Loki: Segredos Sombrios escrita por Tenebris


Capítulo 33
Súplica


Notas iniciais do capítulo

Sem enrolação, aqui está outro capítulo. A fic está quase chegando no fim. Faltam mais três capítulos. Então, deixarei as despedidas/agradecimentos para o momento oportuno. Boa leitura, meus leitores lindos! ♥



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Aos poucos, os Vingadores tentavam me inserir em sua rotina normal. E, precisamente, com “Vingadores”, eu queria dizer Steve Rogers. Alguns dias se passaram depois que todos esses incidentes aconteceram. E somente eu e Lucca sabíamos o que deveria acontecer comigo para as coisas tentarem voltar ao normal. Obviamente, essas verdades – que só eu e meu irmão sabíamos – me corroíam por dentro. Eu só conseguia pensar nisso, invariavelmente. Loki afastado de mim também não era algo que me tranqüilizava. Resumidamente, minha vida era um caos total. Chegava ao ponto de somente a morte ser uma solução viável. Ironicamente, era isso que o destino havia preparado para mim. E eu odiava essa amargura que surgia em meus atos, em minhas palavras, em meus olhares... Mas como lidar de outra forma? Eu me sentia perdida. Perdida e com a certeza de que jamais iria me encontrar. Eu não conseguiria jamais ser aquela garota Alessa que simplesmente obedecia às regras do pai em prol do lucro e da família. Não mais...

E eu não sabia se isso seria útil ou não para mim. Em meio a esses meus pensamentos, eu brincava com um pedaço de granito, enquanto estava sentada no chão do gramado chamuscado, fora do Pálácio. Observava o treino ao ar livre dos Vingadores. Steve percebia minha cuidadosa frieza e meu afastamento, porque não parava de lançar olhares curiosos e preocupados em minha direção. Até que ele resolveu me chamar para treinar com eles.

Os Vingadores trocaram olhares urgentes e ligeiramente nervosos. Eu não os culpava. Odin deveria ter feito minha caveira para cada um deles. Lucca era o único que parecia displicente em me receber ali. O combinado era que os Vingadores seriam divididos em duas equipes, que se enfrentariam. Na primeira, ficaram eu, Steve, Banner e Natasha. Na outra, estava Lucca, Tony, Barton e Thor.

Quando o sinal fora dado, nos enfrentamos. Barton foi o primeiro a voar em minha direção. Ele atacara com suas flechas, que estavam programadas para fazerem menores estragos, já que se tratava de um treinamento. Apesar de me abalar, consegui me desviar dele e virar um espectro. Em seguida, Tony tentou me acertar com energia pura. Eu me desviei facilmente. Espectros evitam a luz. Thor estava ocupado com Hulk, então não foi problema para mim. Eu e Lucca travamos uma pequena batalha corporal, mas não durou muito.

Eu me interrompi no meio de um golpe. Aquele impulso de raiva agitava-se dentro de mim. Eu sentia, aos poucos, o descontrole tomar conta de minhas ações e de meus pensamentos... Minha cabeça girava. Só consegui murmurar uma frase, antes de sentir a Magia Sombria se apoderar de mim, transformando-me em escrava de minha ira:

– Lucca... Se afasta!

Em seguida, lembro-me de ter visto uma expressão de confusão e pena nos olhos de Lucca. Ele rolou para o lado, mas não antes de ser atingido por uma violenta esfera de luz negra que eu produzira. Faíscas voaram.

Eu levei as mãos à cabeça, numa tentativa estúpida de fazer a dor sumir e meu controle habitual voltar. Ouvi gritos. Natasha e Tony correram para socorrer Lucca. Eu só desejava, em algum lugar dentro de mim, que ele não estivesse ferido... Ou algo pior.

Steve Rogers gritava meu nome. Eu o focalizava em algum canto à minha esquerda. A paisagem ao meu redor oscilava. Ora eu conseguia enxergá-la nitidamente, ora só havia borrões de laranja e preto. Eu estava instável. Não poderia prever minhas reações. Cedo ou tarde, eu machucaria alguém. Eu vi Steve vindo em minha direção, em meio àquela confusão. Eu fiz um gesto para que ele parasse onde estava.

