Loki: Segredos Sombrios escrita por Tenebris


Capítulo 31
Transtornos


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente? Esse capítulo tem super revelações pra Stella. Ela vai descobrir coisas que aconteceram que vão deixá-la SUPER HIPER irritada. E adivinhem com que pessoa essa irritação tem a ver? :P uahauhaua, enfim, daqui pra frente tem muitos conflitos e discussões. Tá ficando tenso, e a Stella vai se deparar com muitos problemas. Ela vai ter que fazer escolhas que podem mudar seu destino pra sempre. E aí? Bora ler? Beijos!



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Eu engoli em seco, franzindo o cenho. Uma parte de mim exigia que eu me afastasse e recuasse alguns passos. A outra parte sorria em sinal de desafio, como se despejasse adrenalina em minhas veias e me obrigasse a encarar Odin fixamente.

Por fim, fiquei parada onde estava, mas sem hesitar. Cruzei os braços, encarando a figura imponente do Deus Supremo, o qual me olhava como se eu fosse uma incômoda e pertinente ameaça.

– Meu pai, Stella está do nosso lado. Ela nos ajudou a impedir a grande invasão dos Gigantes... – Contava Thor, olhando preocupado para mim. Olhava-me como se eu pudesse ser capaz de, com apenas um ato impensado, desmentir tudo o que ele dizia.

Aquilo me irritava profundamente. Todos me olhavam como se eu fosse uma bomba relógio, capaz de mudar de atitude com a fugacidade de um milésimo de segundo. Todos me olhavam como se eu fosse incontrolável. Uma simples ameaça...

– Que tivesse salvado até mesmo a Árvore da Vida! Não me importa... Essa Magia Sombria estava dividida... Fragmentada. De modo que ninguém pudesse uni-las. Mas essa... Essa garota... Ela conseguiu reunir todas. O poder suplicou pela presença dela... Implorou para habitá-la! Essa garota pertence a um mundo de sombras! Não quero isso no meu Palácio! – Urrava Odin, gesticulando veementemente com as mãos. Eu sabia que o Pai de Todos só falava aquilo porque temia pelo destino de seu povo. Não era nada pessoal. Mas eu não conseguia evitar – eu mesma – de levar para o lado mais íntimo.

– Ótimo. Eu vou embora. – Falei agressivamente. Uma força incomum tomou conta de mim. Avancei a passos rápidos em direção à única porta do recinto, e pude ver a hesitação brilhando nos olhos de todos.

Odin se interpunha em meu caminho. Desviei dele o mínimo possível, a fim de que ele realmente sentisse minha presença. Eu poderia ter abaixado a cabeça e ido embora. Mas não. Uma Alessa não se curvava diante de coisas assim.

– Eu devo agradecer a hospitalidade e a generosidade, Pai de Todos? – Falei ironicamente, quase sussurrando, apenas diminuindo o tom de voz o suficiente para que todos ouvissem e captassem o tom de ameaça. Naquele momento, minha raiva estava se acentuando, e eu não mais detinha controle sobre meus atos. Consequências não eram capazes de me intimidar.

Assim, um clima pesado e tenso pairou no ar daquela sala, quase tangível. Odin cerrou os lábios finos numa linha reta. Eu me deslizei suavemente entre o Pai Supremo e a porta, partindo pelos corredores. Eu não sabia exatamente onde estava, mas sabia que se encontrasse uma escada, eu logo acharia o salão principal. Para onde eu iria? Mais uma questão a ser resolvida. Mas desde que eu saísse dali, metade de meus problemas estaria resolvida. Decorridos alguns segundos, eu ouvi alguns gritos vindos daquele quarto. Provavelmente, Thor e Odin brigavam. Eu dei de ombros e segui meu caminho pelo corredor.

Subitamente, um surto de consciência invadiu-me. Eu sabia o que estava acontecendo comigo. Eu sabia o porquê de estar acontecendo comigo. A Magia Sombria às vezes subia à minha cabeça, originando surtos de bipolaridade em mim. Agressividade e inconseqüência me dominavam. Então, encostei-me à parede, como se tocar numa superfície sólida fosse me trazer alguma estabilidade mental também. Por que tudo isso acontecia comigo? Porque dessa forma? Suspirei... Tinha que aproveitar meu momento de sanidade para tentar tomar decisões racionais. Esses meus colapsos de raiva ainda acabariam me prejudicando. Mas havia um problema: Eu sabia o que estava acontecendo comigo. E sabia também que – a partir de agora – nada poderia ser feito para reverter essa situação. Mais cedo ou mais tarde eu teria outro surto e nada mais importaria, nada mais faria sentido. Eu estaria à mercê de meus instintos, sozinha... Dominada pelas sombras. Cheguei a pensar que era esse meu destino mesmo, de qualquer forma. Eu deveria aceitá-lo e encará-lo.

