EDWARD PDV

Enquanto Bella e Alice ‘transformavam’ minha irmã, permaneci em uma pequena biblioteca infantil particular da Eden. Eu estava impressionado com a quantidade de cômodos que Edeline tinha apenas para ela.

A biblioteca era pequena, mas linda. Toda decorada em tons de rosa, verde, amarelo e laranja, os móveis eram todos grandes com formas geométricas. Havia poltronas grandes e extremamente fofas, tudo milimetricamente exagerado. Parecia um cômodo saído do filme O Gato, que Dominique amava.

Eden escolheu um livro e eu comecei a ler para elas. O título era A Bela e a Fera, que aparentemente era o livro preferido de Edeline. Levou cerca de quinze minutos para eu terminá-lo e então elas bateram palmas.

— Não acredito que ele era um príncipe encantado! — Dominique exclamou. Ela nunca tinha escutado a história.

— Claro que era, prima. Toda a história tem um príncipe encantado — Eden explicou como se fosse óbvio.

— Não é verdade. Não tem príncipe nenhum na Arca de Noé.

Eu comecei a rir. Dominique cresceu ouvindo histórias da Bíblia, mas nunca pensei que ela compararia a Bíblia com um conto de fadas.

— É verdade que na maioria das historinhas sempre tem um príncipe encantado, mas a Arca de Noé não é só uma história. Aconteceu de verdade — expliquei.

— Que história é essa? A Arca de Noé? Não tenho esse livro — Eden perguntou.

— Você não tem uma Bíblia, Eden? — perguntei.

— Não.

Eu estava realmente irritado com Bella por ter negligenciado a vida espiritual de Edeline por tantos anos. O que se pode esperar de uma criança que nem sabe quem é Deus? Que nunca ouviu uma história da Bíblia?

— Vou lhe contar algumas histórias agora e depois te darei uma Bíblia para você mesma ler, que tal? — perguntei, já animado.

O sorriso dela morreu e sua expressão ficou triste. Eu estava prestes a lhe perguntar o que houve quando ela mesma se pronunciou.

— Eu não sei ler, papai.

Eu devia ter imaginado, Eden tem apenas quatro anos. Eu acariciei seus cabelos, pronto para confortá-la dizendo que era perfeitamente normal uma criança da idade dela não saber ler, porém Dominique falou antes de mim.

— Eu posso te ensinar, prima! — ela gritou. Era engraçado o modo como elas ficavam se chamando. Nunca pelo nome, apenas por prima.

Eu achei uma boa ideia. Dominique havia acabado de aprender a ler e fora eu mesmo a ensiná-la. Eu poderia ensinar a Eden também, com a ajuda de Nick.

— Você quer aprender, Eden? — perguntei-lhe.

— Sim! — sua resposta foi imediata.

— Você sabe, ao menos, as letras do alfabeto?

— A, B, C, D, E, H, J, F, L, N, M, P... — ela começou a listar. Eu dei risada.

— É quase isso, querida. Vejamos, há alguma lousa por aqui? — perguntei olhando em volta. Não havia nada que se parecesse com uma lousa ali.

— Tem uma lousinha no meu quarto de brinquedos!

Ela correu para pegar a lousa e então começamos uma mini aula. Pedi para Dominique anotar todas as letras do alfabeto na lousa e então comecei a contar a história da Arca de Noé. Dominique ia escrevendo palavras na lousa quando eu mandava e então, no final de cada parte, eu explicava as sílabas e ajudava Eden a escrevê-las.

Depois de mais vinte minutos eu já havia conta a história de Noé explicado a ela quem era toda a criação do mundo. Ela entendeu tudo direitinho e já havia aprendido a escrever seu próprio nome e o nome Jesus quando um pequeno aparelhinho preto, que Eden carregava para todo o lugar, começou a apitar.

— Estamos prontas e esperando vocês na sala de estar — a voz de Bella saiu de dentro do aparelho — Peça para o Edward descer vocês duas.

— Estamos descendo, Bella — fui eu quem respondi no lugar de Eden.

Peguei as duas no colo, colocando cada garotinha em um ombro, e descendo as escadas rindo e fazendo barulhos de cavalos conforme eu dava pulos no mesmo lugar. Quando chegamos ao final do segundo lance de escadas, tive que parar por um momento para assimilar a imagem à minha frente.

