Lord's Princess escrita por Brigadeiro


Capítulo 7
6 - É Sua Vez De Brilhar


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, amadas!
Quase que esse capítulo não sai. Terminei ele agorinha a pouco! Orem para Deus me dar criatividade, porque vou precisar para escrever o próximo!
Quero dedicar esse capítulo para a Cybella, que além de deixar uma recomendação linda, escreveu um review maravilhoso! Obrigada por tudo, amada!
Espero que gostem do PDV da Rose, ela será importante na história.
Boa leitura,
B♔.



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ROSALIE PDV

Lembro-me como se fosse hoje do dia em que pisei naquela casa pela primeira vez. Na época, meus sentimentos estavam à flor da pele e meu humor nunca era muito agradável. Claro que, apesar de ainda não saber, o rumo da minha vida mudaria para sempre dali em diante. Para melhor.

Mas naquele momento eu não sabia disso, é claro. Eu só sabia que estava em uma mansão gigante, na companhia de uma celebridade internacional para fazer parte de uma farsa que a mesma havia criado. Eu tive vontade de matar Edward lentamente enquanto o via subir as escadas com as duas meninas em seu encalço, me deixando sozinha na sala com Isabella Cullen. Eu não queria conversar com aquela mulher.

Desde que pus os olhos na pequena garotinha, eu soube que ela não era tão ruim assim. O amor em seus olhos quando olhou para Edward, o pai que ela achava ser dela... Aquilo me doeu o coração. Tive raiva de Isa Marie por engana-la daquela forma, que tipo de mãe fazia isso com a filha? Além de ser moralmente errado, era uma crueldade. E eu estava participando daquela crueldade.

Sempre tive um amor especial por crianças. Como eu poderia, agora, apoiar o que claramente estava errado, ainda mais se tratando de uma criança?

Eu estava desconfortável, me remexendo no assento. Tentei controlar o tremor em minhas mãos segurando-as firmes em meu colo.

— Então... Hum... Rosalie, certo? — Isa Marie chamou minha atenção.

Eu a encarei como toda a dureza que meus olhos possuíam. Quando eu reprovava a atitude de alguém, tentava deixar minha oposição bem clara.

— Sim — respondi.

— É um prazer finalmente conhecê-la. Edward me falou bastante de você.

Ela falava como se conhecesse meu irmão há anos... Isso também me irritou. Naquela época, tudo me irritada. Sem falar que eu também tinha um pouco de ciúmes do meu irmão.

— Em todos esses dois dias de convívio?

— É... Sim. Tivemos bastante tempo para conversas — ela respondeu. Eu queria bufar, mas seria muita falta de educação.

— Conversas ou detalhes de contrato? — minhas respostas malcriadas eram automáticas, eu não conseguia me refrear.

Na maioria das vezes eu me sentia mal depois de tratar alguém daquela maneira. Eu não era daquele jeito quando mais jovem, aquela não era a ‘eu’ de verdade. Era uma mascara criada para proteção que eu não sabia ainda como desfazer. O mal que me fizeram no passado havia me alterado de maneira profunda e eu ainda não tinha deixado Deus tratar aquilo em mim. Claro que eu não fazia ideia do que Ele tinha planejado para mim até então, e o meu tratamento começaria naquele mesmo dia.

— Desculpe, o que disse?

— Não é isso que estamos cumprindo aqui? Um contrato. Nada mais do que isso — expressei meus pensamentos em voz alta, demonstrando toda minha insatisfação. — Então...

— Você tem algo contra a minha filha? — ela perguntou. Não parecia brava, apenas chateada.

— Não, tenho algo contra essa farsa toda. Não gosto de mentiras. Mentir para uma criança é duplamente pior.

E era verdade. Além de estar com dó da pequena menina, também havia a questão de que eu estava indo contra todos os preceitos da minha vida cristã.

— Não a culpo por me julgar pela situação. É realmente algo inusitado. Mas, sabe... Todos olham para mim e veem a Isa Marie famosa e rica, mas ninguém realmente sabe o que já sofri na vida. Hoje, só vivo pela Eden. Você como mãe solteira deveria entender o que é fazer o necessário para ver sua filha feliz.

Aquilo me deixou sem reação. Isabella dissera, provavelmente, as únicas palavras que me fariam abaixar a guarda. Porque eu sabia muito bem o que era sofrer, o que era ser julgada pelas pessoas que não sabiam do que passei e principalmente... Eu sabia como era difícil criar uma criança sozinha, sendo rica ou não. Todos te olham torto, te apontam e comentam que você não vai conseguir. Eu tinha quase certeza de que a mulher na minha frente não havia passado por um trauma tão grande quanto o que vivi, mas merecia compreensão ainda assim.

