Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 8
8: Lua Azul


Notas iniciais do capítulo

Acompanhe-o na busca pelo sonho
Imaginação
é tudo que sempre precisamos.

* Fantasmic



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Minha noite foi regada a sonhos com a mesma dança sinistra, eu me sentia um pouco entorpecida, oura e outra minha mente fugia para o cadáver no meio da rua e o ceifador pairando sobre ele, sem contar o nome Felícia rodando na escuridão da minha mente.




Um noite e tanto, devo afirmar.




No inicio da manhã, enquanto o sol cálido começava a nascer, me levantei seguindo para cozinha, onde Penélope estava lendo um jornal enquanto Julian rodava um relógio de bolso na frente de um gato.


– O que está fazendo?-perguntei a ele, enquanto o mesmo sorria animado ao ver o pobre bichano dormir sobre quatro patas.

– Isso é genial! -então se virou para mim, com olhos astutos -Ganhei esse relógio a um tempo do Sr.Priam, mas só agora ele foi funcionar.

– Talvez querido, porque sua magia esteja ficando mais forte -palpitou Penélope deixando seus olhos descansar no rosto iluminado de Julian.

– É, isso é muito bom!

Era bom ver ele se comportar como uma criança, pois algumas vezes seu olhar parecia tão mais velho. Ele se levantou, apenas estralando os dedos na frente do gato que ficou com um olhar dorminhoco e entrou debaixo da mesa.

– Onde está indo a essa hora? -perguntou Penélope o fazendo parar na porta, ele apenas deu de ombros olhando com interesse para o relógio dourado.

– Quero testar em outros....animais.

– Animais certo -sorriu Penélope não tirando os olhos do jornal -Pode ir meu jovem, apenas não adormeça a metade da cidade.

Pude apenas ouvir seu riso enquanto ela sumia para fora. Beberiquei um gole de um chã escuro um tanto azedo, mas nada comparado a água de corvos de ontem.

– Como o encontrou? -perguntei por fim, ela parou por um momento, parecendo lembrar então sorriu sonhadoramente.

– Eu estava passando por uma crise existencial, então vi um garotinho de cabelos dourados e olhos licorosos, sentado na calçada cantando baixo enquanto brincava com um velho amuleto. Ele parecia tão feliz com o nada que tinha...desde então, ele torna meus dias um pouco mais felizes.

– Você é uma boa pessoa -murmuro por cima do meu chã, mas ela nega fazendo a casca ta de cabelos pálidos despencarem do coque. Penélope mesmo estando com o olhar cheio de melancolia, ainda sorria.

Doce tristeza.

– Hó não, acho que posso ser tudo menos boa -então me olhou, com olhos que parecia enxergar muito mais do que apenas meu rosto cansado -Já fiz e pensei coisas minha cara, das quais não me orgulho.

Fiquei em silêncio e ela pareceu gostar. Seus olhos varreram o jornal e logo se tornaram apertados e ela jogou longe, soltando um suspiro irritado.

– O que houve?

– Enfim parece que começou -disse se levantando e olhando para janela com desapego -Acho que finalmente está na hora de começarmos nosso trabalho.

Deixei meus olhos descansarem em sua magra fisionomia, esperando ela me contar o que estava havendo, mas por um momento ela parecia estar perdida dentro da sua própria mente, sonhando com um outro tempo.

– Então...

– Então que você necessita saber de algumas coisas, venha comigo querida.

Ela apenas jogou um casaco branco em cima do vestido vitoriano e saímos para manhã cinzenta. Julian estava brincando com um garotinho loiro de olhar perdido e Penélope apenas sorriu ao ver a cena. Ao menos eu acho que ele estava brincando, havia um sorriso um tanto perverso em seus pequenos lábios. Passamos pelas lojas antiquadas que estavam começando a se abrir, onde todos nos davam bom dia sem sorrir, apenas com um breve aceno de cabeça.

Caminhamos até uma grande catedral de pedras escuras, onde janelas de vidros coloridos brilhavam no feixe claro do sol, mais gárgulas pareciam vigiar a entrada cheia de musgo com pedras disformes. Chegamos até a gigante porta de madeira e Penélope bateu levemente duas vezes e ela se abriu, com um rangido estrondoso e arrepiante.

