Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 2
Capítulo Segundo: Paradoxo.


Notas iniciais do capítulo

Por fim, aqui está o segundo capítulo de "Memórias Póstumas". Para uma melhor leitura, recomenda-se a utilização da música "Sakura Sakura", de Rin', disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=6DOg2Rpg0-4 >. Ademais, uma boa leitura.



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Eu despertava de meu sono profundo com a luz do sol adentrando a janela de meu quarto e com o cantar dos pássaros. Abria lentamente os olhos e tentava calmamente me acostumar com a claridade do dia. Espreguicei-me, como se tivesse dormido por séculos. Passei a me sentar na cama e assim eu permaneci. Olhei para o vaso de flor com lírios brancos próximo à janela sendo iluminada pelo sol. Havia se passado um mês após o casamento do Naruto-kun e sua posse como Hokage. A vila supostamente viveria tempos de paz, não mais em conflitos como há alguns anos atrás. Eu ainda estava triste, mas o que eu poderia fazer a respeito? Isso mesmo. Nada. Por dias fiquei me remoendo, agoniando, martirizando. O jeito é me conformar, como o faço, agora, sem derramar uma gota de lágrima sequer. Tenho que ser forte. Ficar forte. Tornar-me forte.¹ E desde então decidi que não choraria mais por isso, ainda que não fosse capaz de esquecer. Talvez eu estivesse condenada a ser só e a me casar com algum velho do Clã para dar continuidade à família, como geralmente é de costume. Será que isso estava tudo prescrito pela força do Destino? Posso me acostumar com a dor e aceitar os fatos da vida, mas sinto que jamais poderei ser feliz. Levantei-me, pois não poderia ficar ali para sempre.

Passei a trocar meu pijama pela minha roupa casual lilás. Fechei o zíper da jaqueta. Penteei meus cabelos para depois fazer minha higiene bucal. Olhei para o espelho, encontrando o reflexo de mim mesma. Respirei fundo e fiquei me observando por um longo período, até que sorri para o espelho na tentativa de convencer a mim mesma de que aquele sorriso era tão verdadeiro quanto o azul do céu. Após um tempo ali, eu finalmente saí para caminhar, para espairecer minha mente. Quem sabe eu voltasse a treinar? Acho que seria uma boa ideia. Afinal, eu não teria nada a perder. Eu estava saindo da mansão, quando então me deparava com Shino e Kiba juntamente com o Akamaru em frente à entrada do Clã. Chamei-os, acenando para eles. Fui até lá ao esboçar um sorriso.

– Bom dia, Shino-kun. Bom dia, Kiba-kun. – Cumprimentei-os assim que cheguei até eles.

– Y-Yo, Hinata... – Disse Kiba, ao lado de Akamaru, um tanto diferente.

Ele estava tímido, um tanto nervoso ou ansioso, eu diria. Normalmente, ele costuma ser hiperativo, elétrico e espontâneo. Não era de se estranhar se Shino não dirigisse uma palavra sequer caso ele julgasse ser desnecessário. Mas ver o mais elétrico de nós três daquela maneira indicava que havia algo de diferente.

– Aconteceu alguma coisa, Kiba-kun? – Perguntei, estranhando a reação alheia. Ele parecia segurar algo em sua mão, que estava escondida atrás de si. – E o que você está escondendo aí atrás?

Com a segunda pergunta minha, não sei se foi meramente impressão, mas tive a sensação de que meu amigo havia corado, todo sem jeito.

– N-Não é nada! É claro que não é nada! Eu não estou escondendo nada! N-Não é, Akamaru? – Respondeu, desajeitado, e buscava apoio no chachorro para confirmar suas palavras. Tossiu, levando sua mão vazia em frento à boca para então se reconstituir. – M-Mas hein, Hinata. A sua irmã... A Hanabi... Ela está em casa?

Com a pergunta que o outro fizera ao se referir à minha irmã, pude entender o motivo de tanto desconforto. Era engraçado ver como Kiba-kun ficava tão nervoso por causa da Hanabi. Levei minha mão à frente da boca e ri delicadamente da situação.

– N-Não tem graça nenhuma! – Disse ele bravo, totalmente acanhado.

– Gomen², gomen, Kiba-kun. – Desculpei-me e, aos poucos, eu voltava apenas a sorrir gentilmente. – A Hanabi está em casa sim. Podem entrar lá, fiquem à vontade. Mas, agora estou de saída. – Despedi-me. – Vou ali treinar um pouco.

Sorri novamente para os mesmos e acenei em sinal de despedida.

– Hinata. – Chamou-me Shino. – Não pense muito naquilo.

Aquelas foram as únicas palavras dele. Com as mãos no bolso de sua jaqueta, ele falava comigo enquanto me observava por baixo daqueles óculos negros.