Minha irmã estava mais linda do que alguma vez me lembro de tê-la visto. Quando Bella disse que Alice faria uma transformação na minha irmã, não estava brincando! Rosalie estava usando um vestido vermelho salmão cheio de babados e calçando um salto fino que parecia caro. Seu lindo cabelo dourado, herdado de nossa falecida mãe, estava preso em um coque enfeitado, com apenas alguns fios soltos na frente. Mas não eram só as roupas ou o cabelo, todo o semblante de Rosalie mudou.

— Uau! Mas que belíssima mulher é esta a minha frente? — perguntei fingindo confusão e em seguida olhei para os lados como se estivesse procurando alguém. — Bella, Alice... Onde está minha irmã?

As três riram e Rose me deu um tapa na nuca. Doeu.

— Deixe de ser palhaço, Edward.

— Como uma senhorita tão elegante pode saber o meu nome? — questionei e novamente as três riram. Deixando as brincadeiras de lado, eu peguei a mão de Rose e a girei no lugar, para em seguida depositar um beijo em sua bochecha. — Está linda, minha irmã.

— Obrigada, Edward. Não posso dizer o mesmo de você.

Eu ri, decidi deixar o insulto de lado por aquela vez. Eu e Rose sempre nos provocávamos daquela maneira e nossas discussões sempre duravam horas.

— Você ‘tá parecendo uma princesa, mamãe! — Dominique exclamou.

Rose abriu um sorriso e veio até mim, pegando Nick do meu colo.

— Obrigada, meu anjinho.

— Emmett acabou de me mandar uma mensagem avisando que o contrato está pronto para ser assinado. Vamos?

Sendo assim, seguimos Bella até o lado de fora da mansão. Ao invés de entramos na limusine que estava mais perto da porta de entrada, andamos até perto do portão onde estava um carro casual e mais discreto, embora grande. Os vários paparazzi, que antes não haviam conseguido nos ver por conta da distância do portão, agora estavam enlouquecidos e disparavam flashes e mais flashes seguidos. Dominique escondeu o rosto no ombro de Rose, que cobriu o rosto assim como eu fiz. Bella, Alice e Eden, porém, apenas sorriram e continuaram andando como se nada estivesse acontecendo.

Acomodamos as duas crianças no banco de trás junto com Rosalie e Alice, Bella me pediu para ir à frente por conta de eu ser maior, pela questão de espaço atrás. Assim que partimos, um carro preto discreto partiu atrás de nós, quando perguntei Bella me respondeu que eram os seguranças dela e de Edeline. No caminho passamos por toda a extensão da praia novamente e dessa vez Dominique estava acordada para observar tudo com olhos arregalados.

— Mamãe, ‘ta tudo passando tão rápido! — minha sobrinha exclamou entusiasmada.

— Estou vendo, meu bem.

— Você nunca andou de carro, Nick? — Alice perguntou a ela.

Ela já tinha andado antes, quando bebê. E hoje, na limousine que nos buscou, mas estava dormindo. Nenhuma ocasião para se lembrar.

— Não, tia. Nunquinha.

Eu sorri. Dominique tinha a mania de chamar de tia a todos que ela não conhecia bem.

— Pois então vai andar muito a partir de hoje, o que acha? — Alice tornou a perguntar, fazendo Dominique soltar um gritinho de animação.

Chegamos à agência cerca de trinta minutos depois. As ruas de Hollywood estavam vazias naquele horário e Bella dirigiu em uma velocidade um tanto quanto exagerada. Quando ela estacionou o carro, descemos calmamente pelo lado da calçada. Alice colocou uma armação de óculos escuros antes de sair. Peguei Eden no colo e Dominique permaneceu no chão, segurando a mão de sua mãe.

Eu olhei em volta, um tanto quanto preocupado. Aparentemente não havia nenhum paparazzo, nem ninguém curioso com uma câmera. Suspirei de alivio e passei a observar ao redor. A agência era um prédio alto, sofisticado, todo coberto por vidro preto e alguns detalhes laterais em mármore. A grande porta dupla na entrada era feita de madeira grossa e possuía um segurança de cada lado. Nenhum dos dois fez objeção alguma ao entrarmos acompanhados de Bella e Alice.

— Bem vindos à Charm — Alice disse.

