Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 7
7: Chã de Corvos em uma noite perversa


Notas iniciais do capítulo

Não aqui - não agora
Não comigo e não com uma única lágrima minha
Não existe dor, não haverá nenhum medo
Este é o meu último adeus, porque eu não vou morrer

*Lacrimosa



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Eu não estava sorrindo, mas meu reflexo mostrava outra coisa. Mas não era um sorriso comum, era algo nefasto e cheio de perversidade. Mexi minhas mãos, mas meus “eus” não obedeceram, eles apenas viraram a cabeça em um ângulo estranho e começaram a dançar, soltando piruetas malucas.

Não era algo parecido com o que vi no circo, isso era mais....pessoal.

Elas pareciam vibrar sobre seus pés, enquanto bailavam ao som de uma música imaginaria, abrindo os braços e me chamando para compartilhar um pouco da minha própria loucura. Então começaram a chorar, olhando para mim e deixando os olhos vermelhos, com lagrimas que se pareciam com pingos de chuva.

Elas choravam enquanto dançavam, parecendo compartilhar um luto eterno. Era simplesmente um sentimento terrível, a impotência...de querer ajudar alguma coisa e não consegui fazer absolutamente nada!

Então eu gritei, algo que parecia sair das profundezas mais obscuras da minha alma....


Quando acordei, percebi que não era eu que estava gritando, o grito veio de fora. Me levantei um pouco atordoada, ainda vendo sorrisos maldosos e danças estranhas, mas mesmo assim o grito ainda permanecia queimando em minha cabeça.

Me arrastei até a janela, puxando com lentidão a cortina e sentindo meus olhos se arregalar em espanto e horror, com o que via. As poucas lanternas a gás mostravam um corpo caído no meio da rua. Havia um buraco enegrecido em seu corpo e seu rosto era uma máscara assustada, com a boca aberta em um grito congelado.

Mesmo assim, ninguém saiu de suas casas ou assim como eu, estavam espiando pelas janela. Eles pareciam saber, o que aconteceria agora. Uma sombra se esgueirou até o corpo, trazendo consigo um cajado com uma pequena luz vermelha acima, sua capa parecia como uma asa a sua volta, era quase encantador como ele roubava a alma da pessoa jazida caída ali...

– Kizzy! -saltei para trás, suspirando em alivio ao ver apenas o rosto de Penélope, que na verdade era uma máscara preocupada -O que faz espiando pela janela? Sabe que não pode ver essas coisas, é proibido!

– Porque a proibição? -perguntei, enquanto ela fechava as cortinas e mantinha um olhar sombrio.

– Somos caçadores de sonhos, fazemos magia branca, aquilo -seus olhos foram para fora -É pura maldade, não devemos nem mesmo olhar.

– Eu não me lembrava disso.

Ela apenas suspirou, abrindo um sorriso fraco e me chamou para um “chã noturno”, a segui para fora, em meio a escuridão seu vestido branco era o que me guiava. Enquanto passávamos por uma porta, senti uma leve tontura e algo parecendo me sugar, era o sonho, Julian estava sonhando.

– Nada disso -Penélope me pegou pelo braço, me levando para longe dos sonhos nem um pouco infantis de Julian -Deixe o garoto dormir em paz.

– Como consegue se segurar? -perguntei me jogando na mesa, enquanto ela acendia algumas velas escuras e colocava xícaras na mesa redonda.

– Magia -foi tudo o que disse, enquanto cantarolava e colocava uma água esverdeada e ali colocava algumas penas pretas, que afundavam na água quente. Olhei para ela, que piscou para mim.

– Sério mesmo que bebe isso?

– Mas é claro, é ótimo para dar sono e descansar a mente.

Tomei um gole suspeito, mas logo o gosto agridoce encheu minha boca, era bom e ruim ao mesmo tempo. Ela parecia gostar bastante, já estava na sua segunda xícara.

– Então, quando irá me dizer o real motivo de ter me chamando?

– Amanhã será o dia perfeito -suas palavras não demonstravam emoção alguma. Suspirei em frustração, sentindo o efeito do chã, mas antes de querer voltar a dormir, tinha de perguntar algo, algo que estava me atormentado a noite inteira.

– Quem era Felícia, que todos no circo parecem respeitar?

Penélope por um momento encarou o nada, ela piscou sumindo com as lagrimas que eu juro que vi. Se levantou, com um ar triste a sua volta, enquanto alisava seu vestido já perfeito.

– Não me lembro bem, isso foi a tanto tempo -ela parecia se irritar consigo mesmo -Apenas posso lhe dizer, que era uma dançarina expressional a melhor de toda Lacrimosa....pena que morreu tão jovem, a turma do norte não poupou sua vida.

– Porque eles poupariam?

– Porque ela estava louca, ficou completamente desvairada com algo que aconteceu....-ela olhou para mim, seus olhos se escurecendo por um tempo -Alguma coisa muito séria que irá se repetir, eu sei disso.

Então sorriu acenando e sumiu como um fantasma silenciosa para a escuridão das profundidades de sua mansão velha. Me sentei na mesa, sentindo-me cansada como nunca antes, cansada confusa e pela primeira vez...com medo.

Eu nunca tive medo, o medo só aparecia quando eu pressentia algo muito ruim no ar...e isso não era nada bom.














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