, mas, por outro, isso se mostrava um empecilho gigantesco entre ela e seu momento de glória, como Alberta mesmo dissera. Rose teria de se esforçar muito para mudar sua reputação, e eu não sabia se seria capaz de fazer muita coisa a esse respeito, uma vez que isso dependia exclusivamente de suas atitudes.

Como se estivéssemos conectados de alguma forma, Rose irrompeu pela porta no mesmo instante em que meus olhos se voltaram para lá. Entretanto, ao contrário de mim, ela não reparou minha presença atrás da sala. Ela parecia bastante distraída e alheia ao espaço ao redor, e isso era algo completamente imperdoável a um guardião, que deveria estar atento a qualquer tipo de perigo. Tomei uma nota mental de integrar isso ao plano de aulas mais tarde.

Não muito tempo depois, o sinal que iniciava as aulas soou e Stan Alto, o guardião que dava a matéria teórica de defesa aos aprendizes entrou na sala com a mesma expressão carrancuda de sempre. Ele parecia ser alguém extremamente mau humorado, entretanto, era apenas isso, aparência. Para quem já tivesse conversado com ele – claro, se não fosse algum aluno inconveniente nem algo do gênero –, Stan se portava como uma pessoa despreocupada e solícita, com apenas algumas piadas sarcásticas demais, mas cada qual tinha seus pontos negativos.

O que eu não esperava – ou talvez eu esperasse –, no entanto, era que um desses alunos em questão seria Rose. Foi visível a mudança no semblante do guardião Alto. Sua carranca se intensificou, para, logo depois, dar lugar a olhos arregalados. Eu sabia que ele estava fingindo, afinal, todos os guardiões tinham completo conhecimento da missão em Portland, entretanto, não pude evitar ficar completamente curioso sobre o que ele diria.

– Mas o que é isso? – Stan finalmente exclamou, chamando a atenção da classe inteira. – Ninguém me contou que teríamos uma palestrante convidada aqui hoje. Rose Hathaway. Que privilégio! Que grande generosidade de sua parte ceder algum tempo da sua agenda tão cheia de compromissos para dividir um pouco do seu conhecimento aqui conosco.

Vi quando as bochechas de Rose enrubesceram e ela parecia indignada com o atrevimento de Stan. Estava claro que ninguém esperava por isso, nem mesmo os guardiões ao meu lado, que trocaram olhares hesitantes, mas logo mais deram de ombros. As aulas não diziam ao nosso respeito mesmo. Já Stan, que ainda encarava Rose, fez um rápido gesto para que ela se levantasse.

– Bom, vamos, vamos. – Ele disse. Seu sarcasmo era evidente. – Não fique aí sentada! Venha para frente da sala e me ajude a dar a aula.

Seu corpo se afundou na cadeira.

– Você não está falando sério...?

O sorriso cínico de Stan desapareceu e ele a encarou com raiva.

– Estou falando muito sério, Hathaway. Vá para frente da sala!

Um silêncio pesado envolveu o ambiente, entretanto, isso não pareceu intimidar Rose. Ela andou de maneira altiva até a frente da turma e jogou os cabelos para o lado, num gesto que demonstrava puro desinteresse. E foi aí que seus olhos captaram que havia mais plateia do que o esperado. Os olhos de Rose passaram por cada guardião até se prenderem aos meus. Eu me mantive sério, como sempre, apenas torcendo para que essa atitude toda cedesse lugar a um pouco de humildade, afinal, Stan não pouparia esforços até vê-la no chão.

– Então, Hathaway. – O sorriso forçadamente alegre de Stan tomava conta de seu rosto enquanto ele andava de um lado a outro na frente da sala, próximo a Rose. – Instrua-nos com as suas técnicas de proteção.

O rosto de Rose ficou pálido.

– Minhas... Técnicas?

– É claro. Pois seria de se esperar que você tivesse algum tipo de plano que todos nós não pudemos compreender quando você levou uma Moroi da realeza, menor de idade, para fora da Escola e a expôs a constantes ameaças de Strigoi.

– Nós nunca esbarramos com nenhum Strigoi. – Ela respondeu com firmeza.

– Evidentemente. – Stan murmurou. Aquele sorriso sádico nunca saindo de seus lábios. – Eu já havia concluído isso, uma vez que vocês duas ainda estão vivas.

Eu esperava uma atitude explosiva vinda de Rose naquele momento, mas, para minha completa surpresa e alívio, ela não revidou o guardião Alto. Franzi as sobrancelhas, desnorteado com o andamento dos acontecimentos. Pelo visto, alguém tinha aprendido algo, afinal.

