Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 17
17: Réquiem


Notas iniciais do capítulo

As flautas e vinho doce
Da sua voz anódina
Seu poder foi crescendo
Cada maligna hora
A verdade, O reino de Lilith
Se aproximava com o tempo.

*Cradle of Flith



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Quando minha cabeça pareceu voltar a funcionar, a palavra coincidência voavam selvagemmente por minha mente, mas é claro....é isso e nada de mais, uma simples e pavorosa coincidência.


Mas eu sabia que não era, e Casper pareceu confirmar.

– Coincidências não existem, apenas fatos.

Me virei lentamente, sentindo em seu olhar feliz e brilhante minha bolha de frustração e raiva começar a se partir.

– O que sabe sobre isso?-perguntou lentamente, tomando cuidado com cada palavra, o mesmo apenas me deu um olhar tedioso.

– Nessa cidade, sacrifícios são bem vindos e completamente normais.

Respirei fundo, sentindo todo meu corpo entrar em convulsão, era tanta coisa para se assimilar, que minha cabeça parecia estar entrando em pane total, começando a doer compulsivamente.

– Pare de falar em códigos! -gritei, fazia tempo que não gritava de pura raiva, aquele sentimento se jogar tudo para fora, enquanto um calor realmente bom se espalhava por meu peito. Mas eu sabia que assim não iria conseguir respostas de Casper, então fechei os olhos tentando me acalmar -Por favor....pode me ajudar?

Ele sorriu, algo realmente cabuloso que me fez arrepiar.Não era um sorriso comum, era algo que chegava até seus olhos como se ele estivesse enfiando agulhas debaixo da unha de alguém e gostasse de ouvir seus gritos. Andou até mim, chegando perto e rodando sobre seus pés, enquanto seu sobretudo escuro se parecia como um buraco negro infinito.

– Talvez eu possa -então arcou uma sobrancelha, me olhando como se fosse um inseto pequeno, que ele estava louco para pisar em cima -Mas terá um alto preço a se pagar.

Estremeci de cima abaixo, sentindo ar ao meu redor cair drasticamente, a coragem e raiva, dando lugar ao medo e assombro completo. Casper parecia ser o único que estava apar de tudo isso, o único que viveu e sabe como me explicar a confusão da minha mente apagada.

Eu não deveria, mas tinha de aceitar sua infame ajuda. Por mais horríveis que seja as consequências.

– Tudo bem -murmurei baixamente, ele sorriu como se me achando completamente idiota, é talvez eu seja mesmo -Apenas quero saber quem sou realmente.

Ele apenas estendeu sua pálida mão e com êxito eu apertei, sentindo um formigamento gélido passar sobre todo meu braço. Ele se aproximou, apertando minhas mãos com força.

– Tenho apenas um pequeno palpite, de que não irá gostar do que pode descobrir -então se afastou, caminhando para longe -Logo você terá suas respostas e eu o meu prêmio, temos um trato agora...Kizzy.

Então sumiu, em meio as árvores e lapides quebradas. Kizzy...isso soava tão idiotamente falso que quase me fazia vomitar, eu não era seu fantasma....ou sua reencarnação....não isso era absurdo demais, e também algo tremido em mim dizia completamente o oposto.

Eu era algo muito além.


Quando voltei para mansão, tudo parecia um pouco desfocado, eu queria apenas cair na cama a refletir sobre o nada que a minha vida era. Penélope estava bailando sozinha na sala, enquanto uma música antiga era tocada na sua vitrola brilhante.


– Kizzy querida, baile comigo -dizia me puxando pela mão, tentando me fazer ser tão delicada quanto a mesma, mas acho que notou meu estado de espírito pois fez uma careta, enquanto desligava sua musica -Hun, o que está havendo?

– Penélope, você conhece alguma Kizzy Desmund?-perguntei, enquanto via a confusão atravessar seus olhos claros. Ela pareceu pensar, então negou.

