Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 11
A História de Maximilian




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Fazia parte de seu plano fazer o mundo de Jane ruir. Fazia parte de seu plano retirá-la daquilo que lhe era cômodo, para que ela pudesse se abrir para o novo. Contudo, o semblante perdido da vampira o abalou grandemente, fazendo-o perceber que não havia se preparado o suficiente para bagunçar a vida dela e vê-la tão sem rumo, sem ser afetado por tabela.

Maximilian nunca pensou em deixá-la sem nada. Ele estava com tanta sede quanto Alec e havia atacado o ser humano que mais lhe agradara, percebendo tarde demais que Jane também estava de olho naquela mulher. O que acontecera no banquete da noite anterior tinha sido uma eventualidade, mas, ainda assim, ele sentia-se culpado.

Ele não a viu desde então. E nem mesmo quanto sondou Alec a respeito, durante o treinamento da tarde, conseguiu descobrir grandes coisas, porque a única coisa útil que saiu de sua boca foi: "ela está no quarto".

O camaleão deita-se no chão ao concluir o treinamento do dia, pouco ligando para a imundície do solo depois de tantas pisadas, fazendo isso apenas porque podia e não tinha nada melhor para fazer. Ele observa o teto por alguns segundos, fazendo uma nota mental de que a pintura daquele cômodo precisava ser retocada, mas mudando os pensamentos logo em seguida em direção a Jane, visto que não conseguia ficar um dia sequer sem pensar nela.

Alec se senta ao seu lado após meia hora de treinamento. Para mentes tão promissoras, não havia necessidade de repetir os movimentos de luta várias e várias vezes como os humanos faziam, e tão pouco preocupar-se com exercícios de força ou aquecimentos. Os vampiros apenas se reuniam para repassar alguns golpes antigos e aprender outros novos, e fim, o treino chegava ao fim.

Contudo, apesar de tanta facilidade em aprender a luta corpo a corpo, Alec sentia-se feliz e incomodado ao mesmo tempo. Feliz por aprender a fazer tantas coisas novas e se defender sozinho, e incomodado por “se sentir feliz” com algo tão bobo, quando nenhum outro vampiro de Volterra o fazia.

— Ficar feliz não o torna fraco, Alec – comenta Maximilian subitamente, lendo suas feições e comportamentos com facilidade.

— Jane diz que ficar feliz por coisas tolas é um sinal de fraqueza, sinal de humanidade.

— Todos nós já fomos humanos. Não há nada de errado em conservar algo de sua vida antiga. Ficar feliz com a dor ou com as vitórias pelo clã não é o único meio de ser feliz. As vezes, estar com quem se ama já é o bastante para tal…

Jane para subitamente no corredor, ao ouvi-los conversar.

Ela estava em seu quarto quando, subitamente, sentiu que deveria conferir onde Alec estava. Não era frequente, mas, às vezes, a vampira sentia essa sensação estranha, algo que ela secretamente havia intitulado de “o chamado”, como se o irmão a estivesse chamando para perto de alguma forma, seja para livrá-lo de um problema ou apenas para ter a sua companhia.

A vampira nunca contou sobre isso para ninguém, nem mesmo para o próprio Alec, e, se Aro sabia, era unicamente por roubar a informação de suas lembranças. Contudo, ao sentir aquele chamado gritando em suas entranhas, Jane percorreu os corredores do castelo atrás do irmão, demorando a localizá-lo já que não estava acostumada a vê-lo treinar e não sabia em que parte do castelo ele costumava fazer tal atividade.

Jane estava prestes a abrir a porta do salão quando ouviu Alec pronunciar o seu nome, ouvindo, na sequência, o camaleão falar sobre sentimentos humanos e sobre o amor. Ela se conteve por um longo momento, sabendo que tais baboseiras corromperiam a mente de seu gêmeo do que realmente importava – o clã –, mas não conseguindo interrompê-los de imediato, congelando principalmente ao ouvir Maximilian dizer:

— Todo vampiro já teve um coração humano, Alec, repleto de sentimentos. A maioria apenas se esquece desse fato.

