Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 23
23: Imaculada Lilith


Notas iniciais do capítulo

Essa rosa inglesa cresceu com traço daqueles
Quem enfeitou os haréns do Oriente
Adornada com espinhos, ela levantou os chifres
E bainhas de escarlate para os sacerdotes perdidos

*Cradle of Flith



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Lilith...eu era Lilith? Esse era meu nome?

Não...não! não podia ser possível, ou sim? O que afinal eu sabia e porque Casper falou “minha...” OKAY foco Kizzy...bem, nem mesmo sei se esse é meu nome, eu estava prestes a surtar.

Literalmente.

-  Ela está em choque, acho que chegou afinal  hora de devolver as suas lembranças -disse o homem me dando um sorriso estranho, a mulher ao seu lado assentiu. Casper ainda estava na minha frente, seu sorriso sereno era a única coisa lúcida em toda aquela sombria confusão.

- Você está preparada Lilith -ele parecia gostar de falar esse nome, mais ainda era algo estranho para mim. Engoli em seco, não fazendo nada mas acho que ele recebeu isso como um sim -Ela quer suas memórias de volta.

- Querida venha até mim -soltei a mão de Casper e caminhei em passos lentos até a mulher, que me guiou pela escuridão me fazendo deitar em um tipo de maca branca. Era bom deitar, era como se minhas forças se espalhassem por todo meu corpo.

- O que irão fazer? -disse por fim sentindo minha voz sair seca, Casper ficou do meu lado em silêncio, enquanto estranhamente o casal me amarrava na maca.

- Você necessita das suas memórias, quando você trocou sua alma com a garota Desmund nós a apagamos, você não se lembraria do nome Lilith nem de nada do que fez -o homem sorriu, enquanto tirava um tipo de medalhão dourado e colocava em meu peito.

- Vocês me colocaram naquele lugar horrível! -argumentei com raiva, a mulher negou passando as mãos pelo meu cabelo e deixando minha cabeça ereta.

- Não -foi tudo o que ela disse ou foi tudo que eu ouvi, porque então eu estava imersa em escuridão e imagens, imagens que eram minha verdadeira vida...minha verdadeira identidade.

Lá estava eu novamente, vestida em um flutuante vestido azul enquanto andava sobre a neve, sempre com aquelas mulheres sorrindo como loucas logo atrás, eu estava cantando algo baixo, enquanto olhava com admiração para o circo. Novamente a imagem mudou, agora estava em um tipo de trono, com o sorriso nos lábios e o colar de espinhos brilhando sobre a pele pálida, estava em um salão repletos de seres usando capas longas e negras, bebendo algo grosso em taças de cristais.

“Viva nossa rainha! Senhora da escuridão” gritou alguém, sorri enquanto virava a taça com delicadeza, e me sentava no  trono brilhante, parecendo uma deusa em branco, olhando com uma felicidade mórbida seu pequeno império.

“O reinado de Lilith está apenas começando” gritou sobre a multidão eufórica, ela parecia feliz, eu estava feliz. Um sentimento puro e único, era quente e eu gostava do que estava fazendo, pois era aquele meu verdadeiro eu.

Uma rainha, uma dama da escuridão.

As imagens rodavam, enchendo o vazio da minha mente. Com risos, gritos, felicidades, conquistas e tristezas. Notei que eu, Lilith era uma pessoa justa e de um certo ponto de vista estranho boa,  era uma mulher de poder incrível, uma ceifadora que apenas fazia seu trabalho e não aceitava erros e desculpas.

Para alguns isso era ruim, mas mesmo assim eu sabia ser má quando queria, por isso a fama de cruel.

Então algo me chamou atenção em meio as imagens, lá estava eu junto ao casal Inviskin que parecia um pouco mais saudáveis e vivos. Estávamos cercados por pessoas de porte elegante, trajando cajado e vestidos de plumas negras. Eu estava em um canto escuro, com um capuz sobre os cabelos claros, observando com os olhos afiados e brilhantes toda a multidão, então notei Casper, ele estava diferente havia um sorriso delicado em seu rosto e quando encontrou meu rosto, seus olhos lampejaram.

 Ergui a cabeça, eu o queria, eu o teria e Casper não pareceu achar isso muito ruim.

Então eles eram um casal, um mórbido e temido casal. Eles eram perfeitos, ela uma deusa em negro, sádica em certos pontos com um charme que fazia todos caírem de amores em um piscar de olhos, ele um cruel caído sem medo da morte ou das sombras que dançavam acima de todos que habitavam o submundo, o único capaz de domar o coração de Lilith... meu próprio.

Mas em meio a isso tudo algo estava extremamente errado, algo que envolvia a família Desmund e meu fim trágico, mas então tudo parou e minha mente não mais parecia vazia. Eu me sentia embriagada com memórias, tantas delas...era ótimo e revigorante ter sua identidade de volta.

Abri os olhos, e notei que algo parecia diferente, eu me sentia diferente. Conseguia ver perfeitamente através da escuridão. Me levantei, rasgando com facilidade as tiras que me prendiam na maca, eu estava poderosa, o poder adormecido tinha finalmente acordado junto comigo.

- Então, como está se sentindo? -perguntou a mulher que eu sabia agora que se chamava Ilanda. Sorri estralando meus dedos, eu me sentia viva.

- Muito bem, é como acordar de um pesadelo -argumentei olhando para o homem, que era seu marido, Dropert meu fiel confidente.

Fiquei de pé, e olhei na direção de Casper que estava com um pequeno sorriso nos lábios. Caminhei em sua direção, pegando sua mãos e trazendo para perto. Ele fechou os olhos, enquanto colava sua cabeça na minha.

- Ainda não está acabado -sussurrou em meus cabelos, eu sabia que não.

- Tenho assuntos pendentes para resolver com Kizzy -disse entre dentes, sentindo a raiva borbulhar ao mencionar esse nome, o que ela tinha me feito não havia perdão, ela também fora a única culpada de ter me jogado naquele sanatório e agora estava no meu lugar, como senhora das sombras e ceifadora, controlando meu pequeno império que demorei séculos para construir. Olhei fundo nos olhos de Casper, notando reconhecimento de mim mesma -Eu quero tudo que me foi tirado.

Ele sorriu chegando perto dos meus ouvidos, trazendo novas sensações para dentro de mim.

- Então prevejo que agora sabe quem é.

- Claro, sou Lilith e quero meu lugar de volta.

E eu o teria.


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