Give Me Love – Novatos escrita por Giulia Bap


Capítulo 30
Capítulo 29 – 3


Notas iniciais do capítulo

Olha só, eu quero pedir desculpas antes por fazer um capítulo que não esclarece nada e só traz mais dúvidas hauhuahaua. Isso é maldade da minha parte, mas vou mudar. Sorry. Shame on me.
Enfim, seeya later lovehunters ♥.



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Não sinto o chão debaixo de meus pés, por isso espanto-me ao ver que meus passos estão afugentando algumas pombas que ciscam nos poucos lugares onde não há neve. Eu sou intensa, repito para mim umas várias vezes tentando encontrar algum significado para a palavra. Apesar de ser um cupido com toda essa droga de responsabilidade, sempre fui normal. Vulnerável demais, incoerente demais. Não sou intensa, mas talvez a intensidade da minha falta de bom senso esteja afetando a visão que Igor tem sobre mim. Acho que o deixei irritado com a pergunta, apesar de não ver nada grandioso nela. Seus punhos cerrados ao lado do corpo enquanto deixava pegadas arrastadas na neve. Eu podia alcançá-lo, mas e daí? Nunca o havia visto fora de si como estava naquele momento e não podia nem ao menos entender o que estava acontecendo para acalmá-lo. Então começo a andar de volta para o lugar mais quente que posso imaginar: o esconderijo, vão entre dois prédios. Acostumara-me a entrar despercebida num hotel ao lado para tomar banho, mas apesar de querer me livrar do enjoativo cheiro de orvalho, não tenho pretensões de andar mais. Meus joelhos estão cedendo ao sono.

Ômega está com Igor, preciso abrir a porta com outra chave. Estou tateando os tijolos na parede para encontrar um único solto. Atrás dele, um chaveiro pequeno e reluzente. Ao invés disso, ainda escorregando meus dedos pela parede, encontro tecido e pele macios. Cabelos sedosos. Uma mulher. Ela está encostada lá, ao lado da porta, olhando para mim. Dou um salto para trás, deparo-me com alguns pedaços de lenha apodrecida que lançam-me no chão. Uma de minhas mãos pousa na madeira e o sangue aflora, fazendo um brilho fosco surgir, apagando as linhas que cruzam minha mão formando um M. Chego para trás até meu rosto estar ao menos um pouco iluminado e posso ver o rastro de sangue que deixei na neve. Além disso, o corpo invejável da mulher morena que continua encostada na parede. “Caroline?” Pergunto, sem querer mostrar-me fraca na frente dela. “Harriet.” Por um momento até parece simpática, quando estende sua mão para que eu me reerga, mas apenas recuo e continuo sentada, o gelo ajudando-me a superar a dor que queima minha mão direita.

“Eu estava planejando voltar a te visitar.” Abro um sorriso, mas não espero que ela possa enxergar muito bem coberta pela penumbra. “Imaginei… Mas prefiro fazer as coisas ao meu tempo.” “Seu tempo? Não imagino o que quer dizer com isso.” Concluo em voz alta. “Você demora para tomar decisões erradas Harriet. Todas elas. E o seu amigo também.” Meu amigo? Igor? “Se está atuando num pseudo-consultório de psicologia hoje e cultivando uma amizade suspeita com Gaia, suponho que não tenha feito escolhas muito certas.” Rosno, um pouco magoada pelo termo pejorativo que a mulher usou para referir-se ao loiro. “É, eu não fiz as escolhas certas, garota. Mas ainda não fiz escolhas erradas. Algumas pessoas decidiram por mim.” Não sei se devo dizer a ela que já a tinha visto. Morta. Mas é melhor que eu não deixe-a ter noção do quanto eu sei. “Sinto muito por isso, mas não muda o fato de que você está totalmente precipitada.” Limpo a mão enquanto falo, amassando um pouco de neve e esfregando no ferimento. Nem é tão fundo assim, apesar de riscar desde o pulso até o começo do dedo médio. “Quanto aos seus erros ou os do garoto loiro? Porque os dois parecem bastante sem rumo.” Lembro-me novamente de como saiu desvairado e com uma raiva que eu não sabia distinguir se de mim ou dele mesmo. “Nós temos um plano, mas não contaríamos justamente para você.” Acabo mentindo. Ela ri, sei que é um som mais alto e estridente que o canto de um pássaro faminto. É irritante. “A não ser que o plano de vocês seja se casarem num futuro próximo, não vejo como podem estar indo a algum lugar.”