— Às vezes, os sentimentos humanos parecem idiotas, muito diferentes do que somos hoje. Acha mesmo que eu e Jane já sentimos como eles, no passado? – pergunta o gêmeo, confuso por não ter quase nenhuma lembrança de seu passado, dando-o justamente a impressão de que nunca tivera sentimentos.

— Sim. Vocês dois. Já sentiram, riram, amaram; ficaram felizes e tristes, bravos e gratos…

— Sinto muito por Jane não se lembrar de você – lança Alec de repente, fazendo um calafrio percorrer o corpo da irmã ao vê-lo se humilhar por ela. – Não posso dizer que eu me lembro, contudo, tenho a forte sensação de que você fala a verdade, de que nos conhecemos algum dia… Nas últimas noites eu tenho tentado me lembrar, mas não consigo obter nada além de imagens desconexas. Nada parece real, entende? Eu queria me lembrar… E queria que ela se lembrasse também…

Jane sente outro calafrio percorrer seu corpo gélido, começando das pernas e se alojando na base de seu crânio, como se as palavras de Alec a chacoalhassem numa tentativa desesperada de ativar suas memórias humanas. A vampira nunca havia pensado no passado, nem sequer cogitara fazer tal coisa, incomodava-a imensamente saber que Alec estava fazendo justamente aquilo e alarmava-a, ainda mais, saber que seu irmão gostaria que ela fizesse o mesmo.

— Esse elo de vocês, de irmãos, é uma coisa engraçada. Um nunca consegue ficar sem falar ou pensar sobre o outro – comenta Maximilian, rindo para ocultar o contentamento que sentia por Alec acreditar em sua versão da história. – Me desculpe por separá-lo de Jane durante a missão, sei que foi difícil para você…

— Obrigado – agradece Alec, assustando-se consigo mesmo por pronunciar tal palavra e fazendo a irmã assustar-se igualmente, afinal, os gêmeos Volturi nunca diziam coisas gentis como “por favor”, “com licença” ou “obrigado”. – Como você foi transformado? – lança subitamente, também deitando-se no chão e olhando para o teto, para disfarçar o próprio constrangimento, mas fazendo Jane ajeitar a coluna com interesse, congelando naquela posição para que sua presença ali não fosse notada.

— Ah – resmunga Maximilian, sem saber por onde começar –, eu estava passando por um momento difícil, apesar de não me lembrar do motivo… Lembro apenas que estava numa taverna, bebendo, quando minha criadora sentou-se ao meu lado. Ela me consolou e me persuadiu a acompanhá-la para o lado de fora. Eu deveria estar muito bêbado para aceitar seguir uma estranha para um beco escuro… Que grande idiota! – Ri de si mesmo, achando-se realmente azarado por ter sido transformado justamente por “aquela mulher”. – Recordo-me vagamente dos seus dentes no meu pescoço, depois veio o calor, a queimação em minhas entranhas como se o álcool que havia ingerido estivesse pegando fogo dentro de mim. E então despertei para minha nova vida tendo somente ela para me orientar.

— Quem era “ela”? Aposto que a conhecemos, os Volturis conhecem todo mundo!

— Acho difícil, ela era nômade e fugia de vocês. Seu nome era Andrômeda.

Alec para por um momento, assim como Jane em seu esconderijo, ambos caçando o nome em suas mentes, mas não encontrando nenhuma memória que estivesse ligada àquela vampira. Jane sente os pelos de sua nuca se arrepiarem, porque detestava não saber das coisas e odiava mais ainda ter a ciência de que alguém conseguia fugir dos Volturis.

— Realmente, é a primeira vez que ouço esse nome.

— Como disse, ela fugia dos Volturis.

— Por quê?

— Porque seu estilo de vida era escandaloso e ameaçava o sigilo de nossa existência. Ela nunca se preocupou com discrição ou em limpar a própria bagunça, sempre causava tumulto devido ao seu doentio hábito de alimentação e, por isso, estava frequentemente se mudando, deixando que outros vampiros pagassem pelos problemas que ela arranjava.

— E você fugia junto.

— Sim. Eu levei anos para entender do que ela fugia, e, quando descobri, ela me disse que vocês eram os vilões. Como pode ver, eu fui ingênuo e tolo… Fiquei décadas com minha criadora, participando de suas atividades irresponsáveis e caçando para ela, demorando para perceber que a errada, na verdade, era aquela a quem eu seguia.