O que elas chamavam de “Charm” era um enorme saguão com chão de mármore, colunas de gesso e repleto de homens de terno e mulheres de salto. Pessoas corriam de um lado para o outro com araras cheias de roupa, outras observavam uma área reservada à nossa direita com uma parede coberta de fotos, algumas poucas estavam sentadas entre algumas cadeiras que pensei ser uma sala de espera. Nós nos encaminhamos a um balcão bonito, redondo, localizado no centro do saguão. Haviam duas mulheres vestidas em traje social ali, uma mexendo em alguns papéis e outra digitando algo em um computador sofisticado.

— April — Bella chamou.

A moça que estava no computador, a mais alta com cabelos chanel loiro, levantou a cabeça da tela. Ela arregalou os olhos quando viu quem a chamava e, por um momento, pensei ver medo em sua expressão.

— Senhorita Cullen... Que honra revê-la! E Senhorita Cullen, está linda como sempre. Em que posso ajudá-las? — April gaguejou um pouco enquanto se dirigia a Bella e a Alice, respectivamente.

— Não vim aqui a trabalho, não quero ser incomodada. Apenas avise Rachel que estamos subindo — Bella lhe respondeu.

Eu e Rose ficamos calados, apenas aguardando atrás das duas. Dominique se aproximou mais da mãe, intimidada com a quantidade de pessoas circulando, e Eden permaneceu quieta em meu colo, porém parecia entediada, provavelmente já cansada de ver aquele lugar.

— Claro, senhorita. Agora mesmo.

Enquanto April pegava o telefone, nós seguimos Bella até o elevador. Percebi que, quando Bella virou as costas, as duas recepcionistas suspiraram e a maioria das pessoas parou de correr. Troquei um rápido olhar com Rosalie, que também tinha visto o mesmo que eu. Estranho.

— Cobertura — Alice disse ao homem parado no canto da porta dentro do elevador. Certamente o ascensorista, pensei.

Nunca entendi o porquê de esta profissão existir. Quero dizer, será que existe alguém tão preguiçoso que não conseguisse nem mesmo apertar o botão em um elevador? A resposta é: sim, existe. O homem rapidamente atendeu Alice e apertou o botão de número onze, que parecia ser o último andar do prédio.

— O lugar é muito bonito — Rosalie elogiou, já que o silêncio na subida do elevador estava ficando desconfortável.

— Ah, você ainda não viu nada — Alice sorriu para nós — O prédio todo foi projetado por Esme, mas a cobertura teve um toque especial. Lá estão localizadas apenas a minha sala, a sala da Bella e a sala do Emmett.

Não sabia que Esme, a mãe delas, era arquiteta. Eu ainda não sabia de muitas coisas que só viria a descobrir por meio de conversas ocasionais como essa. O número na pequena tela acima dos botões ainda estava mostrando o número sete quando Rosalie falou novamente.

— Quem é Emmett, afinal?

 Eu havia me esquecido de que Rosalie, apesar de ter ouvido o nome dele em rápidas conversas, não o conhecia. Se naquele instante ela soubesse o quão importante Emmett seria na vida dela, jamais teria feito aquela pergunta.

— Aqui na Charm ele é sócio, presidente e diretor de marketing da companhia. Na minha carreira, ele é meu agente e empresário. Na minha vida pessoal, é meu irmão — Bella explicou.

Rosalie assentiu. Tive vontade de acrescentar que o cara era realmente legal, pelo pouco que pude constatar nos minutos de conversa que tivemos. Pude perceber, desde a primeira impressão, que apesar de grande Emmett era carismático e brincalhão. Porém o elevador parou no andar solicitado antes que tivéssemos tempo de acrescentar mais alguma coisa.

Quando as portas de metal se abriram, meu queixo caiu. Aquilo não se parecia com um saguão. Não se parecia com nada do que eu já tivesse visto. O chão, revestido de um porcelanato completamente branco, refletia nossa imagem. As paredes em tom de champagne claro possuíam desenhos tão delicados que por um instante pensei ser renda. À frente de uma parede feita totalmente de vidro havia uma fonte que jorrava água de algumas pedras presas à parede. Haviam sofás organizados em diversos cantos do amplo espaço, sempre rodeando mesinha de vidro ou madeira.

