Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 18
18: A inocência chegando ao fim


Notas iniciais do capítulo

"Conforme os dias se vão, diante de meu rosto, enquanto a guerra estoura na minha frente, me encontrando, nos últimos dias de existência desse pobre vilarejo, esse parasita dentro de mim, eu o fiz sair. Na escuridão da tempestade jaz um mal, mas esse sou eu"

*Field of Innocence



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Eu sentia como meus primeiros dias em Egerver perdida e mais do que nunca confusa. Na manhã seguinte, estava inquieta e apesar de passar a noite em claro, meditando meu “pesadelo-real” não sentia sono, apenas uma louca vontade de pesquisar sobre Kizzy Desmund.

Penélope parecia ter melhorado, estava em um vestido listrado em cores fortes e sorria cantarolando, enquanto ajeitava um vaso rachado de cristal, com rosas brancas. Eu sabia, que se pedisse sua ajuda de nada adiantaria, ela estava perdida em sua mente, muito longe para ser alcançada.

– Julian, sabe se essa cidade tem alguns registros dos seus moradores?-perguntei a ele, enquanto o mesmo lia um grosso livro de aparência antiga. Ele assentiu, sem olhar para mim, então sorriu.

– Quer que eu a leve até lá?

– Sim, isso seria fantástico.

Algumas horas depois estávamos de frente a uma construção cheia de musgo, com janelas de barras de ferro e uma enorme porta de carvalho. Era um lugar um pouco afastada do comercio movimentado da cidade, ele parecia quase abandonado pelo tempo.

– Aqui é relatado tudo que acontece em Egerver -disse ele com os pequenos olhos brilhantes.

– Você nunca...é -me sentia sem jeito de perguntar isso, mas a maldita curiosidade era maior- Pesquisou sobre seus pais?

Ele negou, enquanto bagunçava os cabelos de uma forma distraída.

– Claro que sim, mas eu não sou daqui é o que tudo indica. Até mais Kizzy.

Lhe dei um breve aceno, me sentindo mal por ele. Que tipo de pais deixam um pobre garotinho em uma cidade como essa! Suspirei, enquanto caminhava pelas escadas de mármore e abria a porta pesada. O local por dentro era cheios de altas prateleiras, com livros grossos e candelabros por toda a parte, lançando uma luz sombreada por todo salão.

Notei uma pequena mesa perto da janela, onde uma mulher idosa estava com as mãos tremulas organizando pilhas de papeis. Caminhei até lá, gostando do silêncio de todo o prédio antigo, era como se qualquer leve sopro do vento pudesse ecoar melodias no vasto lugar.

– Olá...senhora, poderia me ajudar achar algo? -perguntei a ela quando cheguei até sua mesa, a mesma pareceu não notar minha presença. Pigarreei alto, e isso a fez olhar para cima, com assustadores olhos desbotados.

– Claro -disse em um tom fraco e quase gentil...quase.

– Estou procurando qualquer informação sobre Kizzy Desmund.

Ela juntou as sobrancelhas brancas e pareceu pensar, então negou como se falando consigo mesmo.

– Nunca ouve uma Kizzy Desmund querida.

– Claro que sim! Há um túmulo dela no cemitério!

Ela negou, enquanto me deixava de lado e voltava a seus trabalhos manuais.

– Alguém sujeito sem ter o que fazer, pregando peças.

Tentei me controlar, enquanto uma dor aguda parecia quebrar meu crânio em dois.

– Qualquer coisa sobre a família Desmund então.

Ela suspirou, me dando um olhar de “O que faz aqui ainda” então se levantou, caminhando com uma rapidez estranha para sua idade. Fez um sinal para que eu a seguisse, e foi isso que fiz, enquanto a mesma puxava um candelabro da parede e abrindo uma porta, onde descemos alguns degraus de madeira, até uma pequena sala claustrofóbica sem janelas.

– Onde está -murmurava, passando os dedos longos por uma prateleira, cheias de livros iguais -Aqui jovem, só lhe digo que a família Desmund não fora nenhuma benfeitora.

Assenti, como se sabendo do que ela falava e peguei o livro com capa de couro em minhas mãos. Ela me deu uma última olhada, antes de se arrastar em passos ágeis até as escadas e me deixar sozinha, com apenas livros e velas me fazendo companhia.

Senti meus dedos ficarem frios, conforme abria o livro. Havia algumas fotos amareladas, de um casal sério, usando roupas escuras e de olhares perdidos, mais a frente uma garota sorridente trajando um vestido de rendas, enquanto imitava uma bailarina, seu nome estava logo abaixo: Felícia.

Mas até agora nada de Kizzy.

Os poucos trechos contando sobre a vida da família, dava mais atenção a dizer quem era uma família de linhagem perigosa, sempre mexendo com “o que não devia” os patriarcas eram cuidadosos e ficavam isolados na velha casa da colina, mas a garota Felícia não parecia se importar com isso, ela nem mesmo acreditava em magia negra.

Até um certo ponto.

As coisas ficavam um pouco perturbadoras, conforme os recortes de jornais diziam que Felícia havia matado os próprios pais para um ato de sacrifício, que ela tinha mudado muito e queria se tornar uma senhora das trevas.

Mas nada, nem mesmo um parágrafo era comentando o nome de Kizzy.

Me sentia nervosa, enquanto meus olhos passavam pelas letras curvadas e não achava o que queria, tudo era mais relacionado a Felícia, sua mudança subida e seus pais, que no principio eram pessoas leais, fazendo sempre o bem...então tornaram-se escravos dos senhores do norte, ao que tudo indicava por culpa de Felícia.

Era frustrante não achar nada sobre Kizzy, nenhum registro ou algo assim. Era como se a garota nunca tivesse existindo, apenas uma sombra, um nome em uma lapide fria e sem importância. Mas eu sabia que não era nada disso, de alguma forma eu sabia.

E isso nem era mais assustador, era perturbador.


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