Encontro Surpresa escrita por Flor de Cerejeira


Capítulo 2
Odiável jantar




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Capítulo – 02 – Odiável jantar

 

- Olá – Rin abriu um sorriso brilhante para cumprimentar Sesshoumaru, olhando diretamente em seus olhos. Em resposta, recebeu um olhar glacial.

- Rin, esse é Sesshoumaru Daiyoukai. – disse Miroku. – ele estava nos contando como tem sido difícil a vida dele no escritório desde que sua secretária se machucou, e dissemos à ele que você também é secretária. Contamos tudo sobre você.

Rin estendeu-lhe a mão, e Sesshoumaru não teve outra alternativa se não apertá-la.

- Rin Hiiragizawa. – sua voz estava trêmula, e ela tentou não se importar com a pressão que os dedos fortes fizeram sobre sua mão.

A despeito de sua óbvia relutância em cumprimentá-la, a mão dele era firme e quente... muito mais quente que ela podia imaginar. Rin puxou a mão em seguida, estranhamente incomodada.

- Quanta formalidade, Rin – Miroku comentou divertido. – Por sorte não terei de apresentá-la a Kohako, irmão da Sango.

- Rin já é minha amiga a muito tempo – Kohako explicou, dirigindo a Rin um sorriso simpático, Rin apenas corou um pouco.

Ele, obviamente sabia que fora convidado apenas para fazer parecer que o jantar não era combinado para que Rin e Sesshoumaru se conhecessem. Mas, com certeza, Sesshoumaru não se deixaria enganar.

- Como esta Rin? Faz tempo que não nos vemos!

- Estou bem, Kohako. – embora se sentisse a beira da morte por tanto constrangimento, pensou.

Sango estendeu a Rin uma taça de vinho.

- Pensamos que você poderia dar umas dicas a Sesshoumaru sobre como lidar com as experiências desastrosas que tem enfrentado com a secretária substituta.

Claro. Miroku e Sango haviam dito a ele que ela era uma conceituada secretária executiva, certo?

- É mesmo? – Rin deu um sorriso cínico. – Mas não parece tão difícil encontrar boas secretarias hoje em dia, o que há de errado com a substituta que conseguiu?

- Ela parece não se importar nem um pouco com o relógio – Sesshoumaru disse, fitando com um olhar sarcástico o relógio de parede. Não havia duvidas de que ele havia chegado antes das oito e pegando ate mesmo Miroku e Sango despreparados. - É inacreditável!

- Talvez não esteja muito motivada para o trabalho. Consegue imaginar alguma razão para isso?

Sesshoumaru deu nos ombros.

- Puro descaso. Ou preguiça – ele sugeriu – Ela parece também desligada do mundo em que vivemos... Fala com tanta vivacidade de suas fantasias que parecem reais! – prosseguiu, e à sua revelia, Rin sentiu-se corar, lembrando-se de seu analista financeiro.

Algo ainda poderia piorar aquela noite?

- Bem, nem sempre as relações no trabalho são tranqüilas. Conte a ele sobre seu chefe, Rin. Esse sim parece ser horrível.

Ah, sim. As coisas podiam piorar.

- Como assim? – Sesshoumaru voltou-se com interesse. - Por quê?

Nem, Sesshoumaru havia perguntado, e Rin poderia aproveitar para dizer exatamente o que pensava sobre ele.

- Ele é muito rude e desagradável. – Rin disse fazendo uma careta. – Não tem habilidade para se relacionar com as pessoas. Não consegue dizer ‘’bom dia’’, ‘’por favor’’, ‘’obrigada’’. É... Inacreditável! – ela sorriu cinicamente.

Rin pode ver o rosto de Sesshoumaru tornar-se ainda mais tenso.

- Talvez seja muito ocupado.

- Isso não é desculpa para falta de educação. – Rin disse, fitando-o em seus olhos.

