Born To Die escrita por Suzanna Stark


Capítulo 9
Capítulo 8




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“Engraçado é que quanto mais a gente cresce, aprende as palavras e até mesmo começamos á falar. Fica mais difícil saber o que se dizer e como pedir o que mais precisa.” Grey's Anatomy

Era natural, tão natural quanto respirar.Eu nunca me imaginei muito bem nessa situação. Okay, estou mentindo, a verdade é que eu sempre meio que imaginei isso, pelo menos no meu subconsciente. Remus sempre foi um tudo para mim, quando eu olhava com ele tinha vontade de gritar e correr ao mesmo tempo em que tinha vontade de ficar quieta ao seu lado e abraçá-lo até ele saber que tudo estava bem.

Ao mesmo tempo a respiração ficava superficial só de ficar encarando seus olhos e seu sorriso.

Droga, o amor é algo tão idiota.

E agora nós estamos caminhando para um dos meus lugares favoritos no castelo, e esse era os jardins. Algo entre sentar embaixo de uma sombra de arvore, com o Lago Negro a sua frente e o castelo e a floresta como moldura ao seu lado, fazia como se eu estivesse em um lugar alheio, de paz e magia. E estar ali com ele só melhorava.

Ou piorava, pois o olhar que ele me dava agora era tão determinado que eu apenas o vi algumas vezes. Quando ele me defendia dos sonserinos que implicavam comigo por ser amiga dos melhores grifinórios do castelo, ou quando eu ficava irritada por não conseguir fazer um feitiço e ele fazia questão de me ensinar até eu o estar fazendo de olhos fechados. Ou, até então, quando eu estava conversando com algum garoto e ele ficava com ciúmes e vinha me tirar de perto o mais rápido possível.

Apesar de até as pessoas no castelo falarem sobre nós, ou falarem de mim com algum dos meninos, nunca chegamos a dar uma chance, para a minha infelicidade, era um pouco como se estivéssemos acomodados a ser apenas amigos. Claro, isso eu supondo que todas as cenas de ciúmes e todos os olhares significavam que Rem gostava de mim um pouco mais do que como amiga.

Bom, ele poderia estar me levando ali apenas para perguntar o que estava acontecendo, e do jeito que eu estava frágil, acabaria contando mais do que deveria. Ou ele só queria conversar sobre outro assunto e também perguntar sobre onde eu estava. Ou fosse tudo isso junto. Arg, esses “ou” irritantes. Mas eu podia sonhar, não podia? Podia sonhar com uma vida com ele, em que iríamos ao casamento de Lily e James, depois nos casaríamos também e ai traria nossos filhos juntos para Hogwarts quando estes tivessem onze anos. E ficaríamos nostálgicos sobre nossa época aqui, as aventuras e as palhaçadas, assim como os perigos e os amigos feitos.

Mas isso não iria acontecer.

E doía, como doía.

– Emily? Você ainda esta comigo ou já viajou para o incrível mundo de Prince?

– O que? – Pisquei rapidamente, percebendo que já estávamos na cena que era pura magia para mim, e que Remus Lupin me encarava ainda divertido e objetivo enquanto balançava sua mão na minha frente. – Me desculpe Rem. O que você disse?

– Só disse que precisamos conversar, mas ai quando ia começar um discurso percebi que estava com aquele olhar vago, e olha só... – Fez então uma cara preocupada, apontando para o canto da minha boca enquanto apertava os olhos. – Isso aqui é uma baba?

Ri encabulada, enquanto dava um tapa na mão dele e disfarçadamente passava a mão pela boca. Vai que eu estava mesmo babando.

– Idiota. Pode falar o discurso, eu agüento. – Suspirei com faço cansaço e falei quando paramos de rir. E essa foi a vez dele de sussurrar, enquanto voltava com aquele olhar.

– O que aconteceu hoje?

Falou e... Foi só isso. Droga, isso seria bem mais fácil de lidar se fosse mesmo um discurso.

Olhei para ele em duvida. E mordia o lábio inferior pensando o que podia contar, por que fiquei fantasiando com casamentos em fez de vir com uma história montada? Emily, sua grifana burra.