Meus olhos marejaram como sempre acontecia quando me lembrava do ocorrido. Arrependi-me por tê-la julgado tão duramente. Logo eu, que já fui tão julgada na vida, não tinha o direito de fazê-lo com meu próximo. Pedi um perdão silencioso a Deus.

— Você tem razão — eu suspirei, rendendo-me. Ergui minha cabeça e olhei em seus olhos para pedir perdão. — Pode não parecer, mas eu sei o que é sofrer, Isa. Mais do que ninguém, deveria ter entendido o seu ponto. Perdoe-me.

Isabella não me parecia uma pessoa de coração ruim, mas mesmo assim me surpreendi com sua simpatia em tentar se dar bem comigo mesmo com minha hostilidade.

— Não há o que se desculpar. E, por favor, me chame apenas de Bella.

Edward me dissera que ela preferia ser chamada assim pelos amigos e família e fiquei feliz em constatar que fazia parte deste grupo seleto. Eu abri um sorriso. Havia outro ponto que eu havia me esquecido. Mesmo que Edward tivesse fechado um acordo com aquela mulher, era o dinheiro dela que iria salvar a vida da minha filha e eu estava extremamente grata por aquilo.

— Tudo bem, Bella — seus lábios perfeitos se abriram em um sorriso. — A propósito... Muito obrigada.

— Pelo o quê, exatamente? — ela perguntou.

— Você está salvando a vida da minha filha.

— Ah, isso... Não tem de quê — Ela ficou completamente corada, como se estivesse envergonhada pelo feito ou surpresa por eu ter agradecido. Eu ri.

Pensei que, assim como ela havia contado sobre sua vida ao meu irmão, ele também contara sobre a vida dele. E, bem... Nunca fui a mais gentil das pessoas...

— Aposto que Edward contou como que eu sou estressada e nervosa...

— Na verdade, não. Ele apenas comentou que você podia ser ríspida às vezes, mas também disse que você é amorosa, determinada e esforçada.

Eu estava surpresa. Edward fora realmente muito bondoso em retratar-me daquela maneira. Já fui uma garota doce e simpática, mas a vida se encarregou em me transformar em alguém muito mais do que ríspida.

— É muita gentileza do meu irmão, mas ele exagerou. Há um motivo para eu não ter amigas, sabe...

— Como, não tem amigas?

Eu abri um sorriso tímido, envergonhado. Eu não sei o que é ter uma amiga desde os meus 16 anos. E quando digo isso me refiro a colegas e pessoas que gostavam da minha companhia para festas e compras, porque amigas verdadeiras eu jamais tive.

— Já tive colegas e conhecidos, mas amigas de verdade me faltam até hoje — respondi. — Não é fácil manter as pessoas por perto com meu gênio. Eu posso ser difícil de conviver, às vezes.

— Bem, agora não faltam mais — ela sorriu de uma maneira tão verdadeira que tive que desconfiar. Aquela mulher rica, famosa e realizada queria ser minha amiga? — Rosalie Lilian Masen, aceita ser minha amiga?

Eu me retrai. Por que, exatamente, ela queria ser minha amiga? Éramos o oposto uma da outra, eu não tinha nada a oferecer a ela que, com toda a certeza, não precisava de nada que viesse de mim. A possibilidade de aquilo ser uma brincadeira cruel passou pela minha cabeça.

E, afinal, como ela sabia meu segundo nome? Eu o detestava e até mesmo Edward era proibido de pronunciá-lo.

— Como saber meu nome completo?

— Hãn... Aceita ou não?

Eu franzi o cenho. Ela desconversou quando a questionei e aquilo não podia ser bom sinal... Mas que tipo de pessoa finge ser amiga de alguém só para ver a outra sofrer? E, afinal das contas, eu já era crescidinha o suficiente para saber o que era melhor para mim.

Vou ir com calma e ver até onde esta estrada vai me levar, pensei.

— Talvez.

— Talvez?

— Não posso fazer de uma estranha minha melhor amiga em uma hora.

— Essa doeu. Agora sei porque você não tem amigas.

Ela sorriu, indicando que era uma brincadeira. Tentei sorrir de volta.

— Tudo bem, então estou em período de teste, entendi — ela riu e eu a acompanhei. — Rose... Posso te chamar assim?

— É o meu apelido — revelei.

— Então, Rose... Quantos anos você tem?

— 23, por quê?

Eu pude perceber o quanto ela ficou chocada. Afinal, ninguém esperava que alguém tão nova tivesse uma filha de seis anos de idade. Imaginei que ela estivesse fazendo as contas na mente, mas apenas mais para frente é que descobri que Bella não era assim.

— Você é muito nova!

— Eu ouço isso bastante.

