Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 13
Nervos à Flor da Pele – Parte II




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Já distante dali, Jane entra na biblioteca sem saber bem o que estava fazendo. Ela amava Alec e jamais negaria tal fato, afinal, ele era seu irmão, seu gêmeo, sua única família de sangue, que estivera com ela antes, durante e após a transformação. Entre eles havia um elo único, que os impedia até mesmo de ficarem muito tempo afastado. Contudo, a vampira nunca pensou em falar daquele sentimento abertamente para ele.

Na verdade, Jane nem sequer sabia que podia sentir aquilo.

Maldito Maximilian que até naquilo tinha razão, que até naquilo se mostrava melhor do que ela. O camaleão havia dito que ela sentia amor, mesmo que tivesse negado veementemente, e tinha acertado. Ela queria fazê-lo pagar por todas as coisas estranhas que estava trazendo para sua segunda vida, coisas que ela preferia que permanecessem enterradas junto com sua humanidade.

— Sentimentos e emoções são fraquezas! – repreende-se mentalmente. – É só observar o quão ridículos os Cullens se parecem, com toda aquela idiotice de família, amor e bons sentimentos! Parecem um bando de frangos, que cacarejam nervosamente todas as vezes que chegamos perto!

O corpo de Jane congela quando um novo pensamento a atinge. Parecerem fracos não os tornava realmente fracos. Os Cullens tinham dons interessantes e que Aro evidentemente cobiçava, mas nunca se entregaram às vontades dele, nem tampouco se dobraram quando a criança mestiça nasceu. Muito pelo contrário, eles prepararam discursos e um pequeno exército para lutar pela híbrida até o fim, de um jeito ou de outro. A família Cullen respeitava os Volturis e, até certo ponto, os temiam, mas nunca se mostraram fracos como tantos outros grupos e clãs vampiros.

Os sentimentos não os tornaram fracos.

Os sentimentos os tornaram ainda mais corajosos...

— Jane? – chama Maximilian pela terceira vez, retirando a vampira de seus devaneios e fazendo-a finalmente perceber que não estava sozinha na biblioteca.

Demetri e Felix estavam separados por um tabuleiro de xadrez, mas a encaravam como se ela fosse um alien, em vez de uma vampira. Maximilian estava lendo um livro a exatos 2 metros deles, um livro de poemas, reparou Jane mesmo com a distância. E ao lado do camaleão estava Heidi, trajando um vestido vermelho com decote profundo, um exagero de vestimenta que ela obviamente não estava usado a momentos atrás.

Além disso, Heidi também estava com um livro em mãos, tentando parecer culta. Jane sabia que a vampira não tinha o hábito de ler. Ela gostava de músicas e nunca havia entrado naquela biblioteca até aquele dia. Estava claro que fazia aquilo pelo camaleão.

— Jane? – chama Maximilian novamente, fechando o livro e movendo-se para a ponta do assento, fazendo menção de levantar.

Todos os vampiros a encaravam e a vampira sentiu-se idiota por ficar parada ali, como uma estúpida estátua de gelo, olhando para o nada enquanto a mente vagava por sabe-se lá quanto tempo.

— Sim? – questiona, respondendo a pergunta com outra pergunta, tentando aparentar normalidade.

— Tudo bem?

— Sim – responde somente, caminhando em direção à estante de terror mesmo que não precisasse de um livro novo, reparando, pelo canto dos olhos, que Felix e Demetri riam de sua situação.

Maximilian observa seu caminhar com atenção, percebendo algo de estranho nele. Jane estava tensa, apesar de aparentar calmaria, algo que não era comum, já que ela não via a raiva como um sinal de fraqueza e não se importava em demonstrá-la.

Ele se levanta sorrateiramente, seguindo os passos de Jane para a sessão de terror e deixando Heidi para trás, ignorando completamente qualquer tentativa feminina de impressioná-lo e a irritando-se com a mesma proporção.

Estranhamente, Jane soube o momento exato em que Maximilian entrou no corredor onde estava e fechou o semblante numa carranca quando parou ao seu lado, já esperando que ele dissesse coisas estranhas.

— Aconteceu alguma coisa? – sussurra, mesmo que os outros vampiros pudessem ouvi-lo, passando o dedo por algumas lombadas para fazer de conta que estava escolhendo algo.

— Não – rebate rapidamente, também fingindo escolher alguma coisa, afinal, ela nem sequer sabia o que estava fazendo ali.

— Preciso de uma recomendação de livro de terror. Quero saber porque você gosta tanto desse gênero, o que me recomenda? – recomeça, numa tentativa de desviar a atenção dela do que a incomodava, mas não notando nenhum sinal de relaxamento no corpo feminino.

Jane deu alguns passos para o lado, procurando algum título em especial, mas o camaleão não soube dizer se era para ela ou para ele. Por via das dúvidas ele esperou, e ativou sua camuflagem lentamente, somente para sanar uma curiosidade que já o atingia há tempos.

Os dedos femininos corriam rapidamente pelas lombadas dos livros quando o cheiro de la tua cantate a atingiu, fazendo suas mãos congelarem no ar e seus ombros relaxarem instantaneamente. Jane sabia que era ele e sabia que o vampiro se aproximava dela, para fazer o que sempre fazia: ser estranho, mexer com seus sentidos e deixá-la irritada.

Maximilian se coloca exatamente atrás dela, colocando um braço de cada lado de Jane como se pretendesse encurralá-la, mas dando-lhe espaço suficiente para fugir, se quisesse.

