Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 1
Capítulo Primeiro: Solidão.


Notas iniciais do capítulo

A leitura poderá ser meio confusa, devido à inserção do lado psicológico da personagem. Recomenda-se ouvir "Interludium", de Adrian von Ziegler, durante a leitura, disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=fDHTWzADF_Y >. Ademais, uma boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/394679/chapter/1

Hoje o mundo parecia cinza para mim. A vida simplesmente havia perdido todo o sentido, mesmo que já soubesse que já fosse certo, imutável, irrefutável. Tentei me conformar de fato com a situação – de que eu havia perdido. Pelo que eu vinha lutando a minha vida toda, agora vejo que jamais passou de um sonho percorrido em vão. A verdade é que acabei voltando ao meu ponto de partida. Ou, ainda, sinto-me como se tivesse atravessado o oceano a nado e, por fim, tivesse morrido na praia, sem sequer ter pisado em terra. Aqui estou, vítima e à deriva do destino.

Fazia sol, céu puramente azulado, sem uma única presença de nuvens. O campo medrava e as cerejeiras floresciam com tamanha magnificência. As borboletas sobrevoavam as tulipas com tamanha serenidade. A brisa, ao seu passar pelo vasto campo, trazia calmaria e harmonia. Afinal, era primavera – salvo a mim. Minha mente em tempestade e minh’alma em terremoto – como se meu mundo estivesse buscando pelo fim de tudo e de todos os tempos. Estava eu ali, deitada sobre a grama naquela imensidão natural. Observava as pequenas margaridas que no local floriam. Toquei-as delicadamente. Não queria machucá-las. Fiquei ali daquele modo enquanto observava tamanha delicadeza naquela planta tão singela. Sorri, como se aquilo pudesse trazer paz interior ao meu coração tão machucado. De meus olhos, uma lágrima involuntária. De meus pensamentos, aquele rosto. Aos poucos, meu sorriso se desfazia e dava lugar para um semblante abatido. Não pude me conter. Chorei, sem medo de me expressar. Gritei, em dor de minha essência. Levei minhas mãos ao rosto, enquanto mais e mais lágrimas transbordavam. Fechei lentamente minhas pálpebras, tremendo. Encolhia-me no gramado enquanto clamava pelo nome dele.

– Naruto-kun... – Chamei-o mais uma vez, ao vento, mesmo sabendo que ele não estaria ali para me ouvir.

Naquele exato momento, ele deve estar diante do altar, ao lado da Sakura-chan, trocando votos de fidelidade e amor eterno perante o sacedote. Todos alegres, ambos prontos para começar uma vida juntos... Eu devia estar feliz por ele. Eu o amo de verdade, então por que estou assim, tão entregue e derrubada? Talvez eu não soubesse o que é amar incondicionalmente, como acreditava que eu o fazia. A cada lágrima, uma lembrança. A cada lembrança, uma dor. Dor que não se cura, cicatriz que não se desfaz. Até eu estou com vergonha de mim mesma nessa deplorável situação. Mas a verdade é que está insuportável a sensação de perda. Uma perda sem morte. Sinto-me abraçar a morte em vida. Pela primeira vez, de fato, experimento o que é o vazio. Todos estavam felizes naquele dia. Não podia contar com minha família. Ela sempre foi contra meus sentimentos em relação ao Naruto-kun, ainda mais sendo eu a primogênita da família. Jamais me compreenderiam.

Permaneci ali daquela forma por mais um bom tempo, até que passei a enxugar minhas lágrimas e por fim me sentei. Respirei fundo, recuperando todo o fôlego que eu havia perdido.

– Tsc... Eu sou uma idiota mesmo. – Sussurrei ao deixar meu pensamento tomar formas de palavras. Minha voz ainda estava trêmula.