– Hãn... Ah, é que... Bem...

Antes que eu saísse do meu estado letárgico de como explicar um dia desaparecida, pois estava vomitando a vida fora e depois dei uma desmaiada na Ala Hospitalar, Remus me olhou nervoso e com um pouco de magoa, então deu um passo para trás.

– Me avise quando conseguir me contar a verdade ao invés de ficar com “Ah, é que”.

– Espera! - Ele parou, me olhando novamente. - Apenas... Espera um pouco. Só... Ah, droga.

Respirei fundo quatro vezes, me sentindo sufocada enquanto ele só ficava ali parado, olhando para mim esperando alguma resposta. O que eu podia contar? Estava tão cansada de ter cuidado com tudo que eu vou dizer ou fazer. Senti seus braços se fechando ao meu redor, e só quando fechei os olhos percebi que estava chorando. Odiava me sentir fraca desse jeito, odiava odiava odiava. Mas era assim que eu me sentia a maior parte do tempo agora: fraca e sem futuro.

A vida estranhamente perde o brilho quando você não tem futuro, ou quando sabe o seu futuro. O desconhecido era uma benção, não saber se ia conseguir ou não terminar a escola e depois conseguir um bom emprego, não saber se você vai ficar com a pessoa que ama agora, ou se vai acabar e depois vai ver que não era o que você queria e vai achar outra bem melhor. Isso tudo, a ignorância, era tudo um bem que não sabia apreciar até perder.

Senti seu perfume de floresta, de tinta e de pergaminhos, seu corpo me envolvendo como se eu fosse o mais precioso dos tesouros, e então eu soube, que mesmo com todo o brilho perdido por saber o meu futuro, a única coisa que poderia retirar meu verdadeiro brilho seria não aproveitar esse momento com Remus.

Então, foi por isso que, naquele lugar lindo que eu tanto amo em Hogwarts, com seus braços ao meu redor, eu o beijei. Eu só sentia suas mãos em minha volta, e agora meus lábios colados aos seus, sentia sua respiração na minha pele enquanto o gosto de seus lábios se espalhava ao meu redor como uma enorme teia. Rem não demonstrou surpresa, foi como se o momento tivesse sido perfeito. Nunca soube muito bem o motivo dos romances sempre colocarem o beijo como o tempo que para, mas era exatamente isso que acontecia. O tempo para, e você fecha os olhos simplesmente por não conseguir mantê-los abertos.

Movi meus lábios devagar, sentindo a pressão de sua mão na minha cintura aumentar a cada vez que o beijo se prolongava. Sua língua movia junto com a minha, ambos um pouco inexperientes no assunto, mas era um momento de instinto. E a única coisa que eu queria continuar fazendo era apertar mais os ombros de Rem, e sentir que caia com o seu peso na grama enquanto seus dedos moldavam a pele da minha cintura.

E então, ele se afastou, bem devagar, com sua respiração ainda batendo contra a minha pele e com seus olhos ainda fechados. O tempo pode ter passado, as aves no céu podem ter voado e as folhas das árvores podem ter caído, mas aquele momento era apenas nosso, e nada mais importava. Nem ao menos uma palavra, ficamos calados, usando nossos lábios apenas para se encontrarem mais uma vez.

Talvez duas horas tenham se passado, ou mais, eu não tinha certeza. Estava silencioso, já que provavelmente poucas pessoas estavam acordadas àquela hora, os braços de Rem continuavam a minha volta, enquanto nos encontramos apoiados em uma árvore. O cheiro da noite era bom, principalmente misturado com o dele.

– Emy?

Olhei para cima, mas ele continuava mirando o céu.

– Eu sempre imaginei esse momento, mas nunca pensei que realmente fosse acontecer.

Soltou com uma pequena risada, que fez seu corpo balançar junto com o meu. Eu sorri, ainda um pouco anestesiada. Peguei sua mão e entrelacei com a minha.

– Você vai me contar o que aconteceu hoje?

Dessa vez ele estava me olhando, encarei seus olhos, a dor voltando um pouco para os meus.