— Você tem alguma noção do quanto é bonita, Rose?

Sua pergunta me pegou desprevenida e meu sorriso morreu. Eu sabia que era mais do que bonitas nos padrões da atualidade, sabia que chamava a atenção na rua e que não havia nada de convencional em mim... Mas minha beleza não era algo a ser comemorado ou elogiado. Pelo menos era assim que eu pensava naquela época.

— Infelizmente, sim.

— Você parece triste. Não entendo... Rosalie, muitas mulheres no mundo se matariam para ter essa beleza natural que você tem.

— Eu não. Minha beleza nunca me trouxe coisas boas, muito pelo contrário.

— Então, está na hora dela começar a trazer para você as melhores coisas da Terra. Você já ouviu falar da Charm?

— Hum... Não faço ideia do que seja.

— Charm é uma agência de moda que eu e Alice, minha irmã, abrimos juntas. Além dos lançamentos na linha de coleções de moda, também investimos em modelos quando realmente achamos que elas têm potencial completo: beleza natural, carisma, brilho e esplendor. Quando encontramos pessoas com esse potencial, investimos na carreira dela. Assinamos um contrato, criamos um book e um perfil que circulam nas nossas linhas de marketing. Através dessas linhas elas são selecionadas não só para os desfiles e propagandas da nossa própria marca, mas também para revistas e estilistas de fora...

Parecia um bom negócio, pensei. Mas por que ela estava me contando tudo aquilo? A suspeita que eu tinha não me agradou.

— Entendi. É um bom lugar para se trabalhar — lhe disse um pouco insegura. — Mas por que está me contando isso?

— Porque você tem esse potencial, Rose! Estou lhe fazendo uma proposta aqui, preste atenção! Quero que seja a nova modelo da Charm.

Arregalei os meus olhos a tal ponto que minhas pálpebras doeram. Ninguém nunca tinha me feito uma proposta assim antes e eu estava com medo. Parecia uma oportunidade excelente, mas minha beleza atraiu tanta coisa ruim quando eu era apenas uma garota recatada do subúrbio, imagine o que poderia acontecer se eu fosse exposta em capas de revista e em desfiles? Estremeci só em pensar.

— Você está... Falando sério?

— Sim, claro! Uma beleza como a sua é tão difícil de encontrar! Você fará sucesso instantâneo. Por favor, aceite.

— Bella, eu... Estou um pouco desnorteada — lhe disse, não querendo usar a palavras “assustada”. — Ninguém nunca me propôs algo assim e eu preciso pensar direito.

— É um pedido justo. Confesso que estou ansiosa e queria te levar hoje mesmo para a agência, mas entendo que é um passo grande. Você tem até o fim do café da manhã para me dar uma resposta.

Meu queixo caiu. Era uma decisão muito grande para que eu a tomasse em tão pouco tempo. Não pude discordar, uma vez que naquele momento entrou na sala uma senhora com um sorriso imenso. Era pequena, com a pele branca e os cabelos de um ruivo natural desbotado e cortado na altura do queixo. Parecia ser uma das empregadas, pois usava um vestido de estampas surrado e trazia um pano de prato jogado no ombro esquerdo.

— Bella? — ela perguntou com um sorriso no rosto. Ela deveria ter uns sessenta anos, no máximo. — Está tudo pronto, querida. E os bolos vão ficar gelados se demorarem muito.

— Obrigada, Cici. Vou chamar Edward e as meninas — Bella respondeu. Ela desviou o olhar da senhora por um momento, enquanto pegava um aparelhinho preto de cima de uma mesinha. A senhora deixou o cômodo enquanto Bella se voltava para o pequeno aparelho.

— O que é isso? — perguntei.

— Isso é como uma brincadeira interna que temos. A mansão é grande demais para gritos serem ouvidos de longe, portanto usamos esses aparelhos para facilitar a nossa vida. — Ela apertou um botão nele e começou a falar. — Eden? Está me ouvindo? Responda!

— Oi, mamãe!

A voz de Edeline saiu do aparelho, junto com risos e gritinhos da minha filha. Eu sorri.

— Desçam os três para comer, Felicia já arrumou toda a mesa — Bella disse.

— O castelo está sendo atacado! — a voz do meu irmão se fez presente ao fundo, o que só me deu mais vontade de rir.

— Já estamos descendo! — a garota respondeu.

— Onde vocês estão, querida?

— No quarto de brinquedos.

— E o que estão fazendo?

— Pare de ser chata e nos deixe em paz, Bella! — Edward gritou fazendo as meninas rirem. Eu também, meu irmão tendia a ser bobão perto de crianças.

— Ótimo, continue brincando e morram de fome — Bella respondeu, contrariada. — Direi a Felicia que a comida dela não era boa o bastante para vocês!