No fim do saguão o corredor se dividia em três partes separadas por paredes grossas enfeitadas com quadros e portas de madeira clara. Na frente de cada porta havia uma mesa menor, com diversas coisas de escritório em cima, e na frente de cada mesa havia uma mulher bem vestida.

— Oi, Ang! — Eden acenou para a moça morena na mesa do meio, que presumi ser a secretária da Bella. Era uma garota novinha, usava óculos e havia prendido o cabelo castanho em um coque bem arrumado. Ela sorriu de volta para Edeline.

— Bom dia, princesinha. E bom dia, senhores — ela disse a todos nós.

— Bom dia — respondemos. A garota voltou a teclar no computador.

Bella se encaminhou até a mesa da mulher à esquerda, uma ruiva alta que parecia estar brava. Remexia em alguns papéis.

— Rachel, Emmett está na sala dele?

— Sim, senhorita. Vou anunciá-la...

— Não é necessário — Bella a interrompeu e se virou para nós. — Venham, fiquem a vontade.

Bella nos conduziu para dentro da sala do Grandão, como eu passei a chamá-lo. Era um escritório tipicamente masculino, porém com alguns detalhes a mais. Havia aviões de papel espalhados pela mesa, pelo chão e pelo pequeno sofá no canto. Uma bola de basquete jazia solitária perto da lata do lixo, onde havia uma cesta presa à parede acima dela. Na mesinha de centro próxima ao pequeno sofá haviam salgadinhos fritos do tipo risole e coxinha, junto a vários guardanapos usados e amassados. Parecia que um adolescente estava ocupando a sala que deveria ser de um homem.

— Bellita! Alicinha! — Emmett, que estava sentado em sua cadeira com os pés acima da mesa, se levantou para nos receber — Até que enfim!

Eden se contorceu no meu colo até que a coloquei no chão, ela então correu até a mesa de salgados e passou a devorar tudo o que estava lá.

— Quantas vezes preciso dizer para não me chamar de Alicinha? — Alice retrucou, irritada.

— Pode dizer quantas vezes quiser. Não vou ouvir nenhuma delas — ele soltou uma risada estrondosa que parou abruptamente, enquanto ele colocava os olhos em mim e em Rosalie. Nós já nos conhecíamos, de forma que eu sabia que seu olhar estava direcionado somente à minha irmã — E olá para vocês. Quem é essa gracinha?

— Esta é Dominique, a nova prima da Eden — Bella respondeu casualmente.

— Eu estava falando da outra gracinha — Emmett sorriu diretamente para Rosalie, que ficou completamente vermelha. Ele estendeu a mão para ela. — Sou Emmett, muito prazer. Você deve ser a Rosalie.

— Muito prazer — Rose respondeu, abrindo um sorriso contido de volta para Emmett.

— E oi para você também, baixinha — Emmett se abaixou para pegar uma das pequeninas mãos da minha sobrinha e depositar um beijo em cima. — Sou o Emmett.

— Oi, Emmett. Sou Nick.

 — Você é muito bonita, sabia Nick?

— Obrigada, tio. Você também é muito bonito.

— Olhem só, além de linda é inteligente e tem bom gosto, também — Emmett olhou para nós como se não acreditasse no que estava vendo.

Todos riram com o comentário do Grandão, que logo após a piada perguntou a Nick se ela não gostaria de uma coxinha. Ela aceitou e logo já estava se empanturrando de salgados junto com Eden. Pude perceber o medo de Rosalie diminuir um pouco enquanto observava o jeito do grandão. Ela sempre ficava assustada perto de homens estranhos.

— Oi pra você também, Emmett — rolei os olhos e estendi a mão para ele, lembrando-o de que também estava na sala.

— Foi mal, cara. Sua irmã é tão linda que me roubou a atenção de todo o resto — ele se justificou de uma forma que voltasse a atenção para a minha irmã. Esperto. — Só me resta saber se ela tem o mesmo bom gosto da filha.

Rosalie voltou a ficar vermelha. Alice bufou e Bella rolou os olhos. Eu dei risada.

— Onde está o contrato, Emm? Pretendo começar algumas fotos com Rosalie ainda hoje.

— Ah sim! Está bem aqui — ele foi até a mesa e abriu a primeira gaveta, tirando de lá um punhado de folhas de papel. — Só preciso da assinatura das três — ele apontou para Rosalie, Alice e Bella.