A primeira coisa que notei foi o silêncio, seguido do cheiro de coisas antigas. Caminhamos com nossos passos fazendo barulhos, por um corredor repletos de fotos de pessoas desconhecidas por mim. Adentramos em um enorme salão de teto abobado cheio de desenhos assombrosos e um lustre de velas vermelhas, havia uma mesa grande cheia de cadeiras de veludo e castiçais prateados.

A única luz agora, vinha da rosácea que filtrava os raios solares os tornando roxos e vermelhos, despejando uma luz doentia pelo chão úmido.

– Onde estamos?-perguntei com minha voz ecoando por toda sala. Penélope apenas caminhou pela mesa, passando seus dedos na madeira polida.

– Esse aqui é o conselho dos caçadores de sonhos, nos reunimos aqui para discutirmos algumas coisas.

Quando a mesma terminou de falar a porta novamente se abriu, onde quatro pessoas sorriram para nós com os olhos brilhantes e tomaram lugar em suas cadeiras. Eram dois homens e duas mulheres, uma delas retirou seus óculos mostrando olhos cinzentos como uma névoa espessa e acenou com a cabeça em minha direção.

– Seja bem vinda Kizzy, estávamos mesmo lhe esperando.

Por um momento fiquei desconfortável com seus olhos em mim, então me sentei na cadeira ao lado de Penélope, que magicamente tinha tirado um jornal de algum lugar e o jogou no meio da mesa.

– Olharem para isso, prevejo que teremos trabalho a frente.

– Ficamos sabendo pela manhã, quatro mortos em uma única noite...ainda não está hora –mermuruo um homem de longa barba branca e um olhar escuro.

– Vocês poderiam me dizer o que está havendo?-perguntei querendo informação, então seus olhos voaram rapidamente para meu rosto.

– O que sabe sobre a lua azul...

– Ora Kland, ela sofre com uma perda de memória terrível, acho melhor explicarmos desde do inicio -eu agradeceria Penélope se soubesse do que ela estava falando, então sorriu ajeitando seu chapéu de plumas negras, ela parecia uma dama de luto -Lua azul é um terrível evento que acontecem em Egerver, quando o portal do submundo se abre e as almas fogem para fora, ocupando os corpos daqueles que estão vivos.

Um frio passou pela minha espinha, chegando em meu estômago e me fazendo estremecer.

– Mas o portal não deveria permanecer fechado?

– Sim, mas na lua azul eles não e importa, eles gostam de ver nosso sofrimento enquanto por duas noites inteiras os mortos e almas sádicas vagam pela nossa cidade, causando morte e destruição.

Penélope não parecia estar mentindo e também porque estaria. Engoli em seco, me voltando para encarar os quatro que pareciam estar com os pensamentos longes.

– Em toda Egerver ou talvez no mundo, existe apenas nos de caçadores, todo o resto foi exterminado -essa palavra foi como um soco, mas o homem de cabelos incrivelmente vermelhos não parecia abalado -Na lua azul somos os responsáveis por jogar as almas novamente no submundo, um trabalho mortal, mas mesmo assim preciso. Os últimos anos que se passaram foram terríveis, apenas nós cinco tentando defender a cidade de almas e espíritos perturbados, enquanto o povo do norte fazia baderna nas nossas ruas.

– Mas agora temos você e algo nos diz que isso será o suficiente, você assim como nós terá de se sacrificar pelo bem da cidade.

Então era esse meu passe para liberdade do sanatório, apesar da promessa evidente de morte ainda acho melhor do que permanecer naquele lugar. Penélope não estava olhando para mim, ela encarava com aquela tristeza doce os vitrais coloridos da janela, mas os quatro a minha frente, pareciam gostar de ver meu desconforto.

Mas algo cabuloso em seus olhos dizia claramente que não era apenas aquilo que eu iria fazer.

Agora mas do que nunca, eu necessitava...queria respostas e não importava o que teria de fazer, eu as iria conseguir.


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