- E ele proíbe qualquer chamada pessoal no escritório. – Sango acrescentou, sem perceber o clima desconfortável entre Sesshoumaru e Rin. – Rin tem que desligar o telefone no meio da conversa quando ele abre a porta. Fica ate engraçado. No meio da conversa ela diz que “retornará em breve minha ligação”. E temos que esperar ate que se tranque novamente em sua sala. – ela se virou para Sesshoumaru. – Isso não acontece em seu escritório, não é?

- Na realidade, não encorajo ninguém ficar conversando no trabalho – ele falou com um olhar desagradável para Rin.

Obviamente, ela nunca mais teria permissão de se aproximar do telefone no escritório. Não que esperasse continuar trabalhando lá depois daquele jantar. Tentava imaginar um momento em sua vida que houvesse sido mais embaraçoso que aquele, e não conseguia se lembrar. Será que a sorte nunca ia sorrir para ela?

- Sua equipe de trabalho pode se sentir mais animada depois de conversar com outro amigo – ela resolveu se defender. - Se puder levar em conta que seus empregados têm uma vida fora do trabalho, talvez a produtividade deles melhore.

- Não há nada errado com a produtividade de minha equipe. – Sesshoumaru não conseguia disfarçar sua irritação.

Todos se voltaram para ele com um ar intrigado, e ele se esforçou por controlar seu mau humor.

- Os funcionários usam o telefone quando necessário, mesmo para resolver algum problema pessoal. Bater papo quando estão recebendo para trabalhar é que eu não admito.

- Sua secretária atrasa o trabalho que pede a ela? – Rin perguntou, com uma suavidade forçada.

- Não, mas faz tudo à sua maneira.

- Talvez devesse trabalhar para Sesshoumaru, Rin. – disse Miroku, em uma tentativa de aproximá-los a qualquer custo. – Com certeza se daria melhor com ele que com seu chefe atual.

- Oh! Seria uma ótima idéia! – Rin disse sorrindo. – Há alguma vaga em sua equipe, Sesshoumaru?

- Há uma grande possibilidade de que surja uma vaga para secretária substituta... Mas certamente não lhe interessaria. Miroku e Sango me disseram que você praticamente dirige a companhia para a qual trabalha atualmente. Eu não posso te oferecer tanto.

Uma rápida onda de calor percorreu o rosto de Rin.

- Mas estou pensando em mudanças de carreira... Estou ficando doente por ser tratada como um ser inferior... Talvez devesse mesmo mudar de ramo, diversificar. Talvez fosse melhor trabalhar em algo em que eu pudesse usar de verdade minhas habilidades.

- E quais são exatamente suas habilidades? – Sesshoumaru perguntou, erguendo uma das sobrancelhas, como a demonstrar interesse.

Sim, quais mesmo eram seus talentos? A imaginação fértil de Rin falhava no exato momento em que precisava dela.

- Ela cozinha divinamente. – Sango respondeu de pronto, claramente pensando nas qualidades de uma boa esposa para Sesshoumaru.

Por alguma razão foi naquele momento que Rin lembrou-se de que ele era viúvo. Estivera tão chocada por vê-lo ali, que só se lembrara do antagonismo entre eles. A bela foto em cima da mesa lhe veio à mente, e ela se sentiu condoída com a situação de Sesshoumaru. Aquela mulher tão cheia de vida... Não estava mais do lado dele. Não era sem razão que seu chefe era tão amargo.

Rin sentiu-se subitamente culpada por havê-lo julgado tão mal. Talvez tudo aquilo mascarasse sua tristeza.

- Rin tem muita facilidade de se comunicar, é maravilhosa para lidar com as pessoas – Miroku afirmou.

- E não só com pessoas– Kohako disse brincando. – É muito boa com animais também. Lembra-se do cachorro do bar, Sango?

- Oh! Sim!! – Sango exclamou e Miroku sorriu.