Sinto-me constrangida quase imediatamente. Não penso como ela. “Talvez devêssemos mesmo. E já que torce tanto por isso, poderia subir no altar comigo, carregando o véu e rindo como uma hiena durante a marcha nupcial para espantar os pombos.” Retruco, esquecendo-me dos modos. Entendo Igor; Caroline faz qualquer um perder a cabeça em poucas palavras. Sinto mãos quentes puxando meus braços para cima e deixo-me levar por eles. Sei que é o loiro quem está atrás de mim e não preciso olhar para ter certeza disso. “Devia ir embora.” Ele diz. Sua voz é dura, sei que ainda está bravo e tenta se conter ao encarar o rosto pouco iluminado, mas ainda assim nada afável da morena. “Eu vim aqui e não foi só pra ouvir a voz adorável de vocês. Não vão convidar-me para entrar?” Aponta para a porta de metal. Sinto Igor bufando logo atrás de mim, mas mesmo assim arrasta-se – puxando meu braço consigo – para tatear a parede, assim como eu havia feito antes. Ômega está com ele, mas não podemos deixar Caroline vê-la.

Estamos todos de pé em torno da fogueira. Ainda corada e desconfortável, mantenho-me a uma distância razoável de Igor. “Harriet, sei que seu mundo pessoal e brilhante constituído de auras negras e loiros atraentes é ótimo, mas não o suficiente para manter quatro bilhões de pessoas vivas.” Acabo engolindo a vontade de mandá-la para o inferno e continuo ouvindo. O garoto a um metro de distância de mim, por sua vez, não parece disposto a isso se ela soltar mais uma sílaba ofensiva sequer. “Não pode ter os três ao mesmo tempo e nem se rasura uma prova de múltipla escolha. Não que eu espere muito de você.” Um tom mais baixo que o normal, sinto-me como se recebendo um conselho. Apesar da arrogância que exala daquele nariz empinado e dos olhos pequenos. O que é contraditório. “Três?” “Amor, família e mérito.”


Depois de dizer todas aquelas coisas enigmáticas, subiu as escadas e desapareceu em meio a uma tempestade nova-iorquina, deixando-me com toda uma bagagem de pensamentos ruins. Tirou meu sono. “Você não devia levar ela tão a sério.” Igor coloca suas mãos em meus ombros, mas dessa vez eu me esquivo. Ele também parece lembrar-se de que precisamos parar com isso e então continuamos a conversa civilizadamente, com ambas as mãos cruzadas na frente do corpo. “Ela é uma megera, Igor, mas está certa sobre tudo.” Suspiro, um pouco decepcionada por ter que pronunciar essas palavras. “Disse alguma coisa antes de eu chegar? E o que é isso?” Parece preocupado e aponta para o talho em minha mão. Há farpas despontando dele e está bem roxo em volta. Droga. “Não, eu só acho que vou precisar de um curativo se quiser usar arco-e-flecha de novo. E você? Ainda está irritado comigo?” Estou agindo como uma criança enquanto retiro as lascas ínfimas de madeira do machucado. Ele toma minha mão para si e faz o trabalho com mais cautela. “Não, eu… Acho que… Vá dormir.” Ele me larga bruscamente, deixando-me um pouco zonza enquanto some através do elevador.


Tenho pesadelos, eles são sobre perder o amor. E, quando acordo, Igor não está acariciando meus cabelos.


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Notas finais do capítulo

STARLIGHT - MUSE
http://www.youtube.com/watch?v=Pgum6OT_VH8