Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 12
Nervos à Flor da Pele – Parte I




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Jane estava novamente diante de seu espelho, que estava pendurado solitariamente na parede de seu quarto, quando Heidi bateu duas vezes na porta e entrou no cômodo. A vampira não havia dado permissão para a entrada e a visitante tampouco se importou com isso, pois, agora que seu poder estava bloqueado, ela não assustava a mais ninguém.

— Então, Jane – começa Heidi, encostando-se na parede mais próxima à vampira, mesmo que ela não se dignasse a olhá-la. – Você cultiva algum interesse por Maximilian?

— E por que faria tal coisa? – responde já arisca, irritada pela invasão em seu quarto e por alguns membros da Guarda Volturi demonstrarem cada vez mais desrespeito com relação a ela, agora que estava sem o seu precioso dom.

— Porque, até onde eu sei, vampiros também procuram companheiros para amarem, passarem a eternidade e aplacarem seus desejos, e ele está nitidamente rondando você.

— Tolice.

— Isso é uma negativa? Quer dizer que não tem interesse nele?

— Exatamente – comenta, sem retirar os olhos do espelho, ajeitando os cabelos aqui e ali, e concentrando-se para que seu rosto não demonstrasse nada que pudesse ser mal interpretado.

— Excelente! Então não vai se incomodar se eu tomá-lo para mim – revela evidentemente esperançosa, fazendo Jane congelar com os braços no ar e trincar os dentes. – Há semanas estou desejando aquele camaleão em...

— Não pode fazer isso! – ordena Jane subitamente, interrompendo o monólogo de Heidi e lhe lançando o seu olhar mais cruel.

— Por que não? Acabou de dizer que ele não a atrai… Se Maximilian não está com você, então está livre para qualquer outra vampira!

— Você mesma disse que ele está me rondando, como acha que o fará querê-la?

— Ora, Jane! Não seja tola… Eu tenho os meus truques – responde somente, ajeitando os cabelos e o decote, e se retirando do cômodo com passos firmes e determinados.

Jane se cala, ainda com a fúria estampada nos olhos. Ela não queria Maximilian por perto, odiava a forma com que a perseguia e a enchia de perguntas, porém, odiava ainda mais a ideia de tê-lo nos braços de Heidi, abraçando-a ou beijando-a. Também havia o cheiro, a deliciosa fragrância la tua cantante que sua mente e seus instintos já tinham como posse, mas que seria da outra vampira se ela tivesse sucesso em conquistá-lo.

Imaginar Heidi sentindo aquele aroma, tocando os lábios naquele pescoço e até mesmo tomando daquele sangue, fez a fúria pulsar dentro de Jane, cruzando seu corpo de ponta a ponta como uma corrente elétrica, impulsionando-a a segurar o espelho que estava na parede e atirá-lo no chão com força, estilhaçando-o no mesmo instante. Ela queria proibir a vampira de se aproximar do camaleão, mas não sabia como fazê-lo, pois não conseguia justificar sua súbita irritação ou encontrar um motivo plausível para proibi-la de ter Maximilian.

Maximilian. Jane constantemente pensava no seu nome, mas nunca conseguia pronunciá-lo em voz alta, preferindo usar termos vago como “ei”, “você” ou simplesmente “camaleão” para chamá-lo ou se referir a ele, diferente de Alec, que frequentemente o chamava pelo nome.

— Jane? – chama Alec, já do lado de dentro do quarto.

— O quê? – grita ela ainda possessa, perguntando-se quando ele tinha entrado ali, já que não notara a sua presença.

— O que aconteceu aqui? – questiona confuso, olhando para os minúsculos pedaços de espelho espalhados pelo chão.

— Quantas vezes tenho que dizer para baterem na porta antes de entrar?

— Eu bati, você é que não ouviu – esclarece Alec calmamente, fechando a porta atrás de si ao considerar que algo terrível deveria ter acontecido para que a irmã estivesse com aquele nível de fúria.

Jane dá as costas para o irmão e passa as mãos pelos cabelos, constatando que estavam perfeitamente alinhados apesar de seu acesso de raiva. E quando considerou-se controlada o bastante para conversar, retornou sua atenção para Alec:

— O que houve? – perguntou, querendo saber o real motivo dele estar ali.

— Lembra quando te contei sobre Andrômeda? – questiona o gêmeo, referindo-se a conversa que tiveram na noite anterior, horas depois de Maximilian ter contado um pouco de sua história, em que ele revelara a irmã toda a sua preocupação com relação a vampira nômade e seu modo irregular de viver. – Maximilian me pediu para não contar aos mestres…

— Você é leal ao clã!

— Eu prometi que não contaria.

— Não pode prometer coisas que vão contra o clã! – irrita-se, aumentando levemente o tom de voz.

— Não quero trair a confiança dele, Jane. Ele é meu… Amigo – revela, sentindo a palavra soar estranha agora que a pronunciava tão claramente. – Será que você pode manter segredo sobre isso também?

— Sabe que não vai funcionar. O mestre saberá disso mais cedo ou mais tarde.