Stan, no entanto, interpretou o silêncio de Rose como um incentivo.

– Então, o que você fazia? Como você se certificava de que ela estava a salvo? Vocês evitavam sair durante a noite?

– Às vezes.

Às vezes. – Stan silvou, repetindo as palavras de Rose em uma tentativa de imitá-la, mas exagerando na afinação para tornar sua fala mais desdenhosa. – Bem, então, eu imagino que você dormia durante o dia e ficava em estado alerta durante a noite.

– É... – Rose pareceu pensar. – Não.

– Não? Mas esta é uma das primeiras lições mencionadas no capítulo sobre como proteger sozinho uma só pessoa. Ah, não, espere. Você não conhece esta lição, pois você não estava aqui.

Vi quando ela fechou os olhos com força e engoliu em seco.

– Eu examinava a área todas as vezes que nós saíamos. – Defendeu-se.

– Mesmo? Bom, isso já é alguma coisa. Você usou o Método Carnegie de Fiscalização Quadrante ou preferiu a Fiscalização Rotacional?

Mais uma vez, Rose ficou em silêncio.

– Ah. – Stan exclamou com falso pesar. – Imagino que você tenha usado o método Hathaway de Dar-Uma-Olhada-Em-Volta-Quando-Você-Lembrar.

– Não! – Rose gritou, finalmente explodindo. – Isso não é verdade! Eu a protegi. Ela ainda está viva, não está?

– Porque você teve sorte.

– Os Strigoi não estão escondidos em todas as esquinas lá fora. – Ela revidou. – Não é como nos ensinam aqui. É mais seguro do que vocês fazem parecer.

– Seguro? Seguro? Nós estamos em meio a uma guerra contra os Strigoi! – Gritou Stan. Era visível a sua frustração em tentar convencê-la de seus erros, mas eu não me afetava muito por isso. Eu considerava que expor um aluno desta maneira não era o melhor método, nem se fosse com as melhores intenções. – Um deles poderia ter ido direto até você e quebrado seu lindo pescocinho sem que você sequer chegasse a perceber a presença dele, e não derramaria nem mesmo uma gota de suor fazendo isso. Você pode ser mais veloz e mais forte do que um Moroi ou do que um humano, mas você não é nada, nada, se comparada a um Strigoi. Eles são letais e poderosos. E você sabe o que os torna mais poderosos?

Rose estava se sentindo humilhada, eu via isso em sua expressão. Suas bochechas estavam muito vermelhas e seus olhos começaram a lacrimejar, mas eu sabia que ela faria o máximo para esconder essas emoções. Pude perceber, em apenas algumas horas, que ela odiava quando outras pessoas atrapalhavam seu caminho ou descobriam algo que dizia respeito somente a ela ou à princesa. E me espantei, também, com maneira como ela se parecia comigo, de alguma forma. Eu também escondia meus verdadeiros sentimentos, sempre colocando a mesma máscara imparcial para que outros não me vissem como eu realmente era. No entanto, isso era necessário em meu mundo. Eu precisava ser forte para lidar com a vida, mas também com a morte. Guardiões tinham a obrigação de manter a ordem e a disciplina, mesmo que isso acabasse com suas próprias vidas.

Seu olhar se encontrou com o meu naquele momento, mas eu não saberia dizer o que ela estava pensando. Era claro o seu pedido mudo por algum tipo de ajuda, mas eu não fiz absolutamente nada. Como poderia? Ela esperava mesmo que eu interceptasse por ela nesta situação? Ela pensou que sair com Vasilisa da Academia sem nem ao menos possuir uma formação era o certo, mesmo que houvesse qualquer ameaça as rondando?

Eu não sei o que ela viu em minha expressão imparcial, mas isso fez com que ela dissesse com a voz baixa:

– Sangue Moroi.

– O que foi que você disse? – Stan questionou, colocando a mão em concha contra a orelha e se aproximando mais de seu rosto. – Eu não ouvi.

Rose voltou-se para Stan com fúria.

– Sangue Moroi! – Ela exclamou. – É o sangue Moroi que os fortalece.

Ele fez um sinal rápido com a cabeça, como se aprovasse a resposta.