— Quer que abandonemos o reino encantado em troca de alguns pedaços de bolo? Jamais!

Dessa vez Bella também riu.

— Então acho que terei que jogar fora o bolo brigadeiro trufado...

— BOLO BRIGADEIRO TRUFADO?! — a garota reagiu à palavras de Bella como Nick reagia à palavra pizza.

— Foi o que eu disse.

— Papai, temos que descer!

Um grito da Dominique foi ouvido, eu me preocupei porque ela ficava com dor quando corria muito ou ria demais.

— Prima, socorro! — minha filha gritou.

Aparentemente a ligação foi encerrada, porque Bella riu e voltou a falar comigo.

— Bem, acho que elas realmente estão se divertindo.

— Ah, Edward sabe que não pode ficar fazendo cócegas na Nick — suspirei.

— Tenho certeza de que ela vai ficar bem. Venha, vamos esperá-los na mesa — ela se levantou e a imitei, pronta para segui-la. Porém, ela parou e olhou diretamente em meus olhos — Lembre-se de pensar na minha proposta durante este desjejum... E Rosalie?

— Sim?

— Não aceito não como resposta.

Dito isso, ela virou-me as costas e começou a andar para outro cômodo. Eu a segui, pois do contrário me perderia na vastidão daquela propriedade. Eu estava dividida. Por um lado o medo e do outro a esperança.

Bella me conduziu até uma grande sala de jantar, onde havia uma mesa linda e enorme repleta de diversos alimentos deliciosos. Minha boca se encheu de água com a visão dos bolos com tanto recheio que vazava pelos lados, pães tão frescos que ainda soltavam fumaças e espécies de queijo que eu sequer conhecia, mas que pareciam deliciosos.

— Sinta-se a vontade, Rose — Bella me disse.

Porém, antes que eu pudesse me sentar, Edward chegou trazendo Dominique no colo e Edeline nos ombros. As duas garotinhas riam tanto que perdiam o ar. Decidi não me preocupar com aquilo hoje.

— Vejam quem já está atacando a comido antes de nós! — Edward acusou, olhando para mim e Bella.

— Não estamos atacando nada, acabamos de chegar — Bella respondeu por mim.

— Bem, Eden teve que direcionar o caminho para que pudéssemos chegar aqui! — Edward exclamou certamente tão surpreso quanto eu pelo tamanho do imóvel.

— Eu também me perdia nos primeiros dias, mas você se acostuma — uma voz masculina invadiu o a sala de jantar, vinda de trás de mim. — Hey, bolo de brigadeiro trufado!

Olhei para trás a tempo de ver o dono da voz. Um garoto moreno, um tanto quanto alto e forte, corria em direção ao tal bolo. Antes que ele o alcançasse, porém, uma garota tão morena quanto o menino, deu um tapa em sua mão antes que ele tocasse no chocolate.

— Espere todos se sentarem, seu mal-educado! — ela ralhou com ele. Surpreendi-me com sua altura, também. Ela tinha os cabelos pretos e lisos cortado até o queixo. Pareciam-se tanto que no mesmo momento soube que eram irmãos. — Desculpem o meu irmão.Viemos dizer olá.

— Desculpe-me — ele murmurou com a cabeça baixa, em seguida olhou para Edward com as meninas ainda em seu colo — Este é ele?

Sua pergunta foi direcionada para Bella, que deu risada da falta de modos do garoto.

— Seth, Leah... Estão são Edward, Dominique e Rosalie. Estes são Seth e Leah. Leah é minha governanta e Seth é algo como jardineiro/paisagista — Bella fez as apresentações. — Edward é o pai da Eden, Rosalie é tia dela e Dominique é prima, filha da Rose.

Bella me lançou um olhar do tipo: entre na história. Edward já havia me dito que todos teriam que acreditar que ele era mesmo o pai biológico da Eden. Eu assenti para ela de leve.

— E a mim ninguém apresenta? — a mesma senhora com o pano de prato no ombro apareceu.

— Não seja boba, Cici — Bella sorriu para ela — E esta é Felicia, minha cozinheira que é mais considerada como segunda mãe.

— Muito prazer — Felicia completou — Então você é o tão esperado Edward? Minhas meninas me falaram muito de você. Parece um pouco pálido, menino, tem se alimentado direito?

Todos nos rimos com as palavras de Felicia e então nos acomodamos na mesa para comer. Bella começou a colocar uma fatia de bolo no prato da filha.

Nem eu, nem Dominique e nem Edward nos movemos.

— Aham — Edward pigarreou. Todos olharam para ele — Se não se incomodarem, eu gostaria de fazer uma breve oração antes de comermos.