Mas eu me sentia sozinha. Terrivelmente sozinha. Incapaz de ficar bem de novo. Eu tinha a sensação de que estava quebrada, de que nada teria sentido novamente... Eu tinha a impressão de que tudo que eu fizera até aquele momento fora em vão, vazio, sem significado... Porque, no fim das contas, a raiva era tudo que sempre tinha me restado. Não seria diferente agora...

Então, saí correndo pelos corredores. Havia rastros de lágrimas em meus olhos. Não percebi o tempo que se passara quando eu estava nos jardins do Palácio, correndo entre os destroços da última batalha. Deveria ser de tarde, mas o céu estava encoberto por pesadas nuvens em tom de cinza chumbo. Eu não sabia para onde iria, só sabia que teria de sair dali. Perdida em outra dimensão... E em outra dimensão ainda maior: Meus próprios pensamentos. Ajoelhei-me no chão, entre as pedras chamuscadas e congeladas no jardim. Enterrei minhas mãos em meu rosto, desejando congelar tanto quanto uma simples pedra que ali estava. Assim, as coisas seriam mais fáceis.

Então, senti braços me envolvendo. Eu abri os olhos, minha visão ainda desfocada por causa das lágrimas.

– Ei... Você sabe que não está sozinha, não é, sorella? – Era Lucca. Trazia um sorriso tímido. Ele se abaixou, ajoelhando-se ao meu lado, me envolvendo em um abraço fraternal.

Eu suspirei em seus braços, levemente aliviada. As lágrimas que vieram não eram mais de tanta tristeza e solidão. Pode parecer incrível, mas até os mafiosos se sentem isolados de vez me quando. Eu suportara muita coisa até aquele momento da minha vida.

– Obrigada, Lucca... Eu amo você. – Foi o que consegui dizer. E fora sincero.

– Eu sei que não sou o melhor irmão do universo, mas esse aqui nem é o nosso universo, não é mesmo? Então acho que tenho alguma vantagem... – Lucca riu fraco, afagando meus cabelos. Eu fechei os olhos e aproveitei o momento. – Estamos providenciando alguma coisa... Você não vai embora daqui.

Eu me levantei para encará-lo, encontrando seus olhos amendoados e solícitos.

– Eu vou ficar bem. Nós vamos. – Falei, forçando um sorriso.

Lucca o retribuiu e saiu. E eu ainda precisava tomar alguma decisão. Levantei-me e caminhei pelos jardins, contente só por não precisar mais estar no mesmo cômodo que o “gentil” Pai de Todos. Dentre uma de minhas caminhadas, encontrei um carvalho gigante, sem folhas, e encostei-me a seu tronco, pensando um pouco.

– Precisa de um lugar para ficar, Stella? Parece perdida... – Virei-me na direção da voz, embora isso fosse desnecessário. Eu a conhecia muito bem.

– O que você quer? – Eu falei rispidamente, cruzando os braços e olhando incisivamente para os olhos verdes e cautelosos de Loki.

O deus parou onde estava, erguendo as mãos num gesto de falsa rendição. Andava lenta e displicentemente até mim.

– Eu venho oferecer apoio e sou tratado dessa forma? – Ele fingiu ultraje. – Mas confesso que estava com saudades desse seu ímpeto de fúria...

Eu arqueei as sobrancelhas, fingindo não me importar. Toda vez que Loki surgia assim, era porque algo significativo iria ocorrer. E eu não sabia se estava preparada para isso.

– Apoio? – Indaguei, aproximando-me.

O deus sorriu, satisfeito, e continuou:

– Ora, Stella... Eu, melhor do que ninguém, sei pelo que você está passando. Eu acompanhei toda essa sua transformação. E eu também já fui dominado por um poder sombrio. Sei como é a sensação... – O deus fez uma pausa dramática, ao que eu revirei os olhos. – Afinal, por mais que deteste admitir, somos incrivelmente parecidos.

– Loki... O que. Você. Quer? – Eu proferi, com ênfase em cada palavra. Aquilo já estava me incomodando.

O deus sorriu maliciosamente, dando de ombros:

– Estou aqui para fazer uma proposta a você. Eu posso ajudá-la a controlar seu poder e suas crises de agressividade. Eu sei como fazer isso.

Eu abri a boca, totalmente surpresa. Desde quando Loki sabia como controlar meu poder? Ele poderia ter acabado com todo meu sofrimento, com toda minha dor, se tivesse apenas dito isso antes. Uma raiva incomum ameaçava incendiar-me com a velocidade da luz. Obriguei-me a permanecer impassível.

– E suponho que isso tudo não vem da sua gentil benevolência, não é mesmo? O que mais você quer? – Indaguei, aproximando-me certeiramente do deus. Loki não recuou. Ao contrário, sustentou meu olhar feroz com igual ferocidade.