– Exatamente. O sangue Moroi torna-os mais fortes e praticamente indestrutíveis. Eles matam humanos e Dhampir para tomar seu sangue, mas o que eles anseiam mais do que qualquer outra coisa é o sangue Moroi. Eles o buscam. Eles se voltaram para o lado negro a fim de ganhar imortalidade, e farão o que for preciso para manter essa conquista. Strigoi desesperados já atacaram Moroi em público. Grupos de Strigoi já tomaram escolas exatamente como esta. Existem Strigoi que viveram durante milhões de anos alimentando-se de gerações de Moroi. É quase impossível matá-los. E é por isso que o número de Moroi está diminuindo. Não são fortes o suficiente, mesmo com seus guardiões, para se protegerem. Alguns Moroi não vêem nem mesmo mais por que continuar fugindo e estão simplesmente se transformando em Strigoi por vontade própria. E, se os Moroi desaparecerem...

– Os Dhampir desaparecem também. – Rose completou.

– Bem, parece que você aprendeu alguma coisa, afinal. – Ele disse desdenhosamente. – Agora, vamos ver se você consegue aprender o suficiente para passar nesta matéria e se qualificar para a experiência de campo do próximo semestre.

Como se quisesse ficar invisível, Rose voltou para sua cadeira e ficou lá encolhida durante o restante da aula. As últimas palavras de Stan ficaram rondando na minha mente durante um bom tempo depois disso. Se eu quisesse que Rose atingisse seus colegas, e passasse na experiência de campo, que aconteceria no fim do semestre, eu teria de me esforçar ao máximo. Nela, os aprendizes tomariam conta de um determinado Moroi enquanto os guardiões se passariam por Strigoi. Aquele era o momento mais esperado de um estudante, e eu não tinha dúvidas de que Rose também estivesse ansiosa por ele. Entretanto, ela precisaria estar capacitada para isso, e nada era mais óbvio para mim do que estudar suas habilidades a fim de poder ajudá-la a melhorar seu desempenho.

Pensando nisso, troquei de lugar com um dos guardiões que teria folga no próximo horário e peguei uma cópia da grade curricular de Rose, seguindo para sua próxima aula, que seria de combate físico. Observei-a por detrás de uma enorme parede de vidro que ficava logo atrás do ginásio durante algum tempo, tentando captar o maior número de informações possível, entretanto, depois da vigésima queda, perdi as esperanças.

Eu já sabia que Rose não tinha muitas técnicas, mas as circunstâncias foram outras quando eu a raptei. Ela estava fraca por causa da mordida de Vasilisa e – por que não? – lutando comigo. Eu era um guardião formado e com anos de experiência, tendo matado vários Strigoi em minha vida. Uma coisa era lutar contra mim, outra, era lutar contra aprendizes com a mesma idade e nível de habilidades dela.

Uma sensação crescente e desgastante de frustração tomou conta de mim enquanto eu a via cair uma e outra vez. Seus reflexos eram lentos, ela não tinha confiança e, muito menos, precisão nos golpes, aplicando mais força do que o necessário, o que a deixava cansada mais depressa. Naquele momento, eu finalmente percebi que teria muito mais trabalho do que o esperado. Rose, ao contrário do que eu pensara, não tinha nenhum conhecimento sobre o que estava fazendo. Eu me recusava a admitir, mas não era capaz de negar que Kirova estivera certa quando disse que apenas uma força de vontade e talentos muito brutos não seriam capazes de levá-la a lugar nenhum. O que Rose precisava era de um choque de realidade.

Por isso, quando o primeiro tempo de aulas finalmente acabou, eu caminhei a passos largos na direção do seu prédio de aulas, conseguindo avistá-la caminhando lentamente até o refeitório. Ela parecia extremamente dolorida, mas a constatação apenas me deixou ainda mais irritado. E mesmo que eu repetisse a mim mesmo para não agir como Stan, não conseguia conter a vontade de berrar a plenos pulmões o quão irresponsável ela fora.

– Imagino que você tenha visto o que aconteceu na aula de Stan. – Ela disse assim que notou minha presença ao seu lado. Eu ainda me mantive em silêncio por um tempo, buscando concentração, mas decidi que nada do que eu dissesse poderia ser pior do que tudo que ela ouvira até aquele momento.

– Vi. – Finalmente murmurei.

– E você não acha que foi injusto?

Contive um sorriso irônico. Ela realmente pensava isso, então.

– Ele não estava certo? – Eu revidei. Podia sentir o tom frio nas minhas palavras, mas não o contive. – Você acha que estava inteiramente preparada para proteger Vasilisa?

Ela baixou a cabeça, chutando algumas folhas pelo chão.

– Eu a mantive viva. – Murmurou.

Infelizmente, porque ela teve sorte, assim como Stan dissera.