– É tão complicado, eu não sei como te contar ou o que te contar...

Rem suspirou, mas beijou minha testa como se dissesse "tudo bem".

E eu sorri, sentindo que ainda poderia ter uns momentos como aquele até contar toda a verdade.

O bom de Rem, é que diferente de quase todas as outras pessoas do mundo, ele era uma daquelas que percebe quando você não pode falar, e continua esperando até você conseguir contar o que for. Era uma das coisas que mais amava nele. E então, quando ficou muito frio para permanecer nos jardins, fomos para o dormitório da Grifinória, e depois de um longo beijo de despedida, eu subi para o meu quarto, todas as meninas já estavam dormindo.

Sabia que teria muito para falar com Alice e Lilian quando as duas acordassem, mas por agora só queria aproveitar, deitei na minha cama, com as lembranças para me acompanhar até que caísse no sono.

Eu sinto falta dos meus dois primos, Phillip e Evanna. Afinal, eles foram meus melhores, e únicos, amigos durante onze anos da minha vida. Agora que eu estou no ultimo ano de Hogwarts, me pergunto se eles sentem muito a minha falta. Meus primos são bruxos, aliais, mas acabaram de estudar a alguns anos, e eles não iam para Hogwarts. Frequentavam uma escola mais ao sul que agora não me recordo o nome.

Phillip era um rapaz cheio de energia, e quando eu tinha onze anos era um dos meus heróis. Sempre me contrabandeava para dar passeios com ele em sua vassoura. O mais engraçado era ver o rosto preocupado de Evanna abaixo de nós. “E se ela cair, Phil? O que vai fazer” ela dizia, “a tia vai arrancar sua pele fora se Emy aparecer com um arranhão, seu idiota”. Mas depois ela ia relaxando, e até rindo de mim quando Phil dava piruetas no ar e eu ficava olhando embasbacada para ele. Invejando sua tamanha liberdade.

Estou tendo um momento de reflexão agora, sim, então me deixe desabafar (como se não fosse a única coisa que eu faço, não é mesmo? Falar e falar e falar comigo mesma). Desde que descobri sobre a minha doença, ou morte, percebi que tinha recebido varias dicas durante a minha vida, ou até mesmo soubesse que algo estava errado, só estava enganando a mim mesma fingindo que não.

Minha vida é um borrão de visitas aos medi bruxos e sendo visitada por eles, eu pensava que era normal, afinal, não tinha muito contato com outras crianças para perguntar, também tinha os momentos de refeições reguladas e varias poções. Tirando isso eu ficava apenas com os poucos momentos de aventura com os meus primos e os meus outros amigos: os livros. Passava muito tempo dormindo também, chegava às vezes a quase dormir doze horas diretas sem perceber e sem ter feito nada para estar tão cansada. Depois que entrei em Hogwarts, e fiz meus melhores amigos de agora, comi outra comida, fiquei sem tomar tantas poções, comecei a acreditar totalmente que era algo normal da infância. Agora, vejo que foi apenas meus pais tentando me dar o máximo de normalidade que eles conseguiram ao perceber que por mais poção, tratamento de choque, ou qualquer outra coisa que eu faça, vou continuar definhando por obra do destino.

Pelo menos, reflito por final com alivio extremo, não estou mais vomitando como uma semana a trás, depois da poção de Caradoc. Não comentei nada na carta que mandei a minha mãe, disse que estava tudo normal e que só andava cansada, mas nada anormal. A última coisa que desejo agora é ser internada e passar meus últimos minutos com poções e paredes brancas.

É o meu ultimo ano, em Hogwarts e no geral também. Engraçado como se passavam algumas vezes uns cinco minutos ou pouco mais e nesses maravilhosos minutos não me lembrava disso, mas agora olhando para a mão de Rem entrelaçada a minha, me recordo como um soco na cara.

O que eu estava fazendo? Eu tinha algum tipo de retardo mental? Só podia ser isso. Me disse tantas vezes não, mas foi só algumas palavras e o seu rosto para eu dizer sim na primeira vez que ele disse.

Bom, Emily, agora é tarde para arrependimento. Seja o que Merlin quiser.


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