Depois de tudo assinado, também tive que assinar o meu contrato. Li tudo antes de assinar. Ele basicamente estabelecia uma relação de trabalho entre contratante e contratado, especificava as minhas funções, como visitar Edeline regularmente e estar presente em eventos importantes. Também dizia que em troca a minha sobrinha recebia o suporte médico necessário não apenas para seu problema atual, mas para qualquer problema de saúde que pudesse vir a ter ao longo da vida, e garantia também todos os estudos futuros dela. Fui surpreendido com essa parte, era mais do que o acordo inicial. A contrato era vitalício, duraria enquanto uma das partes vivessem, mas haviam algumas pequenas clausulas que o anulavam. Essas clausulas especificavam que eu estava proibido de contar a verdade a qualquer pessoa não citada ali (o nome de nós cinco estava registrado entre parênteses), de tomar qualquer decisão importante sobre a vida de Edeline, de passar por cima de qualquer decisão da Bella relacionada a ela e eu também estava proibida de gritar, intimidar ou bater na criança. O porquê de terem achado que seria necessário colocar aquilo ali, eu não sabia. Mas decidi assinar e ficar na minha.

Então, Bella disse que a levaria Rosalie para conhecer o estúdio, onde toda a modelo começa. Elas já queriam fazer um book inicial que ficaria arquivado para todas as chamadas que Rosa pudesse ter. Emmett, é claro, insistiu em ir junto.

Enquanto os três passeavam pelo prédio, Alice voltou para sua sala dizendo que ainda tinha uma capa para aprovar, então eu peguei cada uma das duas meninas pela mão e segui os três para onde quer que Rose fosse tirar fotos.

EMMETT PDV

Já estava mais do que na hora de eu dar a minha versão dos fatos para essa história. Mas como dizem: os últimos serão os primeiros.

O fato principal é: assim que vi aquela loira deslumbrante entrando na minha sala, sabia que um dia ela seria minha. Mais do que apenas minha, ela seria aquela que Deus usaria para mudar todos os meus caminhos. Rosalie fez meu coração parar em apenas um segundo, coisa que ninguém nunca havia feito.

Enquanto andávamos pelo prédio da Charm, rumo ao quarto andar, tudo o que eu queria era poder segurar a mão de Rosalie. Parecia tão macia... Mas isso seria estranho até mesmo para mim. Por isso, seguimos todos calados até o elevador até chegar ao andar do estúdio de books.

— Então, Rose... Posso te chamar assim? — quando fiz aquela pergunta, sabia que havia algo errado comigo. Desde quando eu pedia permissão a alguém para chamá-la de alguma forma?

Mal sabia eu que aquela seria a primeira de muitas mudanças que Rosalie faria em mim. E eu nela.

— Pode, é claro — ela sorriu para mim. Seu sorriso era tão belo quanto ela. — Apenas se me der um apelido pelo qual eu possa te chamar também.

Ela corou assim que pronunciou as palavras.

— Neste caso, pode me chamar de Gostosão.

Edward e Bella caíram na gargalhada. As duas crianças não estavam prestando a mínima atenção na conversa para demonstrar alguma reação. Rosalie corou ainda mais, se é que era possível.

— Não tem outro? — ela perguntou.

— Tenho vários, mas acho que você vai preferir me chamar de Emm. É como minha família me chama — ela suspirou aliviada quando revelei meu verdadeiro apelido. — Então, Rose... Como é ter que suportar o pequeno Eddy?

— Meu nome é Edward, Emmett! E-d-w-a-r-d! — ele rosnou. Eu gargalhei. Amava irritar os outros.

— Na maioria do tempo eu tento ignorá-lo — Rosalie admitiu.

— Ele é chato! E olha que só passei algumas horas com ele até agora — contei, mas claro que estava brincando. Edward era e sempre seria um cara maneiro. — Agora sei de quem Eden puxou a chatisse.

Eu não havia aprovado realmente o plano da Bella, mas jamais deixaria minha irmã sozinha naquilo. Além do mais, eu agradecia ao plano maluco dela por ter trazido Rose para a minha vida.

— Minha filha não é chata — Bella resmungou, defendendo a filha.

— Mais chata que ela, só você — provoquei, levando um tapa na nunca no mesmo instante.