Em seguida, tentei restabelecer algum equilíbrio. Por mais que eu fosse realizar todo aquele plano com Lucca, eu precisava manter certo controle. Antes de apelar para a morte, eu tentaria outras coisas. Aliás, eu tentaria de tudo. Qualquer coisa que estivesse em meu alcance. E certas coisas simplesmente não podiam esperar. Era hora de, novamente, engolir o orgulho. Meus instintos poderiam estar completamente errados e eu poderia entrar numa cilada ainda maior, mas resolvi encontrar aquele que não viraria às costas para alguém de sua própria laia... Eu resolvi encontrar Loki.

•••

– O que a gente não quer ver, a vida ensina... De um jeito ou de outro. – Loki falou pausadamente, ao me ver entrando em seu quarto.

O deus estava sentado em uma poltrona verde musgo, com a cabeça pousada delicadamente numa mão, num gesto pensativo. Seus olhos arredios esquadrinharam cada centímetro do meu corpo. Ele me estudava, provavelmente na tentativa de decifrar o que me fizera ir até lá. Loki sorria, sem esconder a satisfação em ganhar essa nossa briguinha particular. Sua testa vincava-se, à medida que o sorriso vitorioso ganhava mais visibilidade em sua feição.

– Você se esqueceu de que está lidando com trevas e sombras... Não vou enxergar nada. O escuro é o que me guia. Sempre foi assim. – Falei, com certa ameaça e amargura na voz.

Loki deu de ombros, decepcionado por sua frase de efeito não ter tanta repercussão em mim.

– E por que está aqui, Stella? Achei que me queria... Longe de você. – O deus disse, levantando-se. Usava seu tom de falsa decepção. Acho que, no fundo, ele sempre soube que eu viria procurá-lo.

Eu cruzei os braços, um tanto inquieta. Falei, tentando permanecer normal:

– Eu não estou conseguindo controlar... A Energia Sombria. Eu... Eu vou acabar matando alguém. Então... Eu aceito sua proposta.

Eu revirei os olhos, surpresa com minhas próprias palavras. Nunca imaginei ceder aos truques de Loki. Não depois de ele ter me usado esse tempo todo. Mas a realidade estava aí, jogada diante de mim.

Minha vida era como um jogo. Eu teria de jogar com as cartas que eu tinha em mãos. Não era hora de lamentar pelas cartas que eu perdera, ou pelas que eu nunca tivera em mãos. Era hora de jogar com o que eu tinha, se eu queria mesmo ganhar. E eu queria.

Loki assentiu, aproximando-se de mim vagarosamente.

– Entendo... Mas você sabe... Eu posso ter mudado de ideia...

Era minha vez de me aproximar do deus. Eu o forcei a me encarar, colocando-me bem em sua frente. Os olhos dele eram frios e atentos, e seu sorriso tinha algo de surpresa pela minha ousadia em fazê-lo me ouvir.

– Não é hora de brincadeiras, Loki. – Eu falei, séria, segurando em seus braços. – Você precisa de Energia Sombria para ativar sua lança. Felizmente ou não, eu possuo tudo o que resta dela no universo. E eu preciso me controlar. Só você sabe como unir as duas coisas. E tem mais: Nem pense em tentar me enganar. É um acordo. As duas partes devem ser cumpridas. Se você trapacear, eu morro.

Nesse momento, segurei Loki pelo braço com força. Eu o obrigava a me encarar. Nossos rostos por pouco não se tocavam. Meus olhos negros incisivos fitavam diretamente os olhos sádicos do deus. Havia uma intensidade em nossos olhares que era quase tangível.

– Loki, eu... Estou... Morrendo. – Eu disse, subitamente tomada pela verdade em minhas próprias palavras. Eu dizia aquilo de maneira fria, quase indiferente, mas com certa melancolia.

Foi a única vez em que eu vi o deus da trapaça desviar o olhar, com certo pesar, e fitar o chão por alguns minutos.

Aquele gesto me chocara, e acho que por isso eu ficara também algum tempo sem reação.

Loki se livrara agressivamente de meus braços, levando uma mão à cabeça, num gesto de desespero. Em seguida, começou a andar em círculos pelo quarto, quase transtornado. Ele respirava com certa dificuldade. Por mais que eu tentasse interpretar sua reação, não conseguia. Eu poderia jurar que ele estava nervoso... Porque temia que eu morresse. Mas isso não seria compatível com a racionalidade do deus. Era ilógico. Eu devia ser um instrumento para Loki. Nada mais.

