Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 21
21: Algumas coisas jamais deveriam ser vistas....


Notas iniciais do capítulo

Seus olhos eram profundos
Atraindo-o profundamente
Até que ele se afogou
Arremessando-o na praia
Do mundo subterrâneo...

*Cradle of Flith



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/390158/chapter/21

Reprimi esse sentimento para longe, querendo descarta-lo por completo. Casper estava logo ao meu lado, olhando com um tom de nostalgia o caminho perturbadora a sua frente, como se lhe trouxesse boas lembranças.

- Que lugar é esse? -perguntei estranhando minha voz, tudo ao redor tinha uma leve movimentação e isso não me assustava, o que assustava era o sentimento de reconhecimento.

- Lar do Senhores Invinskin, são os ceifadores mais antigos do submundo, acredite ou não desde da minha queda eles já estavam aqui.

- Você fala como se orgulhasse disso! -argumentei lhe dando um olhar torto, ele apenas deu de ombros.

- Em certo ponto sim.

Fiquei em silêncio, enquanto ele abria caminho por entre as plantas cheias de espinhos que nasciam a nossa frente. Tentei manter meu foco apenas a frente, mas meus olhos desviavam para os lados, onde eu via certas coisas arrepiantes, que me faziam querer sair gritando ou vomitar.

Havia uma árvore, onde uma garotinha vestida de branco penteava uma boneca, enquanto se balançava sobre a terra arenosa. Quando ela levantou seus olhos para mim, era apenas buracos negros e sem fundo, seus lábios rachados pingavam sangue e ela sorriu...algo que enviou flechadas para meu corpo todo.

- O que são essas...pessoas? -sussurrei a Casper, ficando o mais próximo possível. Ele olhou na direção da garotinha, que voltou a mirar o chão e deu de ombros.

- Almas perdidas ou condenadas -ele então parou, sendo um pouco solidário com meu....choque e medo digamos assim-Não tema, aqui nada pode machuca-la e também não tenha pena, se estão aqui é porque merecem.

Sorri algo tremido mas que saiu de qualquer forma, ao menos ele mostrava um pouco do seu lado bom...se ele tivesse um ao menos. Chegamos até a enorme porta de carvalho enegrecido, com um tipo de corvo desenhado na porta. Casper apenas deu uma leve batida e logo em um piscar de olhos estávamos dentro.

- Não fique longe -disse ele perto do meu ouvido, agarrando minha mão, mas mesmo assim a escuridão parecia me engolir então eu estava perdida, perdida dentro da própria escuridão de imagens que pareciam bombar minha mente.

Não via nada, apenas um tipo de sala suja de madeira com aspecto muito antigo, com espelhos pela parede. Havia duas freiras, com rostos redondos balançando um berço branco que parecia filtrar a única luz em toda a sala. Ouvi risos tenebrosos em todo o quarto, se misturando com o choro insistente da criança.

- Casper...-susurrei querendo sair dali. Então tudo rodou, me jogando em um outro lugar. Agora duas mulheres dançavam ao redor do berço, magrelas e muito esguias, usando um trapo escuro e os cabelos como piche presos em um coque mal feito, tampando os rostos ossudos como de uma caveira. Elas brigavam e enquanto puxavam uma boneca de porcelana, e tentavam assustar o que estivesse dentro do berço, as freiras encostadas na porta mantinham um sorriso congelado ao ver a cena.

“É um belo sacrifício” -disse uma delas, enquanto se misturava na escuridão deixando sua companheira com as duas mulheres de aparência louca.

A escuridão novamente, então tudo que eu conseguia sentir era o cheiro de morte e rosas recém colhidas. Cerrei meus olhos, tentando ver alguma coisa na pouca luz cinzenta e o que vi me chocou. Estavam ali novamente as duas mulheres magrelas, agora de frente para uma outra, essa que eu conseguia ver apenas suas costas desnudas sendo quase toda coberta por uma cascata de cabelos claros.

Ela se banhava em sangue, estava usando apenas um vestido branco longo enquanto suas “acompanhantes” de assustadores olhos pintados de negros sorriam lhe passando rosas pelo corpo, uma delas segurava um colar de espinhos e colocou na mulher de branco. Com horror, pude sentir que ela ria com deleite.

Quando a mesma se virou em minha direção, deixei meus lábios se partirem em um grito mudo. Seu rosto assim como tudo em si, estava manchado de vermelho Scarlet, mas nada impedia de ver que ela era...eu, sim um clone perfeito, talvez mais bonito e mais sádico, mas mesmo assim era apenas....eu.

Ela pisou para fora da bacia de porcelana, na qual o sangue estava, fechando os olhos e soltando um leve suspiro como se acabando de sair de um maravilhoso banho. Em seu pescoço o colar de espinhos brilhava com poder, passou o dedo sobre a pele pálida e sorriu caminhando para a escuridão, deixando o rastro de sangue por onde andava.

“Aproveitem”-disse sua voz assombrosa, minha própria voz ecoando na escuridão. As mulheres ossudas sorriram uma para outra, compartilhando uma dança estranha e se banharam no mesmo sangue.

Então novamente espelhos, muito deles. Meu “eu” estava no meio deles todos, usando agora um vestido escuro e com um olhar muito zangado no rosto, ela quase me deixava com medo...eu não podia ser assim tão assustadora. Ela gritou, algo realmente perturbador, enquanto socava os espelhos, estilhaçando-os em mil pedaços, até que seus braços começassem a sangrar....

Tudo mudava tão rapidamente que era quase desconcertante. Agora “ela” estava se balançando debaixo de uma árvore de folhas vermelhas, os cabelos voando para o lado, enquanto as botas de salto fino escondidas por debaixo do vestido gótico mal tocavam o chão.  Ela sorria de olhos fechados, parecendo estar em um sonho, quando por fim os abriu como estrelas brilhantes, pulou do balanço trazendo em mãos um crânio e uma rosa branca.

“O que acha, querido” -sua voz era musical, enquanto se aproximava de alguém que eu não conseguia ver, só podia sentir que ela estava feliz...enquanto jogava o crânio para trás e pisava em cima dele, colocando a rosa nos cabelos e arcado uma sobrancelha, abrindo um sorriso encantador.

Então novamente a mudança, eu não estava mais aguentando. Sentia meus dedos assim como todo meu corpo entrar em convulsão, eu chorava e gritava, mas não conseguia ouvir minhas súplicas, apenas ver o desenrolas das coisas a minha frente.

Novamente meu...eu, sentada sobre a escuridão olhando com admiração uma caixinha de musica, sua melodia triste e sua bailarina quebrada, trouxe uma lagrima brilhante aos seus olhos. Ela rugiu, pegando o delicado objeto entre os dedos e o jogando para longe, me lançando para outra imagem.

Agora estava com um olhar perdido e apagado encarando o nada,  sentava em uma alta cadeira de ferro, enquanto grossas correntes passavam sobre seu corpo. Ela parecia fria e distante, abaixou os olhos para o chão, enquanto murmurava alguma coisa com raiva. Como uma rapidez anormal, quebrou as correntes se colocando de pé....ficando como uma musa em um vestido vermelho. Seu olhar prateado mortal e o sorriso cabulado que poderia fazer qualquer um arrancar a cabeça.

O que ela disse, foi o ponto final para minha sanidade se acabar e eu me sentir para sempre caindo.

“ Não quero apenas isso, desejo mais...muito...mais"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dias Mortos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.