Eu sorri, era exatamente o que eu e Dominique estávamos esperando ele fazer. Na grande maioria das vezes, era Edward quem fazia a oração de agradecimento nas refeições e hoje não seria diferente.

Mas, aparentemente, este não era um costume comum para os Cullen.

— Pra quê? — Bella perguntou, franzindo a testa.

— Para agradecermos a Deus pela fartura que vejo nesta mesa — fui eu quem respondi.

— Não sabia que vocês era religiosos — comentou.

— Não sou religioso, sou cristão — meu irmão respondeu. — Estou pedindo apenas para orarmos antes de iniciar a refeição, é pedir muito?

— O que é orar? — Eden, em toda a sua inocência infantil, perguntou.

— Orar é conversar com o Papai do Céu — minha filha respondeu à nova prima, enchendo-me de orgulho. — Você não sabe orar, prima?

— Não. Quem é Papai do Céu? — Eden perguntou, deixando-me de queixo caído.

Como uma criança de quatro anos, criada em pleno século vinte e um, nunca ouvira falar de Deus?

— Ela está brincando, certo? — Edward perguntou à Bella, demonstrando toda a indignação que eu também estava sentindo.

Bella apenas deu de ombros.

— Eden nunca foi a uma igreja para aprender esse tipo de coisa. Não era necessário.

— Não era necessário? — Edward exclamou. Meu irmão apertou a ponta do nariz, como sempre fazia quando estava nervoso. — Dominique, meu anjo, explique a Eden quem é o Papai do Céu, por favor.

— Sim, tio Edward — minha filhote respondeu, em seguida virou-se para a prima. — O Papai do Céu é um papai muito bom, que mora no céu, mas está sempre com a gente. Ele ama a gente de montão assim!

Então Dominique abriu os braços, indicando a grande quantidade. Eu sorri, sabendo que foi exatamente assim que ensinamos a ela.

— E o que mais, Nick? — perguntei, incentivando-a.

— O Papai do Céu foi quem criou tuuuuuudo no mundo, até a gente. E orar é falar com Ele, entendeu prima?

— Sim! — Eden gritou, animada — Quero orar, mamãe!

Eu sabia que a briga estava ganha com o pedido de Eden. Bella remexeu-se na cadeira, totalmente desconfortável, e acenou com a cabeça.

— É claro que podemos orar, querida.

— Aliás, vamos orar sempre antes de comer, a partir de hoje — Felicia acrescentou. Eu senti que ela havia apoiado a ideia da oração desde o inicio.

— Então vamos todos dar as mãos e fechar os olhos — Edward anunciou e, quando estávamos todos de mãos dadas e olhos fechados, ele iniciou a oração. — Senhor, quero te agradecer pelo precioso alimento que há nessa mesa hoje. Obrigada, meu Pai, porque há fartura. Abençoe esses alimentos e as nossas vidas, que nunca falte o pão nesta mesa. Que a partir de hoje o Senhor habite no meio desta família, ensina-os a Te adorar e lhes mostre todo o Seu grande amor. Em nome de Jesus, amém.

— Amém — eu e Dominique ecoamos o fim da oração, após nossas próprias preces em tom mais baixo.

Nós nos sentamos na mesa e todos começaram a comer. Dominique, que estava do meu lado, logo me pediu um pedaço do enorme bolo de brigadeiro trufado. Eu coloquei para ela o que me pediu e fiquei indecisa, vendo todos encherem seus pratos antes de iniciar uma conversa saudável. Havia coisas naquela mesa que eu nem sabia o que era.

— Não se acanhe Rosalie. Posso te garantir que tudo que há aqui está delicioso — Felicia me disse, percebendo minha insegurança — Se estiver em dúvida, sugiro que experimente um pedaço do pão de frutas, eu mesma o fiz esta manhã.

Ela me indicou qual era o tal pão e eu peguei um pedaço. Tive vontade de fechar os olhos e soltar uma exclamação, de tão bom que estava o pão, mas me controlei.

— Então, menino Edward, quantos anos você tem? — Felicia perguntou ao meu irmão.

— Tenho 27, senhora. — ele respondeu.

— Ora, não me chame de senhora que fico me sentindo uma velha. Me chame de Cici, ou apenas Felicia — a senhora abanou a mão como que dispensando os tratamento formal. — E você, meu anjinho, gostou do seu papai?

— Gostei muito, Cici! — Eden respondeu, abrindo um sorriso fofo de volta para a senhora. — Meu papai é muito legal, ele brincou comigo. E ele me deu uma prima! — ela apontou para Nick.

— Estou vendo. E você gostou dela também?

— Gostei muito!