— Eu sei, mas queria que não fosse pela minha boca, nem pela sua.

Jane torce a boca com a ideia de manter aquilo em segredo, quando sua real intenção era contar tudo aos mestres para finalmente se ver livre do camaleão, seja pela morte ou por apenas entregá-lo nas mãos de Andrômeda. Contudo, ela não podia – e não conseguia – desapontar Alec, pois, de todos os vampiros que residiam naquele castelo e faziam parte daquele clã, seu irmão e seu mestre eram os únicos que a vampira confiava cegamente.

— Está bem – concorda com relutância, não percebendo que, do lado de fora de sua porta, Demetri ouvia o nome de Andrômeda e tomava ciência de que Maximilian tinha um segredo, seja ele qual fosse, e que os gêmeos Volturi acabavam de decidir acobertá-lo.

Ele passava ali por acaso quando ouviu Jane gritar com o irmão e ficou tentado a ouvir a conversa. Mesmo não sabendo dos detalhes daquele segredo, Demetri não pôde deixar de esboçar uma careta de desagrado, como se os gêmeos estivessem traindo o clã ao esconderem informações de seus mestres.

Apesar de todo o clã ser extremamente leal a Aro, Caius e Marcus, como se não houvesse nada mais importante do que isso, alguns vampiros conseguiam cultivar afeições reais uns pelos outros, criando certo laço de amizade ou até de fraternidade dentro do clã. Mas era certo que ninguém nutria afeição por Jane Volturi, que sempre usava de seu dom para manter a obediência de todos a sua volta, infligindo-lhes dor sempre que necessário para mostrar sua superioridade. Alec era detestado por tabela, visto que tinha um poder tão traiçoeiro quanto o de Jane, e que sempre concordava com as decisões da irmã.

Demetri havia perdido um bom posto dentro do clã por causa dos irmãos, e não via necessidade de favorecê-los em nada. Se ele fosse conter aquela informação para si, seria unicamente por Maximilian, que, até então, mostrou-se ser um vampiro inteligente e um líder de equipe infinitamente melhor do que Jane.

O vampiro se afasta do quarto mansamente, não querendo ser pego em flagrante caso Alec decidisse deixar o cômodo repentinamente. Porém, do lado de dentro, a conversa entre os gêmeos continuou:

— Manterei segredo apenas porque é você que me pede – esclarece, para que não restasse nenhuma dúvida sobre o assunto –, se dependesse apenas dele, já estaria na sala dos três tronos reportando tudo!

— Obrigado, Jane – sussurra, temendo que a irmã o repreende-se por tal palavra.

Jane troca a perna de apoio ao ouvir o agradecimento, pensando seriamente em lhe dar um tapa por usar expressões tão educadas. Alec estava mudando e ela não sabia dizer se estava gostando daquela nova versão de seu irmão. Lentamente a vampira caminha em direção a porta, pisando sobre os cacos de seu espelho com a intenção de se retirar, mas, quando estava ao lado de seu gêmeo, seus lábios inesperadamente pronunciaram:

— Eu te amo, Alec! Faço isso apenas porque é meu irmão.

Alec vira o rosto em sua direção subitamente, encontrando no rosto de Jane a mesma expressão que ele estampava: surpresa. Quando, em sua segunda vida, ele pensou que Jane pudesse dizer uma frase como aquela? Nunca, ele nunca imaginou que ela pudesse usar o verbo amar em qualquer frase, seja para quem fosse, assim como ele nunca cogitou fazer tal coisa.

Rapidamente as palavras de Maximilian retornaram a sua mente, sobre cada um deles já ter tido um coração humano, repleto de sentimentos e emoções. Amor era um sentimento. Eles tiveram aquele sentimento no passado. Jane tinha aquele sentimento no presente, mesmo que à nível fraternal. E se sua irmã sentia aquilo, então ele também poderia sentir...

— Se contar para alguém que eu lhe disse isso, eu te mato! – ameaça, mais por constrangimento do que de fato por querer matá-lo, antes de se retirar do cômodo rapidamente, caminhando pelos corredores a esmo, tentando se desvencilhar do choque que suas próprias palavras lhe proporcionaram.

O vampiro ficou quase um minuto estático no quarto de Jane, mesmo depois da saída dela, perplexo pelo que ouvira sair dos lábios femininos pela primeira vez. Alec coloca a mão direita sobre o lado esquerdo de seu peito, subitamente sentindo um calor se instalar ali. Não havia batimentos, seu coração não tinha voltado a bater “do nada”, então por que ele sentia aquele calor reconfortante, que começava justamente naquele ponto e se espalhava por todo o seu tórax? Será que o que Jane sentia era algo como aquilo?

— Eu também te amo, irmã – sussurra para o aposento vazio, apenas para saber como seria pronunciar tal frase, mas constatando instantaneamente que aquilo era verdade, que ele amava sua gêmea e nunca a desapontaria, que seria leal a ela mesmo se, algum dia, isso significasse ser desleal com o clã.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. ^-^



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