– Em troca... Você faz exatamente tudo o que eu mandar... Como recarregar minha nobre lança. Ela está desprovida de Magia. Somente a Magia oriunda das Sombras pode recarregá-la novamente...

Enquanto cada palavra do deus penetrava meus ouvidos, eu ia tendo uma súbita certeza... Uma derradeira certeza. As reflexões teciam-se em minha mente como se sempre tivessem estado lá, surgindo com uma facilidade incrível. Acho que minha mente tinha ficado mais ágil e rápida para traçar planos malignos que tivessem a ver com sentimentos sombrios. Porque, de uma coisa eu tinha absoluta certeza: Loki usara-me. Usara-me friamente todo esse tempo.

Eu me surpreendi por ter ficado surpresa diante desse fato. Ora, Loki era o deus da trapaça. Esperar algo dele - a não ser trapaça e podridão - era idiotice. E eu fora idiota.

Tudo estava claro agora. Loki, da primeira vez em que me vira, sentira que eu tinha poderes mágicos sombrios. Ele sabia que eu atrairia esse tipo de Magia. Então, começara a circundar-me, criar um vínculo entre nós. Um vínculo baseado em atração e em nossa semelhança tão inegável para o deus. Ele usara seus artifícios de sedução e sua lábia para me fazer crer que tínhamos a mesma visão. O mesmo ideal. Assim, ele me conduzira a obter a perdida Magia Sombria. Eu poderia apostar que, desde o começo, ele sabia onde estava cada pedaço fragmentado dela. E assim, me fizera possuí-las. Ele sabia que eu ficaria instável e incontrolável, e sabia que eu só poderia recorrer a ele. Somente a ele. E, portanto, me oferecendo ajuda, ele conseguiria obter o poder que eu detinha, para realizar seus planos de conseguir poder e dominação. Tudo milimetricamente planejado.

Tudo isso se passara num fugaz segundo diante de mim... Só tive tempo de estender as mãos e lançar uma magia contra o deus, o qual voou alguns metros à frente e bateu no grande carvalho diante de nós.

– Stella? Você está louca? – Disse o deus, aparentemente confuso e furioso, lutando para se equilibrar.

Eu andei rapidamente até ele. Uma força descomunal ia tomando conta de mim, de modo que estendi meu braço diante do pescoço do deus a fim de prendê-lo contra a árvore.

– Você... Você planejou isso desde o início, não é mesmo, deus da trapaça? – Perguntei, cuspindo as palavras com demasiada raiva. – Você sempre soube que aqui existia Magia Sombria... E se aproximou de mim apenas porque sabia que conseguiria atraí-la. Vamos! Admita!

Eu gritava, praticamente descontrolada. Meus cabelos eram fustigados pelo vento e voavam contra meu rosto, meus olhos negros confundiam-se com a pupila, perdendo-se numa imensidão obscura. Minha expressão ia, em segundos, da raiva a mais completa desolação. Nem mesmo minha mentira com Loki fora real.

Loki tossia minimamente, com as mãos tentando arduamente se livrar do meu aperto. O deus tinha uma expressão de raiva misturada à apreensão.

– Admita e acabe logo com isso! – Eu gritei, desesperada, forçando-o novamente contra o carvalho. A árvore ameaçava quebrar-se, tamanha a força que eu despendia ao jogar o deus contra ela.

– Eu entendo o que quer dizer, Stella. – Loki sussurrava, entre fragmentos de suspiro. – Sei o que parece estar acontecendo... Mas não é verdade. Você não acredita em coincidência? Em destino? Porque eu acredito... E acho que você não apareceu na minha vida por acaso. – Loki proferia aquelas palavras com contido desespero, de modo que eu quase cheguei a acreditar dele.

O deus continuou, o brilho de seus olhos verdes vacilava entre as múltiplas expressões que se desenhavam nele:

– Eu apenas achei que você não estava preparada para ouvir certas coisas e entendê-las. Precisei manter algumas coisas ocultas, assim como sei que você também manteve outras escondidas de mim... Foi apenas isso. Tudo começou a me direcionar para você, e eu sabia que juntos poderíamos fazer coisas inimagináveis. Com essa proposta, com essa aliança, só vamos estar fazendo o que é melhor para nós dois. Mesmo que ainda não entenda isso... Você, invariavelmente, tornou-se meu destino, Stella.

Eu apertei ainda mais meu braço contra o tenro pescoço do deus, fitando seus olhos verdes misteriosos com uma intensidade impetuosa. Falei, friamente. Da mesma forma que ele me usara.

– “Destino”? Ótimo. Então, comece a rezar pelo seu agora, deus da trapaça.


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Notas finais do capítulo

E então? O que vocês acham que deve acontecer?