- Ainda suo frio quando lembro daquilo – ele disse a Sesshoumaru – Rin enfrentou um sujeito... Sabe daquele tipo troncudo e sem pescoço, cheio de tatuagens? Rin o viu chutando o cachorro dele. Foi lá, tirou a coleira da Mao dele e lhe disse que não era digno de ter um cachorro. Nós ficamos tremendo, cochichando para ela que não era boa idéia. Mas ela gritava que levaria o cachorro para a sociedade protetora dos animais, que aquilo era um absurdo, e tudo mais... Sesshoumaru, Rin era metade do tamanho do sujeito, o bar inteiro já se preparava para defendê-la da reação dele.

Dessa vez notou-se um lampejo de real interesse na voz de Sesshoumaru.

- E o que aconteceu com o cachorro?

- Rin ficou com ele – Kohako explicou. – sabíamos que ficaria. Era uma raça estranha, enorme. Eu não iria querê-lo perto de mim... Mas logo estava comendo na mão dela. – ele se voltou para Rin. – O que aconteceu com aquele cachorro, Rin?

- Levei para a casa dos meus pais. – ela disse desconfortável com aquela exposição. – ele já esta muito velho e... Gordo!

Sesshoumaru olhou para Rin.

- Você acha que realmente valeu a pena ter se arriscado tanto?

Por que pessoas como Sesshoumaru sempre faziam com que ela parecesse uma estúpida sentimental?

- Não sei – ela respondeu com os olhos baixos. – mas alguém tinha que fazer alguma coisa.

- Um aviso – Miroku confidenciou a Sesshoumaru. – Rin pode parecer frágil e doce, mas nunca maltrate um animal perto dela ou estará se envolvendo em uma grande confusão.

Sesshoumaru examinou o rosto corado de Rin com cuidado, antes de dizer.

- Vou me lembrar disso.

- O que Rin realmente precisa... – começou Sango enquanto guiava todos à sala de jantar. – é de uma casa no campo, onde possa criar cães e gatos, e alojar todas as pessoas necessitadas que encontre pelo caminho.

- Não, muito obrigada – Rin protestou. – Sou muito urbana. Ainda não estou pronta para viver fazendo doces e bolos... – fez uma pausa. – Estava pensando em algo como relações públicas...

Os três amigos caíram na risada.

- O que é tão engraçado? – ela perguntou com ingenuidade.

- Rin querida, você jamais seria uma boa em relações públicas. Toma sempre o partido do cliente! Seria melhor que fosse uma astronauta!

E seus amigos seguiram o assunto, discutindo quais as carreiras adequadas para Rin. A sugestão de Kohako, de que deveria trabalhar no controle de zoonoses foi a mais votada.

Ela mordeu o lábio, podia sentir que Sesshoumaru a examinava minuciosamente. Não estaria preocupada se seus amigos não estivessem decididos a transformá-la na dona-de-casa perfeita. Será que não percebiam que Sesshoumaru não estava nem um pouco impressionado?

As coisas ainda pioraram quando, durante o jantar, Sango deu inicio a um assunto mais pessoal, abordando, não sutilmente, a vida de Sesshoumaru e sua filha.

- Qual o nome dela?

- Risa – Sesshoumaru disse quase com relutância.

Rin não o culpava. Ele podia ler a mensagem nas entrelinhas: todos achavam que deveria casar-se para dar uma segunda mãe à filha.

Sesshoumaru deveria estar odiando tudo aquilo, ainda mais que ela.

- Ela tem nove anos – ele continuou, antes que lhe arrancassem mais essa informação.

- Deve ter sido muito difícil criá-la sozinho – disse Sango.

- Risa tinha apenas três anos quando Sara faleceu. Várias babás me ajudaram, mas nos últimos tempos ela tem ficado na escola o dia todo, e nossa empregada fica com ela quando preciso chegar mais tarde em casa.

A voz de Sesshoumaru não denotava nenhuma emoção, era como se sua pequena filha fosse mais um problema de logística.

Rin sentia por ela, pobre criança. Nunca recebera uma chamada telefônica dela. Provavelmente era instruída pelo pai a não o incomodar. Rin pensou em quanto à pequena se sentia sozinha.