Nick e Eden sorriram uma para a outra, mostrando a forte amizade ali formada. Edward havia nos metido e em uma encrenca e tanto, porque nunca mais conseguiríamos afastar aquelas duas.

— Estou aliviado por conhecer vocês, pensei que Bella morasse nessa imensidão apenas com Eden — Edward comentou casualmente.

Leah parecia muito quieta e Seth estava ocupado demais comendo.

— Oh, não. Há outros empregados, mas apenas nós três temos permissão para fazer as refeições na humilde companhia da rainha e da princesa do castelo — Seth respondeu, fazendo todos rirem.

Leah olhou para o irmão como querendo que ele se calasse. Parecia tensa.

— Vocês são meus bobos da corte, por isso os mantenho por perto — Bella sorriu.

As risadas e as brincadeiras continuaram. Eu me distraí em minha própria mente enquanto pensava na proposta de Bella.

O que acarretaria em minha vida se eu aceitasse sua proposta? Era o certo a se fazer?

Claro que eu, jamais, aceitaria posar ou desfilar apenas de biquíni. Isto estava fora de cogitação. Mas ainda sim eu estaria exibindo o meu corpo, não estaria? Ainda que a real intenção fosse divulgar as roupas, havia um padrão de corpo e beleza que todas as modelos tinham que ter. Haveria pessoas me cobiçando de longe, pessoas que estariam sendo influenciadas pela minha imagem. E eu certamente não queria ninguém me reconhecendo nas ruas, muito menos me seguindo de longe ou me procurando com segundas intenções.

Estremeci, só de pensar.

Porém, algo em meu coração me dizia que era possível estar na indústria da moda sem prejudicar alguém. Eu poderia apenas ser fotografada como manequim, como aquelas modelos de revistas de lojas que ninguém conhece. Este seria um bom emprego, estável e com um bom salário. Eu apenas tinha que me descobrir se era o que Deus queria para mim.

— Rosalie? — Edward chamou a minha atenção com um grito. — Tudo bem?

Eu acordei dos meus pensamentos, encarando as pessoas ao meu redor. Edward, Bella e Felicia me olhavam. Seth e Leah estavam disputando um biscoito. Eden e Dominique estavam ocupadas trocando bolachas e pães entre si.

— Ela está apenas pensando na minha proposta — Bella comentou.

— Que proposta? — a pergunta veio de Edward.

Eu tomei fôlego antes de contar ao meu irmão. Eu sabia que a opinião dele seria muito significativa para mim.

— Bella quer me contratar como modelo da agência de modas que ela tem.

— Oh, mas que maravilha! — Felicia comentou. — Bella está há tempos procurando uma nova descoberta. Você é belíssima, Rose. Fará muito sucesso.

— Eu ainda não decidi se aceitarei — comentei, olhando diretamente para o meu irmão.

— E por que não? — Felicia perguntou, mas eu já não estava ouvindo.

Eu estava olhando diretamente para o meu irmão, esperando a opinião dele sobre o assunto. Ele me encarava calado, e demorou alguns segundos para dizer alguma coisa.

— Não sei por que ainda está pensando, minha irmã. Sei que se não aceitou de primeira, é porque está com medo. Já está mais do que na hora de deixar o passado para trás e seguir em frente, Rose. Você não pode viver com medo, confie em Deus. Você sabe que pode fazer o que é certo com esta porta que está se abrindo à sua frente.

Essas foram as exatas palavras que ele usou. Quase automaticamente eu sorri e relaxei. Ele tinha razão, de novo. Eu não podia viver à mercê das marcas do passado. Só de imaginar um pouco das correntes se soltando, já era um alivio.

— Você tem razão — admiti e virei-me para Bella. — Eu aceito a proposta.

Seu rosto se iluminou, ela estava realmente feliz por me contratar.

— Você fará tanto sucesso, Rose! Vamos até a agência hoje mesmo, vou mandar Emmett redigir o contrato neste instante e assim que terminarmos de comer iremos todos para a Charm. Você vai conhecer todas as modelos, talvez possam fazer até uma sessão hoje e...

— Ei, calma — eu a interrompi, seu entusiasmo estava indo longe demais. — Tenho algumas condições, Bella.

Seu rosto se fechou um pouco, ela me analisou com os olhos.

— Que condições?

— Primeiro: em hipótese alguma vou posar para fotos apenas de lingerie — expliquei, e ela certamente já sabia o motivo. — Segundo: não quero fama. Vamos nos limitar a propagandas pequenas que não me exponham ao mundo. Não quero ser reconhecida nas ruas, entende?

— Não, não entendo. Está me dizendo que não quer fazer sucesso?

— Não preciso disso, Bella. Só quero um emprego digno e estável. Nada mais.

— Tudo bem — ela soltou um longo suspiro. — Mas vamos começar imediatamente. Antes de irmos à agência, você precisa de uma transformação.

