Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 20
20: O horror de certos sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Isto é só um sentimento
Que tenho às vezes
Um sentimento
Às vezes
E eu fico assustado
Assim como você
Eu fico assustado também...

Cradle of Filth



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Quando por fim o silêncio prevaleceu, me arrastei para fora da cama, me enfiando em uma roupa escura e deixando o cabelo solto, o único ponto de luz agora em mim. Desci em silêncio as escadas, me controlando para não ser arrastada aos sonhos perturbadores de Penélope e aos resmungos baixos de Julian.

Aquilo tudo horrível,  como eles não ficavam perturbados ao acordar?

Abri a porta com facilidade, saindo para a noite fria e de céu enevoado, sem uma mancha brilhante que significasse as estrelas olhando por mim. Fiquei um tempo de pé na varanda, sentindo o vento jogar meus cabelos no rosto e em meio, a pouca luz da rua vazia, consegui notar uma sombra me esperando debaixo de uma árvore torta.

Enquanto me aproximava, era quase assustador ver que o único ponto que representava a vida em Casper, eram seus olhos, brilhantes e afiados.

- Pensei que tinha se esquecido -sorriu ele me dando um breve aceno de cabeça, fiz o mesmo enquanto tentava acompanhar seus passos.

- Estou determinada a ter respostas -confirmei com segurança em minha voz, enquanto saiamos dos limites da rua e entravamos no cemitério, que estranhamente já estava com seus portões abertos, como se esperando por nós, mas eu sabia que isso foi trabalho de Casper -Então, porque está me ajudando com isso? Sei que não é para se redimir com sua alma.

Ele riu, um som fraco mas mesmo assim real e chutou algumas pedras com as pontas das botas, antes de se virar para mim.

- Quero o meu prêmio, nada mais que isso.

Hó sim, aquilo foi ruim o suficiente para eu me calar por completo. Caminhamos algumas horas, passando pelas mesmas lapides assombrosas e decadentes que na noite de Egerver pareciam que seus esqueléticos moradores, poderiam pular lá de dentro e  bailar conosco pelo caminho todo.

- Onde estamos indo afinal? -perguntei por fim, quando o crocitar dos corvos estavam ficando estressantes demais. Ele não parou, apenas quebrou o silêncio quando subimos alguns degraus de mármore para um mausoléu desconhecido por mim.

- É uma surpresa, talvez não muito agradável -rolei os olhos, enquanto o mesmo abria a porta e se divertia com algo que se passava em sua mente insana -Mas certamente irá gostar, ou talvez não.

Gelei, sentindo um aperto no peito enquanto caminhava por aquele lugar escuro sem saber ao certo para onde estava indo. Havia tochas nas paredes de pedra se um longo corredor, não se parecia exatamente com minha ideia de mausoléu, mas eu sabia que nada era realmente o que estava esperando. Descemos alguns degraus novamente, ele com facilidade para se mover na escuridão, eu quase deixando meus pés para trás.

Me pergunto se caídos tem visão noturna?

- Você pode ser um pouco mais silenciosa -sibilou Casper de algum lugar próximo -Existem coisas aqui, que não gostam de ser perturbadoras.

Engoli em seco, enquanto deixava meu corpo ereto e me aproximava um pouco mais de si, até que senti suas mãos roçarem na minha, Okay....perto demais.

- O que exatamente tem nesse lugar? -sussurrei temendo qualquer coisa que se rastejasse na escuridão, acho que posso jurar que ele deu de ombros.

- Coisas que você certamente não vai querer dar de cara, agora se apresse.

Caminhamos pelo que pareceu horas e quando estava prestes surtar ele parou, me fazendo colidir com suas costas. Me afastei, enquanto ele puxava algum tipo de alavanca e um barulho arrepiante se passava pelo salão escuro. Mordi meus lábios, enquanto alguma coisa roçava meu calcanhar, era algo espinhento e desconfortável.

- Vamos demorar para sair daqui -perguntei por fim, enquanto ele abria novamente a porta e o cheiro de coisas mortas e cinzas enchiam meu nariz. Tropecei para fora, vendo algo completamente diferente, mas mesmo assim não novo.

- Bem vinda Kizzy,  a uma pequena parte crucial so submundo -ele parecia feliz, quase sádico enquanto respirava o ar cinza e pesado a nossa volta. Passei na sua frente, olhando tudo ao redor com mais atenção e sentindo um sentimento horrível passar sobre mim.

O céu parecia revolto em tempestade e raios, da sua cor mais negra e avermelhada. Nas montanhas no horizonte, as árvores mais próximas, as sombras pareciam grudadas sugando qualquer forma de vida. Havia crânios jogado ao relento, com rosas negras acima como alguma forma infame de respeito, segui com meus olhos o caminho ladeado de pedras pontiagudas que nos levava até um tipo de mansão cheia de pontas e gárgulas monstruosas.

Era perturbador, arrepiante e...lindo.

Olhei para mim mesma, desde das minhas mãos pálidas as pontas claras do meu cabelo, algo estava errado...algo estava muito errado. Me sentia deslocada, e apesar do sentimento puro de medo e terror, mesmo sem querer um sorriso pequeno quebrou em meus lábios.

Eu já estive aqui, esse lugar um dia já foi muito importante para mim e apesar do pensamento ser grotesco, eu gostava do sentimento de estar aqui.


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