Sesshoumaru, aquela noite, estava se revelando mais chato que o tolerável. Ele ia dirigir, por isso não estava bebendo, e, embora Rin não pudesse fazer qualquer objeção àquilo, ele poderia pelo menos fingir que estava se divertindo.

Sesshoumaru parecia absolutamente apavorado com a idéia de que Rin se insinuasse para ele. O receio era ate compreensível depois do modo com que os amigos a pintaram como a deusa do lar.

Mas ele não precisava preocupar-se. Ficar com ele era a ultima coisa que tinha em mente. Não estava desesperada por um relacionamento.

Sesshoumaru sentou-se ao lado dela no jantar, parecendo reprová-la todo o tempo, desde quando ria, ate quando se servia de mais vinho e falava das festas e clubes aos quais tinha ido, deixando claro que não estava a disposição de viúvos deprimidos. Claro que parecia animada, era o mínimo que podia fazer por Sango e Miroku, que haviam se esforçado tanto para preparar aquele encontro.

Ignorando o olhar reprovador de Sesshoumaru, Rin serviu-se de mais vinho. Qualquer pessoa em seu lugar faria como ela: aproveitaria a ocasião para relaxar e se divertir. Poderia chamar um taxi e pegar o carro no outro dia. Qualquer um pensaria assim, exceto Sesshoumaru.

Claro que era tentador fazer algo que claramente o incomodava, ainda mais quando Rin sentia a presença forte dele ao seu lado.

Sesshoumaru não acrescentava nada a conversa, mas ficava claro que achava tolas as colocações de Rin, e isso a deixava nervosa. E como em um circulo vicioso, ela bebia ainda mais vinho.

Enquanto a noite seguia, Rin percebia que seu tom de voz se alterava, e que ficava mais e mais empolgada com seus próprios assuntos, ate que Sesshoumaru olhou o relógio, obviamente sem poder agüentar mais.

- Preciso ir – ele disse, empurrando bruscamente sua cadeira para trás.

- Rin – disse Miroku com um sorriso -, talvez você também devesse ir... Ou não conseguira ir trabalhar amanha.

Aquele assunto causou um súbito tremor em Rin.

- Nem fale disso. – ela fechou os olhos, o que foi um erro.

A sala girou rapidamente quando ela os abriu de novo.

- Seria muito pedir que a levasse em casa, Sesshoumaru? – Miroku perguntou. - não posso deixá-la ir sozinha para casa nesse estado.

- Estou perfeitamente bem. – Rin protestou no mesmo instante, erguendo a cabeça tentando se manter equilibrada apesar do movimento súbito.

- Você esta ótima. - Sango concordou, ajudando a levantar-se. – Mas é hora de ir. Sesshoumaru a deixará em casa.

- Porque não me leva Kohako?

- Porque estou sem carro... – Kohako disse simplesmente, claramente esquivando-se.

- Fico muito feliz em dar-lhe uma carona. – Sesshoumaru disse com certo humor, detestando a idéia, com certeza, mas incapaz de encontrar uma boa desculpa para não levá-la.

Naquela noite, chovia forte e talvez estivesse ate caindo pedrinhas de gelo. Sesshoumaru observou resignado enquanto Sango e Miroku procurava ajudar Rin a vestir seu casaco, abotoando-o e beijando-a antes de deixá-la sob os cuidados dele.

Rin resolveu agradecer rapidamente pelo jantar, disposta a preservar o máximo a dignidade que lhe restava. Infelizmente, equilibra-se em seus saltos parecia impossível e apenas o apoio da mão de Sesshoumaru conseguiu livrá-la de se esborrachar no chão.

- Cuidado!! – ele exclamou rispidamente.

- Sinto muito, o chão esta um pouco escorregadio... -  Rin apertou com força os dedos dele. Em seguida tentou se afastar, mas Sesshoumaru colocou o braço em torno de seus ombros enquanto caminhava decidido para o carro.