Chegamos ao estúdio, onde Rosalie iria tirar fotos, nós tivemos que esperar. Quero dizer: eu, Edward e as meninas tivemos que esperar. Rosalie foi para um camarim comunitário para fazer as trocas de roupa. Por experiências com Alice eu sabia que aquilo demoraria, portanto nos sentamos em bancos de espera que havia em uma sala separada do estúdio.

— Aqui é chato — Eden declarou.

— É um estúdio fotográfico, querida. Quem não vai tirar fotos, fica esperando — Edward respondeu.

— Mas esperar é chato!

— Concordo, mas não há nada que possamos fazer.

Ela emburrou a cara e cruzou os bracinhos finos, o que a deixou mais adorável ainda. Dominique, vendo a atitude da mais nova prima, a imitou.  Eu, como sou uma criança em corpo de adulto, rapidamente fiquei entediado também. Cinco minutos de espera parecem horas quando não se tem o que fazer.

Foi quando uma funcionária passou por nós com um carrinho de roupas brilhosas. Eu a observei andar com ele até o fim da sala e deixá-lo parado perto de outros carrinhos que estavam lotados com mais roupas de variados estilos. Foi como se uma lâmpada aparecesse em cima da minha cabeça, como em desenhos animados. Eu abri um sorriso gigante.

— Tive uma ideia!

— Pela sua cara, não deve ser algo bom — Edward comentou.

— Meninas, venham cá! — chamei as duas, que se levantaram prontamente e me seguiram até onde estavam as araras de roupas — O que acham de ficarem lindas como a Rosalie?

Eu podia sentir o olhar de Edward sob as minhas costas e sabia que ele estava com vontade de rir.

— Sim! — ambas gritaram.

— Quero ficar linda igual a mamãe, com um vestido igual ao dela! — Dominique completou.

— Então vamos achar um vestido igual ao dela. Me ajudem!

Atacamos as araras ao mesmo tempo. As duas começaram a puxar as roupas dos cabides mais baixos enquanto eu revirava os de cima para tentar achar coisas legais.

— Esse não. Esse não. Isso é horrível. Que tipo de roupa é essa?! Ah, esse é legal. Este é bonitinho — eu dizia enquanto passava as peças de roupa e jogava por cima do ombro as que não gostava. Um vestido me chamou a atenção: era vermelho brilhante, comprido, com decote em V e algumas penas saindo do meio — Olha só o que eu achei!

Os olhinhos das meninas brilharam ao ver o vestido. Eu sabia que ia dar briga, por isso logo tratei de ir procurar mais um. O problema é que não havia um igual e eu demorei mais alguns minutos para encontrar outro tão bonito quanto.

— Agora venham cá, as duas! — chamei. Vesti o primeiro vermelho em Dominique e o segundo em Eden. Para dramatizar, puxei a fita da costura de uma blusa e prendi os cabelos delas em um coque muito mal feito. — Hum... Ainda está muito básico.

— Você também precisa de roupas, tio Emm! — Eden declarou. Dominique balançou a cabeça com veemência, concordando.

Claro que não tive outra escola. Depois das roupas vieram os acessórios, depois as bijuterias e então a maquiagem. Sim, tanto nelas quanto em mim. Tudo o que eu sei é, que cerca de duas horas depois estávamos nós três sentados no chão, em cima de um monte de roupas jogadas, rindo sem parar. Acho que houve uma sessão de cosquinhas em algum ponto que agora não me lembro direito.

Quando Bella e Rosalie voltaram da sessão de foto, estancaram no lugar. Para vocês entenderem melhor, terei que descrever a cena que elas viram. Todas as roupas das araras estavam no chão, junto com caixas e caixas de bijuterias e um monte de maquiagens que eu havia ido pegar no estúdio ao lado. Algumas roupas estavam rasgadas, outras amassadas e algumas outras serviram de pano de chão. Dominique estava coberta pelo vestido vermelho que ia até os seus pés, ainda colocamos um colete azul por cima do vestido e ela estava com uma sandália roxa altíssima amarada ao seu pequeno pé por um cinto que eu quebrara. Em seu pescoço tinha um colar de pérolas e seu bracinho estava coberto de várias e várias pulseiras, seu rosto estava uma mistura de sombra rosa com batom vermelho e blush rosa, e seu cabelo estava todo embolado pra cima, onde o prendi em um coque usando uma fita rasgada de outra peça.

