- Ahh! – Ele gritou, me encarando assustado. Eu não representava nenhuma expressão, embora eu tentasse. Apenas inclinei um pouco a cabeça para o lado, em silêncio, esperando se acalmar. – Puta que pariu, que susto. Quem é você?

- Sou seu anjinho da guarda, e vim consertar e infernizar sua vida! – Sorri falsamente, abrindo os braços, embora eu já estivesse de mau-humor, não sei com oque.

- Haha, muito engraçado. Agora pare de idiotice, e fale logo quem é você. – Ele já parecia mais irritado, agora se encontrava sentado, e eu na sua frente, de pé, ainda o fitando.

- Haylie. E eu não estou brincando. Fui mandada aqui para te consertar.

- Eu não to quebrado.

- Não queira discutir comigo, se fosse por minha vontade eu não estaria aqui. E você vai ter que se acostumar comigo, vou ser praticamente sua sombra a partir de agora. Então trate de ser um bom garoto, e não ficar de birra. – Ele se levantou, e eu dei um passo para trás. Ele me encarava irritadiço, suas veias pulsando, seus punhos estavam cerrados.

- Deus, você é muito insistente, e a brincadeira já perdeu a graça. Agora pode me fazer o favor, e vazar do meu quarto?

- Nosso quarto. – Ele bufou, se afastando de mim e indo em direção à porta.

- Quando eu voltar, espero que já tenha evaporado daqui, ou se não alguém vai para a ambulância.

- E sinceramente acho que esse alguém é você. Eu não posso me machucar mesmo, to em vantagem. – Fui atrás dele, agora passando pelos corredores, estava um pouco cheio.

- Você é louca, garota, me deixa em paz!

- Nunca. Assim que eu conseguir te consertar, eu vou embora, então deixa de ser rebeldezinho e coopera.

- Ah, para de falar, sua vozinha é irritante. Viu? Agora todos estão nos olhando, devem estar te achando doida por ficar me seguindo. – Ele parou de andar, me encarando. Os alunos ao redor o olhavam com estranheza, outros rindo. Sorri também.

- Estão te achando doido. Na visão deles, você está falando sozinho. Não sabe disfarçar?

- Que coisa mais ridícula. – Atrás do ruivo, um menino de cabelos acinzentados o cutucava.

- Castiel, com quem você tá falando? – Castiel? Então esse era o nome da criatura... O platinado ria, olhando ao redor. – Não tem nada pra verem aqui, já podem ir para a sala. – As pessoas obedeceram, saindo em passos rápidos do corredor.

- To falando com essa garota aqui, que ta insistindo em me perseguir. – O mesmo apontou para mim, irritado. O menino olhou, olhou...

- Que garota?

- Essa! Ta cego? – Agora o garoto olhava para ele com uma expressão séria.

- É... Castiel... Não tem ninguém ai. Aliás, não mais ninguém no corredor a não ser você e eu.

Sua expressão de irritação foi substituída por um olhar vago e ao mesmo tempo com seriedade. Ele me olhou, e depois voltou a atenção para o menino. Suas mãos relaxaram, mas por dentro, ele parecia assustado.

- Eu disse... – Sorri, irônica.

- Você deve estar tendo alucinações cara. Todos aqui estavam estranhando você falando sozinho. Acho... Melhor você voltar a dormir.

- Mas... –Ele olhou novamente para mim. Ignorou e foi novamente para o quarto. Quando o platinado estava passando por mim, sem querer joguei a mão para frente, batendo em suas costas.

- Hã?! – Ele olhou assustado para trás, logo suspirando. Virou novamente para frente, indo com o ruivo para o quarto.

Então eu posso tocar os outros sem que me toquem é? Ham, interessante...

Os segui, entrando no quarto. Bom, aquele devia ser o amigo dele, Lysandre. Assim que deixou o esquentadinho no quarto, saiu do quarto e foi para as escadas.

- Que diabos você é? Um fantasma?! – Castiel estava sentado em sua cama, com as mãos na cabeça.

- Eu não sei oque sou exatamente. Só sei que estou morta para as outras pessoas, menos para você.

- Ah claro, essas merdas sempre acontecem comigo. Agora vou ter uma coisa me seguindo o tempo todo. Isso é ótimo, ótimo! – Sua voz soava irônica, ele deitou a cabeça no travesseiro, encarando o nada, sem absolutamente nenhuma expressão.

- É... Mas como eu disse, se você colaborar, eu vou sair da sua vida rapidinho. – Fui para a cama do seu lado e me sentei, encarando-o.

- Como assim? Colaborar com oque?

- Eu fui mandada aqui para consertar a sua vida inútil, e deixar esse seu coração de pedra voltar a ser uma manteiga derretida.

- Mandada por quem? – Ele voltou a se sentar, colocando suas mãos entrelaçadas no meio das pernas, fitando-me.

- É difícil de explicar, depois te conto a história toda.

- Aff... Então, quando eu for conversar com você, vou estar praticamente falando sozinho?

- Exato. Bom, mas se eu quisesse, eu poderia me mostrar a qualquer outra pessoa, mas só para uma.

- Ah. Mas minha vida não precisa de conserto, estou ótimo assim, não preciso de uma garota irritante para me ajudar com os problemas, que eu acho que não tenho.

Eu já estava ficando irritada, mas que menino teimoso, que droga. Eu não conseguia expressar muito os meus sentimentos, não sabia porquê, mas ao poucos ia conseguindo. Eu o encarei com o olhar vago, eu estava tentando adivinhar oque ele estava pensando, mas acho que isso não se incluía em um dos meus poderes.

- Olha só... – Me levantei, ficando em sua frente. Inclinei meu corpo até a altura de seu rosto. – Eu não tô aqui por você. Eu to aqui porque quero muito a minha vida de volta, e se caso contrário isso não acontecer, a culpa vai ser toda sua. Em seis meses preciso disso, e se você continuar teimando, vou te infernizar antes que a minha alma vá embora. Então, eu te ajudo a melhorar, isso acaba, e eu saio da sua vida para sempre. Temos um acordo? – Estendi minha mão para o mesmo. Ele pareceu ficar pensativo, encarando-me. Olhou para os lados... E apertou minha mão.

- Temos um acordo.