- É você quem esta escorregadia. – ele disse em tom severo, enquanto abria a porta do carro com uma cortesia desnecessária.

O carro dele era imaculado. Nenhum papel, nenhum brinquedo esquecido ou migalhas no assento. Era impossível crer que uma criança havia andado nele, pensou Rin imaginando o lugar que a pobre Risa ocupava na vida organizada e eficiente de Sesshoumaru.

- Ajuste logo seu cinto de segurança.

- Sim, senhor. – Rin respondeu com ironia.

Sesshoumaru virou para traz de modo a poder manobrar o carro na rua estreita, quase sem nenhuma visão pelo mau tempo. Sentindo aquela proximidade, Rin fez um enorme esforço para se endireitar bem no banco, para o caso de Sesshoumaru pensar que ela estava se inclinando de modo convidativo em direção a ele. O perfume masculino provocava-lhe sensações que não podia explicar. Foi um alivio quando ele finalmente fez o retorno e sentou-se normalmente. Mas isso não tornou as coisas tão mais fáceis. Sesshoumaru era uma presença forte ali a seu lado.

Ele estava concentrado em dirigir, e Rin só ousava observá-lo pelo canto dos olhos, mais interessada do que queria admitir. Sua competência era evidente pela firmeza com que dirigia.

Quando o olhar de Rin pousou nas mãos dele, que seguravam o volante, algo ocorreu dentro dela, que fez com que desviasse rapidamente o olhar.

Era ridículo, Rin repreendeu-se. Por que sentia-se tão vulnerável a ele naquela noite? Ele era o mesmo Sesshoumaru, um homem desagradável, seu chefe e um convidado mal-agradecido. Ela não gostava dele de forma alguma.

Então, porque o interesse por seus lábios, seu queixo, pelos cabelos longos caídos sob o peito, ou pela força de suas mãos?

- Para onde devo ir?

A pergunta dele quebrou o silêncio e a paralisou.

- O que?

- Miroku me pediu que a deixasse em casa. Provavelmente ele sabe onde é, mas eu não leio pensamentos...

- Oh... sim... – Rin se endireitou no assento, assustada demais com seus sentimentos para responder à altura ao sarcasmo dele.

Ela orientou-o por entre as ruas escuras enquanto os faróis piscavam ritmicamente fora do carro. Depois disso, o silencio entre eles tornou-se mais pesado, ate que Rin não pôde agüentar.

- Porque não disse a eles que me conhecia?

- Provavelmente pela mesma razão a qual você também não disse – Sesshoumaru respondeu simplesmente. – Pensei que iria tomar a situação ainda mais embaraçosa do que já estava.

- É logo ali. – ela apontou o lugar, aliviada por estar tão perto de casa. – Se me deixar aqui, esta ótimo,nunca há lugar para estacionar em frente.

Sesshoumaru ignorou-a e continuou a se dirigir para o lugar onde ela havia apontado. Como sempre, havia muitos carros estacionados, e Sesshoumaru não teve alternativa a não ser parar no meio da rua. Rin  colocou a mão na maçaneta quando ele destravou a porta.

- Obrigada pela carona – ela murmurou. – eu espero não havê-lo desviado muito de seu caminho.

Um golpe de vento a atingiu quando ela empurrou a porta e em seguida, forçando-a a fechá-la novamente.

- Puxa, que noite horrível!!

- Espera aí.

Resmungando, Sesshoumaru apanhou um guarda-chuva e saiu do carro. Tentava abri-lo enquanto dava a volta ao redor do carro.

- Vou com você ate a porta.

- Honestamente, não é necessário...

- Sai logo daí! – ele pediu de modo autoritário. – Quanto mais rápido você sair, mais rápido estarei em casa.

Relutante, Rin saiu do carro, abrigada pelo guarda-chuva. O vento estava ainda mais cortante, e a chuva batia em seu rosto, mas mesmo assim ela podia sentir a intimidade daquele seu contato com Sesshoumaru. Ele era alto, e ela teve um impulso inexplicável de colocar seu braço em torno dele e apertá-lo, para sentir o quanto ele era forte e musculoso.