Depois de um tempo, o deus parou por alguns minutos. Ele retomou a caminhada e pegou sua lança, que estava parada no canto esquerdo do quarto. A arma tinha a forma afilada, levemente curvada em meia lua, com uma bifurcação na ponta que revelava uma energia adormecida, como plasma congelado.

Loki ainda não me fitava nos olhos. Ele parecia levemente mais controlado, quando disse, com um tom de perigo em sua voz grave:

– Pronta, Dama Sombria?

•••

Aconteceu. Sinceramente, eu não me lembro quanto tempo durou. Loki colocou a sua lança entre nós dois, segurando-a diante de mim. Com a outra mão, ele tocou meu pulso. Em seguida, fechou os olhos e começou a murmurar palavras desconhecidas para mim, num ritmo cada vez mais urgente. Eu observava a veia em sua testa pulsar violentamente. Faíscas começavam a saltar da lança... Clamando por energia. Foi então que eu senti algo me dominar, novamente como se eu fosse um mero fantoche. Sentia que a energia dentro de mim criava quase uma vida própria, e que ansiava sair. Não era simplesmente um desejo de sair do meu corpo, e de extravasar, como das outras vezes. Havia também o desejo de sair e de partir para a lança, que seria o próximo hospedeiro, e de nunca mais voltar a me habitar. Eu fechava os olhos lentamente, como se estivesse em transe. Aos poucos, eu me sentia mais leve. Porém, esse processo de feitiço não era uma solução definitiva. Loki já me alertara. De mim, só poderia ser retirada uma parte de energia. Talvez metade, se tivéssemos sorte. Isso faria com que eu me controlasse melhor, apenas. Grande parte da Energia Sombria ainda viveria em mim.

Talvez fosse egoísmo demais da minha parte. Afinal, eu estava dando prontamente para o deus da trapaça tudo o que sempre todos lhe quiseram usurpar: Poder. Aliás, como Vingadora, eu não deveria dar energia para ele ligar sua arma principal. Mas que escolha eu tinha? Eu me sentia mal por agir dessa forma egoísta e pessoal. Mas eu não via outra maneira de escapar. Se eu permanecesse com a Energia Sombria dentro de mim, acabaria matando pessoas. Se eu me livrasse de uma parte dela com a ajuda de Loki, ele reconquistaria poder. Mas as coisas que poderiam acontecer já não estavam sob minha guarda.

E assim, eu sentia que parte de minha energia se esvaía... E era cada vez mais difícil de me manter sã e consciente. O torpor de um desmaio me agradava. Quando a sonolência viera me buscar, eu me entreguei a ela. Sem hesitação.

•••

Acordei, como quem acordava de uma noite bem dormida e sem sonhos. Estava me sentindo tão normal que chegava a estranhar. Levantei de imediato, e percebi que repousava na cama de Loki, envolvida por seu sobretudo verde e preto.

O deus estava no canto mais afastado do quarto, olhando para a parede sem vida. Eu me levantei, caminhando até ele. Meu equilíbrio parecia bom, e meus reflexos pareciam mais controlados. Ouvi um zumbido esquisito, e percebi que a lança de Loki – agora iluminada e carregada – cintilava no canto do quarto, onde estivera originalmente. O zumbido vinha de sua nova energia pura.

– Acordo realizado. – O deus comentou, virando-se na minha direção.

– Como vou saber que deu certo? – Perguntei, ainda surpresa com a normalidade e a calmaria que pareciam repousar em meu corpo.

Loki riu sonoramente, olhando-me com descrença durante certo tempo. Um sorriso enviesado surgiu em seus lábios finos, e ele me olhava com uma curiosidade divertida. Seus olhos verdes não deixavam de focalizar os meus diretamente.

– Depois de tanto tempo... Achei, e confesso até mesmo ter temido, que você soubesse... Você, logo você... Stella Alessa... Que se julga tão inteligente. E não percebe certas coisas óbvias... Chega a ser irritante.

Loki ainda ria, como se estivesse a par de uma piadinha que somente eu não compreendia. Aquilo me incomodou. Eu sentia que Loki me passava para trás com essas meias palavras.

– Loki, seja claro. – Bufei, cruzando os braços.