Já Edeline estava com um vestido verde limão, frente única e cheio de babados e camadas. Como aquele modelo era mais curto, ela enfiou uma calça embaixo que ultrapassou em muito seus pés então encaixei toda a sobra de barra dentro de uma bota de salto que achamos, em cada um dos seus dedos havia um anel e em suas orelhas pendiam dois enormes brincos de pressão. No pescoço ela insistira em pendurar uma gravata vermelha, que combinava com o batom e o blush, mas não com a sombra que era verde bandeira. O cabelo estava solto, pois ela não quis me deixar prendê-lo.

Já eu? Ah, eu estava com uma saia de cintura alta colocada por cima de uma bata rosa com babados, tudo por cima da minha roupa normal, é claro. Elas insistiram em colocar em mim um colar de miçangas, um tamanco enorme e maquiagem rosa. Agora, dá pra imaginar o que as duas pensaram quando nos viram daquela maneira? Edward, é claro, caiu na gargalhada quando elas chegaram.

— Mas o que foi que aconteceu aqui?! — Rosalie exclamou.

— Não posso deixar você sozinho por cinco minutos, Emmett? — Bella ralhou — Espere só até Alice ver isso...

Como nada podia cooperar a meu favor, é claro que Alice abriu a porta naquele exato momento, interrompendo a bronca da Bella.

— E então, como foi a... MAS O QUE ACONTECEU AQUI?! — a rainha dos chiliques gritou. — EMMETT! ESSE TRAPO RASGADO É UM DOS VESTIDOS NOVOS DA MINHA COLEÇÃO DE PRIMAVERA?!

Eu olhei para o pedaço de pano que ela estava se referindo. Era o mesmo vestido que eu rasgara para puxar a fita que prendi o cabelo da Nick.

— Hum... Se eu disser que não é, posso sair dessa ileso? — perguntei inocentemente.

Alice me lançou o olhar mais mortal da face da Terra. Eu tive vontade de rir, mas sabia que só pioraria tudo. Por fim, minha baixinha suspirou e levantou a cabeça, olhando para o teto.

— Some da minha frente, Emmett. Saia daqui antes que eu te mate!

Como o cara esperto que sou, levantei do chão o mais rapidamente que o tamanco me permitia. As duas crianças fizeram o mesmo, tentando equilibrar os saltos. Bella, Rose e Edward começaram a rir.

— Esperem! Temos que guardar esse momento épico — Bella disse. — Já para o estúdio de fotos, os três!

Felizes da vida, fomos para o estúdio fotográfico para fazer um book com fotos nossas daquela maneira. Até mesmo Edward, Rose, Bella e, acreditem se quiser, Alice, participaram da farra com as câmeras. Não foi tão demorado quanto o de Rosalie, apenas algumas fotos para um álbum pequeno de recordação. Depois da sessão fomos obrigados a nos trocar e nos lavar, o que levou mais uma meia hora.

Depois de limpos e prontos, Bella declarou que era hora de ir embora. Descemos para o térreo em clima descontraído, com todo mundo zombando de mim. Era simplesmente o meu jeito, sempre fui bom com crianças e era o melhor tio que existe para Edeline. Dominique declarava o quanto me amou e o quanto eu era legal. Se tivesse sido tão fácil conquistar a mãe quanto foi com a filha...

— Quando seu book fica pronto, Rose? — perguntei casualmente enquanto atravessávamos o saguão.

— Semana que vem, não é Bella? — ela respondeu olhando para a minha irmã.

— Sim, eu... — Bella foi interrompida por Ângela, sua assistente, que nos alcançou correndo e gritando o nome dela. — Mas o que é isso?

— Senhorita Cullen! — a pobre garota chegou ofegante, segurando algumas pastas na mão. Depois de alguns segundos percebi que havia uma morena, com aparência espanhola, bem atrás dela — Me desculpe o incômodo, senhorita Cullen, mas...

— O que é que foi agora, Ângela? — Bella disse com rispidez.

— Mil perdões, mas houve um problema com a demissão de uma das modelos. Aquela sueca que a senhorita demitiu semana retrasada pelo atraso no desfile, lembra-se?

— Não, não me lembro. Por que está me incomodando com esse assunto, Ângela? — Bella perguntou e, virando para a morena disse: — E você, quem é?

— Sou Miranda, senhorita. Do RG.