- Certo, vamos nos mexer logo senão morremos congelados aqui mesmo. – ele disse, sem poder ler, por sorte, os pensamentos dela, como ele próprio havia dito.

 Rin fazia um enorme esforço para acompanhar os passos com aqueles saltos altos.

- Por que não colocou um sapato com o qual conseguisse andar? – ele perguntou rudemente, segurando o guarda-chuva impacientemente sobre ela.

- Se eu soubesse que estava indo a uma expedição ao Alasca teria feito isso. – ela gritou, os dentes batendo tanto que mal podia falar, mas agradecida pelo fato de ter alguma justificativa para o tremor que transparecia em sua voz. E em suas pernas.  Era não podia  acreditar na tentação que havia sentido  segundos antes.

Sesshoumaru teria um colapso se ela colocasse seus pensamentos em ação. O que poderia acontecer? Ela engoliu a seco, sem saber se sentia-se aliviada ou desapontada porque nunca teria essa resposta. Suas mãos tremiam tanto que não conseguia colocar a chave na fechadura.

Sem poder esperar, Sesshoumaru colocou sua mão sobre a dela na intenção de abrir logo a porta, mas instintivamente, ante o toque dos dedos dele, Rin retirou sua Mao, derrubando a chave no chão.

Totalmente impaciente, ele pegou do chão a chave suja e molhada, sem dizer uma palavra destrancou a porta e escancarou-a.

- Obrigada mais uma vez pela carona.

- Vejo-a amanha – ele rosnou.

Tudo bem, se era assim que ele queria, ela não o convidaria para entrar. Apertou ainda mais o casaco em torno do corpo.

- Tem certeza de que quer que eu vá trabalhar amanha?

- É para isso que estou lhe pagando – ele disse, com um olhar irônico.

- Mas pensei que eu era um desastre.

- Não é mesmo uma ótima secretaria – ele concordou. – mas é a melhor que consegui ate agora. Se prestou atenção, sabe que vou iniciar um grande projeto, e não tenho tempo para procurar outra substituta. Por isso, vou ficar com você mais um pouco.

- Obrigada pelo caloroso voto de confiança!

- Não economizou palavras para dizer o quanto odiava trabalhar para mim. Logo, não vejo motivo para enfeitar a realidade. Você não pode abrir mão desse emprego, e eu não tenho tempo para arrumar outra substituta.

- Quer dizer que estamos amarrados um ao outro? – Rin  perguntou, erguendo o rosto de modo provocante.

- Precisamente. Então façamos o melhor possível. – ele olhou para baixo, sem inclinar a cabeça. – eu lhe pago, e você trabalha. Sugiro que tome um litro de água antes de se deitar. E não se atrase! Temos muito o que fazer amanha cedo.

 

-x-

Desligando o despertador, Rin  forçou-se a abrir os olhos para ver as horas. Precisava erguer um pouco a cabeça para isso, mas ao primeiro movimento soltou um gemido.

Claro, a esperada dor de cabeça. Levantando a mão, apalpou a testa para ter certeza de que estava ainda intacta.

Infelizmente estava. Qualquer coisa seria melhor do que ter de se encontrar novamente com Rin.

Rin encarou o relógio. O que ele diria se ela se atrasasse de novo? Se não  demorasse no banho e tivesse sorte com os trens, talvez conseguisse chegar no horário.

A chuva continuava a cair forte naquela manha. O metrô estava lotado, ela estava enjoada e sua cabeça latejava. Para piorar tudo, as memórias da noite anterior ainda estavam vívidas em sua mente. A expressão dele quando descobrira que seu encontro seria com sua própria secretária; o modo como o coração dela  batera inexplicavelmente quando ela fixara a boca dele e as mãos. As lembranças de seu corpo encostando ao dele sob o guarda-chuva, imaginando como seria tocá-lo deliberadamente...

