Loki: Segredos Sombrios escrita por Tenebris


Capítulo 32
Embate


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Eu estive viajando, mas agora estou de volta e tenho só uma semaninha de férias. Acho que vou acabar postando tudo antes do dia 4 de agosto, então. Não vou me prolongar, as despedidas só serão no último capítulo mesmo, pra eu não chorar :( kkkkk Beijos e boa leitura! Qualquer coisa, me procurem nas MPs ou no twitter: @ohyeahmagneto Beijos!



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Aversão. Fúria. Horror. Ira. Ódio. Raiva. Era tudo o que eu conseguia sentir por Loki, por ter me enganado. E por permanecer tentando enganar-me, mesmo depois de tudo o que eu percebera. Além disso, tinha raiva pelo que acontecera comigo, por minha insignificância em não conseguir dominar-me e controlar-me. Ora, eu sempre costumava pensar tudo racionalmente e ter tudo controlado, nas palmas de minha mão. Agora, nada mais estava assim. Eu era uma folha pairando ao sabor do vento, numa dolorosa tempestade.

Eu preparei outro ataque contra o deus, mas dessa vez ele fora mais rápido. Loki desviou-se e pulou para o lado, ao passo que minha magia mandava o carvalho direto para as profundezas da morte.

– Eu estou sendo sincero, Stella. Você deveria me ouvir! – Disse Loki, afastando-se cuidadosamente no meio do jardim.

Eu sentia minhas veias pulsando de raiva. Cerrei minhas mãos em punhos, tentando organizar um ataque voraz contra o deus.

– Você não entende! – Eu gritei, sentindo que o vento me desestabilizava. Um frio começava a inundar-me. – Não sabe o que é ser tratado como ameaça! Depois de todos os sacrifícios que eu fiz! Depois de tudo a que eu renunciei! E todos me olham com pena, como se pudessem calcular o dia de minha morte! Eu não quero morrer, Loki... Não quero! Não quero ter que... Sentir medo!

Eu gritava, levando minhas mãos à cabeça. Novamente, eu vacilava. Eu era fraca. Mal tinha forças para encarar Loki numa luta justa. Eu desvanecia...

O deus ficou alguns segundos longe de mim, como se hesitasse. Depois de um tempo, aproximou-se, olhando para mim de cima a baixo. Tinha os braços cruzados e bem rentes ao corpo. Poderia golpear-me se quisesse. Talvez eu até merecesse.

– Acha que eu não sei o que sente? – Ele disse, rispidamente.

Eu soluçava, sem chorar, apenas perdida entre minhas respirações e suspiros. Estarrecida ao chão.

– Sei que não acredita em mim. Embora, pela segunda vez em minha vida, eu estivesse dizendo a verdade. Também sei que não dei motivos para que, de fato, cresse em minhas palavras... – Loki disse. Sua expressão era séria e misteriosa. Os olhos eram duros e frios, quase congelados em sua cintilância verde. – Aceite minha proposta. É tudo o que lhe resta...

Eu comecei a refletir. De fato, o que Loki me contara poderia ser verdade. Ainda que mínima, essa possibilidade existia. Mas eu me recusava a aceitar que isso fosse verdade. Porque Loki era o deus da trapaça e poderia ter me enganado uma vez. Mas não faria isso novamente.

Assim, eu já começara a sentir os efeitos de uma nova crise... A raiva descomunal que eu sentia por Loki naquele momento... O desejo de vê-lo sofrer e pagar pelo que me fez... Pela forma que me usara como um mero instrumento de seus joguinhos. O problema é que eu não sabia se aceitava a proposta de Loki ou não. Ela parecia vantajosa e prejudicial a mim na mesma proporção. Decidi, então, agüentar minhas crises sozinha por mais algum tempo. O máximo que fosse possível. Eu adiaria essa decisão até quando não suportasse mais lidar com minha própria onda de raiva incontrolável.

– Vá embora, Loki... – Eu murmurei, como uma criança contrariada. O deus tocava seu próprio pescoço. No local, havia marcas de roxos causadas por meu aperto. Loki olhava-me com ressentimento e certa indiferença artificial. Porque eu sabia que ele se importava... Que estava desejoso de minha aceitação. O deus deu de ombros, passando perto de mim a fim de que eu pudesse ver claramente o roxo em seu pescoço. O que ele pretendia? Comover-me? Banal demais... Eu ainda estava com ódio dele, um ódio do mundo...

Assim, Loki se foi. A semente da discórdia plantada em meu peito, como se cada beijo e cada toque do deus tivesse deixado em mim um pouco dessa raiva, que agora explodia.

Então, eu me levantara do chão. Pensei em ir até o acampamento de treinamento e pensar mais claramente no que fazer. Caminhei a passos lentos, como se pudesse, com isso, adiar cada decisão importante da minha vida patética. Estava a ponto de nevar em Asgard e eu não sabia se isso era um problema ou não. Enfim, eu chegara até o acampamento. Entrei na sala das armas, onde estava um pouco menos frio. Eu iria me sentar e ficar lá até decidir aonde ir definitivamente.

