Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 29
29: Juntando os Estilhaços


Notas iniciais do capítulo

Me siga, Me siga
Enquanto eu viajo na escuridão
Mais uma vez
Me siga, Me siga
Eu desperto da loucura
Bem a tempo

*Lacuna Coil



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/390158/chapter/29

O amanhecer chegou pintando o céu de roxo, com um leve aroma de morte e esperança no ar.  Julian dormia em um banco de madeira escura, que estava escondido da claridade no canto mais distante do salão, o corpo de Penélope tinha sumido junto a Ilanda e eu estava aqui com apenas minhas memórias.

Fiz um trabalho, mandando aqueles...servos junto a escuridão infinita, agora a torre estava silenciosa, com o barulho apenas do farfalhas do vento junto as folhas. Suspirei querendo saber onde Casper estava e o que havia feito a Kizzy, sabia que algo bom não era.

Mas a lua azul tinha por fim terminado, estávamos livres finalmente.

- Lilith, o que faremos agora -me sobressaltei com a voz adormecida de Julian, que parecia vir do nada. Sorri me arrastando até o banco, onde ele coçava os olhos.

- Aqui é minha casa, você ficara comigo.

- No submundo?-sua voz havia um misto de animação e estranheza, assenti bagunçando seus cabelos.

- Não temas pequeno, nada pode lhe fazer mal.

Antes que ele falasse alguma coisa, ouvi um barulho vindo do lado de fora. Me levantei, segurando o medalhão com as pontas dos dedos, mas ao fim era apenas uma garotinha de cabelos brancos e olhos pretos grandes, ela parecia um pequeno fantasma enquanto segurava algo entre as mãos.

- Senhora...-sua voz era baixa e musical, ecoando por todo salão até chegar aos meus ouvidos.

- Lilith -disse por fim me aproximando de sua pequena fisionomia, ela tinha talvez  idade de Julian -O que queres aqui?

- Nossas memórias estão de volta,  a maldição se acabou então acho que se lembra de mim.

Procurei nas minhas memórias e lá no fundo, a imagem de uma garotinha usando um vestido de seda com rendas me veio a mente, ela sorria enquanto brincava em um balanço cercado por flores selvagens. Sim, era Ravenna, o fantasma de uma garotinha assassinada pelos pais, sempre fui muito apegada a essa pessoinha.

Sorri bagunçando seus cabelos brancos, assim como faço com o de Julian.

- Ravenna, vejo que por incrível que pareça cresceu um pouco.

Ela sorriu envergonhada me mostrando dentes perfeitos e brancos. Olhei para suas mãos onde ela trazia um colar de espinhos, engoli em seco olhando para seu rosto angelical.

- Eu sempre guardei isso para senhora, você confiava em mim agora é novamente seu.

- Obrigada -sussurrei tirando de suas mãos pequenas e olhando melhor nos espinhos brilhantes, parecido ter sido feito do mais limpo cristal. Aquele era a verdadeira marca do poder de Lilith, olhei para Julian que estava com curiosidade me espionando e sorri aos dois - Ravenna, mostre a Julian que esse lugar não é assim tão ruim.

Ela assentiu o chamando com as mãos e o mesmo sorriu correndo em sua direção, eles gargalharam enquanto sumiam para fora, ao menos uma vez na vida Julian saberia o que era de fato ser uma criança.

- Lilith querida, acho que gostaria de saber que no circo estarão prestando uma homenagem a Penélope.

Me virei para trás onde Dropert Invisk caminhava em minha direção, se apoiando em um cajado torto. Sorri de forma triste, brincando com o colar em minhas mãos.

- A cidade acabou de sair de um ataque, como podem se quer comemorar!

Ele sorriu, enquanto olhava para o nada.

- Temos de seguir em frente, as coisas acontecem...pessoas morrem, o povo de Egerver sabe muito bem como isso funciona.

- Não existe uma forma de se quebrar a maldição da lua azul? -perguntei com esperança, mas ele apenas negou.

- É algo muito além da nossa compreensão, não está a nosso alcance deixar tudo em ordem Lilith, você é justa e boa mas isso é um fato que não pode ser arrumado -então antes de se virar, sorriu como louco para mim -Sua reapresentação ao povo do submundo será amanhã, esteja pronta.

Assenti enquanto minha mente vagava para uma apresentação bonita e muito bem ornamentada, minha primeira reapresentação foi a anos atrás...a primeira vez que vi Casper. Suspirei sentindo uma onda de pesar passar sobre mim ao mencionar seu nome, o que ele estaria fazendo agora?

Egerver estava muito bem, nem mesmo parecia que mortos estavam andando sobre a terra, as casas apesar de destruídas estavam começando a ser reerguidas e a fumaça negra no ar estava se dissipando. Mas hoje era uma noite especial, apesar das perdas a vida não para, ela continua mesmo que você esteja em farrapos, pois é assim o curso das coisas, e hoje era a despedida de Penélope, todos estavam se aglomerando no circo para homenagea-la.

Caminhava ao lado de Ilanda e Dropert, no meio dos dois enquanto Ravenna tentava animar um Julian que andava olhando para a calçada com os olhos brilhantes. Todos olhavam em minha direção, com a névoa do esquecimento se dissipando de seus olhos, eles sabiam enfim que eu era.

- É bom sentir o reconhecimento não -sussurrou Ilanda me dando um sorriso breve, enquanto seguíamos o caminho de cascalho até o circo. Assenti, procurando em meio a multidão o rosto conhecido de Casper, mas não o vi...não o vi o dia inteiro e isso me deixava um tanto preocupada.

Apesar das pessoas querendo de qualquer forma entrar, nos tínhamos privilégios se sermos os primeiros, ser senhores do submundo tem algumas vantagens. Pisamos no cascalho barulhento, seguindo o mesmo caminho que Penélope liderou para nós na primeira vez que pisei nesse lugar. Antes de por fim me entregar a luz de velas olhei para trás, onde o céu estava roxo, com gaivotas negras sumindo no horizonte.

Era estranho olhar para Egerver banhada em uma calmaria estranha, chegava a ser quase assustador, pois estava acostumada a ver todos com olhares assombrosos e histórias de fantasmas, mas hoje tudo estava mudado.

Se parecia como o começo de uma nova era.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dias Mortos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.