Então o deus se aproximou lentamente de mim. Ele parecia mais controlado do que antes. Tinha os olhos verdes límpidos e ávidos, procurando desesperadamente os meus, os quais eu não conseguia parar de mover furtivamente. Loki pegou minhas mãos. As dele estavam geladas. Seus dedos marmóreos tocavam os meus com sua incrível habilidade. Eu o encarava, como se uma força magnética nos prendesse.

– Deu certo. Você tem, pelo menos uma parte, do seu controle original. Sabe por quê?

Meus olhos piscavam, em sinal de indagação. Onde Loki queria chegar? Eu assenti para que ele continuasse, e a expressão do deus era de certa relutância.

– Porque eu não quero que você morra. Eu já quis, admito. E, sim, eu queria me aproximar de você apenas para conseguir algum proveito de seus poderes de sombra. Mas isso agora não faz mais sentido para mim. Pelo menos, não unicamente. Eu não estou dizendo que desisti de conquistar poder. Só estou dizendo que quero fazer isso... Com você. Viva. E... Eu sei que não deveria dizer isso pra você, porque seria revelar meus pontos fracos. Mas... Eu chego a ser previsível, de tão imprevisível que sou. Conto tantas mentiras que as pessoas sempre sabem o que esperar. Ao menos uma vez... Quero fazer algo que surpreenda, quero contar a verdade... A verdade que você representa pra mim agora.

Minha boca estava seca, e nenhuma palavra que eu tentei dizer saiu de imediato. Loki, ainda que a seu modo, estava dizendo que me queria perto dele... De outro jeito. Eu jamais esperaria um “eu te amo” dele, porque isso simplesmente não fazia parte de seu estilo, assim como não fazia parte do meu. Mas não eram somente suas palavras, era seu jeito, seus atos, que confirmavam o que ele dizia. Eu estava chocada. Mas... E o que eu sentia? Eu falei, ainda encarando-o incisivamente nos olhos verdes vorazes:

– Loki... Sempre fomos parecidos. Eu não queria admitir, mas é a verdade. Eu me recusei por muito tempo a enxergar as coisas como elas realmente eram. Você sempre consegue me surpreender... Intencionalmente ou não. Você faz eu me sentir viva... Permanecendo onde devemos, na escuridão.

Loki sorriu lateralmente. Queríamos ficar juntos. O destino nos unira, a as trevas confirmaram. Loki fazia eu ser a Stella Alessa que sempre deveria ter sido. Ele me ensinara a desafiar e a não me conformar com a hierarquia injusta em que eu sempre vivera. Ele via em mim alguém capaz... Alguém poderosa. Eu não alimentava grandes esperanças. Sabia que Loki era volúvel demais. Mas ele não mudara sua personalidade, nem eu a minha. O deus ainda era um criminoso em potencial, que desejava conquistar glória e poder, mas ele desejava isso comigo ao seu lado. Ele não queria me ver morta. Ele queria me ver junto dele. Aliás... Aquilo tudo podia ser uma mentira, outra mentira para me usar. Se assim fosse, assim nela eu cairia. Mas Loki não ganharia nada me iludindo. E o deus só agia se algo lhe trouxesse benefício. Se tudo isso fosse mais uma de suas trapaças, eu levaria o deus pessoalmente aos portões do inferno. E algo me dizia que ele sabia disso.

Então, Loki envolveu suas mãos em meu rosto, sussurrando lentamente, como se quisesse que cada palavra ficasse nitidamente marcada dentro de mim.

– Não vou perder você, Stella. É meu dever. Vou salvá-la. Salvá-la dos outros. E principalmente de si mesma.

Nós nos beijamos. Um beijo cheio de vida, de desejo. Nossos lábios de agarravam mutuamente com urgência, entre arranhões e puxões de cabelo. Dentro de mim, eu me sentia culpada por não contar o próximo passo do meu plano para o deus. Mas não achei que fosse hora de ele saber. Loki ficaria transtornado se soubesse que eu iria, ainda que teoricamente, morrer. E, em meio àquele beijo intenso, cheio de verdades e dúvidas, de mentiras e segredos, eu estava satisfeita com tudo aquilo que Loki me dava, ainda que fosse uma verdade só para mim, na minha mente. Eu me contentava com tais coisas, ainda que fossem meras ilusões. E também desejei que, se fosse para a morte ter um gosto, que fosse o gosto daquele beijo...

Era assim. Como sempre, ele conseguia o que queria. E eu me rendia. Como tinha de ser.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?