— Transformação? — perguntei confusa.

— Sim, e eu tenho a pessoa certa para isso — Bella disse confiante. Ela se levantou da mesa e foi até uma mesinha no canto onde havia um celular, discou um número e o colocou na orelha — Alice?

BELLA PDV

O que Rosalie dizia não fazia o menor sentido para mim. Quero dizer, que tipo de pessoa não quer fazer sucesso?

Um pouco contrariada, aceitei as condições dela. Confesso que minhas intenções eram de lançar Rosalie no mais alto nível, a beleza dela não podia ficar escondida. Mas, mesmo com os contratempos de Rosalie, eu ainda queria lançá-la hoje. Por isso liguei para a única pessoa capaz de arrumá-la em meia hora: Alice.

Bella? Você não devia estar com o pai farsante enganando sua filha agora? — ela me perguntou assim que atendeu. Eu rolei os olhos, prevendo seu sarcasmo.

— E estou, mas também estou com o mais novo achado da Charm. Onde você está?

Depois que você me acordou não consegui mais dormir, então estou no shopping fazendo compras — ela respondeu, eu podia ouvir o barulho de vozes do outro lado. — O que você quer dizer com “o mais novo achado da Charm”?

— Espere um minuto... — lhe disse e virei-me para Rosalie. — Que tamanho de roupa você usa e quanto você calça?

Cici me passou uma caneta e anotei as respostas de Rosalie em um guardanapo. Como suspeitei, Rosalie usava um número maior que o meu e minhas roupas não serviriam nela. Não que Rose fosse gorda, de forma alguma, mas ela possuía curvas que eu nunca sonharia em ter um dia.

Bella? O que está havendo? — Alice tornou a perguntar.

— Alice, preste atenção. Já que está no shopping, quero que passe em uma das nossas lojas e monte um look completo para uma modelo iniciante e traga para a minha casa. Mas nada muito curto ou indecente. Pode fazer isso em meia hora?

Você está falando com Alice Cullen, meu bem. Posso fazer isso até em quinze minutos. Como é a modelo?

— Loira, alta, muitas curvas, olhos verdes — respondi. Sabia que Alice baseava as cores nessas características. Também passei as medidas dela.

Tudo bem, logo mais estarei aí. Mas ainda estou confusa.

— Você entenderá quando chegar aqui. Beijos.

E desliguei o celular, provavelmente deixando Alice irritada. Rosalie estava olhando para mim aturdida, assim como Edward. Percebi que todos já haviam terminado de comer, então achei melhor facilitar o trabalho de Alice quando chegasse.

— Edward, você pode cuidar das crianças por alguns instantes enquanto Rose toma um banho? — perguntei.

— Tomar um banho? — Rosalie franziu o cenho.

— Não que você esteja suja, mas Alice vai precisar do seu cabelo molhado e da sua pele totalmente limpa.

— Vou subir novamente com as crianças, então — Edward me lançou um sorriso, já pegando as duas garotinhas no colo.

Tentei focalizar meus pensamentos depois daquele sorriso torto. Edward também teria dado um ótimo modelo, mas a Charm só estava procurando mulheres naquele momento. Eu arrastei Rosalie até o segundo andar e fomos direto para o meu quarto. Pude sentir Rosalie olhando tudo de boca aberta, mas na realidade meu quarto era bem simples.

Eu havia mandado decorá-lo com um ar vintage, todo em tons de azul e branco. Havia minha cama, uma TV de tela plana na parede acima de uma pequena lareira artificial, alguns sofás e poltronas pequenas... Como eu disse: simples.

— Esse é o seu quarto? — Rose perguntou.

— Sim.

— É lindo!

— Obrigada — eu sorri para ela — Mas não é aqui o nosso destino, e sim o banheiro. Vamos.

Ela arfou quando entramos. Eu admitia que meu banheiro, apesar de pequeno, foi decorado de forma exuberante. O chão e a parede eram todo em mármore, com uma parede em vidro preto. Havia tudo o que um banheiro precisava: a pia com um armário espaçoso em baixo, o vaso sanitário perto do Box do chuveiro e a enorme banheira de hidromassagem no canto. Fui em direção a ela, já abrindo todas as torneiras e jogando alguns sais dentro.

— É aí que vou tomar banho?! — Rose exclamou.

— Sim, algum problema? — questionei confusa.

— Nunca entrei numa banheira de hidromassagem antes.

— Para tudo há uma primeira vez. Agora entre e fique a vontade. Quando terminar, coloque esse roupão — lhe estendi um roupão de banho e me encaminhei para fora. — Estarei lhe esperando aqui no quarto.