Deparei-me com cabelos louros cintilando contra a luz de um castiçal, posto cuidadosamente no chão.

– Stella... Sei que não quer me ver. Afinal, foi um dia difícil... – Steve Rogers falou, solícito. Ele estava sentado em uma cadeira, parecendo pensativo. Tinha a expressão serena e livre da pena que eu habituara-me a encontrar nos olhos das pessoas, desde que eu acordara.

– O problema não é você, Steve. São os outros. – Eu comentei amargamente, puxando uma cadeira e sentando-me ao lado do Capitão.

– Eu só vim aqui para lhe dizer que... O Pai de Todos liberou sua ficada. Não vou mentir para você... Ele só aceitou isso depois que o Thor insistiu muito. Odin acha importante manter você por perto... Afinal, seria terrível que você estivesse longe e se aliasse aos Gigantes... – Steve sorriu fraco, arqueando as sobrancelhas ao me contar tudo aquilo.

– Ótimo. Querem me manter aqui para evitar que eu cometa traição. Quanta honra e confiança! – Ironizei, revirando os olhos. Um silêncio se estendeu entre nós.

– Eu confio em você. Você sabe disso... E eu vou ajudá-la a passar por essa fase difícil. O que você fez por nós... Seu sacrifício... Eu valorizo isso, Stella. – Steve comentou, estendo a mão hesitantemente. Seus dedos tremiam ligeiramente quando ele pousou sua mão na minha, sorrindo fraco.

– Estou feliz que esteja de volta. Eu odiaria ter que ir buscá-la na floresta, se metendo em alguma confusão. – O Capitão riu de leve, e o som de sua risada fez tudo parecer menos irreal e complicado.

– Ei... Stella! – Meu irmão entrara subitamente na sala de armas. Steve retirara sua mão rapidamente da minha, quase derrubando o castiçal que iluminava o lugar.

Lucca não conteve uma risadinha sonora.

– Ah, então eu já vou indo. Espero que fique bem, Stella... – Steve levantou-se, sorriu vergonhosamente e despediu-se de meu irmão. – Lucca...

Ele se virou e foi embora. Meu irmão erguia as sobrancelhas freneticamente, olhava em direção à porta, e em seguida, para mim. Ele ajeitou os cabelos de modo que ficassem quase parecidos com os do Capitão.

– É perigoso para uma mafiosa se apaixonar por um cara do Exército, sabia? – Ele riu de leve, mas parou ao perceber minha cara de poucos amigos.

– Como me achou aqui, Lucca? – Eu indaguei, louca para mudar de assunto.

– Conexão fraternal, minha cara sorella. – Lucca piscou para mim. – Acho que você já sabe que pode ficar no Palácio, não é mesmo?

Eu assenti, curiosa. Levantei-me para ficar cara a cara com meu irmão.

– Pois bem... Eu descobri uma coisa que interessa muito para nós dois. Principalmente para você.

Eu franzi o cenho, ainda mais ansiosa. Lucca parecia de fato de bom humor. Parecia que uma leve esperança nascia em mim, ainda que eu desconhecesse seu motivo. Eu deveria, além disso, aproveitar meu momento racional para ouvir Lucca. Eu não podia garantir que nossa conversa seria pacífica depois que eu tivesse outro lapso nervoso.

– Então me conte, Lucca... – Eu pedi.

Lucca ajeitou os cabelos, bagunçando-os despretensiosamente. Em seguida, engoliu em seco, como se procurasse as palavras certas para se dirigir a mim. Meu irmão mordia o lábio, remexendo os braços até encontrar uma posição confortável, com estes cruzados e rentes ao corpo.

– Enquanto eu estava no Palácio, invadi a sessão proibida da Biblioteca. Lá... Eu encontrei um livro que cita os métodos corretos de se bloquear qualquer feitiço. Qualquer feitiço. – Lucca proferia as palavras com cuidado, e seus olhos castanhos pareciam estranhamente desfocados. Ele deveria estar checando os pensamentos ao nosso redor, a fim de saber se havia alguém por perto que pudesse nos ouvir ou oferecer perigo.

– Qualquer feitiço? – Eu indaguei, aproximando-me de Lucca cautelosamente.

Lucca sorriu de lado. Mas não era um sorriso pleno. Eu podia perceber que havia alguma preocupação ou um entrave por detrás de tudo isso. Ele desviou os olhos dos meus, dizendo lentamente:

– Sim, minha irmã. Eu sei como retirar, de uma vez por todas, essa Magia Sombria que está te perturbando.

•••

– Me diga, Lucca. O que teremos que fazer para retirar essa Magia de mim? – Eu perguntei, sem conseguir conter a esperança em meu tom de voz. Poder ser eu mesma e possuir controle sobre meus atos e emoções novamente... Era tudo o que eu mais desejava.

