Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 9
9: Último passeio do dia


Notas iniciais do capítulo

As árvores perderam suas folhas,
Escurecendo suas águas
Todo este fardo está me matando

A distância está bloqueando seu caminho,
Rasgando sua memória
Toda esta beleza está me matando

* Beauty of the beast



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/390158/chapter/9


A lua azul começaria daqui a uma semana, Penélope tentou me tranquilizar dizendo que teríamos tempo de nos preparar, mas isso de forma alguma pareceu tranquilizador, e sim um presságio.


Mas então o que eram as mortes?

Perguntei isso a ela, mas a mesma parecia não saber o que responder.Voltei para meu “quarto” andando em círculos, pensando no que fazer...eu precisava de uma pessoa que me contasse as coisas, mas quem?

– Porque você parece tão triste? -olhei para porta, onde Julian estava com olhos curiosos a me encarar, trazia com sigo um outro gato gordo adormecido, pelo menos alguém parecia feliz nessa rede de confusão e desmemoria. Ele apertava o gato, como se fosse um fofo ursinho de pelúcida.

– Estou apenas querendo algumas respostas -suspirei me sentando na cama que rangeu sobre meu peso, ele se aproximou deixando o gato como uma pedra de lado e me chamou para perto.

– Quando quero saber coisas que Penélope não me conta eu vou até a Sra.Magda.

Isso me interessou e como me interessou, sorri bagunçando seus cabelos.

– Pode me dizer onde Sra. Magda mora?

– Na fronteira, mas se eu fosse você não iria -disse ele pegando o gato e depois me dando um olhar de lado -Não conte a ninguém que lhe disse isso.

– Seu segredo estará a salvo comigo.

Dizendo isso ele sorriu de novo e começou a falar sozinha, enquanto corria pelo corredor com o gato em seus braços. Me levantei da cama, disposta a levar isso adiante, eu queria respostas para minhas perguntas, Sra. Magda parecia parecer a pessoa ideal, apesar de morar em um lugar suicida.

Olhei de relance para o espelho, notando que meus olhos ganharam um brilho esperançoso os fazendo parecer um prata brilhante, como se fossem flamejantes estrelas em uma noite escura. Fiz um coque no cabelo pálido e me enfiei em um conjunto escuro com capuz, porque o tempo parecia prever que viria chuva.

Penélope estava recolhendo algumas rosas no seu talvez jardim, quando me viu passando me encarou com desconfiança.

– Onde está indo, a noite está quase chegando.

Olhei para o céu laranja, com nuvens grossas anunciando que logo a chuva viria, teria de ser rápida.

– Gostaria de andar um pouco, essas novas descobertas foram...chocantes.

Ela pareceu desconfiar, mas não era totalmente mentira minha cabeça estava uma verdadeira bagunça.

– Tudo bem, mas volte logo, as portas da velha mansão se fecham ao sorrir da lua.

Assenti enquanto andava em passos rápidos pela calçada cheia de erva daninha, eu não fazia ideia de onde era a tal fronteira, então não tive escolha a não ser perguntar.

– Olá, poderia me dizer onde fica a casa da Sra. Magda? -perguntei a um homem que estava de cara amarrada, dando feno alguns cavalos cansados ali perto. Ele me encarou por um momento, coçando a barba grossa.

– A oráculo, mocinha não acho que...

– Por favor, necessito muito falar com ela.

O homem suspirou, como se estivesse me mandando para morte apontou para longe.

– Siga reto, a fronteira é logo depois daquela igreja -olhei para onde pontas negras parecia fluir no meio dos telhados escuros -Então caminhe mais um pouco e logo estará lá, mas tome cuidado....se eu ver você novamente ficarei feliz.

Faço uma careta, tentando mostrar um sorriso mas acho que não deu muito certo. Caminhei em passos rápidos, notando que as casas começavam a ficar um pouco mais decadentes e a grama mais seca. A rua estava deserta e mesmo assim apressei meus passos, as poucas pessoas que ali andavam, me olhavam com estranheza, certamente imaginando do porque que eu estava indo nessa direção.

Passei pela igreja, que era uma construção abandonada e mais velha que a mansão de Penélope, mesmo assim ainda conseguia escutar um culto sendo rezado sombriamente do lado de dentro. Quando finalmente avistei a fronteira, senti o formigamento nas pontas dos meus dedos e varias agulhadas no corpo.

