Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 10
10: A beleza sempre vem com pensamentos obscuros


Notas iniciais do capítulo

O sorriso de um estranho
Música doce, o céu estrelado
Maravilhas, mistérios, pra onde quer que minha estrada vá

*Nightwish



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Andei algum tempo, mas não fazia ideia de onde estava indo. As árvores, as rochas....tudo parecia tão igual, que era muito simples se perder, e bem acho que estava perdida o suficiente para começar a sentir o desespero.

O vento era forte e soprava folhas e terra em minha direção. Caminhei mesmo assim querendo chegar o mais rápido possível na fronteira, e sair dessa floresta assombrosa. Pelo canto dos olhos, eu pegava rastros de coisas negras se arrastando e algumas vezes ouvia o gemido agonizante vindo de não muito longe.

Enquanto andava, sentia olhos a me vigiar, era horrível. Me obriguei a manter a calma e caminhar sem olhar para trás, apressei meus passos ficando apreendida quando ouvia algum barulho ou um farfalhar risonho, quando dei por mim estava correndo. Olhei para cima, mas as copas das árvores tampavam qualquer visão do céu, que estava prestes a desabar.

E eu estava presa em um lugar sombrio como esse, perto...quase ao lado dos senhores da morte. Nada disso era bom!

Me virei para trás, querendo voltar para a cabana de Magda, mas algo despencou na minha frente, gritei cambaleando para trás e caindo ao chão, enquanto uma sombra se erguia a minha frente, como se surgindo do chão. Ela se aproximou, cheirando a podridão e morte, não era nada além de um sombra, que tinha presas afiadas pingando uma baba verde.

Não gritei, apenas abri a boca enquanto me arrastava para trás. Eu iria morrer, assim e aqui por causa disso! Sem nem mesmo descobrir meu sobrenome! Isso era tão injusto que fazia uma raiva adormecida borbulhara para cima, querendo caminho para gritar e dar um basta em tudo.

Então a besta parou de grunhir e se afastou, abri um olho sentindo todo meu corpo tremer e suar frio ao mesmo tempo, mas assim como a fera a minha frente eu não me mexi ou fiz qualquer movimento.

– Muito bem Lostern, acho que merece uma perna como recompensa -olhei ao redor a procura da voz, mas ela parecia surgir de todos os lados. A besta a minha frente fungou, enquanto corria e sumia pela floresta, exalei um suspiro de alivio que quase desmaiei ali mesmo. Me recuperei sabendo que não estava sozinha e tentei ficar de pé, com as pernas tremendo -Então, o que uma criatura como você faz aqui?

Novamente olhei ao redor, mas tudo o que via era as árvores fazendo uma dança quase sincronizada, com o vento que parecia rugir a nossa volta. Então estava na minha frente, saltei para trás em surpresa e quase cai novamente, mas dessa vez por meio de algum milagre consegui me manter em pé.

Eu congelei, sentindo vento passar por mim como laminas afiadas e doloridas. Já tinha visto esse rosto em algum lugar...os olhos que roubam almas...claro no circo! Com os senhores da morte, essa lembrança me fez querer vomitar.

– Eu..é -o que dizer quando se esta prestes a morrer? Resolvi manter meu silêncio e deixar que a sorte, se eu tivesse uma, me ajudar. Agora que estava sem o tenebroso capuz, conseguia ver um pouco melhor seu rosto, os olhos verdes pareciam a única cor em toda sua volta. Ele era alto e mantinha um sorriso perverso nos lábios, como se gostando de ver minha agonia.

– Sabe que não está mais em território protegido certo? -disse arcando levemente uma sobrancelha e dando um passo em minha direção.

Não estava?

– Bem, só estava...

– Não quero suas desculpas, saiba que posso muito bem pegar essa sua alma e arrasta-la comigo para o submundo -então ele sorriu ainda mais, rodando sobre seus pés -Seria um desfecho de dia bem interessante.

O que dizer? Minha mente parecia trabalhar duas vezes mais do que o normal, então.... porque não deixo ele apenas me levar, seria tão mais fácil se por fim essa existência miserável se acabasse...

A morte parecia tão bonita....

– O que! -exclamei alto colocando as mãos na minha cabeça -Não, não quero morrer! Pare de fazer minha cabeça!

Acho que foi coisa errada a se dizer, pois ele fez uma careta deixando seus cabelos negros como a noite cair sobre os olhos, que ficaram escuros, negros como buracos infinitos de ódio e terror. Engoli em seco, sentindo as gotas de chuva como lagrimas espirrarem em meu rosto, ele nem mesmo parecia senti-las.

– Você é patética -foi a única coisa que disse entre dentes, então abriu um sorriso branco, com os dentes como presas afiadas -Vou deixa-la viver, porque gosto da caçada, nada melhor que sentir a agonia alheia.

Manti meu silêncio, enquanto seus olhos voltavam ao belíssimo tom de verde que me encantou em certo ponto. Ele era um jovem tão belo, tão belo quando qualquer predador deveria ser, pois sua beleza atraia vitimas. Se parecia com uma estatua de mamoré imponente e frio, como se seu olhar pudesse queimar e esmagar qualquer parasita em seu caminho...eu.

Prendi minha respiração, enquanto a chuva caia sobre nós forte e fria, a noite estava ali e mesmo em meio a nuvens e trovões, Egerver mantinha um céu incrivelmente estrelado. Estava tudo tão bonito, que quase esqueci da sua presença assombrosa.

– Posso...posso ir então? -perguntei me sentindo mesmo patética, mas como estava em seu território ser desrespeitosa não era uma boa alternativa.

Ele sorriu, cruel e frio mas sorriu.

– Claro, acho que iremos nos ver rapidamente.

Isso era uma clara ameaça. Então algo realmente esplêndido aconteceu, senti meus olhos se alargarem em uma admiração sombria enquanto asas negras surgiam atrás de si, eram como capas negras poderosas e majestosas lhe deixando não só mais belo e sim assustador.

Então ele se juntou as estrelas no céu, como um ponto brilhante em meio a chuva que caia. Me deixei cambalear sobre a lama, me sentindo as ondas de adrenalina drenarem meu corpo e deixando um claro sentimento de terror e fascinação.

Eu me sentia um pouco mais leve, sua presença trazia uma horda de pensamentos obscuros e ruins, coisa que eu estava evitando por completo. Mesmo assim, agora o medo permanecia grudado em mim.

Ele estaria então, agora me...caçando?

Nada poderia ficar "melhor" ser ameaçada por um caído! agora sim minha cota de desgraças tinham chegado ao topo, mas ela não iria parar por ai.

Eu sentia, que isso tudo era apenas o começo.


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