– Como você se saiu hoje, lutando com os seus colegas de classe? – Eu sabia que a pergunta era cruel e insensível, mas não pude evitar. Se Rose não percebesse a tempo que suas atitudes a deixariam cada vez mais distante de proteger a princesa, ela perderia de vez a pouca chance que tinha de isso acontecer. Ela continuou olhando para baixo, pois sabia que seu desempenho de mais cedo já me dera uma excelente resposta para essa pergunta. – Se você não consegue lutar contra eles...

– Eu sei, eu sei. – Ela me cortou.

Olhei para ela e percebi o quanto ela parecia acabada. Diminuí meus passos para acompanhá-la, pensando que talvez ela já houvesse captado a mensagem, afinal. Talvez Rose apenas estivesse cansada de receber críticas quando a única coisa que ela precisava era um pouco de apoio. Suspirei, aliviando um pouco meu tom de voz.

– Você é forte e veloz por natureza. – Eu disse. – Só precisa continuar em forma. Você não praticou nenhum esporte enquanto esteve fora?

– Claro. De vez em quando.

– Não chegou a fazer parte de nenhum time? – Eu podia sentir o fio de esperança se esvaindo aos poucos.

– Dava muito trabalho. – Ela deu de ombros. – Se eu quisesse praticar tanto assim, teria ficado aqui.

Encarei-a com descrença. Céus, será que teríamos de começar do zero?

– Você nunca será realmente capaz de proteger a princesa se não aprimorar suas habilidades. Ficará sempre faltando alguma coisa.

– Eu saberei como protegê-la.

Suspirei. Repentinamente, eu me sentia cansado.

– Não há qualquer garantia de que você será a escolhida para protegê-la, você sabe. – Eu disse lentamente, testando suas reações. – Seja durante a sua experiência de campo, seja depois da formatura. Ninguém quer desperdiçar o laço, mas Vasilisa não irá receber uma guardiã inadequada, também. Se quiser ficar ao lado dela, terá de se esforçar para conseguir isso. Você tem as suas aulas; você tem a mim. Pode fazer uso de ambos ou não. Você é a escolha ideal para ser a guardiã de Vasilisa quando se formarem, caso você, de fato, prove ser merecedora de exercer essa função. – Fiz uma pausa. – Eu espero que você o faça.

Eu estava realmente surpreso comigo mesmo. Eu não tinha o costume de deixar tantas informações escaparem de mim assim, tão facilmente. Geralmente, procurava ser alguém mais fechado e que afastava as pessoas, mas, estranhamente, eu sentia que deveria fazer o oposto com Rose. Talvez fosse porque eu nunca experimentara uma relação mentor/aluno antes, isso não importava. Eu apenas queria saber que estávamos no mesmo barco.

Rose poderia ter respondido qualquer coisa. Concordado com minhas palavras, ficado furiosa com elas, garantir-me que faria o seu melhor – ou mesmo tentar fugir da Academia mais uma vez. Ela poderia se utilizar de quaisquer alternativas cabíveis e lutar para ser a guardiã de Vasilisa, ou mesmo me ignorar prontamente. Eu esperava qualquer coisa vinda dela. Entretanto, ela não fez nada disso. E a única coisa que saiu de seus lábios foi:

– Lissa. Chame-a de Lissa.

Eu a encarei por um tempo, chocado.

Mas antes que eu fizesse qualquer besteira da qual eu me arrependeria mais tarde, bem como completamente exasperado e temeroso do futuro que eu mesmo escolhi para mim, afastei-me rapidamente de Rose. Eu precisava manter a calma e pensar com clareza no que eu faria a partir dali, sem esquecer o fato de que eu estaria lidando com um dos estudantes mais intransigentes daquele campus.

Deus, por favor, me ajude.


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Notas finais do capítulo

E... é, é isso, hahahaha. Espero mesmo que vocês gostem. Eu estava SUPER enferrujada e não teve jeito de isso melhorar, mas mesmo assim me empenhei! Espero que vocês não tenham me abandonado nesse longo tempo fora e que me presenteiem com suas palavras lindas! Leitores fantasmas também são convidados a mostrar as caras! Eu vou adorar conversar com vocês, juro!
Ah, e pra quem quiser saber um pouco mais sobre mim ou minhas outras histórias, incluindo sopilers e futuras fanfics que estão no meu Word, entrem no meu grupo do face! Vou amar recebê-los!
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Então... é isso.
Beijos e até o próximo!

Roberta Matzenbacher.