Levantei-me, cabisbaixa. Sequer coragem para olhar o sol que me guardava eu tinha. Passei a caminhar enquanto à minha mente vinha recordações. Àquelas desde os tempos da Academia, quando eu já o observava e o admirava enquanto todos o menosprezavam. Relembrava-me de tudo o que eu havia feito por ele e vice versa. Mas ele o fazia apenas como um amigo e nada além do que isso. Mais uma vez, uma lágrima involuntária. Assim, eu segui até minha casa, lentamente, passando pelas ruas de Konoha. O caminho parecia mais longo que o de costume. Enquanto andava, tropecei e ameacei cair diretamente ao chão, porém, consegui me equilibrar a tempo. Chutei alguns pedregulhos que eu encontrava, até que eu por fim parava; Estava eu em frente à entrada de meu Clã. Ergui meu rosto e então passei a observar a faixada. Suspirei, antes de prosseguir.

Hyuuga... – Li a grande placa, indicando o território do clã ancião de Konoha ao qual eu pertencia. Sem muitas delongas, entrei nos domínios do Clã e segui diretamente à mansão.

Retirei minhas sandálias delicadamente na entrada da casa e então as ajeitei, ao lado de outros sapatos. Calcei meu chinelo de palha lentamente, até que por fim voltei a andar, agora pelo vasto corredor até meu quarto, com meu olhar opaco e minha mente distraída. Tranquei-me em meu quarto e ali permaneci. Sentei-me na cama e assim eu fiquei, fitando o vazio por um tempo que não fui capaz de contar. Não tinha vontade de fazer mais nada. Nem de dormir, caminhar, correr, brincar, comer, conversar, sequer chorar. Sentia-me como se a dor fosse tamanha que havia me feito ficar anestesiada com relação a ela própria. Há quanto tempo eu estava ali, naquela forma, meu Deus? Um minuto, uma hora, um dia? A verdade é que minha consciência não estava ali junto ao meu corpo. Ela sobrevoava memórias novamente, até que repousava sobre uma enorme solidão. Sentia-me dentro de uma imensa e eterna escuridão. Olhava para os lados e nada encontrava, nem ninguém, nem sequer uma saída, uma luz. Corria para todas as direções, tentando me encontrar, quando eu o via – a luz da minha vida. Parei por um momento, observando-o acenar em minha direção. Esbocei um dos meus melhores sorrisos e acelerei meus passos para ir de encontro a ele. Corri o mais rápido que eu pude, alegre, contente.

– Naruto-kun! – Estendi minha mão a ponto de alcançá-lo, quando então vi uma garota correr mais rápido que eu e então se jogava para os braços do mesmo, dando-lhe um apertado e amoroso abraço.

Ele então retribuiu aquele abraço e, enquanto a segurava, dava um giro brincalhão. Olhava naqules olhos cor de esmeralda apaixonado e sorria feliz ao lado da Sakura-chan. Desacelerei meus passos, até que, enfim, estava eu, novamente, parada. Meu sorriso se desfazia, bem como as folhas de outono caíam no inverno frio e rigoroso, ao passo que aos poucos ambos se distanciavam e por fim desapareciam, restando apenas a escuridão novamente. Nada mais do que isso. Abracei meus próprios braços, trêmula. De meus olhos, transbordavam lágrimas. Caí de joelhos ao chão, enquanto permanecia naquele estado, desnorteada, sem esperanças. Gritei, como se alguém pudesse me ouvir. Solucei, Respirei. Ofeguei. E continuei a chorar. Até que passei a ser envolvida em um confortável e caloroso abraço. Eu não sabia de onde ou de quem vinha aquela ação, mas era tão bom, tão sereno...



Aishiteru¹.



Eu voltava à realidade juntamente de minha consciência logo após ouvir àquela voz tão macia e generosa, porém irreconhecível. Eu realmente a havia escutado. Todavia, ela parecia... Imaterial. Olhei para a janela – já era noite. A lua cheia estava mais bela do que nunca, tão alva, tão brilhante...



Sua luz adentrava meu quarto, como se, por alguma força transcendental, estivesse zelando por mim.





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

[1] Aishiteru: "Eu te amo" em japonês.Por ora, a história fica classificada como +16, podendo sofrer alteração na classificação dependendo de seu conteúdo.