 Ela devia estar completamente dominada pelo álcool.

Será que tinha feito ou dito algo indecente? , Rin pensou em pânico. Será que se lembrava de tudo?

Bem, se tentara alguma coisa, com certeza fora firmemente rejeitada, isso era algo que podia ter certeza. O vestido de que ela tanto gostava e seus saltos não tiveram efeito algum sobre Rin. Sempre diziam a Rin que ela ficava muito atraente com aquele vestido, mas ele simplesmente a vira apenas como a incompetente secretária substituta.

Rin chegou ao escritório com menos de dois minutos de atraso. Rin já estava em sua mesa, claro. Ele a olhou por cima dos óculos de leitura enquanto ela abria a porta.

- Você esta péssima!

- Obrigada!

- Não espere que eu me compadeça.

- Não, nunca conto com milagres.

Ele apenas estreitou os olhos por detrás de seus óculos de leitura.

- Pegue suas coisas. Temos muito o que fazer.

- Vou desjejuar, e logo estarei pronta.

- Você tem cinco minutos – ele disse, voltando sua atenção ao jornal que estava lendo.

Rin caminhou ate a máquina de café e pegou dois expressos.

Sentou-se para tomá-los, tentando não prestar atenção ao barulho dos telefones e dos teclados dos computadores. Havia um martelo dentro de seu cérebro, que parecia bater ritmicamente em cada uma de suas terminações nervosas.

Qualquer garota teria aspirinas dentro da gaveta, mas não Rin. Examinando cuidadosamente as gavetas, Rin foi obrigada a admitir que Rin não tinha dor de cabeça. Ela não devia nem mesmo saber o que aquilo significava. Provavelmente nunca ficara nervosa ou exagerara na bebida ou falara alto na frente de Rin.

 O café fez a sentir-se pior. Gemendo, Rin encostou-se à mesa e enterrou a cabeça em seus braços.

Tudo bem. Desistira de tudo. Morreria ali mesmo, no escritório de Rin, e ele teria apenas que decidir o que fazer com o corpo dela. E conhecendo-o, deixaria isso por conta da nova substituta.

- Não tomou a água antes de deitar, não foi? – a voz de Rin doeu os ouvidos de Rin.

- Não – ela murmurou, apenas porque era mais fácil do que balançar a cabeça.

- Deve estar desidratada.

Em algum lugar do ouvido direito, ela pôde perceber o som de vidro sendo colocado em cima de sua mesa.

- Aqui esta. Chá doce com duas aspirinas.

A promessa das aspirinas foi suficiente para fazer com que Rin levantasse a cabeça com cuidado.

- Obrigada. – ela disse em voz baixa.

Depois de alguns minutos que tomara o remédio, começou a pensar que sobreviveria afinal.

Rin estava sentado no canto de sua mesa, lendo alguns papéis. Ele parecia estar sempre de cenho franzido, Rin pensou divertida. Será que agia assim com todo mundo ou só com ela? O pensamento  com que se sentisse novamente deprimida. Chegar atrasada ao escritório e dizer o que lhe vinha a cabeça provavelmente não era a melhor estratégia para conseguir que ele lhe sorrisse...

Mas talvez houvesse alguma coisa nela de que ele ainda pudesse gostar.

 

-x-

  Continua...

 

N/A:
Ela não pôde resistir ao charme dele, mesmo que sem querer, ela não resistiu.

Admito que esse encontro foi bastante inusitado, mas que foi uma grande lição para ela, e também para ele.

O que será que ele realmente esta pensando, no dia seguinte do jantar, será que pode acontecer algo ainda pior do que os debates entre eles sobre quem era pior que o outro?

 



No próximo capítulo...

 

- Kagura deve voltar em algumas semanas – ele disse como que para se lembrar disso.

- Esta dizendo que não precisara me suportar por um longo tempo?

 

- Tive a impressão de que esse desejo era mútuo.

 




Até a próxima!

 

 


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