Lucca engoliu em seco novamente, e retirou do bolso de trás da calça um papel dobrado. Ele o desdobrou com cuidado, e, a julgar pelas múltiplas e diferentes marcas, meu irmão já o lera muitas vezes. Assim, ele alisou o papel em suas mãos, exibindo suas letras espaçadas e cursivas. Lucca anotara o trecho do livro nesse papel, a fim de lê-lo para mim. Mas, de acordo com a expressão fria e distante do meu irmão, eu não deveria ficar tão animada assim.

Lucca encarava o papel, e eu podia ver o movimento de seus olhos acompanhando as letras e as frases dispostas no papel. Era como se ele não acreditasse no que lia. Como se desejasse ter o poder de mudar o que havia escrito naquela folha de papel aparentemente inocente...

– Lucca? – Eu o chamei, hesitante. Estava começando a ficar com medo do que teria naquele papel... E eu não queria ter medo.

Lucca suspirou mais algumas vezes, seus dedos tremiam ao segurar o papel. Ele olhava ora para mim, ora para o bilhete em suas mãos. Eu sentia cada palpitar do meu coração acelerar...

Lucca fixou seus olhos em mim, e eu não conseguia decifrá-los. Uma mistura de sensações percorria meu corpo, à medida que também percorria os olhos ávidos de meu irmão. Ele disse, serenamente:

– Stella... Para a Magia Sombria te deixar... Você precisa morrer. Precisa ficar, temporariamente, sem vida. Se isso acontecer... A Magia deixa seu corpo... Mas você não continua a mesma. Você não morre definitivamente, mas tudo faz parte de um complexo processo mágico. Você não voltará a ser humana após isso. Você se tornará uma espécie de espectro. Para a Magia Sombria deixar você, você precisa morrer e retornar à vida... Como um tipo de fantasma. Uma criatura... Mágica. Das Sombras.

•••

Eu vacilei. Acho que o chão sob meus pés tremeu, ou era somente minha cabeça que não conseguia recuperar o equilíbrio. Eu jamais teria certeza.

As palavras saiam da minha boca como ácido, queimando minha garganta e contaminando o ar ao meu redor. Enquanto isso, eu tomava consciência da verdade nas palavras do meu irmão. Tudo parecia difícil, impossível, complexo... Mas na verdade não era. Era tudo uma questão de lógica. Uma cruel lógica. Porque, de fato, quem estava complicando as coisas era eu mesma. Eu e meus sentimentos estúpidos. Ora, eu possuíra, por livre e espontânea vontade, a Magia Sombria. Eu optara por isso para salvar Asgard e honrar meus compromissos com os Vingadores. E agora, poderia permanecer lidando com o descontrole e com meus surtos de agressividade. Ou teria de fazer o que Lucca disse e me livrar da tal Energia. Era simples... Terrivelmente simples.

Era hora de, nem que fosse pela última vez, ter coragem. Expulsar o medo e o receio que me dominavam. Era hora de encarar os desafios da vida, se o que eu queria era voltar a ser eu mesma e obter controle. Não havia como temer. Era algo que precisava ser feito. Eu não poderia fugir disso. Eu já fora fraca o suficiente nesses últimos dias, e existem coisas que ninguém pode fazer por nós. Por mais que esse seja o nosso desejo mais íntimo e profundo.

– Você está dizendo que eu preciso morrer. Em seguida, a Magia Sombria me deixará. Assim, eu retorno magicamente à vida... Como um espectro. Sem minha humanidade... – Eu proferia aquelas palavras com frieza e calma... Não que eu estivesse me sentindo completamente assim.

Afinal, era impossível ouvir aquelas palavras e permanecer normal. E, sim, eu estava ligeiramente desesperada. Só que isso não era algo que me seria útil naquele momento. Então, afastei tudo que pudesse me desviar de meus objetivos. Ficar sem humanidade, desprovida de sentimentos e de alma... Parecia algo terrível. Mas, no fundo, não era algo que eu precisasse para continuar agindo feito uma mafiosa sem coração. Talvez fosse necessário passar por isso... Talvez sempre estivesse destinado a mim...

– Sim... É isso, Stella. – Lucca falou, ainda me encarando. Às vezes, ele olhava para o papel. Acho que ele queria se certificar de que as mesmas palavras que ele lera ainda permaneciam lá. Nada mudara.

Entretanto, ele tinha os olhos calmos, serenos... Não havia vestígio de pena neles. Havia cumplicidade. Lucca estava disposto a me ajudar verdadeiramente. Mas, confesso, eu via um pouco de temor em seus olhos... Acho que nós dois nos sentíamos desolados, fracos e perdidos... E nenhum de nós queria admitir isso. Nós estávamos apenas nos obrigando a sermos fortes um pelo outro.

Um traço de sorriso surgiu em meus lábios pálidos, e eu encontrei o mesmo sorriso nos lábios de Lucca. Por fim, falei misteriosamente, assentindo:

– Então, que seja feito.


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Notas finais do capítulo

E então? A Stella está ferrada sim ou claro? :D