No horizonte tudo que eu conseguia ver era montanhas rochosas, com nuvens flácidas sobrevoando lentamente acima de um vasto gramado verdejante, com árvores criando uma floresta sombria e enevoada. Havia uma placa prateada, caminhei mais perto lendo em voz baixa o que ela dizia “FRONTEIRA” então depois disso era apenas o caminho lento e agonizante para o submundo.

O vazio era fúnebre, não havia nada e nenhum som, nem mesmo sei como Julian tem coragem de passar nesse lugar. Adentrei, pelo caminho cheio de samambaias notando com um pingo de felicidade, um telhado vermelho cheio de trepadeiras surgir em meio as árvores.

Passei pelas plantas espinhosas, que pareciam grudar na minha roupa e querer me engolir em seus espinhos afiados. Mesmo assim consegui passar, soprei o cabelo da frente do meu rosto, enquanto tropeçava para fora e olhei com certa admiração para a cabana de madeira, com uma chaminé exalando uma fumaça branca, era quase...agradável.

– Olá garota! -saltei para trás, enquanto uma mulher idosa usando um vestido de cores psicodélicas sorria na varanda da cabana -Entre, sei que está me procurando.

A segui para dentro, enquanto o cheiro de ervas parecia rodopiar ao meu redor. Havia muitos amuletos espalhados na parede, os moveis todos de madeira pareciam exalar um cheiro natural, enquanto as cortinas de miçanga dançavam sozinhas perto da janela que tina uma bonita vista do horizonte.

– Como sabe que eu estava lhe procurando? -perguntei, enquanto ela apontava para me sentar em uma das cadeiras forradas com tecido branco.

– Eu sinto, não é à toa que sou o oráculo -então se sentou na minha frente, puxando de baixo da pequena mesa de madeira um jogo de cartas amarradas com uma fita de cetim e varias pedras de diferentes cores e formatos, mas todas elas exalavam um brilho igual e impressionante, mas algo estava me incomodando.

– Isso aqui é o submundo, não me parece assim tão ruim.

Ela riu, um som suave e engasgado ao mesmo tempo.

– Há não, isso é apenas a fronteira que por sinal esconde perigos, então tome muito cuidado, poucas pessoas se aventuram a caminhar aqui. O submundo fica atrás das montanhas, um mundo guardado por criaturas cruéis...certamente você não quer conhecer -assenti e ela pareceu sorrir, então deixou seu rosto uma máscara séria -Muito bem jovem, sou todo ouvidos, me pergunte o que quiser.

Procurei em toda minha mente apagada as respostas que tanto queria, eram tantas perguntas...mas o olhar de Magda me desanimou. Enquanto acendia um incenso, fez uma careta erguendo seus olhos para mim.

– O que houve? O que há de errado?-perguntei enquanto ela apagava algumas velas e me dava um olhar assustado.

– Vejo tantas sombras a sua volta, elas estão esperando a hora certa para consumir sua alma -isso me fez ficar alerta, engoli em seco sentindo o frio e horror de suas palavras se espalharem pelo meu corpo, mas ela não parou -Você tem sangue de destruição, você irá acabar se destruindo.

– Mas eu...

– Não posso responder nada do que você me perguntar, sua mente está selada com magia poderosa....magia negra -sua voz ficou sombria, enquanto me encarava com assombro -Muita magia negra e não mexo com essas coisas.

Um trovão soou acima de nós e isso me fez tremer, mas Magda apenas fechou os olhos e ficou de pé, seguindo para porta.

– Acho então...acho que devo ir -disse seguindo para porta, mas antes que eu fosse olhei bem para seus olhos pintados de preto- Você conhece alguma Felícia....reconhece meu rosto de algum lugar?

Novamente o trovão, mas ela permaneceu em silêncio, então piscou negando.

– Nunca ouvi falar em Felícia ou já vi seu rosto, você é uma estranha -sentindo toda esperança de me auto conhecer ser completamente despedaçada, marchei para fora, mas antes me chamou novamente e quando me virei, o que ela disse ficou ecoando na minha cabeça -Estarei rezando por sua alma.

Estremeci enquanto ela fechava a porta e as nuvens negras dançavam acima da mim. acho mesmo que estava precisando de alguma oração, não só pela alma mas por tudo.

E novamente eu estava na estaca zero.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dias Mortos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.