— Esse é o problema, senhorita Cullen. Miranda não quer autorizar a demissão! — Ângela explicou.

— A modelo afirma que é sua amiga e que tudo foi um mal entendido... — Miranda tentou se justificar.

— Não importa o que ela diz, a minha palavra é lei. Se eu a demiti é porque não a quero mais aqui. E se passar por cima das minhas ordens, estará demitida também — Bella respondeu de forma clara e rápida.  — Volte para o andar do RG e preencha os papéis da demissão da modelo. Tenham uma boa tarde.

Em nada mais dizer, Bella virou as costas em direção à saída e nós a seguimos. Ângela subiu sorrindo, satisfeita pelo apoio da chefe. Percebi como Rosalie e Edward ficaram surpresos com a dureza de Bella, mas eu já estava acostumado com ela e sabia que para se ter autoridade era preciso impor autoridade. Bella não fazia nada mais do que um trabalho eficiente, pelo menos era como eu pensava na época.

Demetri e Felix haviam seguido a gente e já estavam de prontidão para sair. Eu fui na frente com Bella, enquanto Edward, Alice e Rosalie se sentaram atrás com as duas meninas no colo.

— Vão lá para casa hoje? — Bella perguntou a mim e a Alice enquanto dirigia.

— Sim, não estou a fim encarar a aquela velha do apartamento ao lado que vive reclamando da minha música — resmunguei. Eu sempre passava mais tempo na casa da Bella do que no meu apartamento, pois além daquela velha chata havia o fato de que detesto ficar sozinho. O mesmo se aplica a Alice e é por isso que todos nós temos quartos na mansão.

— Eu também vou. E, por falar em permanecer na mansão... Edward, vocês poderiam dormir lá esta noite? — Alice declarou. Meu sorriso aumentou. Nada seria mais perfeito.

— Por quê? — Rosalie perguntou, senti que ela ficou ligeiramente irritada.

— Há alguns paparazzi rondando a casa e não queremos expor vocês ainda.

 — Como descobriram onde moramos? — Edward se surpreendeu.

— Você não faz ideia do que eles conseguem fazer apenas com um rosto. E o de vocês foi registrado entrando e saindo da Charm — comentei, checando meu celular. Eu tinha já tinha recebido essa mesma informação, também. — São poucos, mas estão na esperança de confirmar algo quando vocês chegarem por lá.

— Uma noite frustrada é o bastante para espantá-los, uma vez que eles nem tem certeza — Alice instruiu. — É mais seguro ficarem na mansão por hoje, pelo menos até a mudança ser concluída. A casa nova já foi comprada, só preciso da escritura antes de iniciar o processo de mudança então não deve demorar muito.

— O quê? — Rosalie perguntou, um pouco alterada. — Mas Edward me disse que a mudança seria só semana que vem!

— Espero que tenha se lembrado de escolher algo simples, Alice — Edward advertiu.

— Eu pedi para eles adiantarem tudo, mas provavelmente não levará menos de uma semana mesmo. E sim, Edward, a casa é bem simples. Só tem quatro quartos, garagem para dois carros, uma sala pequena, cozinha simplória...

— Quatro quartos? — Edward levantou uma sobrancelha.

— Um para você, um para Rosalie, uma para Dominique e um para Edeline. É o mínimo.

Ele concordou, mas nenhum dos dois estava muito feliz. Como o clima ficou pesado, tentei descontrair.

— Então... Minha mãe está arrancando os cabelos de ansiedade para conhecer vocês — comentei.

— Ótimo, eu tinha me esquecido disso! — Rosalie bufou.

— Puxa Emm, você sabe mesmo como melhorar as coisas — Bella respondeu sarcasticamente.

— Mas vai ser tranquilo. Minha mãe só quer avaliar você para verem se são bons o suficiente para Eden.

Eu vi que tinha dito besteira quando Alice bateu na própria testa e Bella soltou um chiado de irritação. Vi Rosalie ficar branca e Edward tencionar os músculos. É, eu tinha piorado as coisas.

— Ele está apenas brincando — Alice tentou justificar — Minha mãe apenas quer conhecê-los. Ela é um amor de pessoa e vai amá-los, tenho certeza.

— É isso aí que a baixinha disse — concordei tentando demonstrar confiança.

Edward suspirou.

— Essa vai ser uma longa semana.