– Arigatou³, Shino-kun. – Sorri após ficar um pouco pensativa. Mesmo que eu tentasse disfarçar, era impossível enganá-los. – Não se preocupe. “Sempre olharei somente adiante. Esse é o meu caminho ninja”, lembra?

Assim, eu voltei a caminhar em direção ao campo de treinamento, onde eu passaria o tempo que eu pudesse ali, isolada do mundo. Ao chegar lá, fiquei diante de um dos bonecos de madeira e então passei a observá-lo. Fechei meus olhos momentaneamente e, junto aos selos que agora eu fazia com as mãos, eu ativava meu Byakugan ao reabri-los.



– Com mais precisão, Hinata-sama! – advertiu o jovem Hyuuga ao parar todos os movimentos da adversária.

– H-Hai! – Assentiu, exclamando, e então dava um passo para trás a fim de investir novamente em um ataque.

Ela respirou fundo e novamente concentrava seu chakra em seus punhos enquanto observava o fluxo de chakra do mais velho. Ao tomar coragem e convicção, ela partia para a ofensiva, investindo em sua velocidade e tentava deferir um golpe. Ele, de modo muito mais ágil, parava seu golpe e investia em um contra-ataque em seu peito. Era atingida e, com o impacto, caía diretamente ao chão.

– Hinata-sama! – Exclamava ao vê-la caída no gramado. Abaixou-se, preocupado, se a havia machucado. – Está tudo bem, Hinata-sama?

Quando ele por fim se oproximava dela, Hinata concentrava mais uma vez o chakra em seus punhos, fazendo-o se manifestar em forma de leões, e atacava o outro, assim, levando-o para às alturas. Ao cair após o golpe de sua prima, ele respirou fundo e passava a fitá-la ainda deitado sobre a grama. Sorriu para a mesma em um gesto singelo porém tão sincero.

– Isso foi trapaça. – Disse o bunke.

– “Um ninja sempre deve olhar por trás da decepção”. – Justificou-se ela, sentando-se ao lado dele e então ria timidamente. – Não é assim que sempre dizem?

– Justo. – Deixou ser vencido nas palavras e ria juntamente com a jovem Hyuuga. Ficou daquele jeito por um tempo, até que ele cessava sua risada, porém manteve seu sorriso. Observava cada movimento, cada gesto feito pela souke. Respirava fundo e seguidamente fechava os olhos, levando suas mãos para trás da cabeça.

Hinata pôs a se deitar no gramado igualmente e olhava para aquela imensidão azul que era o céu. Observava as nuvens que formavam figuras distintas e que preenchiam o local por onde elas passavam. Visualizava uma grande raposa com nove caudas em uma das nuvens; em outra, visualizava um coração. Ficava assim descontraída, até que notava o olhar alheio.

– O que foi, Neji nii-san? – Perguntou e então olhava para o mesmo que, agora, com olhos fechados estava. Virava-se para o primo, tentando decifrar seu semblante.

– Ahn... – Antes de responder qualquer coisa, ele tomou o silêncio e voltava a abrir os olhos, um tanto pensativo. – Hinata-sama... Qual a sua razão de querer ficar forte?

Com a pergunta repentina do outro, Hinata ficou um pouco espantada. Pensou um pouco antes de responder, ficando um pouco corada. Passou a brincar com os dedos, como geralmente fazia quando estava um tanto nervosa ou tímida.

– ... Para poder proteger a quem eu amo. – Respondeu ela com sua voz baixa e delicada visivelmente acanhada, porém convicta do que falava.

Com a resposta dela, ele novamente se calava e continuava a fitar além daquele céu que estava ali. Estava distante. Hinata o observava, confusa, questionando-se se havia dito algo que não devia. Ele então fechou os olhos e passava a esboçar um sorriso de canto, suspirando.

– Uzumaki Naruto... Ele, de fato, me causa inveja. – Pensou alto. Abria novamente os olhos e focava seu olhar em uma nuvem em específico. Levava uma das mãos ao alto, como se quisesse alcançar o céu para pegar aquela nuvem. Sua expressão agora se tornava indecifrável para ela que, com esforço, tentava entender. – Ele tem sorte de ter alguém que se importa tanto com ele como você.

Permaneceram em silêncio daquela maneira, até que Neji se levantava primeiramente do gramado e se limpava. Estendia sua mão para que ela pudesse se levantar igualmente.

– Levante-se, Hinata-sama. – Pronunciou-se. Sua expressão era séria e dura. Fitava-a fixamente de modo intenso, como se quisesse adentrar aos olhos da mesma. Por fim, ele então abria um largo e gentil sorriso para a prima. – Deixe-me te ajudar.