— Caçando para ela?

— Ela se alimentava de crianças! – explica Maximilian, fazendo Jane perceber que, com exceção do momento em que revelou o nome de Andrômeda, ele evitava pronunciar aquele nome o máximo possível. – Não de adultos ou jovens, que possuem uma quantidade maior de sangue, mas de crianças pequenas, porque, segundo a concepção dela, possuíam o sangue doce e puro, não maculado por bebidas, drogas ou qualquer outra coisa… E ela me usava para isso, usava o meu poder para atraí-las e saciar a sua sede, consumindo tantas quantas fossem necessárias para alcançar a saciedade.

Alec não se importava com o fato de se alimentar de crianças, afinal, até mesmo ele já havia saboreado algumas. Entretanto, ele reconhecia o perigo por trás dos atos de Andrômeda, porque até mesmo para isso haviam regras, a alimentação de um vampiro deveria ser equilibrada, para não interferir no equilíbrio da existência humana. Se somente as crianças fossem consumidas, logo não haveriam mais adultos e, consequentemente, alimento. Diante dos fatos narrados por Maximilian, o gêmeo Volturi fez uma nota mental de que deveria informar os três mestres sobre a nômade chamada Andrômeda.

— Eu me senti culpado. Não era um vampiro por tempo suficiente para me livrar dos sentimentos humanos e, ver todas aquelas crianças morrendo, sentindo dor e medo, por minha causa, me trouxe um grande remorso… Nós já fomos crianças, Alec. Por mais que eu não me lembre da infância, eu tenho ciência de que conheci você e Jane nesta fase, então, toda vez que Andrômeda se alimentava de uma criança eu pensava: “esse poderia ser o Alec”, “essa poderia ser a Jane”, “esse poderia ser eu”. – revela ele, sentindo a voz ficar estrangulada com suas últimas palavras, sentindo novamente o peso de seu remorso.

— É por isso que você não se alimenta de crianças – sugere Alec, finalmente compreendendo as atitudes do vampiro em seu primeiro banquete no castelo, ao mesmo tempo que a irmã.

— Sim. Sei que não os impressionei por causa disso e que todos, principalmente Jane, me acham fraco, mas não há nada neste mundo que me faça colocar os dentes em uma criança humana, nem mesmo a minha sede.

— Se você não mata crianças, como conseguiu aniquilar a criança imortal com tanta facilidade?

— Ela não era humana e era um risco para a nossa existência. Chamá-la de “criança” é um erro, pois criaturas como àquela agem como animais selvagens e descontrolados. Algo assim não pode existir! – explica, fazendo Alec arregalar levemente os olhos em entendimento.

— E quando ela morreu? – questiona o gêmeo Volturi após um breve silêncio, referindo-se a Andrômeda.

— Ela não morreu.

— Então como você chegou até nós? Porque acho difícil que, com o seu talento, ela o tenha deixado partir tão facilmente…

— E não deixou, eu fugi.

— Interessante. Ela não é uma rastreadora, pelo que percebo, já que não conseguiu encontrá-lo ainda.

— Não. Ela é uma influenciadora. Eu sabia que na primeira palavra que ela pronunciasse, eu cederia e não partiria, por isso tive de fugir enquanto minha mente estava clara e meu desejo límpido. Usei a primeira oportunidade que encontrei e desapareci, vindo encontrá-los logo depois…

— Você possui uma mente muito fraca para cair nos truques de um influenciador – debocha Alec, soltando uma leve risada e fazendo Maximilian sorrir.

— É uma opção. Contudo, acho que a explicação correta é a de que sou mais suscetível a sua influência porque fui criado por ela.

— E se ela o encontrar aqui?

— Estarei perdido assim que ela abrir aquela maldita boca – confessa, fazendo Alec franzir a testa e Jane esboçar um sorriso perverso, sabendo exatamente como se livrar do camaleão. – Ela é como uma maldição e tenho medo até de pronunciar demais o seu nome, para que isso não a invoque. Espero que não me encontre nunca mais!


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Notas finais do capítulo

Preparando terreno para acontecimentos futuros.
Espero que tenham gostado :)
Muitas emoções ainda estão por vir...



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