Enquanto esperava passei uma mensagem a Emmett pedindo-lhe para redigir um contrato para uma nova modelo. Especifiquei as condições na causa e lhe expliquei tudo o que precisava saber. Alice chegou em menos de dez minutos. Ela entrou no quarto como um pequeno furação, carregando três caixas: uma grande, uma média e uma pequena. Eu tinha um bom palpite sobre o que era cada uma, por isso não perguntei.

— Onde está Rosalie? — foi à primeira coisa que ela perguntou.

— Como sabe que é ela? — franzi o cenho. Alice rolou os olhos.

— Ora, Bella... Onde mais você encontraria uma modelo hoje, senão esta pessoa não fosse a irmã do cara que você contratou para ser pai da sua filha?

Eu bufei. Quando ela ia parar de ficar jogando isso na minha cara?

— Você nunca vai esquecer isso, vai?

— Não — ela respondeu simplesmente. — Então, onde ela está?

— Deve estar terminando o banho agora — eu respondi e fui para perto do banheiro. — Rose?

A porta se abriu e por ela saiu uma Rosalie sorridente, enrolada em um roupão de banho branco e com os cabelos pingando água.

— Estou aqui — ela anunciou.

— Rose, esta é minha irmã, Alice — eu apontei para a baixinha atrás de mim que analisava Rose de cima abaixo. — Alice, esta é nossa modelo.

— Bella não mentiu, você é mesmo muito bonita — Alice disse.

Rose corou antes de responder. — Obrigada.

— Então, vamos começar logo com isso — meu chaveirinho foi até as caixas. — Como Rosalie é loira, optei por uma cor quente, que se destacasse. O vestido vai até os joelhos e o decote é mínimo — ela explicou enquanto retirava tudo das caixas. — O sapato é preto, para destacar o acessório do vestido. O detalhe dourado vai chamar atenção por ter a mesma tonalidade do cabelo...

— Hum... Alice? Não sei se consigo andar nisso — Rose apontou para o salto fino do sapato.

— Eu sabia que diria isso, por isso escolhi um sapato fechado em cima, que não saí do pé. O salto, apesar de fino, é ligeiramente mais baixo do geralmente se usa. Vai conseguir se equilibrar direitinho.

Eu sorri. Alice é muito boa no que faz.

— Tudo bem — Rose concordou. — O que vamos fazer, exatamente, nessa agência hoje?

— Você vai apenas assinar o contrato, que já está sendo redigido. Depois disso você irá outro dia para fazer um book e então você terá um calendário de dias para que saiba quando deve comparecer na agência para algum trabalho fotográfico ou artístico — expliquei. — Não se preocupe, no seu contrato terá uma clausula especifica dizendo que você só fará fotos para revistas de moda ou desfiles pequenos da nossa própria marca.

— Certo. Por que tenho que me arrumar apenas para assinar um contrato? — ela perguntou.

— Porque apesar de Bella e eu decidirmos quem entra e quem sai da Charm, você será julgada e receberá olhares tortos se aparecer lá com qualquer roupa. É preciso passar confiança desde a primeira vista.

— Compreendo — ela assentiu. — Então, posso devolver a roupa a vocês assim que chegarmos?

Eu e Alice nos entreolhamos, ambas confusas.

— Devolver? Rosalie, eu comprei tudo com o seu tamanho, tudo o que irei colocar em você é seu — Alice disse.

— Meu? Mas...

— Encare como um presente. Um presente de boas vindas — eu lhe disse.

Rosalie parecia um pouco aturdida com as novidades. Parecia um pouco amedrontada e insegura.

— Eu não sou muito do tipo confiante — ela sussurrou.

Alice abriu um sorriso imenso.

— Rosalie Masen, quando eu terminar nem você mesma irá se reconhecer.


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Notas finais do capítulo

Dois avisos básicos:
*O nome desse capítulo é um trecho da música O Hino, do Ministério Voltado para o Trono, esses lindos ♥

Aqui estão os links das imagens:
— Sala de Jantar: http://i1275.photobucket.com/albums/y458/Barbara_Dias/Lords%20Princess/Mansao%20da%20Bella/Mansatildeo-SaladeJantarInterior_zpsa6bfaee4.jpg

— Quarto da Bella: http://i1275.photobucket.com/albums/y458/Barbara_Dias/Lords%20Princess/Mansao%20da%20Bella/Bella-Quarto_zps9c2a9b4f.jpg

— Banheiro da Bella: http://i1275.photobucket.com/albums/y458/Barbara_Dias/Lords%20Princess/Mansao%20da%20Bella/Bella-Banheiro_zps18592422.jpg

Espero realmente conseguir postar sexta que vem. Vou dar o meu melhor para que isso aconteça.

B♔.

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