Sorria de volta, contente, para Neji e pegava em sua mão para se erguer. Ele então a puxou para si e encostava dorso alheio em seu peitoral. De modo que pudesse auxiliá-la melhor, ele arrumava as posições de ataque dela fazendo-as juntamente com ela. Assim que ela começava a pegar o jeito, ele se afastava e observava sua prima treinar terna e carinhosamente.

– Você consegue, Hinata-sama.



Deferi meu último e mais forte golpe contra o boneco de madeira que, ao não suportar o ataque, se quebrava. Desativei meu jutsu ocular e permaneci de pé no meio do campo, em silêncio. Fechei com força meus punhos e olhei para o céu, reflexiva. Levei minha mão ao alto e a abri em direção ao sol, como se eu quisesse alcançá-lo, e passei a observá-la enquanto a luz passava por entre os dedos.



– Hakke Kuushou! – Anunciou ao tempo que atacava. Direcionava à Hinata aquele fluxo enorme de chakra que, com a pressão exercida pelo mesmo, a jogava longe. Após o feito, ele saía da posição de ataque e desativava seu Byakugan.

Ao sofrer o ataque, ela era jogada de encontro à arvore que atrás se encontrava. Caía sentada, recostada no tronco. Ao desativar igualmente seus olhos, ela suspirou descontente.

– Algum problema, Hinata-sama? – Perguntou ao chegar próximo da mesma. Estendia sua mão para que ela pudesse se levantar. Ao ver que sua ação não seria correspondida, ele suspirou e então passou a se sentar ao lado dela. Levava suas mãos atrás para usá-las como apoio enquanto a observava de forma atenta.

– Não vou conseguir ficar forte. – Desabafou ela, abraçando as pernas.

Com a fala alheia, Neji fechava os olhos, irritado. Dava um leve e pequeno soco na cabeça alheia e depois cruzava seus braços. A garota levava suas mãos à região atingida pelo soco e ali acariciava para tirar o incômodo. Olhava para o mesmo.

– Não diga besteiras como essa, Hinata-sama. – Comentou finalmente. Reabria lentamente os olhos e passava a fitar aqueles olhos igualmente perolados. Levava a mesma mão que havia batido para agora afagar a cabeça da outra e, em consequência disso, acabava por bagunçar o cabelo alheio. – Você estava tão determinada. Por que essa recaída repentina?

– Porque, por mais que eu me esforce... Por mais que eu tente... – Fez uma pausa antes de prosseguir. Ela passava a abraçar fortemente suas pernas. Respirou fundo e retomou a fala. – Pareço não ter melhorado em nada.

Ouvia atento e calmamente ao que sua prima dizia. Quando aquela finalmente terminava de falar, ele se virava para Hinata e levava suas mãos aos ombros dele, de modo que ficasse frente a frente. Encostava sua testa na dela e assim permaneceu, fixando seu olhar no alheio. Assustada, ela retribuía o olhar, apreensiva.

– Não diga mais isso. Sob hipótese alguma. – Começou o moreno, sério, porém gentil. – Você está mais forte, sim. Acredite em si mesma, Hinata-sama.

– Mas e se eu...

– Não existe “mas” e nem “se”. – Interrompeu-a bruscamente. – Você consegue, Hinata-sama! E se você fraquejar, estarei aqui para te dar apoio. Estou aqui para te ajudar. Eu quero te ajudar. Não desista, Hinata-sama!

Ficava surpresa com o discurso do primo. Naqueles olhos dele era visível a sinceridade com a qual ele falava. Depois de um tempo daquela forma, Hinata sorriu. Aquelas palavras proferidas por ele eram tão gentis e confortáveis... Ela então se encorajava novamente. Retirava as mãos do outro de seus ombros e se pôs a se levantar.

– Hai! – Concordou com Neji, enquanto ainda o fitava, animada.



Esses anos todos que se passaram eu vinha treinando para somente um propósito, de proteger a quem eu amava. Atualmente, isso não parecia fazer sentido, ao passo que o meu motivo havia se tornado a origem de minha fraqueza. Agora, eu vejo com mais clareza, de que sempre havia uma terceira pessoa, que nunca me deixava desanimar. Essa pessoa era o Neji nii-san. Contudo, há muito tempo, ele já havia partido.

Eu me dava conta de que eu vivia em um interminável paradoxo – minha força havia se tornado minha fraqueza; queria me reerguer, mas a pessoa que me encorajava já não existia para esse mundo.



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Notas finais do capítulo

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[1]: Referência a um trecho da história "Lembrança de Morrer".
[2]: Desculpas em japonês.
[3]: "Obrigada" em japonês.
[4]: "Entendido"/"sim" em japonês.