Che cosa stai pensando, amore mio? – sussurra ele em seu ouvido, tentando soar baixo o bastante para que os demais não o escutassem, fazendo Jane fechar os olhos e respirar fundo instintivamente, ao mesmo tempo em que um torpor tentava se instalar em sua mente.

Ali, naqueles segundos em que a vampira fechou os olhos e respirou o seu cheiro humano, o camaleão se deu conta que sua camuflagem, que continha o exato cheiro de quando ele era humano, a agradava imensamente. Porém, contradizendo as ações de seu corpo, Jane puxou o primeiro livro que seus dedos alcançaram e o empurrou na cara do vampiro, obrigando-o a se afastar.

— Leia esse e me deixe em paz! – rosna irritada, deixando os caninos à mostra.

Maximilian recua alguns passos e apanha o livro com o susto, percebendo, no minuto seguinte, o quanto os olhos da vampira estavam escuros e intensos. Ela não havia caçado no banquete, mas o camaleão imaginava que os Volturis tivessem autorização para deixar o castelo em situações de emergência. Entretanto, os olhos sedentos de Jane, evidenciados pelo cheiro humano que ele exalava, diziam que ela estava faminta e que, talvez, não tivesse autorização para deixar o castelo nem mesmo nessas condições.

Jane se afasta alguns passos, mas trava ao se lembrar de Alec, achando aquele um momento apropriado para dar um ultimato ao camaleão.

— Alec agora o chama de amigo – diz ela, olhando-o momentaneamente com um semblante de ameaça –, se você prejudicá-lo de alguma forma, eu o mato!!! – vocifera, tentando passar o seu recado com seriedade, mas fazendo Demetri rir no local onde estava.

Quando aquela risada de evidente deboche alcança seus ouvidos, Jane sabia exatamente do que se tratava e culpou Maximilian por estar perdendo o respeito dos vampiros do clã. Ela não podia açoitá-los agora que estava sem o seu dom, e eles, cada um a sua maneira, pareciam se rebelar contra ela.

— Medo gera respeito – pensou erroneamente, disposta a colocar Demetri em seu devido lugar com ou sem o seu poder.

Jane gira em seus calcanhares e sai do corredor onde estava, parando assim que seus olhos avistam Demetri, que ainda jogava xadrez com Felix.

— Qual é a graça, Demetri? – rosna, sentindo os músculos de suas costas se tensionarem para um possível conflito.

Felix a olha com seriedade, detectando a mudança em seu corpo como um sinal de ameaça, mas não desejando bater de frente com a segunda favorita de Aro. Porém, Demetri não teve a mesma consideração quando lançou-lhe um olhar de desdém e esboçou um irritante sorriso irônico.

— Você ser capaz de matar alguém, essa é a graça! Admita, Jane, você nunca matou um vampiro sequer e nem saberia como fazê-lo. Você não é nada sem o seu dom!

— Quem tentar a sorte? – desafia ela, concentrando-se em aplicar-lhe o nível máximo de dor, numa tentativa frustrada de ataque, fazendo seu oponente rir e se aproximar, aceitando o desafio.

— Como eu disse, você não é absolutamente nada sem o seu poder! – cospe Demetri, agarrando o pescoço de Jane.

O semblante da vampira muda subitamente. Não porque sentia medo dele, pois Jane Volturi era autoconfiante demais para se dar conta de que estava em desvantagem; mas porque, da mesma forma que a mão de Demetri agarrou seu pescoço, outra mão masculina agarrou o dele, vindo detrás dela.

Jane não o notou se aproximar, mas agora sentia o corpo de Maximilian muito próximo ao seu, praticamente colado às suas costas, com a mão esquerda em seu ombro enquanto a direita apertava o pescoço do oponente com força. O aperto em seu ombro ela forte e, através dele, a vampira sentiu a sua raiva antes que as palavras deixassem os seus lábios.

— Tire as mãos dela! – rosna ele, deixando os caninos à mostra em sinal de ameaça, fazendo Demetri soltar o pescoço de Jane vagarosamente.

— Ela me desafiou primeiro!

— Não me interessa!

— Ela não é mais a líder e nem a favorita do mestre, posso pagar na mesma moeda a forma humilhante com que ela nos trata, e você não pode me impedir! – esbraveja Demetri.

— Ela continua sendo a minha favorita. Não tenho nada contra você, Demetri, mas se tocar nela de novo, dessa forma e com essas intenções, eu arrancarei suas mãos fora!

— Você não é tão confiável, no fim das contas – revela Demetri, como se sugerisse alguma coisa.

Maximilian o solta assim que sente a ameaça de ataque se dissipar, guiando Jane para fora da biblioteca sem resistência, já que ela estava perplexa demais para dizer ou fazer qualquer coisa. Do lado de fora, o camaleão se afasta sem dizer mais nada e sem levar nenhum livro consigo, como a vampira notou ao vê-lo partir. Ele ainda parecia irritado.

O que tinha acontecido lá dentro afinal? Ela não sabia muito bem, mas arrependia-se de não ter visto a expressão de Heidi ao perceber que seu imenso decote não tinha obtido o sucesso desejado.

Com um sorriso sarcástico nos lábios, Jane voltou para o seu quarto, onde uma pequena bagunça a esperava para ser limpa. Apesar de toda a tensão vivenciada a pouco, havia uma certa satisfação em seu interior por Demetri ser forçado a recuar diante de seu desafio. Ela saíra por cima e ele não, o que abaixaria a sua crista por hora.

Todavia, desagradava-lhe com igual intensidade o fato de ter uma pendência com Maximilian. Ele a tinha ajudado e, agora, a vampira sentia que lhe estava em débito, e ela odiava dever favores a qualquer um.

 


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