– Jamais ouvi falar -então arregalou seus olhos -Não vai me dizer que você....

– Não, creio eu que não -suspirei, enquanto ela desabava no sofá ao meu lado -Como pode não saber da existência dessa garota?

– Jovem, minha cabeça parece envolta de neblina, a única Desmund que conheci fora Felícia. Estou por fora dessa tal de Kizzy....bem, já que ela não é você, por onde anda?

– Morta -disse sem rodeios, vendo seus lábios formarem palavras que ela não disse.

– Nossa! hó céus isso é tão trágico -ela apertou as mãos em seu peito e fungou -A perda, é realmente devastadora.

Tentei me concentrar um pouco mais na história de Penélope, já que a minha era uma grande bola de neve pronta para me esmagar.

– Você já perdeu alguém?-quando disse isso, ela virou-se para mim. Com os olhos marejados e os lábios tremidos.

– Eu...eu...-ela parecia não conseguir falar, então suspirou fundo olhando para janela -Eu não me lembro.

Senti um frio passar sobre mim e engoli em seco. Penélope chorou, ela chorou horas a fil, dizendo que sentia um pedaço de si faltando mas não sabia o que era. Eu nunca tinha a visto chorar e devo confessar que foi horrível. Quando Julian apareceu ele apenas suspirou dizendo que as vezes isso acontecia.

O entardecer chegou rápido e chuvoso, Penélope tinha cancelado nossos planos com os outros caçadores de sonhos e ficou em uma posição de estatua encarando a chuva, enquanto sua musica triste tocava a sua volta. Julian sumiu pela casa e eu me deitei, tentando me esforçar a lembra, mas tudo que tive foram pesadelos.

Ao menos espero que seja.

Havia névoa, muita dela cobrindo tudo, chegando até minha cintura. Olhei ao redor, mas via apenas árvores de aspectos antigos e copas assombrosas, tudo era cinza e branco desde do céu ao ar que rodava a minha volta.

Mas em meio ao denso nevoeiro algo caminhava lentamente, era uma sombra escura, apenas uma silhueta que foi ganhando vida e ficou dividida em duas. Uma era o meu “eu” vestido de luto, a mesma que dançava na floresta ao redor do circo, apesar de tudo com um olhar sereno enquanto ficava a minha frente.

A outra “’eu” usava um vestido branco que lhe cobria todo o corpo, o cabelo pálido comprido em ondas delicadas caindo até sua cintura, com um colar de pentagram, o mesmo que vi na loja do centro quando fui com Penélope, brilhando em seu pálido pescoço. Era o meu eu mais bonito até agora. Ela parecia fluir uma energia contagiante e quase...maldosa. Mas o pior, era que ela estava banhada e sangue seus cabelos manchados e até mesmo o vestido branco.

– Eu sou a escuridão -dizia ela em minha própria voz, enquanto se virava para a garota de preto e enfiava sua mão no peito dela, lhe arrancando o coração e o estendo para mim, ainda quente e pingando sangue no chão branco. Arfei reprimindo um grito, enquanto a garota de preto caia ao chão com um sorriso morto e olhos brancos, voltei minha atenção para os olhos prateados da garota, que me oferecia o coração-Eu sou o medo, Eu sou o pecado, Eu sou a tortura...eu sou você.

Então ela se aproximou, como se entrando dentro de meu corpo e eu gritei.

Abri os olhos na escuridão assustadora do quarto. Olhei para minhas mãos e mordi meus lábios com força, eu não iria gritar, eu não iria chorar eu iria apenas ser forte e limparia o sangue que pingava de minhas mãos.

E certamente jogar o colar de pentagrama que estava enrolado em meu pulso. Como ele fora parar ali, junto ao sangue ainda é um mistério para mim.





















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Notas finais do capítulo

*Réquiem= Canto Fúnebre, é uma espécie de prece ou missa especialmente composta para um funeral.



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